Qualidade de Grãos: 3 Passos da Colheita ao Armazenamento

Engenheira agrônoma, mestre e doutora na linha de pesquisa de sementes.
Qualidade de Grãos: 3 Passos da Colheita ao Armazenamento

A qualidade dos seus grãos é o que define o valor final da sua produção. Em resumo, quanto melhor a qualidade, maior será o seu lucro na hora da venda.

No entanto, a partir do momento em que a colheita começa, a qualidade fica exposta a diversos riscos. Manter o padrão alcançado no campo é um dos grandes desafios do agronegócio.

Para proteger a qualidade dos grãos depois que eles atingem a maturidade fisiológica (ou seja, o ponto ideal de colheita), alguns cuidados são essenciais.

Pensando nisso, organizamos um guia prático com dicas para você monitorar os fatores mais importantes no dia a dia da fazenda e garantir uma boa rentabilidade. Confira!

As 3 Etapas Decisivas para a Manutenção da Qualidade dos Grãos

Antes de tudo, é fundamental entender um princípio básico: a qualidade máxima de um grão é determinada no campo.

Todo e qualquer manejo realizado após a colheita serve apenas para manter essa qualidade inicial, evitando perdas e desvalorização.

1. Colheita: O Ponto de Partida para a Qualidade

A colheita é a primeira etapa crítica para garantir a rentabilidade da sua lavoura. Por isso, acompanhe cada detalhe de perto.

Durante a operação, fique atento a três pontos principais:

  • Verifique constantemente o teor de água: Faça medições antes e durante a colheita para garantir que os grãos estejam no ponto ideal.
  • Monitore a velocidade do equipamento: Uma velocidade inadequada pode causar danos mecânicos, quebras e perdas.
  • Confira a regulagem da colheitadeira: Ajustes incorretos são uma das maiores causas de perdas de qualidade e quantidade.

Para a soja, por exemplo, você pode utilizar o kit da Embrapa para acompanhar e medir possíveis danos mecânicos causados pela colheita. Esses procedimentos são muito importantes para preservar o valor do seu produto.

Acompanhe melhor no vídeo que eu separei para você!

2. Secagem: Reduzindo a Umidade sem Prejudicar o Grão

A secagem é o processo que reduz o teor de umidade dos grãos até um nível seguro para o armazenamento de longo prazo.

Se realizada de forma incorreta, a secagem pode ser muito prejudicial para a qualidade do grão, causando trincas, quebras e perda de valor. Por isso, é fundamental que você fique atento aos seguintes pontos:

  • O método de secagem escolhido;
  • O tipo de secador utilizado;
  • O tempo e a velocidade do processo.

Monitore sempre que possível o teor de água e a temperatura dos grãos durante toda a secagem para evitar surpresas desagradáveis.

3. Armazenamento: A Etapa Final e Mais Crítica

O armazenamento é a etapa que apresenta o maior risco de perdas de qualidade. O planejamento para essa fase deve começar muito antes, idealmente no momento da semeadura, para garantir que a estrutura esteja pronta e adequada.

Uma armazenagem correta é fundamental para manter o valor dos seus grãos até a comercialização.

Aqui no blog, já falamos sobre alguns cuidados essenciais para evitar perdas durante o armazenamento. Confira: “Armazenamento de grãos: cuidados e estratégias para comercialização”.

Além dos cuidados básicos de limpeza e controle de pragas, não se esqueça de monitorar constantemente a temperatura e a aeração do seu silo ou armazém.

Para um armazenamento seguro, siga esta regra prática:

(UMIDADE RELATIVA DO AR (%) + TEMPERATURA (°C)) < 55,5 = ARMAZENAMENTO SEGURO

Como Medir a Qualidade? Fatores Essenciais de Análise

A qualidade de um lote de grãos é definida por uma série de fatores, que podem ser afetados tanto no campo quanto nas etapas de pós-colheita.

Para avaliar esses fatores, é preciso primeiro realizar uma amostragem representativa dos seus grãos. A partir daí, algumas análises podem ser feitas na própria fazenda, enquanto outras exigem a precisão de laboratórios parceiros.

Veja os principais fatores utilizados no setor para determinar a qualidade dos grãos e onde você pode realizar essas avaliações:

  • Teor de água: Pode ser medido na fazenda com medidores de umidade portáteis, oferecendo um controle rápido e diário.
  • Danos mecânicos: A verificação de grãos quebrados ou trincados pode ser feita na fazenda, com o Kit da Embrapa para soja ou outros testes visuais rápidos.
  • Impurezas: Para obter resultados precisos sobre a quantidade de terra, palha e outros materiais, o ideal é enviar uma amostra para um laboratório parceiro.
  • Grãos avariados e com outros defeitos: A análise de grãos ardidos, mofados ou brotados também deve ser feita em um laboratório para garantir a exatidão.
  • Teor de óleo e proteína: Essa análise, crucial para culturas como a soja, é realizada em laboratórios especializados.
  • Presença de pragas e doenças: A identificação de insetos pode ser feita na fazenda, mas testes mais específicos, como os de patologia, exigem análise laboratorial.
  • Características nutricionais: A determinação detalhada do perfil nutricional dos grãos é um serviço oferecido por laboratórios.

No momento da avaliação, lembre-se de considerar fatores como as especificidades de cada cultura, as condições climáticas da safra e os manejos que você adotou durante a produção.

É importante ressaltar que as avaliações realizadas no campo servem como um monitoramento interno. Para a determinação oficial da qualidade com emissão de laudo, você deve enviar suas amostras para um laboratório credenciado.

Quais São as Características Desejáveis de um Grão com Valor Comercial?

As características que definem um grão de alta qualidade variam de acordo com a espécie. Algumas culturas, como soja e milho, possuem uma classificação oficial que determina o valor comercial de cada lote.

De modo geral, são considerados grãos de qualidade aqueles que apresentam resultados satisfatórios nas avaliações citadas acima. Ou seja:

  • Grãos com baixo teor de água, dentro do padrão de armazenamento seguro;
  • Baixa porcentagem de danos mecânicos (grãos quebrados ou trincados);
  • Porcentagem de impurezas dentro do limite aceitável pela legislação (que varia para cada espécie);
  • Bons teores de óleo e proteína, quando aplicável;
  • Ausência de pragas e doenças;
  • Ausência de grãos avariados (mofados, ardidos, brotados) e com outros defeitos;
  • Características nutricionais elevadas.

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Oficializando a Qualidade: O Laudo de Classificação de Grãos

A determinação oficial da qualidade dos grãos deve ser realizada por um laboratório especializado e credenciado.

Este laboratório irá analisar a amostra e gerar um Laudo de Classificação de Grãos, um documento que detalha todas as informações sobre o lote avaliado.

Os resultados são comparados com as tabelas de padrões oficiais do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para classificar o produto.

As normativas vigentes para as principais culturas são:

Para outras culturas, você pode consultar as normativas diretamente no site do MAPA.

close-up da mão de uma pessoa preenchendo um documento oficial com uma caneta preta. O formulário é um ‘Lau Laudo de Classificação de grãos de soja (Fonte: CNA Brasil)

Conclusão

Manter a qualidade dos grãos é um trabalho contínuo, fundamental para garantir uma boa rentabilidade na sua fazenda.

Neste artigo, vimos as três etapas cruciais para a manutenção da qualidade após a colheita: a própria colheita, a secagem e o armazenamento.

Mostramos também quais fatores determinam a qualidade dos grãos e as principais características que o mercado valoriza.

Espero que essas informações ajudem você a implementar um monitoramento constante da sua produção, protegendo a qualidade do seu trabalho e garantindo o melhor resultado financeiro.


Glossário

  • Aeração: Processo de ventilação forçada dos grãos dentro do silo ou armazém. Essa prática ajuda a controlar a temperatura e a umidade da massa de grãos, prevenindo o desenvolvimento de fungos e insetos.

  • Danos mecânicos: Lesões físicas sofridas pelos grãos, como quebras, trincas ou amassamentos. Geralmente ocorrem durante a colheita, transporte ou secagem e impactam negativamente o valor comercial e a capacidade de armazenamento.

  • Grãos avariados: Termo utilizado na classificação para descrever grãos que apresentam defeitos graves, como mofo, fermentação (ardidos) ou germinação (brotados). A alta porcentagem desses grãos em um lote desvaloriza o produto.

  • Laudo de Classificação de Grãos: Documento oficial, emitido por um laboratório credenciado, que detalha as características de qualidade de uma amostra de grãos. O laudo serve para classificar o lote conforme os padrões oficiais e determinar seu valor comercial.

  • MAPA: Sigla para Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. É o órgão do governo brasileiro que estabelece as normas e os padrões oficiais para a classificação e comercialização de produtos agrícolas, como a soja e o milho.

  • Maturidade fisiológica: Estágio em que o grão atinge seu máximo acúmulo de matéria seca, ou seja, seu potencial máximo de peso e qualidade. É o ponto que marca o momento ideal para iniciar a colheita, visando o melhor rendimento.

  • Secagem: Etapa do pós-colheita que consiste na remoção controlada do excesso de água dos grãos até atingir um nível seguro para armazenamento. Uma secagem inadequada pode causar trincas e quebras, prejudicando a qualidade.

  • Teor de água: Percentual de umidade presente nos grãos, considerado um dos principais indicadores de qualidade. Um teor de água adequado é fundamental para evitar a deterioração do produto durante o armazenamento.

Como a tecnologia ajuda a proteger a qualidade dos seus grãos

Gerenciar todas as etapas do pós-colheita — da regulagem da colheitadeira ao monitoramento da temperatura no silo — exige um controle rigoroso para evitar perdas que impactam diretamente a rentabilidade. Lidar com anotações em papel ou planilhas separadas torna esse processo complexo e sujeito a erros.

Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza o planejamento e o registro de todas as atividades, desde a colheita até o armazenamento. Isso cria um histórico detalhado que permite analisar o desempenho de cada safra, identificar gargalos e entender o impacto de cada manejo na qualidade final do produto.

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Perguntas Frequentes

Por que a colheita no ponto de maturidade fisiológica é tão importante?

A maturidade fisiológica é o momento em que o grão atinge seu potencial máximo de peso, qualidade e vigor. Colher neste ponto ideal garante que você está começando o processo pós-colheita com a melhor matéria-prima possível. Atrasar a colheita expõe os grãos a riscos climáticos e ataques de pragas, enquanto uma colheita precoce resulta em grãos de menor qualidade e peso.

Quais são os erros mais comuns na secagem de grãos que podem comprometer a qualidade?

Os erros mais frequentes incluem o uso de temperaturas excessivamente altas e uma secagem muito rápida, que causam trincas e danos estruturais nos grãos. Outro erro é a falta de monitoramento, resultando em umidade final inadequada. Uma secagem ideal deve ser gradual e uniforme para preservar a integridade física e o valor comercial do produto.

Como a regulagem incorreta da colheitadeira afeta a qualidade dos grãos a longo prazo?

Uma colheitadeira mal regulada, especialmente em velocidade e ajustes de trilha, causa danos mecânicos como quebras e fissuras. Esses grãos danificados são portas de entrada para fungos e insetos durante o armazenamento, acelerando a deterioração, aumentando a porcentagem de grãos avariados e, consequentemente, reduzindo drasticamente o valor do lote.

É possível garantir um armazenamento seguro apenas controlando temperatura e umidade?

Não. Embora o controle de temperatura e umidade seja o pilar do armazenamento seguro, outras práticas são essenciais. É fundamental garantir a limpeza e o expurgo do silo antes do armazenamento, realizar a aeração periódica para homogeneizar a massa de grãos e manter um controle rigoroso de pragas para evitar infestações.

Qual a diferença prática entre a análise de qualidade feita na fazenda e o laudo de um laboratório?

A análise na fazenda, com medidores portáteis e kits visuais, é uma ferramenta de gestão para monitoramento interno e tomada de decisão rápida. Já o Laudo de Classificação de Grãos, emitido por um laboratório credenciado, é um documento oficial com precisão técnica, indispensável para a comercialização, pois classifica o lote segundo os padrões do MAPA e define seu valor de mercado.

O que são ‘grãos avariados’ e por que eles desvalorizam tanto a produção?

Grãos avariados são aqueles que apresentam defeitos graves como mofo, fermentação (ardidos), germinação (brotados) ou danos por insetos. Eles desvalorizam o lote porque indicam problemas na colheita ou armazenamento, comprometem a qualidade geral do produto final (ração ou alimento) e podem conter micotoxinas, representando um risco para a segurança alimentar.

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