Secagem e Armazenamento de Grãos: Como Evitar Perdas e Aumentar Ganhos

Engenheira agrônoma, mestre e doutora na linha de pesquisa de sementes.
Secagem e Armazenamento de Grãos: Como Evitar Perdas e Aumentar Ganhos

O trabalho duro da safra não termina na colheita. Garantir que a qualidade dos seus grãos seja mantida até a venda é um passo crucial, e é aqui que a secagem e o armazenamento entram em jogo. Negligenciar essa etapa pode custar caro.

Estima-se que 10% de toda a produção nacional de grãos se perca justamente por falhas no processo de pós-colheita.

Entender qual é a melhor prática para a sua realidade não é apenas um detalhe técnico, é uma decisão que impacta diretamente a sua rentabilidade.

Neste artigo, vamos detalhar os métodos de secagem mais comuns, os tipos de secadores disponíveis e como você pode calcular os custos desse processo para tomar a decisão mais inteligente para a sua fazenda.

Secagem e Armazenamento: Uma Dupla Essencial para a Qualidade

O processo correto de secagem e armazenamento de grãos é o que protege a qualidade que você tanto se esforçou para alcançar no campo. Realizar essas etapas da forma certa minimiza os riscos na hora da comercialização. Por outro lado, condições inadequadas podem comprometer todo o lucro da safra.

Em resumo, uma secagem bem-feita impede que os grãos estraguem durante o período em que ficam guardados.

Para que isso funcione, é fundamental ter unidades armazenadoras de qualidade e seguir alguns cuidados básicos. Vamos ver os principais pontos.

fluxograma que detalha as etapas do processo de pós-colheita de um produto agrícola, como grãos, com base e (Fonte: Revista Científica Produção Online)

Os Pilares do Armazenamento de Grãos Correto

Antes mesmo de os grãos chegarem ao silo ou armazém, alguns preparativos são indispensáveis.

  1. Limpeza e Desinfecção: A primeira tarefa é fazer uma limpeza completa na unidade armazenadora. O objetivo é eliminar qualquer praga ou foco de doença que possa estar no ambiente. O custo para essa desinfecção é baixo se comparado aos prejuízos que ela evita.

  2. Controle da Umidade: Verifique sempre a umidade dos grãos antes de eles entrarem no local de armazenamento. Uma umidade alta é a porta de entrada para problemas futuros, como o desenvolvimento de fungos e a deterioração do produto.

  3. Monitoramento de Temperatura e Aeração: A temperatura e a aeração (ventilação) são fatores-chave durante todo o tempo de armazenagem dos grãos. Se a sua unidade de armazenamento fica em uma região de clima quente e úmido (tropical), a aeração precisa ser feita com mais cuidado e com maiores fluxos de ar para evitar o aquecimento da massa de grãos.

Lembre-se: a combinação de umidade e temperatura elevadas acelera muito a deterioração dos grãos.

Como Saber a Umidade e a Temperatura Ideal?

Esses valores ideais variam conforme a cultura que você vai armazenar e, principalmente, a região onde a unidade está localizada. No entanto, existe uma regra prática e segura que você pode seguir:

UMIDADE RELATIVA DO AR (%) + TEMPERATURA (°C) < 55,5 = ARMAZENAMENTO SEGURO

Diversos estudos confirmam que um ambiente com baixa umidade relativa do ar e baixa temperatura é o ideal para o armazenamento de grãos. Se você está planejando construir uma unidade de armazenamento, é recomendável consultar a Instrução Normativa Nº 24 do MAPA, que define os padrões técnicos.

Um bom planejamento é essencial, desde a instalação da estrutura até a escolha dos grãos que serão armazenados. Embora um ambiente ideal possa ter um custo elevado de instalação e manutenção, esse investimento se reflete diretamente na preservação da qualidade e na redução de perdas durante o armazenamento.

O Processo de Secagem dos Grãos

Normalmente, a colheita é feita logo após o ponto de maturidade fisiológica, quando a umidade dos grãos ainda está alta para um armazenamento seguro.

A secagem é a técnica usada na pós-colheita para reduzir esse teor de umidade até um nível que permita o armazenamento por um longo período.

Contudo, se a secagem for feita de forma incorreta, ela pode danificar a qualidade do grão, causando trincas ou quebras.

Vamos entender melhor como a secagem funciona e como usá-la para proteger sua produtividade.

A Ciência da Secagem: Como Melhorar Sua Produtividade

A secagem nada mais é do que a movimentação da água de dentro do grão para o ar ao redor. Isso acontece por uma diferença de potencial hídrico, ou, de forma mais simples, por uma diferença na “pressão de vapor”. A água sempre se move do local de maior pressão para o de menor pressão.

Na prática, funciona assim:

  • Pressão de vapor do grão > Pressão de vapor do ar = Secagem (O grão está mais “úmido” que o ar, então ele libera água).
  • Pressão de vapor do grão < Pressão de vapor do ar = Umedecimento (O ar está mais úmido que o grão, então o grão absorve água).
  • Pressão de vapor do grão = Pressão de vapor do ar = Equilíbrio Higroscópico (Não há troca de umidade, o processo para).

diagrama técnico que ilustra o processo de transferência de umidade de um grão para o ar circundante. No centro Movimentação de água durante o processo de secagem (Fonte: Silva et al. em Secretaria da Agricultura RS)

planilha de produtividade da soja

Velocidade e Tempo de Secagem

A velocidade e o tempo total de secagem dependem de vários fatores:

  • Tamanho e tipo dos grãos;
  • Umidade relativa do ar;
  • Temperatura do ar de secagem;
  • Sistema de secagem utilizado;
  • Teor de água inicial do grão;
  • Teor de água final desejado.

Por isso, não é possível definir um tempo exato de secagem que sirva para todas as culturas. Por exemplo, o trigo, por ter grãos menores, tende a secar mais rápido que o milho.

No entanto, essa velocidade pode mudar drasticamente dependendo do sistema de secagem que você utiliza.

gráfico de linhas que compara a velocidade relativa de secagem entre milho e trigo em função do teor de umi (Fonte: Silva et al. em Secretaria da Agricultura RS)

Sistemas de Secagem: Natural vs. Artificial

Existem basicamente duas formas de secar os grãos: a natural e a artificial. Cada uma tem suas vantagens e desvantagens.

Secagem Natural: A Opção de Baixo Custo

A secagem natural é aquela feita no próprio campo ou em terreiros, usando o calor do sol e o vento para reduzir a umidade dos grãos. É uma técnica ainda muito comum no Brasil, principalmente para pequenos e médios produtores de café, milho e feijão.

  • Principal Vantagem: Custo extremamente baixo.
  • Principais Desvantagens: É um método lento, depende totalmente das condições do tempo e deixa os grãos expostos ao ataque de pragas agrícolas e microrganismos.

Secagem Artificial: Controle e Velocidade

A secagem artificial utiliza equipamentos, os secadores, para acelerar o processo, controlando a temperatura e o fluxo de ar. Existem secadores de vários tipos, movidos a gás, lenha ou outras fontes de energia.

  • Principais Vantagens: É muito mais rápido, permite um controle preciso, resulta em um produto final de melhor qualidade e tem maior capacidade de secagem.
  • Principais Desvantagens: Custo de instalação e operação mais elevado e um maior risco de incêndio se não for operado corretamente devido às altas temperaturas.

Independentemente da técnica que você escolher, ter um planejamento e saber estimar o custo do processo é fundamental.

uma ampla instalação para a secagem de grãos de café, um processo crucial na etapa de pós-colheita. Em primeir (Fonte:Embrapa)

Tipos de Secadores Artificiais: Conhecendo as Opções

Os secadores podem ser classificados de diferentes formas. As duas principais distinções são quanto à frequência de passagem dos grãos e quanto ao fluxo de ar.

Secadores Contínuos vs. Intermitentes

Essa classificação se refere a quantas vezes os grãos passam pelo equipamento.

  • Secagem de Fluxo Contínuo: Os grãos passam apenas uma vez pelo secador. Este método é ideal para grãos que chegam da lavoura com umidade relativamente baixa, geralmente não ultrapassando 18%.

  • Secagem Intermitente: Os grãos passam diversas vezes pelo secador. É usado quando a umidade inicial é alta (acima de 18%). Os grãos passam pelo ar quente, descansam um pouco (para a umidade interna migrar para a superfície) e depois passam novamente, repetindo o ciclo até atingir a umidade desejada.

Importante: Antes de usar qualquer secador, é essencial fazer a pré-limpeza dos grãos para remover impurezas e medir o teor de água inicial.

Secadores de Cascata vs. Fluxos Cruzados

Estes são os dois modelos de secadores mais comuns no mercado, e a diferença está em como o ar quente passa pela massa de grãos.

  • Secadores de Cascata: A estrutura interna é composta por calhas que forçam os grãos a descer em zigue-zague. O ar aquecido passa através dessas camadas finas de grãos, resultando em uma secagem mais lenta, porém muito mais uniforme.

  • Secadores de Fluxos Cruzados: Aqui, os grãos se movem em uma coluna entre duas chapas de metal perfuradas, enquanto o ar quente cruza essa coluna horizontalmente. A circulação de ar tende a ser desuniforme: os grãos mais próximos da entrada de ar quente secam muito mais rápido do que os do lado oposto. Se você optar por este modelo, é preciso ter atenção redobrada com as altas temperaturas para não danificar parte dos grãos.

O desempenho de cada secador depende do tipo de grão, do teor de água inicial, das condições do tempo e da fonte de energia utilizada. Por isso, faça seu planejamento estratégico e avalie qual opção se encaixa melhor na sua propriedade.

diagrama técnico de um ‘Secador de fluxos Cruzados Modelo UFV’. Trata-se de uma ilustração esquemática que (Fonte: Silva e De Grand, 1998)

Como Calcular o Custo da Secagem dos Grãos?

Entender cada custo da sua produção é a base para uma boa gestão agrícola. Com os números na mão, você pode comparar os custos e os benefícios de cada decisão.

Para descobrir o custo do manejo de secagem, você pode usar o seguinte cálculo:

CT = Ccs + Cv + Cf

Vamos entender o que cada item significa:

  • CT: Custo Total da secagem (em R$ por metro cúbico de produto).
  • Ccs: Custo do Combustível (lenha, gás, etc.).
  • Cv: Custo do Ventilador (energia elétrica para mover o ar).
  • Cf: Custo Fixo (depreciação do equipamento, manutenção, mão de obra).

Após calcular o custo da secagem, some a ele os custos de armazenagem, como o aluguel ou a manutenção dos silos.

Organize esses valores em uma planilha para analisar o peso que a secagem e o armazenamento têm no seu custo total de produção.

Conclusão

Como vimos neste artigo, a secagem e o armazenamento de grãos, quando feitos da maneira certa, são investimentos que protegem sua produtividade e garantem seu lucro.

Aqui você aprendeu:

  • A importância de realizar essas duas técnicas em conjunto.
  • As vantagens e desvantagens da secagem natural e artificial.
  • As condições ideais de umidade e temperatura para um armazenamento seguro.
  • Os principais tipos de secadores e como funcionam.
  • Uma fórmula prática para calcular os custos da secagem.

Use este conhecimento para analisar sua operação, planejar seus próximos passos e escolher as práticas que realmente compensam para a sua realidade.


Glossário

  • Aeração: Processo de ventilação forçada da massa de grãos armazenados. Serve para controlar a temperatura, uniformizar a umidade e evitar o desenvolvimento de fungos e pragas.

  • Equilíbrio Higroscópico: Estado em que a umidade do grão se iguala à umidade do ar ao seu redor, fazendo com que o processo de secagem ou umedecimento pare. É o ponto de estabilidade que se busca no armazenamento.

  • MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento): Órgão do governo federal responsável por formular e implementar políticas para o agronegócio no Brasil. A Instrução Normativa Nº 24, citada no texto, é um exemplo das regulamentações que o MAPA estabelece.

  • Maturidade fisiológica: Ponto em que o grão atinge seu máximo acúmulo de matéria seca e está pronto para a colheita. Nesse estágio, o teor de umidade ainda é alto, tornando a secagem artificial necessária para o armazenamento seguro.

  • Pós-colheita: Conjunto de todas as etapas realizadas após a colheita dos grãos, como limpeza, secagem, armazenamento e transporte. O gerenciamento correto desta fase é crucial para evitar perdas e preservar a qualidade do produto.

  • Pressão de vapor: Medida da tendência de a água evaporar de uma superfície, seja do grão ou do ar. A secagem ocorre quando a pressão de vapor do grão é maior que a do ar, fazendo a umidade se mover do grão para o ambiente.

  • Secagem Intermitente: Método de secagem artificial onde os grãos passam pelo secador várias vezes, com períodos de descanso entre as passagens. É ideal para grãos com umidade inicial muito alta, pois evita danos por aquecimento excessivo.

  • Umidade relativa do ar: Medida da quantidade de vapor de água presente no ar, expressa como uma porcentagem do máximo que o ar poderia reter naquela temperatura. É um fator chave que influencia a velocidade e a eficiência da secagem dos grãos.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Calcular os custos de secagem e armazenamento, como detalhado no artigo, é essencial para garantir a lucratividade, mas pode ser uma tarefa complexa em planilhas. Um software de gestão agrícola como o Aegro simplifica esse controle, permitindo registrar cada despesa da pós-colheita – desde o combustível do secador até a mão de obra – de forma centralizada. Com esses dados organizados, fica mais fácil entender o custo real por saca e planejar as próximas safras com base em informações precisas.

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Perguntas Frequentes

Qual é o nível de umidade ideal para armazenar grãos com segurança?

O nível de umidade ideal varia conforme o tipo de grão, mas, de modo geral, um teor abaixo de 13% é considerado seguro para a maioria das culturas, como soja e milho. A regra prática é que a soma da umidade relativa do ar (%) com a temperatura em graus Celsius (°C) deve ser inferior a 55,5 para garantir um armazenamento seguro e evitar a proliferação de fungos.

Quais são os principais riscos de um processo de secagem inadequado?

Uma secagem incorreta pode causar danos sérios à qualidade dos grãos, como trincas e quebras, que diminuem seu valor comercial. Além disso, a secagem muito rápida ou com temperaturas excessivas pode superaquecer os grãos, enquanto a secagem lenta ou incompleta favorece o desenvolvimento de fungos e a deterioração durante o armazenamento.

Quando devo optar pela secagem artificial em vez da natural?

A secagem natural é viável para pequenos volumes e em regiões com clima seco e ensolarado. No entanto, a secagem artificial é essencial para grandes volumes de produção, para garantir agilidade na pós-colheita e para produtores em regiões de clima úmido, pois oferece controle total sobre o processo, resultando em um produto final de maior qualidade e uniformidade.

Qual a principal diferença na prática entre um secador de cascata e um de fluxos cruzados?

A principal diferença está na uniformidade da secagem. O secador de cascata promove uma secagem mais lenta e homogênea, pois os grãos se movem em zigue-zague, garantindo melhor qualidade final. Já o secador de fluxos cruzados é mais rápido, mas pode secar os grãos de forma desigual, exigindo maior controle da temperatura para não danificar o produto.

Por que a pré-limpeza dos grãos é tão importante antes de levá-los ao secador?

A pré-limpeza é crucial para remover impurezas como palha, folhas e torrões de terra. Essas impurezas podem obstruir o fluxo de ar no secador, tornando a secagem ineficiente e aumentando o consumo de energia. Além disso, elas podem ser um foco para o desenvolvimento de pragas e doenças durante a armazenagem.

Além do combustível do secador, quais outros custos estão envolvidos na secagem e armazenamento?

O custo total envolve três componentes principais. Além do custo do combustível (lenha ou gás), você deve considerar o custo da energia elétrica para operar os ventiladores (Custo do Ventilador) e os custos fixos, que incluem a depreciação do equipamento, manutenção, mão de obra e, posteriormente, os custos de manutenção da unidade armazenadora.

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