Produção de Algodão: Guia Completo sobre Cenário, Desafios e Manejos Essenciais

Engenheira agrônoma, mestre e doutora na linha de pesquisa de plantas daninhas. Atualmente professora da UEL (Universidade Estadual de Londrina).
Produção de Algodão: Guia Completo sobre Cenário, Desafios e Manejos Essenciais

O algodão é uma cultura gigante no mundo, crescendo em média 2% ao ano e ocupando cerca de 35 milhões de hectares. No entanto, mesmo com esse cenário positivo, o produtor enfrenta desafios sérios para garantir a rentabilidade.

Plantas daninhas, além de pragas como o bicudo-do-algodoeiro, e os atuais preços baixos ameaçam a lucratividade da lavoura.

Neste artigo, vamos detalhar o cenário da produção de algodão no Brasil e no mundo. Você vai entender como enfrentar os principais desafios para aumentar a produtividade da sua fazenda. Confira!

O Mercado do Algodão no Brasil: Números Atuais

Na safra 2018/19, a produção de algodão no Brasil cresceu impressionantes 34,2%. Isso significa um volume de 6,7 milhões de toneladas de algodão em caroço, ou 2,7 milhões de toneladas de algodão em pluma, segundo dados da Conab.

Esse crescimento foi impulsionado pelo aumento da demanda, principalmente na Ásia, e pela maior procura por fibras naturais em vez das sintéticas. Contudo, as previsões mais recentes indicam uma possível queda no consumo de algodão em pluma, como o gráfico abaixo demonstra.

gráfico de barras comparativo que ilustra dados de produção, consumo e exportação de um produto agrícola, c Produção, consumo e exportação de algodão em plumas (em mil toneladas)

(Fonte: Projeções do Agronegócio)

Além disso, os altos estoques mundiais de algodão, somados à previsão de uma grande colheita, deixaram a comercialização mais lenta nas últimas semanas, o que resultou em quedas de preços. Por isso, os valores têm oscilado bastante: às vezes os compradores aceitam pagar mais, outras vezes os vendedores precisam ceder para fechar negócio.

Hoje, o Mato Grosso lidera a produção de algodão em pluma no Brasil. A cultura é a quarta mais importante do país em valor, ficando atrás apenas da soja, cana-de-açúcar e milho. Juntos, Mato Grosso e Bahia são responsáveis por 89% de toda a produção brasileira de algodão em pluma.

Este infográfico apresenta dados sobre a produção de algodão pluma no Brasil, referentes à safra de 2017/2018, com base em in (Fonte: Projeções do Agronegócio)

Cenário Mundial e a Posição do Brasil na Produção de Algodão

Globalmente, o algodão movimenta cerca de US$ 12 bilhões por ano, de acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). Sua cadeia produtiva envolve aproximadamente 350 milhões de pessoas e está presente em mais de 60 países nos cinco continentes.

As variedades (cultivares) de algodão podem ser classificadas em três grupos de maturação, com base no tempo necessário para que 90% dos frutos se abram:

  • Precoce: de 120 a 130 dias.
  • Média: de 140 a 160 dias.
  • Tardia: acima de 170 dias.

O Brasil se destaca nesse cenário, sendo o quinto maior produtor mundial de algodão. Recentemente, alcançamos o segundo lugar no ranking de maiores exportadores, com milhões de toneladas de pluma exportadas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

Para chegar a esse patamar, nossos sistemas de produção evoluíram muito. Uma mudança fundamental foi a introdução da colheita mecânica, que ocorreu junto com a expansão da cultura para o Cerrado. Essa combinação também foi crucial para melhorar a qualidade da fibra.

uma operação de colheita mecanizada em uma vasta lavoura de algodão. Quatro colheitadeiras de algodão, de cor A produtividade média das lavouras brasileiras vem melhorando nos últimos anos

(Fonte: Abrapa)

Produção de Algodão: Principais Desafios na Cadeia Produtiva

Controle de Pragas

Entre os maiores desafios na produção de algodão estão o manejo de pragas como o bicudo-do-algodoeiro, a doença ramulária e os nematoides.

uma fotografia macro de um bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis), uma das pragas mais devastadoras para a **Bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis)

(Fonte: Inquima)

O monitoramento de pragas na lavoura de algodão precisa ser rigoroso, com vistorias quase diárias. A tecnologia é uma grande aliada nessa tarefa de campo.

Um exemplo é a ferramenta de monitoramento de pragas disponível no Aegro. O aplicativo permite registrar os insetos-praga que atacam a plantação e avisa quando a infestação atinge um nível que pode causar perdas econômicas.

Você pode usar diferentes planos de amostragem (ponto a ponto, pano de batida, etc.) e definir níveis de controle específicos para cada praga. Com base nas suas informações, o sistema indica o momento certo de fazer a aplicação de defensivos.

a interface do software de gestão agrícola Aegro, especificamente a funcionalidade de Monitoramento de Pragas Com o monitoramento, é possível saber a média de infestação, o nível de controle e a severidade do ataque em pontos específicos da lavoura

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Plantas Daninhas

Outro desafio muito importante na produção de algodão é o controle de plantas daninhas.

A cultura do algodoeiro é extremamente sensível à competição com o mato. Isso acontece por algumas razões específicas da planta:

  • Metabolismo C3: isso significa que o algodão tem menor eficiência no uso da água e na fotossíntese sob alta luminosidade, quando comparado a muitas plantas daninhas.
  • Crescimento inicial lento: suas raízes são superficiais no começo, o que o torna menos competitivo.
  • Espaçamento largo: o grande espaço entre as linhas de plantio permite que mais luz chegue ao solo, favorecendo a germinação de plantas daninhas.
  • Ciclo longo: por passar mais tempo no campo, o algodão fica exposto à competição por um período maior.

As principais espécies de plantas daninhas que afetam o ciclo do algodão são:

  • Tiririca (Cyperus rotundus);
  • Cordas-de-viola (Ipomoea spp. e Merremia spp.);
  • Capim-colonião (Panicum maximum);
  • Picão-preto (Bidens spp.), capim-carrapicho (Cenchrus echinatus) e carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum);
  • Capim-colchão (Digitaria horizontalis) e capim-pé-de-galinha (Eleusine indica);
  • Caruru (Amaranthus spp.);
  • Trapoeraba (Commelina benghalensis);
  • Amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla).

Agora que entendemos o cenário e os desafios, vamos ver alguns manejos que podem ser adotados para aumentar a produtividade.

Manejos Recomendados para Aumentar sua Produção de Algodão

Um dos manejos mais eficazes adotados pelos produtores é a rotação de culturas. Antes, o sistema se limitava a soja e algodão, mas hoje muitas outras espécies são usadas, como milheto, mamona, feijão, grão-de-bico, sorgo, gergelim, crotalária, estilosantes e gramíneas forrageiras.

A rotação de culturas traz dois grandes benefícios:

  • Melhora a saúde do solo e reduz a incidência de plantas daninhas, diminuindo o banco de sementes no solo.
  • Permite o uso de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, evitando o surgimento de plantas resistentes.

Além disso, alguns fatores básicos são essenciais para o sucesso em qualquer cultura:

  • Planejamento cuidadoso de todas as atividades da safra.
  • Gerenciamento eficiente do estoque de insumos.
  • Manejo correto do solo, com análise e correção adequadas.
  • Escolha de variedades adaptadas à sua região e sistema de produção.
  • Compra de sementes certificadas, que garantem vigor, germinação, sanidade e pureza genética.
  • Monitoramento constante de pragas, doenças, plantas daninhas e nematoides. Isso ajuda a decidir, por exemplo, se uma aplicação é realmente necessária, economizando tempo e dinheiro.

Irrigação na Cultura do Algodão: É Necessária?

A irrigação é outro fator que pode elevar significativamente a produtividade da sua lavoura de algodão.

De acordo com Edegar Matter, do Senar-MT, o aumento na produção pode chegar a 40% com o uso da irrigação.

Durante todo o seu ciclo, o algodão necessita de 600 mm a 700 mm de água. A demanda diária varia: de 2 mm a 4 mm por dia na fase inicial, e de 4 mm a 8 mm por dia na fase reprodutiva. Segundo especialistas, a irrigação é uma ferramenta estratégica para evitar os riscos da falta de água (déficit hídrico) e para garantir que a planta receba a quantidade ideal de água em cada fase.

uma vasta lavoura de algodão em ponto de colheita. Em primeiro plano, os pés de algodão estão carregados com c O Brasil tem cerca de 1,5 milhão de hectares de algodão plantados, sendo 40 mil hectares em área irrigada, segundo a Agência Nacional de Águas

(Fonte: Jornal Advogado)

Uma ferramenta importante que pode ser combinada com a irrigação é o plantio de algodão sobre a palhada de plantas de cobertura.

Plantas de Cobertura

A palhada deixada pelas plantas de cobertura ajuda a manter a umidade do solo, o que é crucial para proteger a cultura de veranicos no início do desenvolvimento.

Além disso, a cobertura morta traz outras vantagens importantes:

  • Controle de plantas daninhas: a palhada reduz a infestação ao criar uma barreira física que impede a luz de chegar ao solo.
  • Regulação da temperatura: o manejo reduz a variação de temperatura do solo.
  • Barreira química: algumas plantas de cobertura possuem efeitos alelopáticos, ou seja, liberam substâncias no solo que inibem a germinação das sementes de plantas daninhas.
  • Manejo de nematoides: muitas plantas de cobertura são eficientes no controle de nematoides importantes como o Meloidogyne incognita (nematoide-das-galhas), Pratylenchus brachyurus (nematoide-das-lesões-radiculares) e Rotylenchulus reniformis (nematoide reniforme), ajudando a reduzir o uso de produtos químicos.

uma tabela comparativa detalhada sobre o desempenho de diferentes espécies de plantas de cobertura em diversas (Fonte: Embrapa)

planilha de produtividade do algodão Aegro

Conclusão

O algodão está entre as principais culturas do Brasil e do mundo, com uma expectativa de aumento na produção mundial para os próximos anos.

Neste artigo, vimos o cenário atual da cotonicultura, detalhando os principais desafios que o produtor enfrenta, desde o controle de pragas e plantas daninhas até a gestão da água.

Discutimos também alguns manejos essenciais que podem ser adotados para melhorar a produtividade da sua lavoura, como a rotação de culturas e o uso de plantas de cobertura.

Com essas informações em mãos, espero que você consiga aprimorar o manejo da sua produção, aplicando esses conhecimentos diretamente no campo para colher melhores resultados


Glossário

  • Algodão em pluma: Refere-se à fibra do algodão após ser separada das sementes (caroço) no processo de beneficiamento. É a principal matéria-prima comercializada para a indústria têxtil.

  • Bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis): Um pequeno besouro que é considerado a praga mais destrutiva da cultura do algodão. Ataca os botões florais e as maçãs (frutos), causando perdas diretas na produção.

  • Cultivares: Termo técnico para as diferentes variedades de uma planta que foram desenvolvidas por melhoramento genético para apresentar características específicas. Na prática, é o “tipo” de semente de algodão que o produtor escolhe plantar, buscando maior produtividade ou resistência a pragas.

  • Déficit hídrico: Ocorre quando a quantidade de água disponível para a planta é menor do que a sua necessidade, causando estresse. Na cultura do algodão, pode limitar o crescimento e reduzir drasticamente a produtividade, especialmente na fase reprodutiva.

  • Efeitos alelopáticos: Fenômeno em que uma planta libera substâncias químicas no ambiente que inibem ou afetam o desenvolvimento de outras plantas ao redor. Algumas plantas de cobertura usam esse mecanismo para suprimir o crescimento de plantas daninhas.

  • Metabolismo C3: Tipo de fotossíntese realizado pelo algodoeiro, que é menos eficiente no uso de água e luz em comparação com muitas plantas daninhas (que possuem metabolismo C4). Isso torna o algodão mais sensível à competição por recursos no início do seu desenvolvimento.

  • Nematoides: Vermes microscópicos que vivem no solo e atacam as raízes das plantas. Eles causam danos que dificultam a absorção de água e nutrientes, resultando em plantas enfraquecidas e menor produtividade.

  • Plantas de cobertura: Culturas plantadas entre os ciclos da cultura principal (como o algodão) com o objetivo de proteger e melhorar o solo. Elas ajudam a controlar plantas daninhas, reter umidade e aumentar a matéria orgânica.

  • Ramulária: Doença fúngica (Ramularia areola) que causa manchas nas folhas do algodoeiro, levando à desfolha precoce da planta. A perda de folhas reduz a capacidade fotossintética e impacta negativamente o rendimento da lavoura.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Manter a lucratividade na cultura do algodão exige um controle rigoroso, especialmente diante da volatilidade dos preços e da complexidade do manejo no campo. Para enfrentar esses desafios, um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza o acompanhamento dos custos de produção, desde a compra de insumos até as operações. Isso permite que você saiba exatamente onde seu dinheiro está sendo investido e qual é a sua margem de lucro real.

Além de organizar o financeiro, a ferramenta simplifica o planejamento e o registro de todas as atividades da safra, garantindo que manejos essenciais, como a rotação de culturas e o monitoramento de pragas, sejam executados com máxima eficiência. Ter esses dados na mão transforma a gestão da fazenda, tornando suas decisões mais seguras e estratégicas.

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Perguntas Frequentes

Por que o controle de plantas daninhas é um desafio tão grande na produção de algodão?

O algodoeiro é muito sensível à competição por ter um metabolismo (C3) menos eficiente, crescimento inicial lento e ser plantado em espaçamento largo, o que favorece o surgimento de mato. Essa competição por água, luz e nutrientes pode reduzir drasticamente a produtividade, tornando o manejo de plantas daninhas uma etapa crítica para o sucesso da lavoura.

A irrigação é sempre necessária para ter uma boa safra de algodão?

Embora não seja obrigatória, a irrigação é uma ferramenta estratégica que pode aumentar a produtividade em até 40%. Ela garante que a cultura receba a quantidade ideal de água (entre 600 mm e 700 mm) durante todo o ciclo, mitigando os riscos de perdas por seca (déficit hídrico), especialmente na fase reprodutiva, que é a mais crítica.

Quais são as principais pragas e doenças que o produtor de algodão deve monitorar?

O produtor deve ter atenção máxima ao bicudo-do-algodoeiro, considerada a praga mais destrutiva da cultura. Além dele, é fundamental monitorar a doença fúngica ramulária, que causa a queda precoce das folhas, e a presença de nematoides no solo, que atacam as raízes e comprometem a absorção de nutrientes pela planta.

Como a rotação de culturas beneficia a produção de algodão na prática?

A rotação de culturas melhora a saúde do solo e quebra o ciclo de pragas e doenças específicas do algodoeiro. Ao alternar o plantio com espécies como milho, soja ou gramíneas forrageiras, o produtor também consegue variar os mecanismos de ação dos herbicidas utilizados, o que ajuda a prevenir o surgimento de plantas daninhas resistentes.

De que forma as plantas de cobertura ajudam a proteger a lavoura de algodão?

As plantas de cobertura protegem o algodão de várias maneiras. A palhada deixada no solo funciona como uma barreira física contra plantas daninhas e ajuda a conservar a umidade. Além disso, algumas espécies de cobertura liberam substâncias que inibem a germinação de invasoras (efeito alelopático) e são eficazes no controle de nematoides, reduzindo a necessidade de defensivos.

Qual a diferença entre algodão em caroço e algodão em pluma?

Algodão em caroço é o produto bruto colhido no campo, que inclui a fibra junto com as sementes. Já o algodão em pluma é a fibra pura, obtida após o processo de beneficiamento que separa as sementes do algodão. A pluma é a matéria-prima principal que é comercializada e utilizada pela indústria têxtil.

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