Você sabia que, mesmo com o avanço da soja transgênica, a soja convencional continua sendo uma escolha estratégica para muitos produtores? Segundo o Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), 8% de toda a soja produzida no Mato Grosso, de um total de 33 milhões de toneladas, ainda é convencional.
Existem bons motivos para isso. Utilizar cultivares convencionais ajuda na rotação de herbicidas para um controle mais eficaz de plantas daninhas, além de apresentar um custo de produção mais baixo. O portfólio de variedades disponíveis hoje oferece excelentes resultados de produtividade e abre portas para um mercado que paga bonificações diferenciadas.
Neste artigo, vamos detalhar as vantagens da soja convencional e apresentar os diferenciais das cultivares que você pode encontrar no mercado. Acompanhe!
O que é a Soja Convencional? Entenda as Diferenças
A escolha da cultivar é, sem dúvida, uma das decisões mais importantes no planejamento da safra. Com um país de dimensões continentais como o Brasil, as diferentes condições climáticas de cada região exigem variedades específicas para garantir bons resultados.
No mercado, temos dois tipos principais de cultivares: as convencionais e as transgênicas.
Soja Convencional: Esta soja possui uma tecnologia que chamamos de intrínseca, ou seja, ela foi desenvolvida por meio de melhoramento genético clássico, sem a inserção de genes de outras espécies. Sua tecnologia é “natural”, oferecendo alta resistência a doenças e um excelente potencial produtivo, totalmente competitivo com as opções transgênicas.
Soja Transgênica: Esta soja recebe genes de outros organismos para expressar características específicas. As mais comuns são a soja RR, que é resistente ao herbicida glifosato, e a soja IPRO (Intacta), que além da tolerância ao glifosato, também possui resistência a alguns insetos, como as lagartas.
Entre os benefícios da soja convencional, destacam-se a contribuição para a biodiversidade e, quando combinada com o Manejo Integrado de Pragas (MIP), uma maior conservação do meio ambiente. Além disso, ela é uma ferramenta poderosa na rotação de cultivares, ajudando a evitar que plantas daninhas e doenças se tornem resistentes aos defensivos.
Mas, para colher esses benefícios, a qualidade da semente é fundamental.
Lembre-se: uma semente certificada é a sua melhor garantia de qualidade em atributos fisiológicos (germinação e vigor), físicos (pureza), sanitários (livre de doenças) e genéticos (pureza varietal).
Saiba um pouco mais no artigo “Semente de soja: Principais cuidados e novas tecnologias para fazer a melhor escolha”.
(Fonte: Página Rural)
Vantagens da Soja Convencional na Prática
A cultivar de soja deve ser vista como uma ferramenta que facilita o manejo da lavoura. Com as variedades convencionais, você ganha flexibilidade para rotacionar os defensivos agrícolas, especialmente no controle de plantas daninhas e pragas.
As principais vantagens incluem:
- Redução de Custos: Você não precisa pagar royalties pela tecnologia, o que diminui o custo de produção por hectare.
- Bonificação no Preço: Existe um mercado crescente que paga um valor adicional pela soja convencional, aumentando sua margem de lucro.
- Produtividade Competitiva: Mesmo sem modificação biotecnológica, o desempenho agronômico das cultivares convencionais é tão bom quanto o das transgênicas.
Para comprovar isso na prática, realizei um teste comparativo com 13 cultivares diferentes. Avaliamos diversos pontos importantes que influenciam diretamente no resultado final.
Os principais fatores agronômicos que consideramos foram:
- Projeção de produtividade e estabilidade de produção;
- Grupo de maturação (ciclo da planta);
- Tolerância e resistência a doenças importantes da região;
- População de plantas recomendada;
- Época ideal de semeadura.
Para a comparação, plantamos pequenas parcelas de cada cultivar, lado a lado, o que nos permitiu avaliar o desempenho de cada uma nas mesmas condições. Analisamos os dados fornecidos pelos vendedores sobre as características de cada semente, o pacote sanitário, a população recomendada e a data de plantio.
Com base nos resultados de produtividade, estabilidade, tolerância a doenças, altura da planta, engalhamento, resistência ao acamamento e ciclo, selecionamos as cultivares mais promissoras.
O procedimento foi simples e seguro: a cultivar com melhor desempenho no teste foi plantada em uma área maior (alguns hectares) no ano seguinte. Se os bons resultados se confirmassem, no terceiro ano ela era plantada em um talhão comercial. Esse processo garantiu que a escolha fosse confiável e adaptada às nossas condições.
Manejo na Prática: Soja Convencional vs. RR e Intacta
A produção de soja transgênica foi liberada no Brasil a partir de 2005 e mudou a forma de manejar as plantas daninhas.
Nas cultivares transgênicas como a RR ou a IPRO (Intacta), o manejo fitossanitário se baseia principalmente em produtos do grupo dos glifosatos. Já nas lavouras convencionais, você precisa utilizar herbicidas específicos para folhas largas e outros para folhas estreitas. E isso pode ser uma grande vantagem estratégica.
Considerando que cerca de 25% das perdas nas lavouras são causadas por plantas daninhas cada vez mais resistentes, a rotação de herbicidas com diferentes modos de ação se torna essencial. Usar princípios ativos diferentes quebra o ciclo de resistência e ajuda a manter a “caixa de ferramentas” do produtor mais eficiente a longo prazo.
Mudar a estratégia de manejo fitossanitário pode contribuir muito para os resultados da sua área.
Resultados e Cultivares Disponíveis no Mercado
Em termos de produtividade, os resultados da soja convencional são equivalentes aos das cultivares transgênicas. Muitas variedades convencionais também oferecem resistência a nematoides, como os de cisto, que são um grande problema em áreas mais arenosas.
Aqui está uma lista de cultivares convencionais disponíveis no mercado para você pesquisar e verificar as recomendações agronômicas para a sua região:
- BRS 7980 (Embrapa)
- BRS 8381 (Embrapa)
- BRS 8581 (Embrapa)
- BR 284 (Embrapa)
- BRS 6680 (Embrapa)
- TMG 4182 (Amaggi/TMG)
- ANsc83 022 (Agronorte)
- BRS Pintado (Amaggi)
- TMG 4185 (TMG)
- W870 (Bayer - Agrobom)
- Msoy 8757 (Monsoy)
- M 8866 (Monsoy)
- FTS 4188 CV (FT Sementes)
Você também pode verificar as opções de cultivares de soja convencional recomendadas para sua localidade diretamente no site da Embrapa.
Cultivares por Região Edafoclimática (REC)
(Fonte: Embrapa Soja)
O Mercado para a Soja Convencional
A demanda por soja convencional tem crescido, principalmente no mercado internacional. Um relatório do Global Protein Ingredients aponta uma tendência de que os animais na União Europeia sejam alimentados exclusivamente com grãos não geneticamente modificados.
Para apoiar os produtores, existem iniciativas como o Programa Soja Livre, uma parceria da Aprosoja Mato Grosso com a Embrapa. O objetivo é fortalecer esse mercado, oferecendo informações, dias de campo e acesso a tecnologias de cultivares convencionais para que o produtor tenha sempre o poder de escolha.
Outro exemplo é o Centro de Difusão e Aprendizagem (CAD) – Parecis, que promove mostras de campos experimentais com sojas convencionais.
Atenção: Para vender sua produção como soja convencional e receber a bonificação, é fundamental evitar a contaminação por soja transgênica. Isso exige um cuidado rigoroso durante todo o manejo. A limpeza completa do maquinário – desde a plantadeira e a colheitadeira até os caminhões de transporte – é um passo indispensável.
Lembre-se que boas práticas tecnológicas, como a inoculação com bactérias fixadoras de nitrogênio e o manejo integrado de pragas, fazem toda a diferença nos seus resultados produtivos, seja com soja convencional ou transgênica.
Conclusão
As cultivares de soja convencional podem agregar mais valor ao seu produto final e, ao mesmo tempo, facilitar um manejo mais integrado e sustentável da sua lavoura por meio da rotação de defensivos.
Os custos de produção são altos, e vimos que escolher uma cultivar com alto potencial produtivo e boa estabilidade é fundamental para o sucesso. O grande diferencial para uma safra de sucesso é sempre a combinação inteligente de diferentes táticas de manejo, e a soja convencional é, sem dúvida, uma excelente ferramenta em seu planejamento.
Glossário
Cultivar: Refere-se a uma variedade específica de planta desenvolvida por melhoramento genético para apresentar características desejáveis. No contexto do artigo, “BRS 7980” e “TMG 4182” são exemplos de cultivares de soja.
Grupo de maturação: Classificação que indica o tempo necessário para uma cultivar de soja completar seu ciclo de vida, da semeadura à colheita. Grupos com números menores são mais precoces (ciclo curto), enquanto números maiores representam um ciclo mais longo.
Manejo Integrado de Pragas (MIP): Uma estratégia que combina diferentes métodos de controle (biológico, cultural, químico) para manter as pragas abaixo do nível de dano econômico. Prioriza o uso de defensivos apenas quando necessário, promovendo a sustentabilidade.
Royalties: Pagamento pelo direito de uso de uma tecnologia patenteada. No agronegócio, os produtores pagam royalties ao comprar sementes transgênicas (como a RR ou Intacta), um custo que não existe na soja convencional.
Soja Convencional: Variedade de soja desenvolvida por métodos de melhoramento genético clássico, sem a inserção de genes de outras espécies. Sua tecnologia é considerada intrínseca à planta, resultado de cruzamentos e seleção.
Soja IPRO (Intacta): Tecnologia transgênica que confere à soja duas características: tolerância ao herbicida glifosato e resistência a algumas espécies de lagartas. É uma evolução da tecnologia RR.
Soja RR (Roundup Ready): Tecnologia transgênica que torna a planta de soja resistente à aplicação do herbicida glifosato. Isso permite ao agricultor controlar as plantas daninhas na lavoura sem prejudicar a cultura da soja.
Soja Transgênica: Soja que foi geneticamente modificada em laboratório com a inserção de um ou mais genes de outra espécie para expressar uma característica de interesse. Exemplos comuns são a resistência a herbicidas (RR) ou a insetos (IPRO).
Como a tecnologia apoia a produção de soja convencional
A escolha pela soja convencional traz vantagens claras, como a redução de custos com royalties e a possibilidade de bonificação. No entanto, garantir que essa economia se traduza em maior lucratividade exige um controle financeiro apurado. Da mesma forma, o manejo mais complexo, com rotação de herbicidas e a necessidade de evitar contaminação, demanda um planejamento operacional impecável. Ferramentas de gestão agrícola como o Aegro ajudam a superar esses desafios, centralizando o controle de custos da lavoura e permitindo o planejamento e registro de todas as atividades, desde a aplicação de defensivos até a limpeza do maquinário.
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Perguntas Frequentes
Qual é a principal diferença entre a soja convencional e a transgênica?
A soja convencional é desenvolvida por melhoramento genético clássico, sem inserção de genes de outras espécies. Sua tecnologia é intrínseca. Já a soja transgênica, como a RR ou IPRO, recebe genes externos para expressar características específicas, como tolerância a herbicidas ou resistência a insetos.
A produtividade da soja convencional é realmente comparável à da transgênica?
Sim. O potencial produtivo das cultivares convencionais modernas é totalmente competitivo e equivalente ao das transgênicas. O sucesso da lavoura depende mais da escolha da cultivar adaptada à região e das boas práticas de manejo do que da tecnologia ser convencional ou transgênica.
Quais são as principais vantagens financeiras de plantar soja convencional?
As duas maiores vantagens financeiras são a redução de custos, pois não há pagamento de royalties pela tecnologia da semente, e a possibilidade de bonificação. Existe um mercado crescente, especialmente na Europa, que paga um valor adicional pelo grão não modificado, aumentando a margem de lucro.
Por que a soja convencional é uma ferramenta estratégica no manejo de plantas daninhas?
Porque ela exige o uso de herbicidas com diferentes modos de ação, ao contrário do manejo transgênico, muitas vezes focado no glifosato. Essa rotação de princípios ativos é crucial para quebrar o ciclo de resistência das plantas daninhas e manter a eficácia dos defensivos a longo prazo.
Que cuidados são necessários para evitar a contaminação da soja convencional e garantir a bonificação?
O cuidado mais importante é a limpeza rigorosa de todo o maquinário, incluindo plantadeiras, colheitadeiras e caminhões, para remover resíduos de soja transgênica. Além disso, é essencial garantir a segregação do produto durante o transporte e armazenamento para manter a pureza do lote.
O manejo da soja convencional é muito mais complicado que o da soja RR?
O manejo é diferente, não necessariamente mais complicado. Enquanto a soja RR simplifica o controle de daninhas com glifosato, a convencional requer um planejamento mais detalhado na escolha de herbicidas específicos. No entanto, essa prática traz benefícios de longo prazo no combate à resistência de plantas invasoras.
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