Tratamento de Sementes com Plasma Frio: Guia Completo da Tecnologia

Redatora parceira Aegro.
Tratamento de Sementes com Plasma Frio: Guia Completo da Tecnologia

Nos últimos anos, a tecnologia de sementes avançou muito. Afinal, a qualidade da semente é o que define o potencial inicial da lavoura e impacta diretamente a produtividade final.

Uma vez que a qualidade das sementes é perdida, ela não pode ser recuperada, apenas conservada durante o armazenamento. Por isso, novas técnicas são sempre bem-vindas.

Uma dessas inovações é o tratamento com plasma frio, que tem mostrado resultados muito promissores. Em culturas como a soja, por exemplo, o plasma pode aumentar a germinação e o vigor das sementes, além de reduzir a infecção por fungos.

Neste artigo, vamos explicar como funciona o tratamento de sementes com plasma frio, suas vantagens, desvantagens e como essa tecnologia pode melhorar a qualidade dos seus lotes de sementes. Boa leitura!

O que é o tratamento de sementes com plasma?

O tratamento de sementes com plasma frio funciona como um “banho de energia” na superfície da semente, utilizando gases como oxigênio ou nitrogênio. Esses gases são energizados e modificam as propriedades da casca da semente, sem danificá-la.

Nesse processo, uma das principais mudanças é a diminuição do ângulo de contato da semente com a água.

Em outras palavras: A superfície da semente se torna mais “amigável” à água. Isso melhora a velocidade e a quantidade de água absorvida, o que acelera a germinação.

Existem três técnicas principais para aplicar o plasma:

  1. LPRF (Plasma de radiofrequência de baixa pressão): Uma técnica mais tradicional, usada em ambiente de vácuo.
  2. DBD (Descarga de barreira dielétrica): Um método que funciona em pressão atmosférica normal, sem necessidade de vácuo.
  3. Jato de plasma: Um jato concentrado de plasma aplicado diretamente sobre as sementes.

Como funciona o tratamento com plasma frio?

O plasma frio, também conhecido como plasma não térmico, é uma mistura de gases neutros e ionizados (energizados) com diferentes moléculas ativadas. Ele é chamado de “frio” porque não aquece a semente a ponto de danificá-la.

Dentro dessa mistura, destacam-se dois componentes importantes:

  • ROS (espécies reativas de oxigênio): Moléculas de oxigênio altamente energizadas.
  • RNS (espécies reativas de nitrogênio): Moléculas de nitrogênio altamente energizadas.

Essas moléculas (ROS e RNS) atuam como sinalizadores químicos dentro das plantas, regulando funções essenciais como:

  • Metabolismo geral da planta;
  • Transporte e absorção de nutrientes;
  • Processo de germinação;
  • Senescência (o envelhecimento natural das células);
  • Tolerância a estresses, como falta de água, temperaturas extremas, salinidade e ataques de pragas e doenças.

O processo de geração do plasma frio em laboratório geralmente segue estes passos:

  1. As sementes são colocadas dentro de um reator, que é uma câmara de vácuo com dois eletrodos e uma base de vidro.
  2. Uma bomba de vácuo reduz a pressão do ar dentro da câmara até o nível ideal para a cultura a ser tratada.
  3. O gás (como oxigênio ou nitrogênio) é injetado na câmara.
  4. Uma fonte de alimentação elétrica energiza os eletrodos, transformando o gás em plasma.
  5. As sementes são expostas a esse plasma por um tempo e com uma potência controlada, de acordo com a necessidade.

duas partes, A e B, que ilustram o processo de tratamento de sementes com plasma frio. A parte A é um Imagem esquemática de um dispositivo para tratamento de sementes com plasma a frio. (Fonte: traduzido de Li e colaboradores, 2021)

A potência e a duração do tratamento variam muito, pois cada espécie de semente responde de uma forma diferente.

LPRF (Plasma de radiofrequência de baixa pressão)

Esta é uma técnica mais tradicional, muito usada em laboratórios para inativar microrganismos, como fungos e bactérias que causam doenças em plantas.

Além de “limpar” a semente, o LPRF também altera a superfície dela para que absorva água mais facilmente, o que, como vimos, ajuda na germinação.

DBD (Descarga de barreira dielétrica plasma atmosférico)

Este tipo de plasma frio tem uma grande vantagem: ele funciona em pressão atmosférica normal. Isso significa que não precisa de equipamentos de vácuo caros ou de gases especiais, tornando o processo potencialmente mais simples e barato.

Ele gera raios ultravioleta e um fluxo de elétrons que tratam a superfície da semente de forma eficaz.

Jato de plasma

O jato de plasma também é uma categoria de plasma frio que opera em pressão atmosférica. Ele é bastante versátil, pois permite um controle preciso da potência e do tipo de gás utilizado.

Essa flexibilidade permite ajustar o tratamento para influenciar positivamente as propriedades físicas, químicas e biológicas de diferentes tipos de sementes.

duas partes, (a) e (b), que ilustram um experimento científico de física de plasmas. A parte (a) é um Esquema do jato de plasma (a) e imagem do tratamento de sementes de arroz com o plasma (b). (Fonte: traduzido de Billah e colaboradores, 2021)

tabela comparativa detalhada de três tipos diferentes de sistemas de geração de plasma. Cada coluna re Tipos de plasma disponíveis e suas principais características quanto a pressão, quantidade de amostras processadas e custo. (Fonte: Sarapirom; Yu, 2021)

Vantagens e Desvantagens do Tratamento com Plasma

Como toda tecnologia, o tratamento com plasma tem seus pontos fortes e fracos.

Principais Vantagens

  • Mudas mais fortes e vigorosas: O tratamento ajuda a manter os cotilédones (as primeiras “folhas” da semente) ativos por mais tempo, dando à plântula um melhor arranque e maior tolerância a estresses iniciais.
  • Germinação mais rápida e sementes mais limpas: Aumenta a porcentagem de sementes que germinam e reduz a contaminação por patógenos na superfície.
  • Maior crescimento da planta: Pesquisas mostram que o tratamento pode aumentar a biomassa seca das plantas em até 45%, resultando em plantas mais robustas. Também pode ser útil em solos com contaminação por metais pesados, como o Cádmio.
  • Resistência ao frio: Pode ajudar as sementes a suportarem melhor as baixas temperaturas após o plantio.
  • “Acorda” sementes dormentes: É eficaz para quebrar a dormência de sementes, tornando viáveis lotes que antes não germinariam.
  • Proteção no armazenamento: Inibe o crescimento de fungos em grãos e sementes durante a pós-colheita, pois o plasma danifica a membrana celular dos fungos.

Principal Desvantagem

A maior desvantagem, no momento, é a acessibilidade restrita. A tecnologia ainda é aplicada principalmente em pequena escala e para fins de pesquisa científica.

Os laboratórios que desenvolvem a tecnologia de plasma no Brasil são recentes, com menos de 15 anos de operação. Por isso, ainda não é um serviço comercial amplamente disponível.

Aplicações e Objetivos na Agricultura

O uso de plasma na agricultura está ganhando cada vez mais visibilidade, à medida que novos estudos são realizados.

O sucesso do tratamento depende de ajustar os parâmetros corretos para cada cultura. A potência do plasma, o tempo de exposição e o tipo de gás são escolhidos com base no objetivo desejado.

A tabela a seguir mostra exemplos práticos de como o tratamento é ajustado para diferentes culturas e os resultados obtidos em pesquisas:

uma tabela informativa que detalha a aplicação da tecnologia de tratamento com plasma em sementes de diferente (Fonte: Pizá, legatechnics, Li, Sarapiron, Daiber, Gomi, Billah, Karkamar)

Onde Fazer o Tratamento de Sementes com Plasma?

Atualmente, o tratamento de sementes com plasma é realizado em locais específicos, com foco em pesquisa e desenvolvimento.

Ainda não é um procedimento que pode ser feito diretamente na fazenda, pois exige equipamentos e gases específicos que demandam manipulação técnica. A expectativa é que, em breve, a tecnologia se torne mais acessível e disponível no mercado.

Se você tem interesse em aplicar a tecnologia ou firmar parcerias de pesquisa, o caminho é entrar em contato com instituições que já trabalham com isso.

Os principais laboratórios no Brasil que pesquisam o tratamento de sementes com plasma são:

Planilha de custos dos insumos da lavoura

Conclusão

O tratamento de sementes a plasma é uma tecnologia promissora e viável para diversas culturas de interesse agrícola.

Seu principal benefício é acelerar e uniformizar a germinação, o que reduz o tempo de exposição das sementes a patógenos e condições adversas no solo.

Além disso, a técnica pode ajudar na quebra de dormência de sementes e aumentar a vida útil de grãos e sementes armazenados.

Embora a aplicação da tecnologia ainda seja restrita a laboratórios de pesquisa, o potencial é enorme. Por ser uma tecnologia limpa e eficiente, o tratamento com plasma tem tudo para se tornar um grande aliado do produtor rural no futuro.


Glossário

  • Cotilédones: As primeiras folhas embrionárias de uma planta, que emergem da semente durante a germinação. Funcionam como uma reserva inicial de energia para a plântula até que as folhas verdadeiras se desenvolvam.

  • DBD (Descarga de barreira dielétrica): Uma técnica de tratamento com plasma frio que opera em pressão atmosférica normal. Sua principal vantagem é não exigir equipamentos de vácuo, tornando o processo potencialmente mais simples e econômico.

  • Dormência de sementes: Um estado natural em que sementes viáveis não conseguem germinar, mesmo em condições ideais de umidade e temperatura. O tratamento com plasma pode quebrar essa dormência, ativando o processo de germinação.

  • LPRF (Plasma de radiofrequência de baixa pressão): Um método de tratamento com plasma realizado dentro de uma câmara de vácuo. É altamente eficaz para inativar microrganismos na superfície da semente, como fungos e bactérias.

  • Plasma Frio (ou Plasma não térmico): Um gás energizado (ionizado) que modifica as propriedades da superfície de uma semente sem aquecê-la a ponto de danificá-la. É usado para melhorar a absorção de água e acelerar a germinação.

  • RNS (Espécies Reativas de Nitrogênio): Moléculas de nitrogênio altamente energizadas, criadas no processo de plasma. Atuam como sinalizadores químicos dentro da planta, regulando funções como metabolismo e tolerância a estresses.

  • ROS (Espécies Reativas de Oxigênio): Moléculas de oxigênio altamente energizadas, geradas durante o tratamento com plasma. Assim como as RNS, ativam processos biológicos importantes, incluindo a germinação e as defesas da planta.

  • Vigor (de sementes): A capacidade de uma semente germinar de forma rápida e uniforme, gerando uma plântula forte e saudável em diferentes condições de campo. É um indicador de qualidade superior à simples taxa de germinação.

Como a gestão agrícola potencializa o uso de sementes de alta qualidade

Enquanto tecnologias inovadoras como o tratamento a plasma ainda se preparam para chegar ao mercado, o desafio do produtor continua o mesmo: garantir que o investimento em sementes de alto vigor se traduza em máxima produtividade. Para isso, é fundamental acompanhar de perto o desempenho da lavoura e o custo de cada operação.

Um software de gestão agrícola como o Aegro permite registrar todas as atividades e despesas por talhão, desde a compra das sementes até a colheita. Isso não só facilita o controle dos custos de produção, mas também gera relatórios claros que mostram quais variedades e manejos trouxeram os melhores resultados, ajudando a tomar decisões mais inteligentes e lucrativas para a próxima safra.

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Perguntas Frequentes

Qual é a principal vantagem do tratamento de sementes com plasma frio?

A principal vantagem é a melhoria na absorção de água pela semente. O plasma torna a superfície da semente mais permeável, o que acelera e uniformiza a germinação. Isso resulta em plântulas mais fortes e reduz o tempo de exposição da semente a patógenos no solo.

O tratamento com plasma frio pode danificar ou ‘queimar’ as sementes?

Não. Ele é chamado de ‘plasma frio’ ou ’não térmico’ justamente por operar em temperaturas baixas, que não causam danos térmicos à semente. O processo altera apenas as propriedades da superfície (casca) de forma controlada, sem afetar o embrião ou o material genético.

Este tratamento com plasma substitui o uso de fungicidas no tratamento de sementes?

Não necessariamente. Embora o plasma possa inativar fungos e bactérias na superfície da semente (efeito de limpeza), ele não oferece a proteção residual contra patógenos do solo que muitos tratamentos químicos fornecem após o plantio. As tecnologias podem ser vistas como complementares.

Quando o tratamento de sementes com plasma estará disponível para o produtor rural?

Atualmente, a tecnologia está em fase de pesquisa e desenvolvimento, restrita a laboratórios e universidades. Ainda não há uma previsão exata para sua disponibilidade comercial em larga escala, mas a expectativa é que, com a evolução dos estudos e o barateamento dos equipamentos, ela se torne acessível nos próximos anos.

O tratamento com plasma frio funciona para qualquer tipo de cultura?

Sim, a tecnologia é bastante versátil e já demonstrou resultados positivos em diversas culturas, como soja, arroz, milho e hortaliças. O segredo do sucesso está em ajustar os parâmetros do tratamento — como potência, tempo de exposição e tipo de gás — para as características específicas de cada espécie de semente.

Qual a diferença entre os métodos LPRF e DBD de aplicação de plasma?

A principal diferença está na pressão de operação. O LPRF (Plasma de radiofrequência de baixa pressão) exige um ambiente de vácuo, o que torna o equipamento mais complexo e caro. Já o DBD (Descarga de barreira dielétrica) funciona em pressão atmosférica normal, sendo uma alternativa potencialmente mais simples e barata para a aplicação em larga escala no futuro.

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