Você já andou pela sua lavoura de milho e percebeu algo estranho, como folhas raspadas, plantas cortadas ou tombadas? Ao notar esses sinais, você conseguiu identificar imediatamente qual era a praga e como controlá-la de forma eficaz?
Muitas vezes, é um desafio reconhecer o inseto causador do dano ou saber qual a melhor estratégia de manejo para combatê-lo. A pré-safra é o momento ideal para aprofundar seu conhecimento sobre essas ameaças e aprimorar o diagnóstico no campo.
Com um bom planejamento, você evita perdas significativas na produção do milho. E o prejuízo pode ser grande: infestações de pragas no milho podem causar perdas de até 91%, comprometendo toda a safra.
As Primeiras Ameaças: Pragas Iniciais que Atacam no Solo
Tanto na cultura do milho quanto na de sorgo, existem pragas que atacam logo no início do ciclo. São aqueles insetos que, mal a semente foi plantada, já começam a causar problemas.
Vamos conhecer as principais e como combatê-las.
1. Corós (Larva-branca)
Os corós são comuns em lavouras de milho e sorgo, com maior ocorrência entre os meses de outubro e dezembro.
As larvas se alimentam diretamente das raízes das plantas. O principal sintoma desse ataque são as falhas visíveis nas linhas de plantio, onde as plantas não conseguem se desenvolver.
O manejo mais direto é feito com inseticidas, mas outras práticas agrícolas ajudam a reduzir a população da praga. As principais técnicas de apoio são:
- Preparo antecipado da área: Arar ou gradear o solo com antecedência expõe as larvas a predadores e ao sol.
- Eliminação de hospedeiros alternativos: Controlar plantas daninhas e voluntárias, que servem de alimento para os corós.
- Destruição dos restos culturais: Incorporar ou remover a palhada da safra anterior reduz o abrigo para a praga.
A foto da esquerda mostra o Coró, e a da direita o dano causado em plantas de milho.
(Fonte: 3rlab)
2. Larva-arame
A larva-arame (Conoderus spp., Melanotus spp.) ataca tanto as sementes recém-plantadas quanto o sistema radicular das plântulas. Essa praga também é um problema significativo na cultura do sorgo.
Seu controle pode ser realizado com o tratamento de sementes usando inseticidas fosforados sistêmicos, registrados para a cultura. Além disso, uma medida cultural muito eficaz é garantir uma boa drenagem da camada agricultável do solo. Isso força a larva a se aprofundar no perfil do solo, afastando-se das raízes e reduzindo os danos.
Larva-arame
(Fonte: Sistemas de Produção Embrapa)
3. Lagarta-rosca
A principal característica da lagarta-rosca (Agrotis ipsilon) é cortar as plantas jovens rente ao solo. Esse ataque direto reduz o estande, ou seja, o número de plantas por metro linear. Fique atento: esta praga também causa danos na cultura do feijão.
Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)
(Fonte: Agrolink)
Inseto adulto de lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)
(Fonte: Unesp)
Para um controle eficiente, o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos é uma medida preventiva crucial. Além disso, é fundamental eliminar antecipadamente as plantas invasoras, pois as mariposas adultas preferem colocar seus ovos (ovipositar) em vegetação verde ou em restos culturais ainda úmidos.
4. Lagarta-elasmo
Esta praga (Elasmopalpus lignosellus) causa prejuízos significativos nos estádios iniciais de desenvolvimento do milho, aproximadamente entre V1 e V8.
(Fonte: Pioneer)
A lagarta-elasmo também ataca as culturas de sorgo e feijão. Sua ocorrência está fortemente associada a períodos de seca (estiagem) logo após o plantio. Fique ainda mais atento em áreas de solos arenosos e com grande quantidade de palha, condições que favorecem o desenvolvimento da praga.
5. Larva-alfinete
A larva-alfinete (Diabrotica speciosa) é uma praga de grande importância para o milho e também está presente na cultura do sorgo.
O inseto ataca o sistema radicular, enfraquecendo a sustentação da planta. Isso a torna mais suscetível ao acamamento, que é o tombamento da planta. O dano causa um sintoma muito característico, conhecido como “pescoço de ganso”, onde a planta tenta se reerguer, mas o colmo fica torto.
(Fonte: Monsanto, Rafael Veiga – TD Cerrados Oeste)
Na sua fase adulta, conhecida como “vaquinha”, o inseto se alimenta de folhas de diversas culturas, como feijão e soja. No entanto, para a postura de ovos, ele prefere gramíneas como o milho e o sorgo.
(Fonte: Monsanto)
As principais medidas de controle para a larva-alfinete são:
- Eliminação de restos culturais para reduzir abrigos.
- Uso de inseticidas granulados ou em pulverização aplicados no sulco de plantio.
- Controle biológico com os fungos Beauveria bassiana, Metarhium anisopliae e Paecilomyces lilacinu. Esta é uma ótima alternativa que pode ser usada em conjunto com o manejo químico.
Ataques Visíveis: Pragas que Afetam Folhas, Colmo e Espigas
Depois que a planta se estabelece, outras pragas começam a atacar a parte aérea, causando danos diretos às folhas, ao colmo e às espigas.
6. Lagarta-do-cartucho
A lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) é uma das principais pragas do milho, responsável por grandes perdas de produtividade. Ela também é encontrada na cultura do sorgo.
Essa lagarta ataca o cartucho (o centro das folhas jovens) e pode penetrar no colmo, criando galerias. Esse dano no ponto de crescimento da planta provoca um sintoma conhecido como “coração morto”, que leva à morte da parte central da planta. A lagarta-do-cartucho pode causar uma redução de rendimento de 17% a 55,6%.
Sintomas de “coração morto” em plantas de milho atacadas por lagarta-do-cartucho
(Fonte: Agricultura no Brasil)
A principal forma de controle é a aplicação de inseticidas. No entanto, existe um importante inimigo natural desta praga: a “tesourinha” (Doru luteipes), que se alimenta de ovos e lagartas pequenas. A lagarta-do-cartucho também pode atacar as espigas, causando danos diretos aos grãos.
7. Lagarta-da-espiga do milho
A lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea) é outra importante praga do milho que também ataca o sorgo, focando seu dano diretamente nos grãos em formação.
(Fonte: 3rLab)
O controle químico com inseticidas para o manejo desta lagarta não é muito eficiente, pois a larva fica protegida dentro da palha da espiga.
Uma das melhores alternativas é o manejo biológico, com o uso de parasitoides e predadores, como a já mencionada tesourinha (Doru luteipes). A tesourinha deposita seus ovos nas camadas de palha da espiga, e tanto os jovens quanto os adultos se alimentam dos ovos e das pequenas larvas da praga. Uma única tesourinha pode consumir, em média, 42 ovos por dia.
Outra forma eficiente de controle biológico é o uso de vespas do gênero Trichogramma, que parasitam os ovos da lagarta-da-espiga.
8. Broca-da-cana
A broca-da-cana (Diatraea saccharalis) está presente nas culturas do milho e sorgo, atacando as plantas desde o estádio V6 até o final do ciclo. As larvas abrem galerias no interior do colmo, o que prejudica o fluxo de nutrientes e pode levar à quebra das plantas.
(Fonte: Agranja)
Segundo a Embrapa, o controle biológico pode ser feito de forma semelhante à cana-de-açúcar, através da liberação do parasitoide de ovos Trichogramma spp. ou do parasitoide de larvas, a vespa Cotesia flavipes.
Para mais detalhes, consulte este folder da Embrapa.
9. Pulgão
Os maiores danos do pulgão no milho (Rhopalosiphum maidis) são observados durante o pendoamento. Essa praga também é comum na cultura do sorgo.
Os prejuízos mais expressivos ocorrem em altas infestações, especialmente quando a lavoura está sob estresse por falta de água (déficit hídrico) ou quando há fontes de infestação (inóculo) nas proximidades.
No sorgo, outra espécie, o pulgão-verde (Schizaphis graminum), infesta a cultura desde a emergência até a maturação dos grãos. O inseto suga a seiva das folhas e injeta toxinas que causam um bronzeamento e morte da área afetada. Além disso, pode transmitir o vírus do mosaico da cana-de-açúcar, causando grandes danos ao sorgo.
Pulgão-verde
(Fonte: Sistema de Produção Embrapa)
O controle pode ocorrer naturalmente pela chuva e por inimigos naturais. No entanto, para prevenir infestações, pode-se realizar o tratamento de sementes ou do solo com inseticidas sistêmicos que sejam seletivos aos inimigos naturais.
10. Percevejos
Os percevejos podem atacar o milho de forma severa no início da cultura, mas também se alimentam dos grãos durante a fase de enchimento.
Isso pode causar danos econômicos elevados. Segundo a Embrapa, o ataque aos grãos pode reduzir em até 59,5% o peso e em mais de 98% a germinação e o vigor das sementes.
(Fonte: Pioneer)
Os percevejos são muito comuns no final do ciclo da soja. Após a colheita, eles migram para fontes alternativas de alimento, como plantas daninhas. Por isso, um dos principais manejos é iniciar o plantio do milho no limpo, ou seja, sem a presença de plantas daninhas.
Uma boa dessecação antecipada ajuda a reduzir a população de percevejos na área. As duas principais espécies são o percevejo marrom e o percevejo barriga-verde.
As principais medidas de manejo são o tratamento de sementes e o monitoramento constante da área. Segundo Kaminski (2014), se houver infestação elevada até o estádio V3, o controle químico deve ser realizado, pois os danos podem ser desastrosos.
Danos causados por percevejos em milho
Fonte: Pioneer
Na cultura do sorgo, os percevejos atacam principalmente as panículas (cachos de grãos). Existem dois grupos principais:
- Percevejos grandes: percevejo-gaúcho (Leptoglossus zonatus), percevejo-verde (Nezara viridula) e percevejo-pardo (Thyanta perditor).
- Percevejos pequenos: percevejo-do-sorgo (Sthenaridea carmelitana) e percevejo-chupador-do-arroz (Oebalus spp.).
Percevejo-do-sorgo
(Fonte: Discover Life)
O controle biológico é feito por parasitoides de ovos. O controle químico, por sua vez, é limitado pela dificuldade de entrar com o trator no campo quando a cultura está alta. Recomenda-se a pulverização aérea quando o monitoramento indicar 1 percevejo a cada 10 plantas, utilizando inseticidas fosforados ou carbamatos.
11. Helicoverpa armigera
Por fim, não podemos deixar de falar da Helicoverpa armigera, uma praga que causou grande preocupação entre produtores de soja, milho e algodão nos últimos anos.
(Fonte: Bayer)
O seu controle deve ser baseado no **[Manejo Integrado de Pragas
Glossário
Acamamento: É o tombamento ou a quebra do colmo (caule) das plantas de milho, fazendo com que fiquem deitadas no campo. Frequentemente, é causado por pragas que atacam as raízes, como a larva-alfinete, que enfraquece a sustentação da planta.
Controle biológico: Estratégia de manejo que utiliza inimigos naturais, como predadores, parasitoides ou microrganismos (fungos), para reduzir a população de uma praga. Um exemplo do texto é o uso da “tesourinha” para combater a lagarta-do-cartucho.
Coração morto: Sintoma visual em que o ponto de crescimento central da planta de milho morre e seca, enquanto as folhas externas permanecem verdes. É um dano característico causado pela lagarta-do-cartucho ao atacar o cartucho da planta.
Dessecação: Aplicação de herbicidas antes do plantio para eliminar plantas daninhas ou culturas de cobertura. No contexto do artigo, é uma prática importante para reduzir a população de percevejos na área antes da semeadura do milho.
Estande: Refere-se à população final de plantas em uma determinada área, ou seja, o número de plantas por hectare ou por metro linear. Pragas como a lagarta-rosca reduzem o estande ao cortar as plântulas rente ao solo.
Estádios V (V1, V3, V6, etc.): Classificação dos estágios de desenvolvimento vegetativo do milho, onde “V” significa vegetativo e o número indica a quantidade de folhas completamente desenvolvidas. Saber o estádio V da planta é crucial para identificar a vulnerabilidade a pragas específicas e decidir o momento certo do controle.
Inseticida sistêmico: Tipo de inseticida que é absorvido pela planta (via sementes, solo ou folhas) e se move através de sua seiva. Dessa forma, quando a praga se alimenta de qualquer parte da planta, ela ingere o veneno e morre.
Parasitoide: Inseto que deposita seus ovos dentro ou sobre o corpo de outro inseto (o hospedeiro, que é a praga). As larvas do parasitoide se desenvolvem alimentando-se do hospedeiro, matando-o no processo. As vespas Trichogramma são um exemplo citado para o controle da broca-da-cana.
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Perguntas Frequentes
Qual a principal diferença entre os danos da Lagarta-do-cartucho e da Lagarta-da-espiga no milho?
A principal diferença está na parte da planta que atacam. A Lagarta-do-cartucho foca seu ataque no cartucho (folhas jovens centrais) e no colmo, podendo causar o sintoma de “coração morto”. Já a Lagarta-da-espiga, como o nome indica, ataca diretamente os grãos em formação dentro da espiga, causando perdas diretas de qualidade e peso.
Quais as principais medidas preventivas que posso tomar antes do plantio para reduzir a infestação de pragas de solo?
Medidas preventivas são cruciais para o manejo de pragas de solo como corós e lagarta-rosca. Recomenda-se o preparo antecipado da área, com aração ou gradagem para expor as larvas, a eliminação de plantas daninhas e restos culturais da safra anterior, e o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos registrados para a cultura.
Minhas plantas de milho estão tombando e com o colmo torto, formando um “pescoço de ganso”. Qual praga causa isso?
Esse sintoma característico de “pescoço de ganso” é causado pelo ataque da larva-alfinete (Diabrotica speciosa). A praga se alimenta das raízes, enfraquecendo a sustentação da planta e tornando-a suscetível ao tombamento (acamamento). O controle envolve o uso de inseticidas no sulco de plantio e o manejo biológico com fungos.
O controle biológico é realmente eficaz contra as principais pragas aéreas do milho?
Sim, o controle biológico é uma ferramenta muito eficaz e sustentável. Inimigos naturais como a tesourinha (Doru luteipes) são excelentes predadores de ovos e larvas da lagarta-do-cartucho e da lagarta-da-espiga. Além disso, vespas como Trichogramma spp. são usadas para parasitar ovos da broca-da-cana, sendo uma alternativa importante, especialmente em um plano de Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Plantei milho logo após a colheita da soja e estou notando uma grande população de percevejos. Qual o risco e o que devo fazer?
O risco é alto, pois os percevejos migram da soja para o milho em busca de alimento, podendo atacar desde o início do ciclo até a fase de enchimento de grãos, causando perdas de até 98% no vigor das sementes. A principal recomendação é realizar uma boa dessecação antecipada para eliminar as plantas daninhas (iniciando o plantio “no limpo”) e monitorar constantemente a lavoura, realizando o controle químico se a infestação for alta no estádio V3.
É verdade que a lagarta-elasmo ataca mais em solos arenosos e em períodos de seca?
Sim, a ocorrência da lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) está fortemente associada a períodos de estiagem logo após o plantio, especialmente em solos arenosos e com grande quantidade de palhada. Essas condições favorecem o desenvolvimento da praga, que ataca as plantas de milho nos estádios iniciais (V1 a V8), causando danos significativos.
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