A prática de sequestro de carbono na agricultura está se tornando cada vez mais essencial. O agronegócio brasileiro enfrenta uma cobrança crescente por ações alinhadas às práticas ambientais, sociais e de governança, conhecidas como ESG.
Um dos principais objetivos é a redução da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. A grande liberação desses gases causa mudanças climáticas que afetam diretamente sua lavoura, como as secas intensas e as geadas que destruíram plantações em 2021.
Neste artigo, vamos explicar de forma clara o que é o sequestro de carbono, quais práticas adotar na sua fazenda e como você pode se beneficiar financeiramente disso. Continue a leitura!
Emissão de Carbono e o Agronegócio: Entenda o Cenário Atual
A dependência mundial de combustíveis fósseis aumenta continuamente as emissões de gases de efeito estufa (GEE). Entre os principais gases, destacam-se o gás carbônico (CO2) e o metano (CH4), que são gerados tanto por atividades industriais quanto agropecuárias.
Por causa disso, o Brasil está sob pressão para adotar e expandir as práticas de ESG no agronegócio.
Para entender melhor: ESG (Ambiental, Social e Governança) é um conjunto de boas práticas que mostram que a fazenda ou empresa é sustentável, se preocupa com a comunidade e é bem gerenciada.
Um relatório recente destaca que os modelos de negócio que seguem as práticas ESG não serão apenas um diferencial, mas a base para o crescimento e a sobrevivência no mercado.
Atento a essa realidade, o Governo Federal incentiva a sustentabilidade ambiental através do Plano ABC, que é parte do Plano Safra.
Dentro dessas iniciativas, as práticas de sequestro de carbono na agricultura são fundamentais, pois ajudam a capturar o gás carbônico que já está na atmosfera. Vamos ver como isso funciona.
Afinal, o que é Sequestro de Carbono na Agricultura?
O sequestro de carbono é o termo usado para descrever o processo de retirar gás carbônico da atmosfera e armazená-lo. Na agricultura, isso acontece principalmente através da fotossíntese realizada pelas plantas.
Funciona assim:
- As plantas capturam o dióxido de carbono (CO2) do ar.
- Através da fotossíntese, elas transformam esse carbono em fotoassimilados.
Em outras palavras: Fotoassimilados são os açúcares e outras fontes de energia que a planta produz para crescer e se desenvolver.
Esses fotoassimilados servem como fonte de energia para as bactérias que vivem nas raízes das plantas e ajudam a fixar nitrogênio. Quando as plantas morrem e se decompõem, parte desse carbono vai para o solo.
(Fonte: Embrapa)
Durante a decomposição dos resíduos vegetais (palha, raízes), cerca de 15% a 25% do carbono é convertido em carbono orgânico e fica armazenado no solo. O restante retorna para a atmosfera.
A quantidade de carbono que fica no solo depende diretamente do seu manejo.
O sequestro de carbono acontece quando a quantidade de carbono que entra no solo (através dos restos de cultura) é maior do que a quantidade que sai (através da respiração de microrganismos).
A grande questão é: como saber se isso está acontecendo, em que quantidade e, principalmente, como ganhar dinheiro com a geração de créditos de carbono?
Créditos de Carbono: A Nova Oportunidade do Agronegócio
Os estudos sobre como medir e transformar o sequestro de carbono em dinheiro ainda estão evoluindo no mundo todo. No entanto, já existem produtores lucrando com a captura de carbono em suas propriedades.
Exemplo Prático nos EUA
Recentemente, 267 produtores norte-americanos foram remunerados pela empresa Indigo. O pagamento foi um reconhecimento por eles terem adotado práticas agrícolas que resultaram na redução de emissões e no sequestro de carbono. O valor exato da remuneração não foi divulgado. As medições foram feitas usando uma metodologia específica da Climate Action Reserve, uma organização não governamental.
O Caso do Café em Minas Gerais
Um estudo do Imaflora revelou que 34 fazendas de café em Minas Gerais emitem uma quantidade de carbono por hectare/ano que é 7 vezes menor que a média global de outras fazendas de café.
Embora esses cafeicultores ainda não estejam sendo pagos diretamente pelos créditos de carbono, eles usam essa comprovação de boas práticas como uma poderosa ferramenta de marketing. Com isso, atraem clientes dispostos a pagar mais por um café produzido de forma sustentável.
A monetização dos créditos de carbono deve ser o principal tema da COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre o Clima). A grande tendência é que os créditos de carbono se tornem a próxima commodity do agronegócio. Em 2020, este mercado internacional já movimentou R$ 53 bilhões.
3 Práticas de Manejo para o Sequestro de Carbono na Agricultura
Entre as principais práticas de manejo que ajudam a sequestrar carbono da atmosfera, três se destacam:
- Sistema de Plantio Direto na palha;
- Rotação de culturas;
- Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
É importante notar que essas práticas podem ou não ser reconhecidas por empresas certificadoras, pois ainda não existe uma metodologia única de avaliação aceita globalmente.
1. Sistema de Plantio Direto (SPD)
O Sistema de Plantio Direto é uma das maiores inovações do agronegócio brasileiro nos últimos 50 anos. Ele permite que a semeadura seja feita diretamente sobre a palha da cultura anterior, sem revolver o solo. Com isso, é possível realizar até três safras no mesmo local dentro de um ano.
No SPD, você aproveita a matéria orgânica da safra anterior como uma cobertura protetora para o solo. Essa prática resulta em:
- Maior umidade do solo.
- Redução do aquecimento da superfície.
- Decomposição mais lenta da matéria orgânica.
Como resultado, o carbono fica estocado no solo por mais tempo, reduzindo as perdas para a atmosfera. Pesquisas indicam que, no clima tropical do Brasil, um hectare manejado com SPD pode sequestrar até 0,8 toneladas de dióxido de carbono por ano.
(Fonte: Esalq)
2. Rotação de Culturas
A rotação de culturas é outra técnica estratégica para diminuir o efeito estufa. Além de proteger o solo contra erosão e doenças, ela permite o uso de culturas de cobertura, como gramíneas e leguminosas, que são excelentes para a saúde do solo.
A ideia é escolher culturas que possam produzir um grande volume de palha, como:
- Milho
- Aveia
Outra opção é usar culturas de compensação, como a soja e o trigo, que ajudam a equilibrar os níveis de carbono no solo. Na cafeicultura, por exemplo, tem sido comum plantar capim braquiária nas entrelinhas para obter cobertura verde. As roçagens periódicas formam uma “cama verde” que, ao se decompor, pode converter de 15% a 25% de sua massa em carbono para o solo.
3. Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF)
Desenvolvido pela Embrapa, o sistema ILPF é uma das alternativas mais completas em termos de sustentabilidade. Ele combina, na mesma área, a produção de grãos, a criação de gado e o cultivo de árvores, geralmente eucalipto.
Estudos mostram que a sombra das árvores proporciona bem-estar aos animais. Gado mais confortável e com menos estresse térmico reduz a emissão de gás metano pela boca (o gás é um subproduto do processo digestivo dos ruminantes).
O ILPF é excelente para gerar serviços ambientais como o sequestro de carbono, mas as metodologias para medir com precisão as quantidades de emissões e sequestro ainda estão sendo aprimoradas pela pesquisa.
Conclusão: O Futuro é Agora
O sequestro de carbono na agricultura é uma ação de imensa importância para o agronegócio brasileiro e mundial. Alinhado às práticas de ESG, esse movimento só tende a crescer.
Fique atento às discussões sobre a monetização dos créditos de carbono, pois elas podem se transformar em uma nova fonte de receita para a sua fazenda.
Adotar práticas de ESG não é apenas uma questão de sustentabilidade ambiental, mas também de garantir a sua própria permanência e lucratividade na atividade agrícola. As mudanças climáticas já são uma realidade e exigem que todos, especialmente o produtor rural, adaptem sua forma de trabalhar com a terra.
Glossário
Créditos de Carbono: Certificados que representam a remoção de uma tonelada de gás carbônico (CO2) da atmosfera. Produtores rurais que adotam práticas sustentáveis podem gerar e vender esses créditos para empresas que precisam compensar suas emissões.
ESG (Ambiental, Social e Governança): Sigla em inglês para Environmental, Social and Governance. É um conjunto de critérios que mede o desempenho de uma propriedade ou empresa em relação à sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e boas práticas de gestão.
Fotoassimilados: São os compostos de carbono, como açúcares e amidos, que as plantas produzem durante a fotossíntese. Esses compostos são a energia usada pela planta para crescer e a principal forma como o carbono atmosférico é fixado e, posteriormente, incorporado ao solo.
Gases de Efeito Estufa (GEE): Gases como o gás carbônico (CO2) e o metano (CH4) que retêm o calor na atmosfera, causando o aquecimento global. A agricultura pode tanto emitir esses gases (ex: digestão de ruminantes) quanto ajudar a removê-los (ex: sequestro de carbono).
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF): Sistema produtivo que combina, na mesma área e de forma integrada, o cultivo de grãos, a criação de gado e o plantio de árvores. Essa prática otimiza o uso da terra, aumenta a matéria orgânica e potencializa o sequestro de carbono no solo e na biomassa das árvores.
Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono): Um programa do Governo Federal que oferece linhas de crédito com juros mais baixos para financiar a adoção de práticas agrícolas sustentáveis. O objetivo é reduzir a emissão de GEE no setor agropecuário.
Sequestro de Carbono: O processo de capturar e armazenar o gás carbônico (CO2) que está na atmosfera. Na agricultura, isso ocorre quando as plantas absorvem o CO2 pela fotossíntese e o estocam na forma de matéria orgânica no solo.
Sistema de Plantio Direto (SPD): Técnica de cultivo que consiste em semear diretamente sobre a palha da cultura anterior, sem arar ou gradear o solo. Essa prática protege o solo da erosão, conserva a umidade e aumenta o acúmulo de carbono orgânico.
Como a tecnologia pode apoiar o sequestro de carbono na sua fazenda
Adotar práticas como o Sistema de Plantio Direto (SPD) e a rotação de culturas é fundamental, mas gerenciar e documentar todas as etapas pode ser um desafio. Um software de gestão agrícola como o Aegro ajuda a organizar o planejamento da safra e a registrar cada atividade no campo. Com um histórico detalhado, fica muito mais simples comprovar a adoção de práticas sustentáveis e garantir que o manejo está sendo executado corretamente, otimizando o uso de insumos e o tempo da equipe.
Além de organizar as operações, é essencial conectar essas práticas sustentáveis aos resultados financeiros da fazenda. A transição para um modelo ESG precisa ser lucrativa. Ao centralizar dados operacionais e financeiros, o Aegro gera relatórios que mostram o custo real de produção e a rentabilidade por talhão. Essa análise permite tomar decisões mais seguras, identificar oportunidades de economia e ter em mãos os dados necessários para negociar créditos de carbono ou certificar sua produção.
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Perguntas Frequentes
Implementar práticas de sequestro de carbono na minha fazenda tem um custo muito alto?
O investimento inicial pode variar, mas não precisa ser alto. Adoção do Sistema de Plantio Direto, por exemplo, pode exigir adaptações em maquinário, mas gera economia a longo prazo com combustível e insumos. Além disso, programas como o Plano ABC, do Governo Federal, oferecem linhas de crédito com juros mais baixos para financiar a transição para essas práticas sustentáveis.
Qual o primeiro passo para um produtor rural começar a vender créditos de carbono?
O primeiro passo é adotar e documentar rigorosamente as práticas de manejo sustentável, como plantio direto e rotação de culturas. Em seguida, é preciso procurar uma empresa certificadora ou uma plataforma especializada que irá auxiliar no processo de medição, verificação e comercialização dos créditos no mercado, garantindo que tudo siga uma metodologia reconhecida.
Como é feita a medição do carbono sequestrado no solo para gerar créditos?
A medição combina análises de amostras de solo, que medem o aumento da matéria orgânica, com o uso de modelos matemáticos e dados de satélite. Empresas certificadoras utilizam metodologias específicas para quantificar o carbono adicional estocado devido às novas práticas de manejo. A documentação precisa de todas as operações agrícolas é fundamental para a validação.
Qual prática sequestra mais carbono: Plantio Direto (SPD) ou Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF)?
Ambas são altamente eficazes, mas atuam de formas complementares. O SPD é focado em aumentar o estoque de carbono orgânico diretamente no solo. Já o ILPF é um sistema mais complexo que sequestra carbono tanto no solo quanto na biomassa das árvores, além de reduzir as emissões de metano do gado, tornando-se uma das estratégias mais completas para um balanço de carbono positivo.
Além de sequestrar carbono, quais são os benefícios diretos do plantio direto e da rotação de culturas para a minha lavoura?
Essas práticas melhoram significativamente a saúde do solo. Elas aumentam a retenção de umidade, reduzem a erosão, melhoram a estrutura do solo e a atividade de microrganismos benéficos. Isso resulta em um solo mais fértil e resiliente, o que pode levar a um aumento da produtividade e à redução da necessidade de fertilizantes e defensivos a longo prazo.
Por que as práticas ESG são importantes para o meu negócio rural, além da questão ambiental?
Adotar práticas ESG vai além da sustentabilidade. Elas fortalecem a imagem do seu negócio, abrindo portas para mercados mais exigentes e consumidores dispostos a pagar mais por produtos sustentáveis. Além disso, propriedades com boa governança socioambiental tendem a conseguir melhores condições de crédito e seguros, garantindo a viabilidade e a lucratividade da fazenda a longo prazo.
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