Planejar o plantio é uma das etapas mais críticas da safra. Uma decisão errada sobre a data de semeadura pode colocar tudo a perder, especialmente com as incertezas do clima. É justamente para ajudar você, produtor, que existe o Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático), uma ferramenta essencial para o planejamento e a execução das atividades no campo.
O Zarc funciona como um mapa detalhado que identifica os municípios com as melhores condições para o cultivo de cada cultura. Mais importante ainda, ele aponta os períodos de semeadura com menor risco climático, aumentando suas chances de uma colheita bem-sucedida.
Neste artigo, vamos explicar de forma clara como o Zarc funciona, como consultá-lo e por que ele é fundamental não só para sua produtividade, mas também para o acesso a crédito e seguro rural.
O que é o Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático)?
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) é uma ferramenta de gestão de risco, implementada no Brasil desde 1996, para orientar o setor produtivo. Ele analisa dados históricos de clima, solo e as necessidades de cada planta para definir as janelas de plantio mais seguras em cada município do país.
Para usar o Zarc corretamente, você precisa entender três informações principais que ele utiliza. Conhecer essas variáveis é o que garante uma consulta precisa e um planejamento eficaz.
Veja em detalhes os aspectos que a ferramenta analisa:
1. Textura do solo
O tipo de solo da sua fazenda influencia diretamente a capacidade de armazenamento de água, um fator crucial para a planta. No Zarc, os solos são divididos em três categorias principais:
- Tipo 1: Textura arenosa, com teor de argila maior que 10% e menor ou igual a 15%. Solos arenosos geralmente retêm menos água.
- Tipo 2: Textura média, com teor de argila entre 15% e 35% e menos de 70% de areia. Representa um equilíbrio na retenção de água e aeração.
- Tipo 3: Textura argilosa, com teor de argila maior que 35%. Solos argilosos têm alta capacidade de reter água e nutrientes.
2. Ciclo fenológico
Cada cultivar tem um tempo de desenvolvimento diferente. O Zarc agrupa as cultivares com base na duração do seu ciclo, ou seja, o tempo que levam da germinação à colheita.
Ciclo fenológico: significa as fases de desenvolvimento da planta, como se fossem as etapas da sua vida.
Para culturas anuais como milho, feijão e soja, o ciclo é geralmente dividido em 4 fases principais:
- Fase 1 — Germinação/emergência;
- Fase 2 — Crescimento/desenvolvimento vegetativo;
- Fase 3 — Florescimento/enchimento de grãos;
- Fase 4 — Maturação fisiológica.
3. Período de semeadura
Para simplificar o calendário, o Zarc divide o ano em 36 períodos de 10 dias, chamados de decêndios. Essa divisão facilita a indicação das janelas de plantio.
Por exemplo, o período 1 representa os primeiros 10 dias do ano (de 1 a 10 de janeiro). O período 2 corresponde aos dias de 11 a 20 de janeiro, e assim por diante.
Confira a tabela abaixo para entender melhor como o ano é dividido.
Tabela de período de semeadura por decêndio
(Fonte: Portaria nº 128, de 18 de maio de 2021)
Como o Zarc funciona na prática?
O Zarc cruza dados de pesquisas que identificam as necessidades de água e temperatura de cada cultura com informações detalhadas sobre o clima e o solo de cada município. Esse cruzamento de dados utiliza séries históricas de mais de 30 anos.
Ao final dessa análise complexa, a ferramenta gera um calendário de plantio. Esse calendário é específico para cada município, tipo de solo e grupo de cultivar, indicando os períodos com menor risco de perdas por eventos climáticos como seca ou excesso de chuva.
Onde consultar o Zarc?
As informações do Zarc são públicas e podem ser acessadas gratuitamente através de três portais oficiais:
- Painel de Indicação de Riscos;
- Aplicativo Zarc — Plantio Certo;
- Portarias de Zarc por Estado.
A seguir, mostramos um passo a passo de como consultar o zoneamento em cada uma dessas plataformas.
1. Painel de Indicação de Riscos
A consulta pelo Painel de Indicação de Riscos é bastante visual e permite analisar mapas. Siga estas etapas:
- Acesse a plataforma Painel de Indicação de Riscos.
- Selecione a aba “Tábua de Risco — 20% 30% 40%”.
- Escolha a safra desejada.
- Selecione a cultura (ex: soja, milho).
- Indique a sua UF (unidade federativa ou estado).
- Selecione o grupo da cultivar (ciclo).
- Escolha o tipo de solo da sua área (Tipo 1, 2 ou 3).
- Por fim, selecione o seu município.
Você pode selecionar mais de um município do mesmo estado para comparar.
Após aplicar os filtros, a plataforma gera um mapa da região e uma tabela com os períodos de semeadura recomendados. As recomendações são baseadas em três níveis de risco climático: 20%, 30% e 40%. Com base na legenda de cores, você consegue interpretar as informações e definir o melhor período para realizar o plantio na sua propriedade.
Veja um exemplo abaixo para o cultivo de soja na Bahia.
Tábua de risco por decêndio para o cultivo de soja no estado da Bahia
(Fonte: Painel de Indicação de Riscos)
2. Aplicativo Zarc — Plantio Certo
Para quem prefere a praticidade do celular, o aplicativo Zarc — Plantio Certo é a melhor opção. Nele, você só precisa indicar o seu município e, em seguida, a cultura de interesse.
O aplicativo apresenta a recomendação do período de semeadura em decêndios (períodos de 10 dias). A recomendação é detalhada por tipo de solo, grupo de cultivar e nível de risco (20%, 30% e 40%).
Além disso, o aplicativo fornece outras informações valiosas, como:
- Precipitação (chuva) acumulada esperada;
- Balanço hídrico da cultura;
- Temperaturas mínima e máxima para cada decêndio.
Observe no exemplo abaixo como as informações são apresentadas de forma clara no aplicativo.
Período de semeadura indicado para a cultura do feijão (2ª safra) no município de Jataí (GO), safra 2021/2022
(Fonte: App Zarc — Plantio Certo)
3. Portarias de Zarc por Estado
As Portarias de Zarc são os documentos oficiais divulgados anualmente no Diário Oficial da União. Elas podem ser consultadas no site do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
Para acessar os dados, você precisa indicar o Estado e a cultura. As portarias são documentos mais técnicos e completos, contendo informações sobre:
- Detalhes da cultura;
- Ciclo fenológico da espécie;
- Grupos das cultivares;
- Relação de todos os municípios aptos para o cultivo;
- Calendário de plantio detalhado;
- Lista de cultivares adaptadas à região.
Os dados são apresentados considerando os três níveis de risco de perda (20%, 30% e 40%), os três tipos de solo e o grupo da cultivar.
Veja o exemplo abaixo, retirado de uma portaria para o algodão no Mato Grosso:
Relação de alguns municípios do Mato Grosso aptos ao cultivo de algodão e períodos de semeadura indicados
(Fonte: Portaria nº 128, de 18 de maio de 2021)
Analisando a tabela para o município de Água Boa (MT):
- Para um solo de textura média (Tipo 2);
- Considerando cultivares do grupo II;
- Com um risco de perda de 20%.
O período recomendado para o plantio do algodão vai do 34.º decêndio (dezembro) até o 3.º decêndio (janeiro).
Proibições do Zarc
Além de indicar onde e quando plantar, o Zarc também estabelece algumas regras importantes para o uso sustentável da terra. É proibido o plantio de qualquer cultura nas seguintes condições:
- Áreas de preservação permanente (APP);
- Solos com profundidade inferior a 50 cm;
- Solos com teor de argila inferior a 10% nos primeiros 50 cm de profundidade;
- Solos localizados em áreas com declividade (inclinação) superior a 45%;
- Solos muito pedregosos, onde pedras e matacões (com diâmetro superior a 2 mm) ocupam mais de 15% da superfície do terreno.
A Relação Essencial entre Zarc, Crédito e Seguro Agrícola
Seguir o Zarc não é apenas uma boa prática agrícola; é fundamental para a saúde financeira do seu negócio. Muitas instituições financeiras exigem o cumprimento das recomendações do Zarc para que o produtor tenha acesso a programas importantes, como:
- Proagro (Programa de Garantia da Atividade Agropecuária);
- PSR (Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural).
Esses dois programas são as principais políticas de seguro agrícola do governo federal. Se você plantar fora da janela recomendada pelo Zarc e tiver uma perda, poderá não ter direito à cobertura do seguro.
Além disso, o acesso ao crédito rural de custeio está frequentemente vinculado à adoção das recomendações do Zarc. Portanto, fique atento: para garantir seu crédito e seguro, é indispensável estar com o planejamento da sua lavoura alinhado ao Zarc.
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Conclusão
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) é muito mais que um calendário. Ele é um instrumento estratégico que orienta você a tomar a melhor decisão sobre a época de plantio, baseado em ciência e dados.
Adotar as recomendações do Zarc no seu planejamento significa:
- Reduzir significativamente os riscos de perdas por problemas climáticos.
- Aumentar as chances de sucesso e rentabilidade da sua atividade agrícola.
- Garantir o acesso a ferramentas essenciais como o crédito rural e o seguro agrícola.
As informações do zoneamento estão disponíveis gratuitamente em três plataformas diferentes, de forma acessível e completa. Utilize essa ferramenta a seu favor para produzir com mais segurança e eficiência.
Glossário
Ciclo fenológico: As diferentes fases de desenvolvimento de uma planta, da germinação à colheita. O Zarc agrupa as cultivares por ciclos (ex: precoce, médio, tardio) para definir a janela de plantio ideal para cada uma.
Decêndio: Um período de 10 dias. O Zarc divide o ano em 36 decêndios para indicar com precisão as épocas recomendadas para a semeadura (ex: o 1º decêndio de janeiro vai do dia 1 ao 10).
Proagro (Programa de Garantia da Atividade Agropecuária): Um programa do governo que garante o pagamento de financiamentos rurais em caso de perdas na lavoura por eventos climáticos. Seguir as recomendações do Zarc é um requisito para o produtor ter acesso a essa cobertura.
PSR (Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural): Uma política pública que ajuda a reduzir o custo do seguro rural para o produtor, com o governo pagando parte do valor. A elegibilidade para o programa está condicionada ao plantio dentro da janela recomendada pelo Zarc.
Risco climático: A probabilidade de perdas na produção agrícola por causa de eventos climáticos adversos, como seca ou excesso de chuva. O Zarc indica os períodos de plantio com riscos de 20%, 30% ou 40%, ajudando o produtor a escolher o nível de segurança que deseja assumir.
Textura do solo: Refere-se à proporção das partículas de areia, silte e argila, que define a capacidade do solo de reter água. O Zarc classifica os solos em Tipo 1 (arenoso), Tipo 2 (médio) e Tipo 3 (argiloso) para ajustar suas recomendações.
Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático): Ferramenta oficial do governo que analisa dados de clima, solo e cultura para indicar os municípios e as épocas de plantio mais seguras. É fundamental para planejar a safra e acessar programas de crédito e seguro rural.
Como o Aegro transforma o planejamento do Zarc em ação
Seguir as recomendações do Zarc é o primeiro passo para uma safra segura, mas o grande desafio é transformar essa orientação em um plano operacional eficiente. Coordenar a compra de insumos, o preparo do maquinário e as atividades de campo para aproveitar a janela de plantio ideal exige organização e controle.
É aqui que uma ferramenta de gestão agrícola como o Aegro faz a diferença. O software permite que você crie um planejamento de safra detalhado, conectando o calendário recomendado pelo Zarc com o cronograma de atividades da sua fazenda. Assim, você pode registrar e acompanhar todas as operações em tempo real pelo aplicativo, garantindo que tudo aconteça no momento certo e dentro do orçamento.
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Perguntas Frequentes
O que significam os níveis de risco de 20%, 30% e 40% indicados pelo Zarc?
Esses percentuais representam a probabilidade de perdas na produtividade da lavoura devido a eventos climáticos adversos. Um risco de 20% indica que, em 8 de cada 10 anos, a safra tem alta chance de sucesso. Escolher a janela de menor risco (20%) é a opção mais segura, enquanto janelas de 30% ou 40% oferecem mais flexibilidade no calendário, mas com maior exposição a problemas climáticos.
Como posso descobrir o tipo de solo da minha fazenda para uma consulta correta no Zarc?
A forma mais precisa é através de uma análise de solo laboratorial, que detalha a porcentagem de argila. Para uma estimativa prática no campo, umedeça uma amostra de terra: se ela parecer ’liguenta’ e moldável, é argilosa (Tipo 3); se for mais solta e áspera, tende a ser arenosa (Tipo 1). Um resultado intermediário indica textura média (Tipo 2).
As recomendações do Zarc são atualizadas todo ano?
Sim, o Zarc é atualizado anualmente para as principais culturas e estados. Essas atualizações, publicadas em portarias no Diário Oficial da União, incorporam novos dados climáticos e resultados de pesquisas agronômicas. Por isso, é fundamental consultar a versão mais recente antes de cada safra para garantir um planejamento baseado nas informações mais precisas.
Plantar fora da janela recomendada pelo Zarc significa que terei prejuízo com certeza?
Não necessariamente, mas o risco de perdas aumenta drasticamente. O Zarc identifica os períodos com a menor probabilidade de ocorrência de secas ou chuvas excessivas nas fases críticas da cultura. Plantar fora da janela recomendada não só expõe a lavoura a um risco climático muito maior, como também impede o acesso a programas de seguro agrícola e crédito rural em caso de sinistro.
Qual a principal vantagem de usar o aplicativo ‘Zarc - Plantio Certo’ em vez de consultar as portarias?
A principal vantagem do aplicativo é a praticidade e a interface amigável. Ele permite uma consulta rápida e simplificada diretamente no celular, ideal para o dia a dia no campo. As portarias, por outro lado, são documentos mais técnicos e completos, contendo todos os detalhes metodológicos e a lista de cultivares, sendo mais adequadas para um planejamento aprofundado.
Se eu seguir o Zarc, a cobertura do seguro rural é automática em caso de perdas?
Não, a cobertura não é automática. Seguir o Zarc é um requisito obrigatório para ser elegível aos programas Proagro e PSR, mas não garante a indenização. Em caso de perdas, a seguradora ainda realizará uma perícia para confirmar se a causa foi um evento climático coberto pela apólice e se todas as outras boas práticas agrícolas foram seguidas.
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