Umidade do Milho para Colheita: O Guia Completo para Evitar Perdas

Engenheira agrônoma, mestre e doutora na linha de pesquisa de sementes.
Umidade do Milho para Colheita: O Guia Completo para Evitar Perdas

A colheita é uma das etapas mais decisivas na produção de milho. Um planejamento bem executado neste momento pode reduzir as perdas da produção total em aproximadamente 6% no Brasil, um número bastante significativo.

O ponto mais crítico de atenção é, sem dúvida, a umidade do grão. Se a colheita for feita com a umidade inadequada, os prejuízos podem ser ainda maiores, afetando a qualidade e o valor do seu produto. Por isso, surgem tantas dúvidas: como saber a umidade certa? Qual é o ponto ideal para vender o grão ou para fazer silagem?

Neste artigo, vamos responder a todas essas perguntas e apresentar as principais dicas para você realizar uma colheita eficiente e no momento exato.

A Importância de Monitorar a Umidade do Milho

Durante todo o ciclo da cultura, diversos cuidados são necessários para alcançar altas produtividades. Contudo, o momento mais delicado é a colheita. Se ela não for realizada na hora certa, pode causar grandes perdas de grãos.

A colheita precisa ser planejada com antecedência. Isso evita que os grãos fiquem secando no campo por tempo demais, expostos a chuvas, ventos e outras condições climáticas indesejáveis.

Para tomar a decisão certa, o primeiro passo é entender o que é a maturidade fisiológica e como identificá-la na sua lavoura.

Como Identificar o Ponto de Maturidade Fisiológica do Milho

O ponto de maturidade fisiológica é o momento exato em que o grão para de acumular nutrientes e atinge seu peso máximo de matéria seca. A partir daqui, ele não “engorda” mais. No entanto, nesse estágio, a umidade do grão ainda é muito elevada, girando em torno de 50%.

Embora o milho já esteja “pronto” em termos de desenvolvimento, a colheita mecânica é impossível com essa umidade. Por isso, é preciso esperar a secagem natural no campo, mas sem demorar demais.

Manter a planta no campo por um período prolongado a deixa vulnerável ao ataque de insetos e doenças. Além disso, o tempo extra pode favorecer o crescimento de plantas daninhas, que dificultam a operação da colheitadeira e reduzem a qualidade dos grãos.

Mas, na prática, como saber que o milho atingiu a maturidade fisiológica? Existem dois sinais visuais claros nos grãos: a linha de leite e a camada negra.

A Linha de Leite

A linha de leite é uma separação visível dentro do grão entre a parte mais sólida (amido duro) e a parte mais leitosa. Conforme o milho amadurece, essa linha avança em direção à base do grão. Quando ela desaparece, o grão atingiu a maturidade.

uma sequência de sete grãos de milho em fundo preto, ilustrando as diferentes fases de maturação fisiológica. (Fonte: Steve Butzen)

A Camada Negra

A formação de uma pequena camada escura na ponta do grão, onde ele se conecta ao sabugo, é o indicador definitivo de maturidade. Essa camada negra bloqueia a passagem de nutrientes da planta para o grão, confirmando que ele está fisiologicamente maduro.

close-up da mão de uma pessoa, provavelmente um agricultor ou agrônomo, segurando dois grãos de milho recém (Fonte: José Carlos Madalóz)

Além desses sinais nos grãos, a coloração geral da lavoura também é um bom indicativo, com as plantas assumindo um tom mais amarelado ou marrom.

Qual a Umidade Ideal do Milho para a Colheita?

Após os grãos atingirem a maturidade fisiológica, a colheita deve ser realizada assim que a umidade permitir a operação mecânica com segurança e eficiência.

Colher com umidade muito alta causa danos mecânicos aos grãos, como trincas e quebras, além de dificultar a debulha (separação do grão do sabugo). De acordo com estudos da Embrapa, a porcentagem de danos é significativamente menor quando os grãos são colhidos com um teor de água inferior a 16%.

Atualmente, a umidade recomendada para a colheita do milho varia conforme o objetivo da produção e a tecnologia disponível na fazenda.

  • Para Armazenamento sem Secador: Se você não possui um secador e vai armazenar os grãos, o ideal é colher com a umidade em torno de 14%.
  • Com Uso de Secador: Se a sua propriedade conta com tecnologia para secagem, é possível antecipar a colheita e operar com umidade de até 25%, realizando a secagem artificial posteriormente.

Lembre-se da regra principal: o milho deve ser colhido o mais rápido possível após atingir o ponto de maturidade, encontrando o equilíbrio ideal de umidade.

planilha para estimativa de perdas na colheita Aegro

3 Testes Práticos para Medir a Umidade no Campo

Além dos medidores eletrônicos, existem métodos práticos que ajudam a ter uma boa noção da umidade diretamente na lavoura.

1. Teste da Unha

Risque o grão de milho com a unha. Se a unha deixar uma marca ou sulco no grão, é um sinal de que a umidade ainda está acima de 18%.

close-up extremo da mão de um agricultor inspecionando uma espiga de milho. Com o polegar e o indicador, e (Fonte: Embrapa)

2. Teste da Torção da Espiga

Pegue uma espiga já sem a palha e tente torcê-la com as mãos. Se a espiga torcer com facilidade, a umidade dos grãos provavelmente está na faixa de 18% a 20%.

3. Teste do Dente

Morda um grão. Se ele amassar ou “espirrar”, a umidade está alta. Se ele quebrar de forma seca e estaladiça, está mais próximo do ponto ideal para colheita.

Atenção: Se ainda tiver dúvidas, a melhor prática é coletar amostras representativas da lavoura e levá-las a um laboratório ou cooperativa para uma medição precisa.

Os Riscos de Colher Milho com Umidade Alta

A umidade excessiva pode ser prejudicial para a cultura do milho em diversas fases, mas os riscos se intensificam no final do ciclo.

  • Desenvolvimento de Doenças: A alta umidade no campo cria um ambiente favorável para o surgimento de doenças fúngicas tanto na planta quanto nos grãos, o que pode comprometer lotes inteiros e prejudicar a comercialização.
  • Danos Mecânicos: Grãos mais úmidos são mais “moles” e sofrem mais danos durante a colheita mecânica, resultando em grãos quebrados e trincados que perdem valor.
  • Qualidade Final: A soma desses fatores impacta diretamente a qualidade final do produto, afetando o preço de venda e a capacidade de armazenamento.

6 Dicas Fundamentais para uma Boa Colheita de Milho

1. Determine a Umidade dos Grãos

Para um bom planejamento, colete amostras em diferentes pontos da propriedade e faça a medição da umidade. Isso dará uma visão real da condição da lavoura.

2. Planeje sua Colheita

O planejamento da colheita é essencial. Defina a frota de máquinas necessária e o tempo de trabalho para garantir que todos os talhões sejam colhidos na janela de tempo ideal.

colheita de milho com Aegro Exemplo da gestão da colheita pelo Aegro: dados seguros e acompanhamento da operação em alguns cliques

3. Acompanhe o Processo de Maturação

Monitore a lavoura de perto para identificar o ponto de maturidade fisiológica. Isso permite programar o início da colheita com precisão, evitando perdas no campo.

4. Regule seu Maquinário

Ajuste a sua colheitadeira de acordo com a umidade dos grãos. Lembre-se que a umidade pode variar ao longo do dia e entre os talhões, exigindo ajustes finos no maquinário.

5. Controle a Velocidade de Colheita

A combinação de alta velocidade com alta umidade é a receita para o prejuízo. Reduza a velocidade da máquina em áreas mais úmidas para garantir uma colheita de qualidade e minimizar perdas.

6. Organize a Secagem e o Armazenamento

Se você colhe com umidade acima da ideal, o processo de secagem é obrigatório. A secagem artificial é a técnica mais comum e eficaz para garantir a conservação dos grãos.

Aqui no blog, temos um artigo completo sobre Secagem e armazenamento de grãos: Diferentes tipos e seus custos”. Vale a pena conferir!

Ponto de Colheita para Silagem: O Que Muda?

Se o seu objetivo é a produção de silagem de alta qualidade, o ponto de corte é diferente. A principal mudança é o momento de retirada do milho do campo.

O momento ideal para a silagem é o ponto farináceo-duro: quando cerca de 2/3 do grão já está com uma consistência dura e seca.

Passo a passo para reconhecer o ponto ideal de silagem no campo:

  1. Retire alguns grãos do meio da espiga.
  2. Aperte um grão com o dedo.
  3. Se escorrer um líquido leitoso, ainda não está no ponto ideal. A planta tem muita umidade.
  4. Se o grão apenas umedecer os dedos e sua parte interna parecer uma “pasta” ou “farinha”, ele está no ponto perfeito para ensilar.

close-up extremo dos dedos de uma pessoa, provavelmente um agricultor ou técnico agrícola, esfarelando uma (Fonte:Embrapa)

Conclusão

Entender e controlar a umidade do milho para colheita é um dos fatores mais importantes para garantir a qualidade final do grão e a rentabilidade da sua safra.

Neste artigo, vimos os principais cuidados que você deve ter, desde a identificação da maturidade fisiológica até as diferenças no ponto de corte para silagem. Com um bom planejamento e monitoramento constante, é possível evitar problemas com a umidade e realizar uma colheita de sucesso.

Espero que estas informações ajudem você a aprimorar seu manejo e a tomar as melhores decisões na hora da colheita


Glossário

  • Camada negra: Uma pequena camada escura que se forma na base do grão de milho, no ponto de conexão com o sabugo. Sua presença é o sinal definitivo de que o grão atingiu a maturidade fisiológica, pois ela bloqueia a passagem de novos nutrientes.

  • Debulha: Processo mecânico realizado pela colheitadeira para separar os grãos de milho do sabugo. A umidade excessiva dos grãos pode dificultar a debulha e causar danos mecânicos.

  • Linha de leite: Linha visual que separa a parte sólida (amido) da parte leitosa dentro do grão de milho. Conforme o grão amadurece, essa linha desce em direção à base; seu desaparecimento indica que a maturidade fisiológica foi atingida.

  • Matéria seca: Refere-se ao peso total de um grão ou planta após a remoção de toda a sua água. A maturidade fisiológica é o ponto em que o grão atinge seu acúmulo máximo de matéria seca.

  • Maturidade fisiológica: Estágio de desenvolvimento em que o grão de milho para de acumular nutrientes e atinge seu peso máximo de matéria seca. Neste ponto, a umidade ainda é muito alta (cerca de 50%) para a colheita mecânica.

  • Ponto farináceo-duro: O ponto de maturação ideal para a colheita de milho destinado à silagem. Ocorre quando cerca de dois terços do grão apresentam uma consistência firme e farinácea, indicando um bom equilíbrio entre umidade e nutrientes para a fermentação.

  • Silagem: Alimento para animais, principalmente gado, produzido a partir da fermentação de forragem picada, como a planta inteira de milho. O processo conserva os nutrientes da planta para uso posterior.

  • Talhões: Subdivisões de uma área agrícola, tratadas como unidades de manejo separadas. O monitoramento da umidade e o planejamento da colheita são frequentemente organizados por talhões.

  • Umidade do grão: A porcentagem de água presente nos grãos, fator crucial que determina o momento ideal da colheita. O teor de umidade ideal varia conforme o destino da produção (venda, armazenamento ou silagem).

Como a tecnologia ajuda a otimizar sua colheita

O planejamento detalhado da colheita, desde o monitoramento da umidade até a regulagem do maquinário, é um grande desafio. Para garantir que nada se perca, softwares de gestão agrícola como o Aegro ajudam a centralizar todas as informações. Com ele, é possível registrar as atividades em tempo real pelo celular, acompanhar o desempenho de cada talhão e garantir que a operação ocorra na janela de tempo ideal, reduzindo perdas e evitando danos aos grãos.

Além de organizar a operação, essa gestão transforma os dados da colheita em relatórios claros sobre custos e produtividade, mostrando o que realmente deu lucro. Assim, você toma decisões mais seguras para as próximas safras. Que tal simplificar o controle da sua fazenda e garantir a rentabilidade da colheita?

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Perguntas Frequentes

Qual a diferença entre a maturidade fisiológica e o ponto ideal de colheita do milho?

A maturidade fisiológica é o momento em que o grão atinge seu peso máximo de matéria seca, mas sua umidade ainda é muito alta (cerca de 50%). O ponto ideal de colheita ocorre depois, quando o grão perde água naturalmente no campo e atinge um nível de umidade (geralmente entre 14% e 25%) que permite a operação mecânica com mínimas perdas e danos.

É melhor colher o milho um pouco mais úmido e secar ou esperar ele secar totalmente no campo?

A decisão depende da sua estrutura e do risco que você está disposto a correr. Colher mais úmido (entre 20-25%) e usar um secador permite retirar a lavoura do campo mais cedo, protegendo-a de chuvas e pragas. Esperar secar no campo (até 14%) economiza nos custos de secagem, mas deixa a cultura vulnerável a perdas por um período maior.

Qual é o principal risco de colher milho com umidade muito acima da recomendada?

O principal risco é o alto índice de danos mecânicos. Grãos muito úmidos são mais ‘moles’ e suscetíveis a quebras e trincas durante a colheita e debulha. Além disso, a umidade excessiva dificulta o armazenamento e favorece o desenvolvimento de fungos e doenças que comprometem a qualidade do lote.

Como sei o ponto exato de colher milho para silagem?

O ponto ideal para silagem é diferente do ponto para grãos. Você deve colher no estágio ‘farináceo-duro’, quando cerca de dois terços do grão estão firmes. Um teste prático é apertar um grão: se ele liberar uma substância pastosa, como uma farinha úmida, e não um líquido leitoso, está no momento perfeito para ensilar.

Os testes práticos de umidade, como o da unha ou do dente, são confiáveis?

Esses testes são úteis para uma avaliação rápida e preliminar no campo, dando uma boa noção se a umidade está alta ou baixa. No entanto, eles não são precisos. Para tomar a decisão final de iniciar a colheita e garantir a conformidade para a venda, o ideal é sempre usar um medidor de umidade eletrônico ou enviar amostras para análise.

Por que a formação da ‘camada negra’ no grão de milho é tão importante?

A camada negra é o indicador visual definitivo de que o milho atingiu a maturidade fisiológica. Ela é um tecido que se forma na base do grão, bloqueando fisicamente a passagem de nutrientes da planta para o grão. A partir de sua formação, o grão não acumula mais matéria seca, iniciando apenas o processo de perda de água.

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