O triticale é um cereal de inverno resultado do cruzamento entre o trigo e o centeio. Esta combinação une o melhor dos dois mundos: ele herdou o alto potencial de rendimento de grãos do trigo e a rusticidade (resistência) do centeio.
No entanto, para ter sucesso com o triticale, o segredo está no manejo correto da cultura, pois esse cereal possui muitas especificidades.
Neste guia completo, você encontrará todos os detalhes sobre a semeadura, o manejo de pragas e doenças, e a colheita do triticale. Continue a leitura para dominar o cultivo deste cereal versátil.
O que é o triticale?
O triticale é um cereal híbrido de inverno, criado a partir do cruzamento do trigo com o centeio. Uma de suas principais características é a alta tolerância às geadas, o que o torna ideal para a safrinha de inverno no Sul do Brasil.
Este cereal é fundamental para a manutenção de palhada em solos mais fracos e arenosos, colaborando diretamente com a saúde do sistema de plantio direto. Por outro lado, o triticale tem baixa resistência à seca e ao calor excessivo.
Ele se destaca por se adaptar bem a diferentes condições de solo e clima, além de apresentar alta capacidade produtiva e boa resistência a doenças causadas por fungos.
Seu cultivo é mais comum no Sul do Brasil, onde serve como uma ótima opção de cultura para anteceder o plantio de lavouras importantes como o milho, a soja e o feijão.
Qual a melhor época para o plantio?
A janela de semeadura do triticale ocorre entre os meses de fevereiro e maio.
Nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, o ideal é plantá-lo na mesma época recomendada para a cultura do trigo. Seguir essa recomendação aumenta significativamente as chances de a lavoura atingir um bom rendimento de grãos.
Como fazer o plantio correto do triticale
Para um bom estabelecimento da lavoura, a semeadura deve ser feita em linhas, seguindo parâmetros técnicos claros.
Parâmetros de Semeadura
- Espaçamento entre linhas: O ideal é
17 cm
, não devendo ultrapassar20 cm
. - Densidade de sementes: A recomendação geral é de
400 sementes viáveis por metro quadrado
. Em áreas com alto risco de acamamento (tombamento das plantas), é mais seguro reduzir a densidade para300 sementes viáveis por metro quadrado
. - Profundidade de semeadura: Deve ficar entre
2 cm
e5 cm
.
Preparo e Correção do Solo
Antes de plantar, a análise de solo é fundamental. Com base nos resultados, faça a adubação corretiva.
É recomendado elevar a saturação por bases do solo para 70%.
Em outras palavras: A saturação por bases (V%) indica a quantidade de nutrientes bons (cálcio, magnésio, potássio) em relação à acidez. Levar a 70% significa corrigir o solo para deixá-lo mais fértil e produtivo.
Apesar de sua rusticidade permitir que tolere solos ácidos e altos teores de alumínio tóxico, a correção da acidez com calcário é uma prática que traz retornos excelentes. Ela proporciona aumentos consideráveis na sua produção.
Além disso, o triticale também responde muito bem à adubação nitrogenada. Portanto, um bom planejamento nutricional, baseado na análise de solo, é essencial para o sucesso da lavoura.
Grãos de triticale após serem colhidos
(Fonte: Kaufmann seeds)
Qual a quantidade de sementes de triticale por hectare?
A densidade de semeadura recomendada fica entre 350 a 400 sementes viáveis por metro quadrado. Como já mencionado, em áreas com risco de acamamento, essa quantidade pode ser reduzida para 300 sementes viáveis/m².
Por ser um cereal rústico que tolera bem solos ácidos e a presença de alumínio, ele pode ser cultivado com sucesso em regiões consideradas marginais para a cultura do trigo, onde o trigo tradicional não se desenvolveria bem.
Como controlar as doenças do triticale
O manejo de doenças começa antes mesmo do plantio. O primeiro passo, e um dos mais importantes, é o tratamento de sementes com fungicidas e inseticidas.
Esta prática oferece diversas vantagens:
- Reduz a quantidade inicial de doenças na lavoura (inóculo inicial);
- Controla pragas que atacam as plantas no início do ciclo;
- Aumenta a porcentagem de germinação das sementes;
- Garante o desenvolvimento de plantas mais fortes e vigorosas;
- Assegura um estande adequado de plantas por área;
- Resulta em um maior rendimento final de grãos.
Durante o desenvolvimento da cultura, duas doenças merecem atenção especial: a giberela e a brusone. Ambas atacam diretamente as espigas do triticale, causando danos significativos à produção.
O controle dessas doenças deve ser feito com a aplicação de fungicidas no início da floração plena da lavoura.
Como controlar as pragas do triticale
As pragas que mais aparecem na cultura do triticale são lagartas, pulgões, corós e percevejos.
É fundamental entender que o controle com inseticidas só deve ser realizado quando a população de pragas atingir o nível de dano econômico (NDE).
Para entender melhor: O Nível de Dano Econômico é o ponto em que o custo do controle da praga se torna menor do que o prejuízo que ela causaria na produção. Aplicar antes disso pode significar um gasto desnecessário.
Para calcular o NDE, é preciso contar com boas ferramentas de gestão. A planilha de Manejo Integrado de Pragas (MIP) pode ajudar você a fazer esse cálculo de forma precisa.
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Recomendações para uma colheita eficiente
A colheita do triticale exige atenção a alguns detalhes para evitar perdas. A colheitadeira deve operar em baixa velocidade, e a umidade das espigas e dos grãos precisa estar baixa. O uso de batedores em barras é o mais recomendado.
O momento ideal para a colheita depende do objetivo final da produção:
- Produção de feno ou silagem pré-secada: As plantas devem ser colhidas até o estádio de emborrachamento (fase em que a espiga está formada, mas ainda dentro da última folha).
- Silagem de planta inteira: A colheita deve ocorrer quando os grãos atingem o estádio de leitoso a pastoso (quando o grão libera um líquido leitoso ou uma massa ao ser apertado).
- Produção de grãos: A colheita pode ser manual ou mecânica.
- Colheita manual: O grão deve ser colhido com menos de 25% de umidade. Depois, precisa ser seco até atingir 14% de umidade para ser trilhado.
- Colheita mecanizada: O ideal é colher quando o grão apresentar umidade entre 14% e 25%. A máquina precisa estar bem regulada e ajustada para cereais de inverno de grãos pequenos.
Planeje-se para colher o mais cedo possível. Isso ajuda a evitar prejuízos na germinação, no vigor e na qualidade dos grãos. A colheita com umidade abaixo de 20% é aconselhável, pois facilita a secagem e reduz perdas econômicas caso haja ameaça de chuva.
Como o triticale produz uma maior quantidade de palha em comparação com o trigo, a velocidade da colheitadeira deve ser menor para evitar embuchamento e perdas.
Triticale em fase de maturação, próximo da colheita
(Fonte: FMApa)
Cuidados importantes na pós-colheita
Após a colheita, é crucial inspecionar os grãos para verificar a presença de grãos giberelados (afetados pela giberela).
Tanto o triticale quanto outros cereais de inverno afetados por essa doença podem causar problemas de toxidez em animais. Por isso, a retirada desses grãos é obrigatória para que os grãos sadios possam ser usados sem problemas na alimentação animal.
Esse processo de separação pode ser feito com uma máquina de ar e peneira ou por meio de outras práticas de seleção, incluindo a manual.
Zoneamento Agrícola (Zarc) para o triticale
Uma ótima notícia para os produtores é que o triticale foi recentemente incluído na base de dados do Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático). A ferramenta pode ser acessada gratuitamente pela internet.
O Zarc indica a melhor época de semeadura para cada município das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, tanto para sistemas de sequeiro quanto irrigados. A criação do zoneamento foi motivada pelo aumento da demanda do cereal na alimentação animal e ajudará a expandir seu cultivo de forma mais segura no país.
Benefícios do triticale na sucessão de culturas
Incluir o triticale como cultura de inverno na sua propriedade traz vantagens que vão além da sua própria colheita. Ele minimiza danos ao solo e ajuda a suprimir plantas daninhas, preparando o terreno para a próxima lavoura.
Outras vantagens importantes incluem:
- O triticale tem qualidades para panificação;
- É uma excelente opção para cobertura do solo na entressafra, protegendo-o da erosão e da perda de nutrientes (lixiviação);
- Serve como uma ótima alternativa para adubação verde, incorporando nutrientes ao solo;
- Possui alta resistência ao frio, adaptando-se bem ao inverno do Sul;
- Seus grãos têm alta qualidade nutricional para alimentação animal;
- Pode ser utilizado em sistemas de consorciação e rotação de culturas.
Conclusão
O triticale é uma cultura extremamente versátil, que pode ser usada na rotação ou sucessão de culturas, seja como cobertura de solo, para produção de grãos ou para alimentação animal.
Para obter sucesso, o manejo deve ser cuidadoso, com atenção especial à giberela e à brusone, as principais doenças que atacam suas espigas. Ao inserir o triticale como cultura de inverno, o cultivo das culturas de verão seguintes pode se tornar muito mais vantajoso e produtivo.
Com todas estas informações em mãos, agora você pode avaliar com segurança a inclusão do triticale como uma opção rentável e sustentável em sua propriedade.
Glossário
Acamamento: Tombamento das plantas, geralmente causado por ventos fortes, chuvas intensas ou excesso de adubação nitrogenada. Dificulta a colheita mecânica e pode reduzir a produtividade.
Estádio de Emborrachamento: Fase de desenvolvimento do cereal em que a espiga já está formada, mas ainda se encontra envolvida pela bainha da última folha. É um ponto de referência para a colheita destinada à produção de feno.
Lixiviação: Processo em que a água da chuva “lava” o solo, carregando nutrientes para camadas mais profundas e deixando-os fora do alcance das raízes. A cobertura do solo com palhada, como a do triticale, ajuda a reduzir este problema.
Nível de Dano Econômico (NDE): Ponto em que a população de uma praga é alta o suficiente para causar um prejuízo financeiro maior que o custo da aplicação de um defensivo. É o gatilho que indica o momento certo para iniciar o controle.
Palhada: Camada de restos vegetais (palha, folhas, caules) deixada sobre a superfície do solo após a colheita. É a base do sistema de plantio direto, protegendo o solo contra erosão e conservando umidade.
Plantio Direto: Sistema de cultivo onde a semeadura é feita diretamente sobre a palhada da cultura anterior, sem o preparo convencional do solo (aração e gradagem). O triticale é uma excelente opção para formar essa palhada.
Rusticidade: Característica de uma planta que lhe permite tolerar e se desenvolver bem em condições ambientais adversas, como solos ácidos, baixas temperaturas ou menor fertilidade.
Saturação por Bases (V%): Um indicador da fertilidade do solo que mede a proporção de nutrientes “bons” (cálcio, magnésio, potássio) em relação à capacidade de troca de cátions do solo. Um V% elevado indica um solo menos ácido e mais fértil.
Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático): Ferramenta oficial que indica as épocas de plantio com menor risco climático para cada cultura em cada município. Ajuda o produtor a tomar decisões mais seguras de plantio.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
Gerenciar o momento ideal para o controle de pragas — com base no Nível de Dano Econômico — e, ao mesmo tempo, acompanhar de perto os custos de produção são desafios cruciais no cultivo do triticale. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza o planejamento e o registro de todas as atividades, desde o monitoramento no campo até as aplicações. Isso garante que cada decisão seja baseada em dados concretos para proteger tanto a produtividade quanto a sua margem de lucro.
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Perguntas Frequentes
Qual a principal diferença entre o cultivo de triticale e o de trigo?
A principal diferença está na rusticidade. O triticale, por ser um híbrido com o centeio, tolera melhor solos mais ácidos e com presença de alumínio tóxico, sendo ideal para áreas marginais onde o trigo não se desenvolveria bem. Além disso, geralmente produz um volume maior de palhada, o que é uma vantagem para o sistema de plantio direto.
O triticale pode ser usado na alimentação humana?
Sim, o triticale pode ser utilizado na alimentação humana, especialmente em panificação, pois possui qualidades para isso. No entanto, seu uso principal e mais difundido no Brasil é como forragem e grão de alta qualidade nutricional para a alimentação animal, principalmente para suínos, aves e bovinos.
Por que o triticale é tão recomendado para o sistema de plantio direto?
O triticale é excelente para o plantio direto devido à sua alta capacidade de produção de biomassa. A grande quantidade de palha que ele deixa sobre o solo após a colheita protege contra a erosão, ajuda a reter umidade, suprime o crescimento de plantas daninhas e incorpora matéria orgânica, melhorando a saúde do solo para a cultura seguinte, como a soja ou o milho.
Qual o maior risco de errar na adubação nitrogenada do triticale?
O maior risco é o acamamento das plantas. Embora o triticale responda muito bem ao nitrogênio com aumento de produtividade, a aplicação em excesso pode causar um crescimento vegetativo exagerado, enfraquecendo o colmo. Isso faz com que as plantas tombem, dificultando a colheita mecânica e podendo levar a perdas de grãos.
Como a presença de grãos giberelados afeta o uso do triticale na ração animal?
A presença de grãos afetados pela giberela é um problema sério, pois o fungo produz micotoxinas perigosas para os animais. Essas toxinas podem causar recusa de consumo do alimento, problemas reprodutivos e outros distúrbios de saúde no rebanho. Por isso, é obrigatório inspecionar e separar os grãos giberelados dos sadios antes de destiná-los à alimentação animal.
É possível cultivar triticale em regiões fora do Sul do Brasil?
Sim, é possível. Embora seja mais tradicional no Sul devido à sua resistência ao frio, o Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático) já indica épocas de semeadura com menor risco para municípios do Sudeste, Centro-Oeste e até Nordeste. A chave é consultar o Zarc para identificar a janela de plantio ideal para sua localidade e garantir que as condições de temperatura não sejam excessivamente altas durante o ciclo.
Artigos Relevantes
- Entenda como interpretar as informações do Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático): Este artigo é o complemento perfeito para a menção ao Zarc no texto principal. Enquanto o guia do triticale informa que a cultura foi incluída na ferramenta, este candidato ensina o produtor a interpretar e utilizar o Zarc na prática, detalhando variáveis como tipo de solo e decêndios, transformando uma informação pontual em uma habilidade de planejamento acionável.
- Melhores práticas para fazer o tratamento de sementes de trigo na fazenda: O artigo principal afirma que o tratamento de sementes é o passo mais importante no manejo de doenças, e este candidato aprofunda exatamente nesse ponto crítico. Ele detalha as vantagens, compara o tratamento industrial (TSI) com o on-farm e lista produtos comerciais, oferecendo um guia prático e completo que transforma a recomendação do texto base em uma estratégia executável.
- Como fazer o preparo do solo para plantio de trigo: Este artigo expande a seção de preparo de solo do texto principal, oferecendo um nível de detalhe superior e dados regionais específicos. Ele reforça a importância da análise de solo e do Zarc, e fornece tabelas de adubação nitrogenada para o Sul do Brasil, tornando a recomendação de fertilização mais concreta e aplicável para o produtor que cultiva triticale.
- O que você precisa saber para fazer a melhor aplicação de 2,4 D em trigo: O texto principal menciona o benefício do triticale na supressão de plantas daninhas, mas não aborda o manejo químico. Este artigo preenche essa lacuna crucial ao detalhar o uso de um dos herbicidas mais comuns em cereais de inverno, explicando o momento ideal de aplicação e os riscos, o que agrega uma dimensão de manejo de invasoras que estava ausente no guia.
- Como garantir a qualidade durante os processos de secagem e armazenamento de trigo: Este artigo continua a jornada do leitor exatamente de onde o texto principal para: a pós-colheita. Enquanto o guia de triticale foca na identificação de grãos giberelados, este candidato oferece um manual completo sobre secagem e armazenamento, abordando controle de temperatura, umidade e, crucialmente, o manejo integrado de pragas de armazém, garantindo a qualidade do grão até a comercialização.