Qualidade do Trigo: 3 Fatores que Definem o Preço da sua Safra

Redatora parceira Aegro.
Qualidade do Trigo: 3 Fatores que Definem o Preço da sua Safra

Mesmo com uma produção alta, nem sempre o valor pago pelos grãos aumenta. A qualidade do trigo conta muito na hora de negociar a safra e é um fator decisivo para conseguir um preço de venda melhor para o seu produto.

Mas você sabe exatamente quais são esses fatores e como eles são medidos?

Neste artigo, vamos explicar em detalhes os três principais indicadores de qualidade e o que você pode fazer no campo para evitar perdas e garantir o melhor valor pelo trigo que você colheu.

Os 3 Fatores que Determinam a Classificação (e o Preço) do seu Trigo

A qualidade dos grãos não é algo que se define apenas no momento da colheita do trigo. Na verdade, ela é o resultado de um conjunto de boas práticas realizadas durante todo o desenvolvimento da lavoura.

Tudo influencia: desde o uso correto de produtos fitossanitários e o monitoramento do clima até a velocidade e a regulagem da colheitadeira. Cada um desses pontos pode impactar a qualidade final do seu trigo.

Para padronizar essa avaliação, o Ministério da Agricultura criou a Instrução Normativa nº 38, de 30 de novembro de 2010. Essa norma classifica os grãos de trigo em 2 grupos, 5 classes e 3 tipos.

  • Grupo I: Trigo destinado diretamente à alimentação humana. A classificação é feita apenas pelo tipo.
  • Grupo II: Trigo destinado à moagem e outras finalidades. A classificação considera tanto as classes quanto os tipos.

Para essa classificação, diversos fatores são analisados, conforme mostram as tabelas oficiais abaixo:

uma tabela de classificação de grãos, intitulada ‘Grupo I’, que estabelece os padrões de qualidade para difereuma tabela técnica detalhada para a classificação de trigo, intitulada ‘Grupo II’. A tabela está dividida em d Fatores que interferem na classificação do trigo (Fonte: Adaptado de Ministério da agricultura, pecuária e abastecimento)

Esses fatores de qualidade impactam diretamente a comercialização dos seus grãos.

Dentre todos eles, o teor de umidade, a quantidade de matérias estranhas e impurezas, e o peso hectolitro são os que mais influenciam no valor final pago ao produtor.

A seguir, vamos detalhar cada um desses três fatores para que você entenda como eles interferem no preço que você recebe pelo seu trigo.

1. Matérias Estranhas e Impurezas

Primeiro, é importante entender a diferença:

  • Matérias estranhas: são todas as partículas presentes no lote que não vêm da planta de trigo. Isso inclui sementes de outras espécies, torrões de terra, pedras, etc.
  • Impurezas: são partículas que vêm da própria planta de trigo, mas não são o grão, como cascas, fragmentos do colmo (caule) e folhas.

Na hora da venda, a presença dessas partículas é muito importante, pois o peso delas é descontado do peso total do lote. Essa regra vale não só para o trigo, mas para a maioria das culturas.

Como a medição é feita?

A quantidade de impurezas é determinada a partir de uma amostra do seu lote. Essa amostra passa por um conjunto de peneiras específicas para a separação. Pela norma, ao menos uma dessas peneiras deve ter crivos oblongos (fendas alongadas) com medidas de 1,75 mm x 20 mm.

Tudo o que passa por essa peneira é considerado impureza e será descontado.

composição visual que ilustra o conceito de ‘crivos oblongos’, especificamente com dimensões de 1,75 x 20 a 22 Exemplo de peneira utilizada para separar impurezas e matérias estranhas dos grãos de trigo (Fonte: LabGrãos)

Como o desconto é calculado?

O peso das impurezas e matérias estranhas encontrado na amostra é convertido em uma porcentagem. Esse percentual é então aplicado para descontar do peso total do lote.

Cada empresa pode usar um método de cálculo um pouco diferente, mas o princípio é sempre o mesmo. Veja um exemplo prático de como o cálculo pode ser feito:

exemplo prático e detalhado do cálculo de percentual de impurezas em uma amostra de grãos de trigo. O p

Dessa forma, fica claro: quanto maior a quantidade de impurezas no lote, menor será a qualidade final e, consequentemente, maior será o desconto no preço que você irá receber.

2. Umidade Ideal dos Grãos

A umidade é, simplesmente, o percentual de água encontrado na amostra de grãos (já livre das matérias estranhas e impurezas).

Essa medição é feita com um aparelho específico, que fornece um resultado preciso e rápido. Ter um medidor de umidade na fazenda é um ótimo investimento, pois ele ajuda na tomada de decisão sobre o momento certo da colheita, não só para o trigo, mas para outras culturas também.

O ideal é sempre colher quando a umidade está adequada tanto para a operação das máquinas quanto para a comercialização.

Conforme as tabelas de classificação, a umidade ideal para o trigo é de 13%.

No entanto, sabemos que nem sempre é possível colher os grãos nesse ponto, seja por excesso de chuva, grandes áreas para colher ou falta de maquinário disponível. Por isso, na hora da comercialização, o valor considerado é o da umidade que o seu lote apresenta no momento da entrega.

Assim como no caso das impurezas, o desconto pela umidade pode ser feito de várias maneiras: por meio de fórmulas ou de tabelas pré-definidas, dependendo de onde você vende sua produção.

uma tabela de referência utilizada na agricultura para calcular descontos ou quebras de peso em grãos com base Exemplo de tabela utilizada para desconto de impurezas e umidade de um lote de grãos (Fonte: Agais)

É fundamental que você se informe sobre a metodologia usada pelo seu comprador para entender exatamente como o cálculo é feito.

Veja abaixo um exemplo de como calcular o desconto pelo grau de umidade usando uma fórmula:

exemplo prático e detalhado do cálculo de desconto em um lote de grãos, como soja ou milho. O processo

3. Peso do Hectolitro (PH)

O Peso do Hectolitro (PH), também chamado de peso hectolítrico, é a massa de 100 litros de trigo, expressa em quilos. A medição é realizada em um equipamento específico para essa finalidade.

Essa medida funciona como um indicador indireto da qualidade dos grãos, estando diretamente relacionada ao potencial de moagem do cereal. Por isso, o preço pago pelo trigo leva o PH em consideração, pois ele está associado ao rendimento na extração de farinha.

Vários fatores influenciam o PH, como a forma, a textura, o peso e o tamanho dos grãos, além da presença de impurezas.

O PH pode variar naturalmente entre as cultivares, mas valores muito baixos podem ser um sinal de problemas que ocorreram na lavoura, principalmente na fase de enchimento dos grãos.

Por exemplo, o ataque de pragas e doenças, especialmente na parte aérea da planta após a formação dos grãos, costuma diminuir o PH. Isso acontece porque afeta diretamente o desenvolvimento dos grãos, reduzindo seu peso e densidade.

Pesquisas também indicam que, em algumas situações, o parcelamento da adubação nitrogenada pode ajudar a aumentar o peso hectolítrico. No entanto, o resultado depende de outras condições de cultivo, como a disponibilidade geral de nutrientes, a escolha da cultivar, entre outros.

Este gráfico de barras apresenta os resultados de um estudo sobre o impacto da adubação nitrogenada no peso do hectolitro (PH Efeito da aplicação de nitrogênio por ocasião do florescimento no peso do hectolitro em duas cultivares de trigo e duas fontes de nitrogênio diferentes (Fonte: Almeida e colaboradores por Embrapa)

Dicas Práticas para Melhorar a Qualidade do seu Trigo

  • Controle as plantas daninhas: Faça a limpeza da área com herbicidas para que, na colheita, a lavoura tenha o mínimo de plantas daninhas que possam se misturar aos grãos.
  • Regule bem a colhedora: Ajuste a altura de corte, a alimentação, a trilha e o sistema de limpeza da sua máquina. Uma boa regulagem garante o melhor desempenho e reduz a quantidade de impurezas que vão para o graneleiro.
  • Fique de olho no clima: Use o histórico da sua região para plantar e colher em épocas com chuvas adequadas, evitando problemas tanto no desenvolvimento quanto na colheita.
  • Faça um bom planejamento de safra: Realize o planejamento da sua área escalonando as datas de semeadura. Isso evita que todas as áreas fiquem prontas para colher ao mesmo tempo, dando mais flexibilidade para a operação.
  • Monitore a adubação nitrogenada: Dê atenção especial à aplicação de nitrogênio, principalmente nas fases de perfilhamento e florescimento, pois isso impacta diretamente o peso dos grãos.
  • Controle pragas e doenças: Faça o manejo adequado, especialmente das doenças que afetam a parte aérea da planta. Isso evita a perda de peso dos grãos, o que influencia diretamente no PH do seu trigo.

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Conclusão

Existem diversos fatores que influenciam a qualidade do trigo no momento da comercialização.

Realizar um bom manejo da cultura do início ao fim reduz as chances de perdas pós-colheita causadas por descontos, principalmente aqueles relacionados a matérias estranhas, impurezas e umidade.

Nem sempre é possível colher com a umidade ideal de 13%, mas, caso isso aconteça, agora você entende como o cálculo de desconto funciona e pode se preparar melhor.

Além dos 3 fatores que abordamos, outros podem ser considerados na negociação de preços. Portanto, fique atento a todos os detalhes para garantir a melhor venda possível para os seus grãos


Glossário

  • Adubação Nitrogenada: Aplicação de fertilizantes que contêm nitrogênio (N), um nutriente essencial para o desenvolvimento das plantas. No contexto do trigo, o manejo correto da adubação nitrogenada pode influenciar positivamente o peso e a qualidade final dos grãos.

  • Colmo: O caule oco e com nós característico de plantas gramíneas, como o trigo. Durante a colheita, fragmentos do colmo podem se misturar aos grãos, sendo classificados como “impurezas” e descontados do peso total.

  • Crivos Oblongos: Tipo específico de peneira com aberturas alongadas, utilizada para separar as impurezas dos grãos de trigo. A norma oficial determina o uso de crivos com medidas de 1,75 mm x 20 mm para essa análise.

  • Impurezas: Todos os fragmentos que vêm da própria planta de trigo, mas que não são o grão propriamente dito. Isso inclui pedaços de casca, folhas e fragmentos do colmo, que são descontados no momento da venda.

  • Matérias Estranhas: Qualquer material presente no lote de grãos que não seja originário da planta de trigo. Exemplos comuns incluem sementes de plantas daninhas, torrões de terra, pedras e outros detritos do campo.

  • Peso do Hectolitro (PH): Unidade de medida que expressa a massa de 100 litros de grãos, geralmente em quilos (kg/hl). É um indicador chave da qualidade do trigo, pois grãos mais densos (maior PH) tendem a ter um melhor rendimento na produção de farinha.

  • Umidade (dos Grãos): Refere-se ao percentual de água presente nos grãos. Para o trigo, a umidade padrão para comercialização é de 13%. Lotes entregues com umidade acima desse valor sofrem descontos no peso final.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Manter a qualidade do trigo exige um controle rigoroso, desde o manejo de pragas que impactam o Peso do Hectolitro (PH) até o planejamento preciso da colheita para evitar descontos por umidade. Ferramentas de gestão como o Aegro simplificam esse processo, permitindo que você registre infestações e planeje as pulverizações no momento certo. Com um cronograma de atividades centralizado, fica mais fácil escalonar o plantio e organizar a colheita, garantindo que seus grãos cheguem ao armazém com o máximo valor agregado.

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Perguntas Frequentes

Qual a diferença prática entre ‘matérias estranhas’ e ‘impurezas’ na classificação do trigo?

Matérias estranhas são detritos que não vêm da planta de trigo, como terra e sementes de plantas daninhas. Impurezas são partes da própria planta que não são o grão, como cascas e pedaços de caule. Na prática, ambas são descontadas do peso total, pois o comprador está interessado apenas nos grãos puros para processamento.

É sempre ruim colher o trigo com umidade acima do ideal de 13%?

Nem sempre. Às vezes, as condições climáticas forçam uma colheita antecipada para evitar perdas maiores no campo. No entanto, o produtor deve estar ciente de que a umidade acima de 13% resultará em descontos no peso e, possivelmente, em custos de secagem no armazém. A decisão deve balancear o desconto de umidade com os riscos de deixar a lavoura exposta.

O que é considerado um bom Peso Hectolítrico (PH) para o trigo e como ele afeta a negociação?

Para trigos destinados à panificação, um PH acima de 78 kg/hl é geralmente considerado bom e valorizado pela indústria. Valores mais altos indicam grãos mais densos e com maior potencial de rendimento de farinha. Na negociação, um PH elevado é um forte argumento para conseguir um preço melhor ou até bonificações pela saca.

Além da adubação nitrogenada, o que mais impacta o Peso do Hectolitro (PH) do trigo?

O controle fitossanitário é igualmente crucial. Doenças de final de ciclo, como a giberela e a ferrugem, podem enrugar os grãos e reduzir drasticamente seu peso e densidade. Além disso, a genética da cultivar escolhida e as condições climáticas durante a fase de enchimento de grãos também têm um impacto direto no PH final.

Além de regular a colheitadeira, qual a medida mais eficaz para reduzir a quantidade de impurezas?

O controle eficaz de plantas daninhas durante todo o ciclo da cultura é fundamental. Garantir uma lavoura limpa no momento da colheita impede que sementes de invasoras e outras matérias vegetais se misturem aos grãos. Essa prática, combinada a uma boa regulagem da máquina, é a estratégia mais eficiente para entregar um lote com baixo índice de impurezas.

Existem bonificações por entregar um trigo de qualidade superior ou o sistema apenas aplica descontos?

Sim, além dos descontos por inconformidades, muitas cooperativas e moinhos oferecem bonificações por qualidade superior. Lotes com Peso Hectolítrico (PH) acima do padrão, baixo teor de impurezas e características específicas de glúten e força (W) podem receber um prêmio sobre o preço base. É sempre recomendável verificar as políticas de bonificação do seu comprador.

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