Existem diversos tipos de irrigação na agricultura, e muitos deles envolvem um alto nível de tecnologia, podem ser complexos e, frequentemente, exigem um investimento significativo.
Por isso, encontrar um tipo de irrigação que seja perfeitamente compatível com as características da sua lavoura e do seu bolso pode ser uma tarefa desafiadora.
Você sabe quais são os principais fatores a considerar para escolher o método de irrigação mais adequado para a sua realidade?
Neste guia completo, vamos detalhar os principais tipos de irrigação na agricultura para ajudar você a tomar a decisão mais informada e segura.
Diferença Essencial: Método x Sistema de Irrigação
Antes de tudo, é importante entender a diferença entre método e sistema de irrigação, pois são conceitos que se complementam.
Os métodos de irrigação estão relacionados à forma como a água é aplicada no solo e nas plantas. Existem quatro métodos principais:
- Superficial (ou por superfície): a água corre sobre o solo por gravidade.
- Aspersão: a água é lançada no ar e cai sobre a lavoura, simulando a chuva.
- Localizada: a água é aplicada em pontos específicos, diretamente na zona das raízes.
- Subsuperfície (ou subterrânea): a água é aplicada abaixo da superfície do solo.
Já o sistema de irrigação se refere ao conjunto de equipamentos e peças (como bombas, tubos, aspersores e gotejadores) que trabalham juntos para aplicar a água conforme o método escolhido.
Para selecionar o melhor método, você deve avaliar fatores como o tipo de solo da sua fazenda, a inclinação do terreno (topografia), as condições climáticas da região e, claro, as necessidades específicas da cultura que você planta.
Agora, vamos conhecer os detalhes de cada tipo.
1. Irrigação Superficial
Este é provavelmente o método de irrigação mais antigo de todos, utilizado pela humanidade desde o início da agricultura.
Seu funcionamento é muito simples: consiste na cobertura gradual do solo com uma lâmina de água, que se move pela ação da gravidade.
Este método possui duas variações principais de sistema: inundação e sulcos.
Diferentes sistemas de irrigação do tipo superficial: inundação (esquerda), comum em arrozais, e sulcos (direita), usado em culturas em linha.
(Fonte: Embrapa)
No sistema de inundação, a água é aplicada para cobrir toda a área do cultivo, formando uma lâmina contínua. É muito comum no cultivo de arroz irrigado.
No sistema de sulcos, a água é direcionada para escoar apenas dentro de sulcos abertos entre as linhas de plantio.
Veja na tabela um resumo das principais vantagens e desvantagens deste método.
Principais vantagens e desvantagens da irrigação superficial.
(Fonte: elaborado pelo autor com base em Testezlaf, 2017)
2. Irrigação por Aspersão
A irrigação por aspersão é talvez o método mais conhecido na agricultura moderna. Nele, aspersores expelem jatos de água no ar, que caem sobre a lavoura em forma de gotas, simulando uma chuva artificial.
Na irrigação por aspersão, existem os sistemas convencionais e os mecanizados.
- Sistemas Convencionais: são os mais clássicos, que utilizam um conjunto de motobomba, tubulações e aspersores. Podem ser fixos (instalados permanentemente na área) ou móveis (deslocados manualmente).
- Sistemas Mecanizados: são estruturas maiores, como os pivôs centrais e os autopropelidos (carretéis), que se movimentam pela lavoura de forma automatizada, cobrindo grandes áreas.
Sistemas de irrigação por pivô central (esquerda), um sistema mecanizado, e aspersão convencional (direita).
(Fonte: Safra Irrigação)
Uma das principais vantagens da aspersão é a baixa necessidade de mão de obra, especialmente nos sistemas mecanizados. Além disso, não exige o nivelamento do terreno e permite uma boa uniformidade na aplicação da água.
Contudo, este método também tem suas desvantagens. A eficiência pode ser muito afetada pelo vento, o custo inicial de instalação pode ser elevado e, como as folhas ficam constantemente molhadas, o ambiente se torna mais propício ao desenvolvimento de patógenos (significa: organismos que causam doenças, como fungos e bactérias).
3. Irrigação Localizada
Diferente dos métodos anteriores, a irrigação localizada aplica a água de forma precisa e controlada, diretamente na região próxima ao sistema radicular das plantas.
Sua principal característica é o uso de baixos volumes de água por aplicação, mas com uma alta frequência (turnos de rega mais curtos e frequentes).
Este tipo de irrigação é mais comum em culturas perenes, como as frutíferas. No entanto, também é muito eficiente para olerícolas (hortaliças), plantas ornamentais e espécies florestais.
Existem dois sistemas principais de irrigação localizada: o gotejamento e a microaspersão. Veja as diferenças entre eles:
Principais diferenças entre os sistemas de irrigação do tipo localizada.
(Fonte: Elaborado pelo autor com base em Testezlaf, 2017)
Exemplos de irrigação por microaspersão (esquerda) e gotejamento (direita).
(Fonte: Jacobucci)
As vantagens deste método estão ligadas ao excelente aproveitamento da água, com perdas mínimas por evaporação e escoamento superficial. O sistema também permite a fertirrigação (significa: aplicar fertilizantes diluídos na água da irrigação), não interfere em outros manejos da cultura e requer pouca energia para funcionar.
Por outro lado, seu custo inicial de implantação é bastante elevado. Ele também exige água de melhor qualidade e um bom sistema de filtragem, pois os emissores (gotejadores e microaspersores) podem entupir facilmente. Em alguns casos, a irrigação localizada pode limitar o desenvolvimento do sistema radicular, já que a zona de molhamento do solo é mais restrita.
4. Irrigação por Subsuperfície
O método de subsuperfície, como o nome sugere, funciona aplicando a água diretamente na zona das raízes ou abaixo dela, sem molhar a superfície do solo.
Existem dois sistemas principais para este método: o gotejamento subterrâneo e a elevação controlada do lençol freático.
Exemplo de instalação de gotejamento por subsuperfície em uma lavoura de café.
(Fonte: CaféPoint)
Apesar de ser menos comum no Brasil, este é um método de altíssima eficiência e uniformidade. Ele praticamente elimina a perda de água por evaporação e impede a formação de uma zona de molhamento restrita na superfície.
No entanto, o custo inicial para instalar as tubulações enterradas é muito alto. Além disso, exige um sistema de filtragem de excelente qualidade, pois em caso de entupimento, a manutenção é complexa e cara, exigindo que o sistema seja desenterrado.
Como Escolher Corretamente o Tipo de Irrigação?
Para escolher o melhor método de irrigação para a sua fazenda, você precisa analisar de forma integrada os aspectos relacionados à sua cultura, ao seu solo, ao clima da região e à disponibilidade de água.
Separamos alguns pontos-chave que vão te ajudar a tomar essa decisão:
Aspectos fundamentais a considerar na hora de escolher o seu sistema de irrigação.
(Fonte: elaborado pelo autor)
Conclusão
É fundamental que você conheça bem todos os tipos de irrigação disponíveis na agricultura para fazer uma escolha mais segura e assertiva.
Lembre-se que cada lavoura é única. Não adianta simplesmente copiar o sistema do vizinho. É muito importante que você estude as características do seu solo, a declividade (significa: a inclinação do terreno) e as necessidades hídricas da sua cultura para a correta escolha e dimensionamento do projeto de irrigação.
Existem muitos profissionais capacitados no mercado, como engenheiros agrônomos e agrícolas, que podem te auxiliar com um projeto técnico detalhado. Arriscar fazer por conta própria pode acabar trazendo mais prejuízos do que economia.
Glossário
Fertirrigação: Técnica de aplicar fertilizantes diluídos diretamente na água de irrigação. Este método permite que os nutrientes cheguem de forma precisa e eficiente à zona das raízes das plantas, otimizando a adubação.
Gotejamento: Sistema de irrigação localizada que aplica a água em pequenas gotas diretamente sobre o solo, próximo à base da planta. É um método de alta eficiência hídrica, pois minimiza as perdas por evaporação.
Olerícolas: Termo técnico que se refere ao grupo das hortaliças, como alface, tomate, cenoura e pimentão. Muitas culturas olerícolas se beneficiam de sistemas de irrigação localizada, como o gotejamento.
Patógenos: Microrganismos capazes de causar doenças nas plantas, como fungos e bactérias. Condições de alta umidade nas folhas, como as criadas pela irrigação por aspersão, podem favorecer o desenvolvimento desses organismos.
Pivô Central: Sistema de irrigação mecanizado de grande porte, composto por uma estrutura metálica que gira em torno de um ponto central (o pivô), irrigando uma grande área circular. É muito comum em lavouras de grãos como soja e milho.
Sistema Radicular: É o conjunto de todas as raízes de uma planta, responsável pela sustentação e absorção de água e nutrientes do solo. O método de irrigação influencia diretamente o desenvolvimento e a profundidade do sistema radicular.
Topografia: Descrição das características do relevo de um terreno, como suas elevações e inclinações (declividade). A análise da topografia é crucial para definir o método de irrigação mais adequado, pois influencia o movimento da água.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
Escolher e implantar um sistema de irrigação é uma decisão que envolve um alto investimento e exige uma gestão cuidadosa para garantir o retorno financeiro. Além do custo inicial, é preciso controlar os gastos operacionais e os desafios agronômicos que surgem, como o aumento do risco de doenças mencionado no método por aspersão.
Ferramentas de gestão agrícola, como o Aegro, ajudam a centralizar todas essas informações. Com ele, você consegue registrar e acompanhar cada detalhe do seu investimento, desde a compra dos equipamentos até os custos diários com energia e manutenção. Ao mesmo tempo, o planejamento de atividades no campo permite agendar e controlar as aplicações de defensivos, garantindo que o manejo de patógenos seja feito no momento certo e com os custos sob controle.
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Perguntas Frequentes
Qual é o método de irrigação mais eficiente no uso da água?
Os métodos de irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) e de subsuperfície são os mais eficientes. Eles aplicam a água diretamente na zona radicular das plantas, minimizando perdas por evaporação e escoamento superficial. A irrigação por aspersão tem eficiência intermediária, enquanto a superficial é geralmente a menos eficiente.
A irrigação por aspersão pode realmente aumentar o risco de doenças na lavoura?
Sim, ao molhar constantemente as folhas das plantas, a irrigação por aspersão cria um ambiente úmido que favorece o desenvolvimento de patógenos, como fungos e bactérias. Para mitigar esse risco, é recomendado irrigar nas horas mais frescas do dia para que as folhas sequem rapidamente e garantir um bom espaçamento entre as plantas para permitir a circulação de ar.
É viável instalar um sistema de gotejamento em uma pequena propriedade rural?
Sim, é totalmente viável. Embora o custo inicial da irrigação localizada possa ser mais alto, existem no mercado kits e sistemas escaláveis projetados para pequenas áreas. Para culturas de alto valor agregado, como hortaliças e frutas, o retorno sobre o investimento costuma ser rápido devido à economia de água e à possibilidade de realizar a fertirrigação.
Qual o tipo de irrigação mais indicado para terrenos com muita inclinação (declividade)?
Para terrenos com declividade acentuada, os métodos mais indicados são a aspersão e a irrigação localizada. Esses sistemas permitem um controle muito maior sobre a aplicação da água, evitando problemas como erosão e escoamento superficial, que são comuns na irrigação por superfície em áreas inclinadas.
O que é fertirrigação e quais sistemas são mais compatíveis com essa técnica?
Fertirrigação é a prática de aplicar fertilizantes diluídos diretamente na água da irrigação. Os sistemas mais compatíveis e eficientes para essa técnica são os de irrigação localizada (gotejamento e microaspersão), pois entregam os nutrientes de forma precisa e controlada diretamente na região das raízes, maximizando a absorção pela planta e otimizando o uso de insumos.
A irrigação superficial, por ser o método mais antigo, é menos recomendada hoje em dia?
Não necessariamente. Apesar de ser um método com menor eficiência hídrica, a irrigação superficial ainda é uma opção viável e de baixo custo para situações específicas. Ela é indicada para culturas tolerantes ao alagamento, como o arroz, e para áreas com terreno sistematizado (nivelado), onde seu baixo investimento inicial e simplicidade operacional são grandes vantagens.
Artigos Relevantes
- Tudo o que você precisa saber sobre a irrigação por aspersão: Este artigo é o complemento ideal para a seção sobre aspersão do guia principal. Enquanto o artigo principal apresenta o método, este aprofunda nos componentes técnicos (motobomba, tubulações) e, crucialmente, apresenta estudos de caso com dados concretos de aumento de produtividade (soja, algodão), oferecendo a prova de valor que o leitor procura após a introdução teórica.
- Irrigação por gotejamento: conheça as vantagens e desvantagens: Enquanto o artigo principal descreve a irrigação localizada, este artigo foca no gotejamento e adiciona uma dimensão prática e econômica indispensável. Ele se destaca por fornecer estimativas de custo de implantação por hectare (R$ 20.000) e um exemplo prático de cálculo de consumo de água, transformando o conceito em um projeto tangível para o produtor.
- Pivô central: entenda tudo sobre esse sistema de irrigação (+ planilha grátis): O artigo principal menciona o pivô central brevemente; este artigo o transforma em um tópico completo e detalhado. Seu valor único está na explicação dos diferentes tipos (fixo, rebocável, lateral) e na introdução do método LEPA como uma otimização, mostrando ao leitor não apenas o que é o sistema, mas também como torná-lo mais eficiente.
- Quando a irrigação de café pode ser uma alternativa rentável para sua lavoura?: Este artigo serve como um estudo de caso prático perfeito, aplicando os conceitos gerais do guia principal a uma cultura específica e de alto valor. Sua principal contribuição é a análise econômica comparativa (sequeiro vs. irrigado), que demonstra o retorno sobre o investimento (ROI) da tecnologia e responde à pergunta fundamental do produtor: “A conta fecha?”.
- Como a irrigação de precisão pode otimizar o uso da água e gerar economia na fazenda: Este artigo representa o próximo passo lógico na jornada do leitor, conectando os sistemas de irrigação tradicionais à Agricultura 4.0. Ele expande todos os métodos apresentados no artigo principal ao introduzir a camada de otimização com sensores, IoT e IA. É a peça que olha para o futuro, focando na eficiência e no uso inteligente da água.