Previsão do Preço do Café para 2023: O que Esperar do Mercado?

Redação Aegro
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Previsão do Preço do Café para 2023: O que Esperar do Mercado?

O mercado do café tem enfrentado fortes oscilações nos últimos anos, impactado por fatores como o clima, a pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia. Para 2023, a previsão do preço do café será influenciada principalmente pelo excedente de estoques globais, estimado em 7,9 milhões de sacas. Além disso, fenômenos climáticos como La Niña e El Niño continuam no radar dos produtores e podem interferir na oferta.

O principal fator que você, produtor, deve acompanhar para entender como vai ficar o preço do café é o equilíbrio entre oferta e demanda, diretamente afetado por esse excedente de estoque.

Neste artigo, vamos detalhar a previsão do preço do café para 2023, analisando o cenário atual, os números da safra, a demanda global e os fatores que vão ditar o mercado. Boa leitura!

Análise do Cenário de 2022: Preços Atuais e Fatores de Alta

Para entender o futuro, é essencial olhar para o presente. Em 2022, o preço da saca de café (60 kg) deve variar entre R$ 1.250 e R$ 1.300 nos próximos meses, dependendo da região de produção. Esses valores indicam uma tendência de estabilidade nos preços pagos ao produtor, pelo menos até o último trimestre do ano.

Este cenário considera um contexto de normalidade na produção, com o aumento natural da oferta devido ao período de colheita de café nas principais regiões produtoras do país.

A Influência do Clima na Colheita

Dentro de um cenário normal, a expectativa é que as condições climáticas sejam favoráveis para finalizar a colheita. A principal preocupação continua sendo o fenômeno La Niña.

  • Previsão do NOAA: Meteorologistas do Noaa (agência de clima dos EUA) preveem 52% de chances de La Niña e 46% de Enso neutro (uma condição normal, sem El Niño ou La Niña) entre julho e setembro de 2022.

A avaliação é que, se o La Niña surgir durante a colheita no Brasil, ele não deve afetar a quantidade total da safra 2022/2023. No entanto, o fenômeno pode atrasar a disponibilidade do café no mercado, impactando o fluxo de caixa.

gráfico de barras empilhadas que ilustra a previsão de probabilidade dos fenôenos climáticos La Niña, Neut Previsões do Noaa para os fenômenos climáticos La Niña, Enso e El Niño (Fonte: Stonex)

Segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), muitos produtores também estão preocupados com a falta de mão de obra. Em lavouras onde a colheita é manual, há relatos de grãos secando no pé.

O Que Explica a Alta Recente nos Preços?

Em 2021, o preço da saca de 60 kg de café saltou de R$ 640 para R$ 1.446, uma alta de 126,31%, segundo a Cooxupé. Já em 2022, a saca do arábica chegou a ser negociada por um valor recorde de R$ 1.550 pela Coopama.

Dois fatores principais explicam essa valorização:

  1. Aumento dos custos de produção: A alta nos preços de insumos, especialmente fertilizantes e combustível, elevou os custos para os produtores brasileiros em cerca de 50% a 60%.
  2. Inflação elevada: No Brasil, a inflação específica do café subiu impressionantes 67% no ano passado, pressionando os preços para cima.

gráfico de linhas comparativo, produzido pela StoneX Brasil, que ilustra a evolução de um indicador econômi Evolução da inflação do café torrado e moído no Brasil, EUA e Europa (Fonte: StoneX)

Safra 2022: Como os Números da Produção Influenciam o Mercado

De acordo com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a safra de café de 2022 deve ter uma produção total de 53,43 milhões de sacas.

Para entender esse número, é preciso comparar:

  • É uma queda de 15,3% em relação às 63,08 milhões de sacas de 2020, que foi o último ano de bienalidade positiva para o café arábica. Bienalidade positiva: refere-se ao ano de alta produtividade no ciclo natural do cafeeiro arábica.
  • É um volume 12% superior à safra de 2021, que foi um ano de bienalidade negativa.

No entanto, a Sincal (Associação Nacional dos Cafeicultores do Brasil) tem uma previsão mais conservadora, estimando a safra de 2022 em 40 milhões de sacas.

A principal razão para a quebra da safra de 2022 (em comparação com 2020) foi a combinação de estiagem e geada, que ocorreram antes da florada do café de 2021. Apenas a geada afetou mais de 200 mil hectares de cafezais em Minas Gerais em 2021.

No cenário global, o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) estima a produção mundial para a temporada 2022/2023 em 175 milhões de sacas, com estoques mundiais de 32,7 milhões de sacas.

Demanda por Café: O Cenário Global e o Impacto da Guerra

A demanda é o outro lado da balança e também influencia a previsão do preço da saca de café. Nos Estados Unidos, o maior consumidor mundial, o consumo caiu durante a pandemia, mas a recuperação é esperada para 2022, com um aumento de 6,9%.

  • A consultoria StoneX projeta uma demanda global de 24,5 milhões de sacas em 2022 e um aumento de 4,1% no consumo em 2023.
  • O Usda estima que a demanda mundial crescerá 1,8 milhão de sacas em 2022.

O maior ponto de atenção é o agravamento da guerra na Ucrânia. O conflito já afeta diretamente o consumo:

  • Ucrânia: Consumiu 1,235 milhão de sacas em 2021 e não deve comprar um grão do café brasileiro em 2022, segundo especialistas.
  • Rússia: Deve ter uma queda de 50% no consumo este ano. Em 2021, os russos compraram quase 4 milhões de sacas.

Esse cenário geopolítico preocupa, pois, segundo analistas do CoffeeNetwork, “o conflito bélico no leste europeu intensificou a inflação global, ameaçando a demanda do café e favorecendo a migração de investidores para outras commodities com maior perspectiva de valorização”.

Para o Brasil, a demanda interna prevista para 2022/2023 é de 19 milhões de sacas, o mesmo volume da temporada atual.

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Qual a Previsão do Preço do Café para 2023?

A previsão do preço do café para 2023 é que ele se mantenha nos mesmos patamares de 2022, ou seja, na faixa de R$ 1.250 a R$ 1.300. Essa estabilidade, no entanto, depende da ausência de eventos extremos na economia global ou na oferta de café.

Fique atento a três fatores decisivos para 2023:

  1. Excedente de Estoques: O superávit de 7,9 milhões de sacas, apontado pelo Usda para o ano cafeeiro 2022/2023, é um ponto de pressão. Estoques maiores que o consumo podem forçar os preços para baixo.
  2. Condições Climáticas: Um eventual problema com o La Niña no Brasil ou o atraso das chuvas no final do ano podem prejudicar o desenvolvimento da florada. Isso impactaria negativamente a oferta de 2023, que já é um ano de bienalidade negativa para o arábica.
  3. Câmbio (Dólar vs. Real): A oscilação do dólar é crucial. Em 2022, o dólar acima de R$ 5 foi positivo para a exportação. A tendência de valorização do real frente ao dólar pode reduzir a rentabilidade em reais para o produtor.

gráfico de linhas que compara a evolução dos preços do café Arábica e Robusta no mercado internacional entr Preços de café nas bolas de Nova Iorque (arábica) e Londres (conilon) (Fonte: Conab)

Conclusão

As previsões para a temporada 2022/2023 apontam para uma estabilidade nos preços do café, mantendo-se em patamares semelhantes aos vistos atualmente. No entanto, o cenário exige atenção constante do produtor.

A queda no consumo, provocada pelo agravamento da guerra na Ucrânia, é a principal preocupação do lado da demanda. Do lado da oferta, o clima e seus efeitos na próxima safra serão decisivos.

A geopolítica e o clima ditarão as tendências para os preços. A previsão é que a saca de 60 kg fique entre R$ 1.250 e R$ 1.300 em 2023. Acompanhe de perto as notícias do mercado do café e as mudanças no cenário global para tomar as melhores decisões e garantir bons preços para a sua produção.

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Glossário

  • Bienalidade positiva: Fenômeno natural do cafeeiro arábica em que um ano de alta produtividade (positiva) é seguido por um de baixa produtividade (negativa). Este ciclo impacta diretamente a oferta global de café.

  • Cepea: Sigla para Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, ligado à USP. É uma referência no agronegócio para cotações de preços e análises de mercado, incluindo o de café.

  • Commodities: Produtos de origem agropecuária ou mineral negociados em bolsas de valores, como café, soja e petróleo. Seus preços são definidos pelo mercado global com base na oferta e demanda.

  • Conab: Sigla para Companhia Nacional de Abastecimento. Órgão do governo brasileiro que divulga as estimativas oficiais de safra, produção e estoques para produtos agrícolas no país.

  • Florada do café: Período em que os cafeeiros florescem, etapa fundamental que define o potencial produtivo da safra seguinte. Eventos climáticos adversos nesta fase, como geadas ou seca, podem reduzir drasticamente a produção.

  • La Niña: Fenômeno climático caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico, que altera os padrões de chuva e temperatura globalmente. Para o Brasil, pode significar secas em algumas regiões cafeeiras, afetando a produção.

  • Saca de café (60 kg): Unidade de medida padrão utilizada para comercializar café no mercado. Todos os preços e volumes de produção mencionados (ex: R$ 1.300) referem-se a uma saca de 60 quilos do produto.

  • Usda: Sigla para Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (United States Department of Agriculture). Publica relatórios influentes sobre a produção, consumo e estoques de commodities agrícolas em nível mundial.

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Perguntas Frequentes

Qual é o principal fator que pode fazer o preço do café cair em 2023?

O principal fator de pressão para a queda dos preços é o excedente de estoques globais, estimado em 7,9 milhões de sacas para a safra 2022/2023. Quando a oferta disponível no mercado é maior que o consumo, a tendência natural é que os preços diminuam para estimular a compra.

Como o fenômeno La Niña pode impactar a safra de café do próximo ano?

O La Niña pode causar irregularidades climáticas, como períodos de seca em importantes regiões produtoras do Brasil. Se a estiagem ocorrer durante a fase de florada, o potencial produtivo da safra de 2023, que já é um ano de bienalidade negativa para o arábica, pode ser seriamente comprometido, reduzindo a oferta.

O que significa a ‘bienalidade’ do café arábica e como ela afeta o mercado?

A bienalidade é o ciclo produtivo natural do cafeeiro arábica, que alterna um ano de alta produção (safra cheia) com um ano de baixa produção (safra menor). Esse fenômeno impacta diretamente a oferta global, pois o Brasil é o maior produtor. Um ano de bienalidade negativa, como se espera para 2023, significa uma menor oferta natural de café arábica brasileiro no mercado.

Por que os custos para produzir café aumentaram tanto, mesmo com o preço da saca em alta?

Os custos de produção subiram principalmente devido à valorização de insumos essenciais, como fertilizantes e combustíveis, cujos preços são atrelados ao mercado internacional e ao dólar. A alta desses itens, que representam uma grande fatia dos custos, pressionou as margens do produtor, mesmo com os bons preços de venda da saca.

De que forma a guerra na Ucrânia impacta a demanda e o preço do café?

O conflito na Ucrânia impacta a demanda de duas formas: diretamente, com a redução drástica do consumo na Rússia e Ucrânia (que juntos importavam mais de 5 milhões de sacas); e indiretamente, ao aumentar a inflação global e a aversão ao risco, o que pode diminuir o consumo em outros países e desviar investimentos para outras commodities.

Como a variação do dólar afeta o lucro do cafeicultor brasileiro?

Como o café é cotado em dólar no mercado internacional, uma alta na moeda americana significa que o produtor recebe mais reais pela mesma saca vendida para exportação. Por outro lado, a valorização do real frente ao dólar pode diminuir a rentabilidade em moeda local, mesmo que a cotação internacional do café se mantenha estável.

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