Você tem dúvidas sobre a adubação com zinco na sua lavoura de soja?
O zinco é um micronutriente essencial que impacta diretamente a sua produção. Ele é fundamental para o crescimento da planta e para a formação de grãos sadios e pesados.
No entanto, o manejo desse nutriente exige atenção, pois ele se move pouco dentro da planta e diversos fatores no solo podem dificultar sua absorção pelas raízes.
Acompanhe este artigo completo para entender como manejar o zinco na soja de forma correta e alcançar maior produtividade na sua lavoura.
Qual a Função do Zinco na Planta de Soja?
Com a evolução dos sistemas de produção, os produtores passaram a dar mais atenção aos detalhes da adubação. Uma dessas mudanças foi a percepção sobre a importância dos micronutrientes, que, embora exigidos em pequenas quantidades, fazem uma grande diferença no resultado final.
Na cultura da soja, a relevância do zinco é clara. Para cada tonelada de grãos produzida, a planta precisa absorver cerca de 40 gramas
de zinco (Zn). Um detalhe crucial é que 66%
desse total vai diretamente para o grão, o que demonstra um alto índice de extração e exportação do nutriente da lavoura.
Exigências nutricionais para a produção de 1t de grãos de soja (Embrapa, 1993)
(Fonte: IPNI)
Apesar dessa necessidade, a disponibilidade de zinco no solo pode ser um desafio. Grande parte do nutriente fica “preso” (adsorvido) nas partículas de argila e na matéria orgânica, não estando livre para a absorção pelas raízes.
Estudos mostram que a concentração de zinco na solução do solo é muito baixa. Além disso, o zinco fica mais disponível para a planta em solos com pH mais baixo (de ácido a neutro), como mostra o gráfico abaixo.
Disponibilidade de macros e micronutrientes em diferentes pHs do solo. Note que a maioria dos micronutrientes está mais disponível em solos com pH de ácido a neutro.
(Fonte: 360 Yield Center)
Por isso, a adubação correta é tão importante. O zinco atua principalmente na síntese de proteínas e no crescimento dos novos tecidos da planta (crescimento meristemático), pois participa da formação do triptofano, um aminoácido que dá origem a hormônios de crescimento.
Para garantir um bom desenvolvimento e evitar sintomas de deficiência, o nível de zinco no solo deve ser de, no mínimo, 1,0 mg/dm³
. Esse patamar assegura o funcionamento adequado das enzimas que dependem desse nutriente.
Algumas enzimas que contêm zinco e são essenciais para o desenvolvimento das plantas.
(Fonte: DCS)
Como o Zinco se Move (ou não) Dentro da Soja
As plantas absorvem o zinco do solo em sua forma iônica, o Zn²+. A eficiência dessa absorção, no entanto, pode ser afetada pela presença de outros nutrientes em altas concentrações, levando a uma deficiência de zinco mesmo que ele esteja presente no solo.
Atenção ao Fósforo: Excesso pode Bloquear o Zinco
Um exemplo clássico dessa interação é com o fósforo. Quando o fósforo é aplicado em doses muito altas, ele pode inibir a absorção de zinco.
A explicação mais aceita para isso é o “efeito de diluição”. Funciona assim:
- A alta dose de fósforo acelera o crescimento da planta.
- Isso gera um aumento rápido da matéria seca (folhas, caule).
- A quantidade de zinco que a planta conseguiu absorver fica “diluída” nesse volume maior de massa vegetal, resultando em uma deficiência funcional.
A Mobilidade Limitada do Zinco na Planta
Uma vez absorvido, o zinco é transportado das raízes para as folhas pelo xilema (os canais que levam água e nutrientes para cima). No entanto, sua capacidade de ser movido de uma parte da planta para outra, especialmente das folhas velhas para as novas, é muito limitada. Esse processo, feito pelo floema, não funciona bem para o zinco.
Por que o zinco é pouco móvel? Dentro do floema, o ambiente tem um pH mais alcalino (próximo de 8) e alta concentração de fosfato. Essas condições fazem com que o zinco forme compostos de baixa solubilidade, como óxidos e fosfatos, que não se movem facilmente.
Consequência prática: Se faltar zinco, os sintomas de deficiência aparecerão primeiro nas folhas novas e brotos, pois a planta não consegue retirar o nutriente das folhas mais velhas para suprir as áreas em crescimento.
Como e Quando Fazer a Adubação com Zinco
Considerando que muitos solos brasileiros são naturalmente pobres em nutrientes por serem muito “lavados” pelas chuvas (intemperizados), a adubação com micronutrientes como o zinco torna-se uma prática essencial para altas produtividades.
O zinco pode ser aplicado na cultura da soja de três formas principais:
- Via Solo: Ideal para uma correção lenta, gradual e com efeito residual. Uma opção comum são os oxi-sulfatos de zinco, aplicados na dosagem de
5 kg/ha
. - Via Folha (Foliar): Utilizada para uma correção rápida e pontual de deficiências já instaladas. Recomenda-se o uso de sulfato de zinco na dosagem de
75g para cada 100L
de água. - Via Semente: Aplicado durante o tratamento de sementes para garantir que o nutriente esteja disponível desde o início do desenvolvimento da plântula.
Recomendações de Dose para Solos do Cerrado
Para a prevenção de deficiências em solos da região do cerrado, as recomendações são as seguintes:
- Solos com baixo teor de zinco: Recomenda-se a aplicação de
4 a 6 kg/ha
de zinco. Essa dose pode ser aplicada de uma vez ou dividida em três aplicações anuais nos cultivos sucessivos, sempre no sulco de semeadura. - Solos com teor médio de zinco: A recomendação é utilizar
¼ da dose
indicada para solos pobres, também aplicada no sulco de plantio.
A necessidade de reaplicação deve ser monitorada por meio da análise foliar, que pode ser realizada a cada dois anos para ajustar o manejo.
Interpretação de resultados de análise de solos para micronutrientes para culturas anuais na região dos cerrados.
(Fonte: INPI)
Identificando Problemas: Sinais de Deficiência e Excesso de Zinco
Para um diagnóstico correto, é importante conhecer os níveis de referência e os sintomas visuais.
- Nível Ideal: A concentração ótima de zinco na matéria seca da planta varia de
20 mg/kg
a120 mg/kg
. - Sinal de Deficiência: Teores abaixo de
20 mg/kg
já indicam carência do nutriente. - Sinal de Toxicidade (Excesso): Concentrações acima de
400 mg/kg
são consideradas tóxicas para a planta.
Sintomas de Deficiência de Zinco
Como o zinco é pouco móvel, os sintomas de sua falta sempre aparecem nas partes mais novas da planta. Os sinais mais característicos são:
- Encurtamento dos internódios: A planta fica com aparência “atarracada” ou “enfezada”, com as folhas muito próximas umas das outras.
- Folhas novas pequenas e deformadas: Os folíolos que brotam são menores que o normal e podem ter um formato afilado, como uma lança (lanceoladas).
- Clorose internerval: As folhas novas apresentam uma coloração amarelo-ouro entre as nervuras, que permanecem com um tom verde-escuro. Isso resulta em plantas com porte reduzido, ou anãs.
Sintoma inicial de deficiência de zinco: clorose internerval com cor amarelo-ouro nas folhas novas.
(Fonte: Agrolink)
Comparativo visual do impacto da deficiência de zinco no desenvolvimento inicial da soja.
(Fonte: IPNI)
Principais Causas da Deficiência
A falta de zinco pode ser causada por vários fatores:
- Origem do solo: Solos derivados de arenito, por exemplo, são naturalmente pobres neste micronutriente.
- Manejo inadequado: Aplicações excessivas de calcário (que eleva muito o pH) e de fósforo podem induzir a deficiência.
- Condições climáticas: Períodos de seca ou baixa quantidade de chuvas também dificultam a absorção do zinco.
Sintomas de Toxicidade (Excesso)
Embora menos comum, o excesso de zinco também é prejudicial. Em casos de toxicidade, as plantas manifestam uma coloração avermelhada nas nervuras e nos pecíolos (o “cabinho” que liga a folha ao caule).
Conclusão
Neste guia completo, detalhamos a importância do zinco para a cultura da soja, desde suas funções essenciais no crescimento até seu comportamento no solo e na planta.
Vimos as melhores formas de realizar a adubação para suprir as necessidades da lavoura, seja de forma corretiva ou preventiva. Além disso, você agora sabe como identificar os sintomas visuais de deficiência e de excesso de zinco.
Espero que você aproveite ao máximo essas informações para ajustar seu manejo nutricional, evitar perdas e garantir uma safra com maior produtividade
Glossário
Adsorvido: Refere-se a nutrientes que estão “presos” ou “grudados” na superfície das partículas de argila e matéria orgânica do solo. Isso os torna indisponíveis para a absorção imediata pelas raízes das plantas.
Clorose internerval: Sintoma de deficiência nutricional em que o tecido da folha entre as nervuras fica amarelado (clorótico), enquanto as próprias nervuras permanecem verdes. É um sinal visual clássico da falta de zinco em folhas novas.
Floema: Conjunto de vasos da planta responsável por transportar açúcares e outros compostos produzidos nas folhas para as demais partes, como raízes e grãos. O zinco tem baixa mobilidade no floema, o que explica por que os sintomas de deficiência aparecem primeiro nas folhas novas.
Intemperizados: Termo usado para descrever solos que foram intensamente “lavados” e desgastados pela ação do clima (chuva, temperatura) ao longo de milhares de anos. Esse processo remove muitos nutrientes, tornando esses solos naturalmente pobres, como os do Cerrado brasileiro.
Lanceoladas: Descreve folhas que têm um formato alongado e estreito, semelhante a uma lança. O aparecimento de folhas novas com essa deformação é um sintoma da deficiência de zinco na soja.
mg/dm³ (miligrama por decímetro cúbico): Unidade de medida padrão utilizada na análise de solo para indicar a concentração de um nutriente. Um decímetro cúbico (dm³) equivale a 1 litro, então
1,0 mg/dm³
significa que há 1 miligrama de zinco em cada litro de solo analisado.Micronutriente: Nutriente essencial para o desenvolvimento das plantas, porém exigido em quantidades muito pequenas. Apesar da baixa dosagem, sua ausência ou deficiência pode comprometer severamente a produtividade, como é o caso do zinco.
Pecíolo: A pequena haste que conecta a folha ao caule da planta. A observação da coloração dos pecíolos pode ajudar a identificar sintomas de toxicidade de nutrientes.
Xilema: Sistema de vasos condutores da planta que funciona como um “encanamento” para transportar água e nutrientes minerais das raízes para as folhas e outras partes superiores da planta.
Como transformar o manejo de zinco em mais lucro?
Aplicar o conhecimento técnico sobre a adubação com zinco é o primeiro passo, mas garantir que esse investimento se traduza em maior rentabilidade é o grande desafio. Controlar os custos de cada aplicação, seja via solo, foliar ou semente, e planejar o momento ideal para a operação são tarefas complexas que impactam diretamente o resultado da safra.
Um software de gestão agrícola como o Aegro simplifica esse processo. Nele, é possível planejar e registrar todas as atividades de adubação, acompanhando os custos com insumos e mão de obra por talhão.
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Perguntas Frequentes
Por que o excesso de fósforo no solo pode causar deficiência de zinco na soja?
O excesso de fósforo acelera o crescimento da planta, aumentando rapidamente sua massa vegetal. Se a absorção de zinco não acompanhar esse ritmo, sua concentração nos tecidos fica “diluída”, causando uma deficiência funcional. Essencialmente, a planta cresce mais rápido do que consegue absorver zinco, mesmo que o nutriente esteja presente no solo.
Qual a principal diferença entre a adubação com zinco via solo e a aplicação foliar?
A adubação via solo é uma estratégia de longo prazo, com efeito residual, que corrige os níveis do nutriente no solo de forma gradual. Já a aplicação foliar é uma solução de ação rápida e pontual, ideal para corrigir deficiências já visíveis nas plantas durante o ciclo, mas com efeito de curta duração.
Como sei o momento certo de aplicar zinco e qual a melhor forma de fazê-lo?
O ideal é combinar a análise de solo antes do plantio para uma correção de base (via solo ou tratamento de sementes). Durante o desenvolvimento da lavoura, o monitoramento visual e a análise foliar podem indicar a necessidade de uma aplicação foliar corretiva para resolver deficiências pontuais rapidamente.
Por que os sintomas de falta de zinco aparecem primeiro nas folhas novas da soja?
Isso ocorre porque o zinco tem baixa mobilidade dentro da planta, especialmente no floema (vasos que redistribuem nutrientes). A planta não consegue retirar o zinco das folhas mais velhas para enviá-lo para as áreas de crescimento. Consequentemente, os brotos e folhas novas são os primeiros a sofrer com a falta do nutriente.
Posso aplicar uma dose alta de zinco de uma vez para evitar problemas futuros?
Não é recomendado. Assim como a falta, o excesso de zinco é tóxico para a soja, podendo causar uma coloração avermelhada nas nervuras e pecíolos e prejudicar o desenvolvimento. O ideal é seguir as doses recomendadas com base na análise de solo, aplicando de forma equilibrada e monitorando a lavoura para eventuais reaplicações.
Minha análise de solo indica um bom nível de zinco, mas minhas plantas mostram deficiência. O que pode estar acontecendo?
Vários fatores podem bloquear a absorção de zinco. Um pH do solo muito alto (alcalino), geralmente por excesso de calcário, pode “prender” o nutriente. Doses elevadas de fósforo também inibem sua absorção. Além disso, condições de seca dificultam o movimento do zinco no solo até as raízes da planta.
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