Vassourinha-de-Botão: Como Identificar e Controlar Esta Daninha

Sou engenheira-agrônoma e mestra em agronomia, com ênfase em produção vegetal, pela Universidade Federal de Goiás.
Vassourinha-de-Botão: Como Identificar e Controlar Esta Daninha

A vassourinha-de-botão é uma planta daninha nativa da América tropical, pertencente à família Rubiaceae. Ela é conhecida por infestar lavouras, pastagens e áreas degradadas, tornando-se um desafio cada vez maior para o produtor.

No Brasil, essa espécie está se tornando um verdadeiro pesadelo, sendo considerada uma das plantas mais prejudiciais para culturas importantes como a soja, o milho e o algodão. O alerta cresceu ainda mais com os relatos sobre a baixa eficiência do glifosato para controlá-la, indicando o desenvolvimento de resistência.

Neste artigo, vamos detalhar como você pode identificar essa invasora na sua lavoura e apresentar as melhores estratégias de manejo para combatê-la de forma eficaz. Boa leitura!

Características da Vassourinha-de-Botão: Conheça a Planta Daninha

A vassourinha-de-botão, cujo nome científico é Spermacoce verticillata, é uma planta invasora de difícil controle que se espalha por todo o território brasileiro. Dependendo da região, ela recebe diferentes nomes populares:

  • Perpétua-do-mato;
  • Poaia-botão;
  • Poaia-rosário;
  • Falsa-poaia;
  • Vassourinha;
  • Erva-botão;
  • Cordão-de-frade.

Para entender como combatê-la, primeiro é preciso conhecer suas características principais:

  • Porte e Ciclo: É uma planta de porte herbáceo, ou seja, não possui caule lenhoso. Seu ciclo de vida pode ser anual (vive por um ano) ou perene (vive por vários anos), o que a torna ainda mais persistente.
  • Crescimento e Altura: O caule é bastante ramificado e seu crescimento pode ser tanto rasteiro (semiprostrado) quanto para cima (ereto). Ela pode atingir até 80 centímetros de altura.
  • Folhas: As folhas são simples e alongadas, com formato linear-lanceolado. Elas se ligam diretamente ao caule ou possuem um cabinho (pecíolo) muito curto.

close-up detalhado da planta daninha conhecida como erva-botão (Borreria verticillata), isolada contra um fPlanta daninha vassourinha-de-botão (Spermacoce verticillata) (Fonte: Atlas of Florida Plants)

  • Flores: A inflorescência é do tipo cimeira. Em outras palavras: as flores nascem muito juntas, formando um aglomerado que parece um pequeno globo. Elas são brancas e se localizam tanto nas axilas (junção da folha com o caule) quanto na ponta dos ramos.
  • Frutos: Os frutos são do tipo cápsula, que se abrem para liberar as sementes.

close-up detalhado da inflorescência da planta conhecida como erva-botão ou vassourinha-de-botão (*BorreriaInflorescência da vassourinha-de-botão (Spermacoce verticillata) (Fonte: Atlas of Florida Plants)

  • Raiz e Resistência: A raiz da vassourinha é pivotante, ou seja, tem uma raiz principal que cresce fundo no solo. Isso a torna uma planta muito rústica, capaz de sobreviver e se desenvolver até mesmo em solos ácidos e com baixa fertilidade. Sua propagação acontece principalmente por sementes.

Curiosamente, além de ser um problema na agricultura, a vassourinha-de-botão é usada na medicina tradicional para tratar diversas doenças, pois apresenta propriedades anti-inflamatórias, analgésicas e antimicrobianas.

Como Identificar Essa Planta Invasora na Lavour?

A identificação correta das plantas daninhas é o primeiro passo para um manejo de sucesso. A vassourinha-de-botão pode ser reconhecida visualmente com base em suas características. Ao fazer a avaliação na área, observe os seguintes pontos:

  • Hábito de Crescimento: A planta cresce de forma semi-rasteira ou ereta.
  • Folhas: São lisas, simples e com o formato alongado (linear-lanceolado).
  • Disposição das Folhas: As folhas ficam inseridas na mesma altura, no mesmo nó, ao redor do caule.
  • Localização das Flores: As flores aparecem nas axilas da planta e nas pontas dos ramos.
  • Aparência das Flores: São aglomeradas em formato de globo e de cor branca.
  • Fruto: É do tipo cápsula.
  • Raiz: O sistema radicular é pivotante (uma raiz principal profunda).

Um detalhe importante para confirmar a identificação: veja se a última inflorescência (o último conjunto de flores na ponta) está assentada sobre brácteas (pequenas folhas modificadas) que ficam pendentes.

close-up detalhado da planta daninha conhecida popularmente como vassourinha-de-botão (Borreria latifoliaFolhas de vassourinha-de-botão (Spermacoce verticillata) (Fonte: Atlas of Florida Plants)

A identificação visual de uma planta adulta é mais fácil. No entanto, lembre-se sempre que o controle é muito mais eficiente quando realizado nos estágios iniciais de desenvolvimento das plantas invasoras.

Danos Causados pela Spermacoce verticillata

A presença da vassourinha-de-botão na lavoura interfere diretamente no desenvolvimento da sua cultura. Os principais prejuízos são:

  • Competição por Recursos: Ela compete por água, luz, espaço e nutrientes, o que reduz o crescimento das plantas cultivadas, diminui a produtividade e afeta a qualidade do produto final.
  • Dificuldades na Colheita: A presença dessa e de outras plantas daninhas prejudica o processo de colheita, seja manual ou mecanizada. Ela aumenta a quantidade de impurezas e eleva a umidade dos grãos, o que pode gerar descontos na hora da venda.
  • Hospedeira de Problemas: A vassourinha-de-botão também pode servir de abrigo para doenças, insetos-praga, ácaros e nematoides, que podem depois atacar a sua cultura principal.

Vassourinha-de-botão: Controle da Espécie Invasora

Por ser uma espécie de difícil controle, o manejo da vassourinha-de-botão deve ser baseado em um esquema integrado de estratégias. Utilizar apenas um método isoladamente raramente traz o resultado esperado. A combinação de métodos preventivo, cultural, mecânico e químico é a chave para o sucesso.

Controle Químico

O controle químico com herbicidas é uma ferramenta bastante eficiente, mas deve ser usado em associação com outros métodos, e não como a única solução.

Como já mencionado, foi observada em campo a resistência da vassourinha-de-botão ao glifosato. Essa resistência é notada principalmente quando o glifosato é aplicado em plantas que já estão em estágios avançados de desenvolvimento.

Dica importante: o controle químico é mais eficaz quando as plantas invasoras ainda são jovens.

Confira a seguir os ingredientes ativos de herbicidas registrados para a vassourinha-de-botão na Embrapa e no MAPA:

  • Diclosulam + halauxifen-metil;
  • Glifosato-sal de isopropilamina;
  • Glufosinato-sal de amônio;
  • Glufosinato-sal de amônio + lauril éter sulfato de sódio;
  • Imazapir;
  • Picloram + herbicida 2,4-D;
  • Picloram + 2,4-D-trietanolamina;
  • Picloram-trietanolamina + 2,4-D-trietanolamina.

Atenção ao usar defensivos:

  1. Siga as Recomendações: Sempre respeite as orientações da bula quanto à dosagem, época e modo de aplicação dos produtos.
  2. Use EPI: Utilize todos os Equipamentos de Proteção Individual recomendados durante o manuseio e a aplicação dos produtos.
  3. Faça a Rotação de Herbicidas: Alternar herbicidas com diferentes mecanismos de ação é fundamental. Essa estratégia diminui a pressão de seleção, dificultando o surgimento de plantas resistentes, e ainda amplia o espectro de espécies controladas.

Controle Preventivo

As medidas preventivas buscam evitar a entrada e o estabelecimento da vassourinha-de-botão em áreas que ainda não estão infestadas. São ações simples, mas de grande impacto:

  • Evite a Sementeira: Controle as plantas daninhas antes que elas produzam sementes para impedir que se espalhem pela área.
  • Limpe Máquinas e Ferramentas: Faça a limpeza de tratores, colheitadeiras, implementos agrícolas e ferramentas. Isso evita que torrões de terra com sementes sejam levados de uma área contaminada para uma área limpa.
  • Elimine Focos: Assim que identificar um foco de infestação, elimine-o rapidamente antes que se alastre.
  • Controle na Entressafra: Não abandone a área na entressafra. Faça o controle das plantas que surgirem nesse período.
  • Mantenha as Bordaduras Limpas: Controle as plantas daninhas nas bordas da lavoura, em estradas e carreadores.
  • Use Sementes de Qualidade: Plante a cultura com sementes certificadas e de alto valor cultural, livres de sementes de plantas invasoras.

Controle Cultural

No controle cultural, o objetivo é adotar boas práticas agronômicas que favoreçam o desenvolvimento da cultura principal, tornando-a mais competitiva que a planta daninha. As principais estratégias são:

  • Época de Plantio: Escolher a época correta para que a cultura se estabeleça rapidamente.
  • Arranjo Espacial: Ajustar o espaçamento e a densidade de plantas para fechar o “dossel” mais rápido, sombreando o solo e dificultando a germinação da daninha.
  • Rotação de Culturas: Alternar espécies com diferentes arquiteturas e ciclos de vida.
  • Cobertura de Solo: Manter o solo coberto com plantas de cobertura na entressafra.
  • Integração Lavoura-Pecuária (ILP): Combinar a produção de grãos com a de pastagens.
  • Consórcios de Cultivos: Plantar duas ou mais culturas na mesma área.

Controle Mecânico

O controle mecânico utiliza o efeito físico de equipamentos para eliminar ou suprimir as plantas invasoras. Os métodos mais comuns são:

  • Capina Manual: Remoção com enxada, viável para pequenas áreas ou focos isolados.
  • Roçada: Corte das plantas daninhas, seja manual ou mecânico.
  • Cultivo Mecanizado: Uso de cultivadores nas entrelinhas da cultura.

A cobertura morta (palhada) também é uma forma de controle físico. Os restos vegetais sobre o solo formam uma barreira que impede a passagem de luz, essencial para a germinação de muitas sementes de daninhas.

Além do efeito de barreira, a decomposição dessa palha libera compostos aleloquímicos: substâncias que podem inibir a germinação e o desenvolvimento inicial de plantas invasoras.

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Conclusão

A vassourinha-de-botão (Spermacoce verticillata) é, sem dúvida, uma planta daninha de difícil controle. Sua rusticidade permite que ela se desenvolva mesmo em condições de baixa fertilidade e acidez do solo, tornando-a uma competidora agressiva para qualquer cultura.

A identificação correta, baseada nas suas características visuais, é o ponto de partida para um manejo eficiente. Neste artigo, apresentamos vários aspectos que podem te ajudar a reconhecê-la no campo.

Lembre-se que o manejo dessa daninha exige uma abordagem integrada, combinando medidas preventivas, culturais, mecânicas e químicas. Confiar em apenas uma estratégia pode levar ao fracasso do controle e ao aumento de plantas resistentes.

Em caso de dúvida sobre qual a melhor estratégia para a sua realidade, sempre consulte um(a) engenheiro(a)-agrônomo(a) de sua confiança.


Glossário

  • Compostos aleloquímicos: Substâncias químicas liberadas por uma planta (como a palhada em decomposição) que podem inibir a germinação ou o crescimento de outras plantas ao redor. É um tipo de controle biológico natural.

  • Dossel: Refere-se à camada superior de folhas e galhos de uma cultura. Quando o dossel se “fecha”, ele cria sombra no solo, dificultando o desenvolvimento de plantas daninhas por falta de luz.

  • Entressafra: Período entre a colheita de uma safra principal e o plantio da próxima. É uma janela crítica para realizar o manejo de plantas daninhas, evitando que elas se multipliquem para o ciclo seguinte.

  • Inflorescência: O modo como as flores de uma planta estão agrupadas em um ramo. Na vassourinha-de-botão, a inflorescência é um aglomerado denso de pequenas flores brancas, com aparência de um globo ou botão.

  • Nematoides: Vermes microscópicos que vivem no solo e podem atacar as raízes das plantas, causando doenças e perdas de produtividade. Plantas daninhas como a vassourinha-de-botão podem servir de abrigo (hospedeiras) para eles.

  • Porte herbáceo: Característica de uma planta que não possui um caule lenhoso (tronco de madeira). Seus caules são flexíveis e geralmente morrem ao final do ciclo de vida.

  • Raiz pivotante: Sistema radicular formado por uma raiz principal, que cresce verticalmente e de forma profunda no solo, com raízes secundárias menores. Essa estrutura torna a planta mais resistente à seca e mais difícil de ser arrancada mecanicamente.

Simplifique o manejo de plantas daninhas com a gestão certa

Implementar um manejo integrado para a vassourinha-de-botão, combinando métodos químicos, preventivos e culturais, é um desafio complexo que impacta diretamente os custos de produção. Controlar as aplicações de herbicidas, o uso de maquinário e o momento certo de cada ação exige um planejamento rigoroso para ser eficaz.

Ferramentas de gestão agrícola, como o Aegro, centralizam essas informações e facilitam o controle. Com um software, você pode planejar e registrar cada atividade de manejo no campo, desde a aplicação de defensivos até a roçada, associando automaticamente os custos de insumos e mão de obra a cada talhão. Isso não só organiza as operações, mas também gera relatórios precisos que mostram o custo real do controle de plantas daninhas, ajudando a tomar decisões mais inteligentes para as próximas safras.

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Perguntas Frequentes

Por que a vassourinha-de-botão é tão difícil de controlar nas lavouras?

A dificuldade de controle da vassourinha-de-botão se deve à sua rusticidade e adaptação. Sua raiz pivotante profunda a torna resistente à seca e a solos de baixa fertilidade. Além disso, seu ciclo de vida pode ser tanto anual quanto perene, e já foram relatados casos de resistência ao glifosato, o que exige um manejo integrado e mais complexo.

Qual é o momento ideal para realizar o controle químico da vassourinha-de-botão?

O controle químico é significativamente mais eficaz quando as plantas invasoras estão em seus estágios iniciais de desenvolvimento. Aplicar herbicidas em plantas de vassourinha-de-botão já adultas ou em estágios avançados reduz drasticamente a eficiência do tratamento, especialmente com herbicidas como o glifosato.

Se a vassourinha-de-botão é resistente ao glifosato, devo parar de usar este herbicida?

Não necessariamente. A resistência é mais notada em plantas em estágios avançados. A recomendação é adotar um manejo integrado, que inclui a rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação para diminuir a pressão de seleção. O glifosato ainda pode ser uma ferramenta útil, mas não deve ser a única solução.

Quais são os principais danos que a vassourinha-de-botão causa além da competição por nutrientes?

Além de competir por água, luz e nutrientes, a vassourinha-de-botão prejudica a colheita mecanizada, aumentando a umidade dos grãos e a quantidade de impurezas, o que pode gerar descontos na venda. Ela também pode servir como hospedeira para pragas e doenças, como nematoides, que podem atacar a cultura principal.

Quais são as principais características para identificar a vassourinha-de-botão no campo?

A forma mais fácil de identificá-la é observar suas flores brancas e pequenas, que se agrupam densamente formando uma espécie de globo ou “botão” nas axilas das folhas e nas pontas dos ramos. Suas folhas são alongadas (linear-lanceoladas) e o caule é bastante ramificado, com crescimento ereto ou semirrasteiro.

Além dos herbicidas, que outra prática de manejo é fundamental para controlar a vassourinha-de-botão?

O controle preventivo é crucial. Ações como limpar cuidadosamente máquinas e implementos agrícolas antes de mudar de área evitam a disseminação de sementes. Além disso, controlar os focos iniciais antes que a planta produza sementes e manter as bordaduras da lavoura limpas são práticas de baixo custo e alto impacto.

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