A safra de grãos 2020/2021 promete ser histórica, com uma produção estimada pela Conab em 264,8 milhões de toneladas. Nesse cenário, a cultura da soja é a grande protagonista, respondendo por quase metade desse volume, com um recorde de 133,7 milhões de toneladas.
Este desempenho impressionante vem de dois fatores principais: um aumento de 3,4% na área plantada e um ganho real de 3,6% na produtividade das lavouras.
Mesmo com o plantio atrasado em algumas regiões devido à demora das chuvas, a expectativa geral do mercado é muito positiva.
Mas o que isso tudo significa para o seu bolso? Confira agora os 5 fatores que podem influenciar os preços da soja em 2021 e impactar o resultado da sua safra.
5 Fatores que Podem Influenciar os Preços da Soja em 2021
1. Queda na Produção dos EUA: Menos Soja Americana, Mais Valor para a Brasileira
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou em janeiro um relatório que surpreendeu o mercado. A estimativa para a safra de soja americana foi menor do que o esperado.
- Projeção de Dezembro:
113,4 milhões
de toneladas. - Nova Estimativa de Janeiro:
112,5 milhões
de toneladas.
Essa redução de quase 1 milhão de toneladas pode parecer pequena, mas foi o bastante para agitar o mercado financeiro. Como resultado, os preços dos contratos futuros da soja na Bolsa de Chicago (o principal mercado mundial para negociação de grãos) subiram mais de 3%.
Com a produção americana em baixa e a brasileira em alta, o Brasil deve se consolidar como o maior produtor de soja do mundo, o que fortalece nossa posição no mercado global.
2. Demanda da China: O Gigante Asiático e a Nova Relação com os EUA
Não é novidade que a China é o maior importador de soja do mundo. Na safra 2020/2021, o país aumentou suas compras em 13% para alimentar a recuperação de seus rebanhos de suínos.
Série histórica da produção, consumo e importações de soja em grão pela China
(Fonte: Canal Rural / Cogo Inteligência e Agronegócio
No entanto, um ponto de atenção é a política. Com a vitória de Joe Biden nos Estados Unidos, as relações comerciais entre os dois países podem mudar.
Se houver uma reaproximação comercial entre China e EUA, a soja brasileira pode perder um pouco de seu protagonismo. Mas não há motivo para pânico. A demanda chinesa é gigantesca, chegando a quase 100 milhões de toneladas.
O que pode acontecer é uma redução no ritmo de crescimento da demanda pela soja brasileira, o que, naturalmente, poderá afetar os preços no mercado.
3. Problemas na Argentina: Vantagem para a Logística Brasileira
Nossos vizinhos argentinos estão enfrentando uma situação logística complicada. Greves e paralisações, principalmente no setor de transporte, reduziram a capacidade do país de exportar soja e seus derivados, como farelo e óleo.
Além disso, a expectativa de produção da Argentina também caiu. A previsão, que era de 50 milhões de toneladas, foi ajustada para 48 milhões de toneladas, uma redução de 2 milhões de toneladas.
Se essa situação continuar, o Brasil sai ganhando. A dificuldade argentina pode favorecer os preços da soja brasileira em 2021 e aumentar a procura por nossa produção para atender o mercado global.
4. Condições Climáticas: O Efeito do La Niña na Safra
O clima é sempre um fator decisivo. No início da safra, muitos produtores estavam preocupados com o fenômeno La Niña, que significa um resfriamento das águas do Oceano Pacífico, alterando o regime de chuvas.
Felizmente, as chuvas que chegaram na segunda quinzena de outubro de 2020 aliviaram a situação e favoreceram o desenvolvimento das lavouras de soja em quase todo o país.
Precipitação acumulada em dezembro de 2020 no Brasil
(Fonte: Inmet)
No entanto, é preciso manter a atenção. A previsão para o trimestre de janeiro a março de 2021 ainda indica a continuidade do La Niña, o que pode influenciar o desenvolvimento e a produtividade da segunda safra.
Previsão probabilísticas por trimestre para a ocorrência de El Niño ou La Niña
(Fonte: International Research Institute – IRI)
5. Mercado Interno Aquecido: A Força da Demanda Brasileira
O estoque de soja no Brasil está baixo, e isso é um fator importante para sustentar os preços em 2021. Grande parte da safra 2020/21 já foi negociada antecipadamente ao longo de 2020, quando os preços estavam muito atrativos.
Além do estoque reduzido, a demanda dentro do próprio Brasil está crescendo. Os principais motores desse aquecimento são:
- Setor Pecuário: A expectativa é de um aumento na procura por farelo de soja para a fabricação de ração.
- Indústria de Biodiesel: A busca por óleo de soja para a produção de combustível também está em alta.
Segundo o Cepea, pela primeira vez na história, o consumo industrial de óleo de soja superará o uso do óleo para fins alimentícios, mostrando a força desse novo mercado.
Como Acompanhar os Preços da Soja na Prática
Se você tem dificuldade para acompanhar as cotações e entender as variações de preço, aqui vai uma dica prática.
Os dois principais indicadores de preço da soja no Brasil são o Esalq/BM&F Bovespa Paranaguá e o Cepea/Esalq Paraná.
- Indicador Esalq/BM&F Bovespa – Paranaguá: Reflete o preço da soja no porto de Paranaguá (PR), um dos principais pontos de exportação do Brasil. É uma referência para o mercado externo.
- Indicador Cepea/Esalq – Paraná: Mostra a média de preços pagos ao produtor diretamente no estado do Paraná, servindo como uma ótima referência para o mercado interno.
Você pode encontrar ambos os gráficos atualizados diariamente em sites especializados e confiáveis como o do Cepea.
Variação do indicador do preço da soja Esalq/BM&F Bovespa – Paranaguá dos últimos 6 meses
(Fonte: Cepea/Esalq)
Indicador do preço da soja Cepea/Esalq – Paraná dos últimos 6 meses
(Fonte: Cepea/Esalq)
Conclusão
O cenário para o produtor de soja em 2021 é bastante promissor. A produção brasileira deve ser recorde, e a demanda, tanto externa quanto interna, continua forte.
Em resumo, os principais pontos que sustentam a expectativa de preços elevados são:
- Cenário Externo Favorável: A produção reduzida nos Estados Unidos, os problemas logísticos na Argentina e a demanda contínua da China criam um ambiente positivo para a soja brasileira.
- Mercado Interno Forte: O aumento do consumo de farelo pela pecuária e de óleo pela indústria de biodiesel garante uma forte demanda dentro de casa, ajudando a manter os preços valorizados.
Fique de olho nas condições climáticas para a segunda safra e nas negociações comerciais entre China e EUA, mas as perspectivas indicam mais um ano de boa rentabilidade para a sojicultura brasileira.
Glossário
Bolsa de Chicago (CBOT): Principal centro mundial para a negociação de contratos futuros de commodities agrícolas, como a soja. Os preços definidos nesta bolsa servem como referência para o mercado global.
Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada): Órgão de pesquisa da Esalq/USP que apura e divulga indicadores de preços de produtos agropecuários no Brasil. Suas cotações são uma referência fundamental para o mercado interno.
Conab (Companhia Nacional de Abastecimento): Empresa pública brasileira responsável por gerar e divulgar as estimativas oficiais de safra, estoques e dados de produção agrícola no país.
Contratos futuros: Acordos para comprar ou vender um produto, como a soja, a um preço pré-definido em uma data futura. Funcionam como uma ferramenta para produtores e compradores se protegerem das variações de preço.
Farelo de soja: Produto resultante da extração do óleo do grão de soja, rico em proteínas. É o principal ingrediente utilizado na fabricação de ração para animais, especialmente aves e suínos.
La Niña: Fenômeno climático caracterizado pelo resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico. Causa alterações significativas nos padrões de chuva, podendo gerar secas em algumas regiões produtoras e excesso de chuva em outras.
Segunda safra: Refere-se à cultura plantada logo após a colheita da safra principal (safra de verão), aproveitando o final do período chuvoso. No Brasil, é comum o plantio de milho ou algodão como segunda safra após a colheita da soja.
USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos): Agência governamental dos EUA que, assim como a Conab no Brasil, divulga relatórios sobre a produção e a demanda agrícola. Seus dados têm grande impacto nos preços globais das commodities.
Como aproveitar o cenário promissor na prática
O cenário de alta nos preços da soja é uma excelente notícia, mas a grande questão é: como garantir que essa valorização se transforme em lucro real no final da safra?
Acompanhar as cotações do mercado é o primeiro passo, mas a decisão de quando e como vender depende de um fator crucial: conhecer o seu custo de produção em detalhes. Sem saber exatamente quanto custou para produzir cada saca, é impossível avaliar se uma oferta é realmente vantajosa.
Um software de gestão agrícola como o Aegro resolve esse desafio ao centralizar todas as despesas da fazenda – desde insumos e operações até custos administrativos –, oferecendo relatórios claros que mostram sua margem de lucro em tempo real. Além disso, com grande parte da safra sendo negociada antecipadamente, ter um controle preciso sobre os contratos de venda se torna essencial para não perder oportunidades.
Um sistema integrado permite registrar esses acordos e acompanhar o volume já comprometido, ajudando a tomar decisões de venda mais seguras e baseadas em dados concretos. Que tal transformar a gestão da sua fazenda e garantir a lucratividade da sua safra?
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Perguntas Frequentes
Com a safra recorde no Brasil, por que os preços da soja tendem a subir em vez de cair?
Apesar da produção recorde, os preços são sustentados por uma demanda global e interna extremamente aquecida. A quebra de safra em concorrentes como EUA e Argentina, somada à forte procura da China e do mercado interno (pecuária e biodiesel), cria um cenário onde a demanda pela soja brasileira supera a oferta, valorizando o produto.
Qual a diferença prática entre o indicador de preço de Paranaguá e o do Paraná para o produtor rural?
O indicador Esalq/BM&F Bovespa – Paranaguá reflete o preço da soja no porto, sendo a principal referência para exportação e grandes negócios. Já o indicador Cepea/Esalq – Paraná representa a média de preços pagos diretamente ao produtor no estado, funcionando como um termômetro mais fiel para as negociações do mercado interno.
De que forma específica o fenômeno La Niña pode prejudicar a produtividade da soja?
O La Niña altera o regime de chuvas, podendo causar longos períodos de estiagem no Sul e Centro-Oeste do Brasil. A falta de água em fases críticas do desenvolvimento da planta, como o florescimento e o enchimento dos grãos, causa estresse hídrico, resultando em menor peso de grãos e, consequentemente, uma quebra na produtividade por hectare.
Além da China, o que mais impulsiona a demanda interna pela soja brasileira?
A demanda interna é fortemente impulsionada por dois setores. O primeiro é a pecuária, que utiliza o farelo de soja como base proteica para a fabricação de ração para aves e suínos. O segundo é a indústria de biodiesel, que consome cada vez mais óleo de soja como matéria-prima para a produção de combustível renovável.
Por que os problemas na Argentina afetam diretamente o preço da soja do Brasil?
A Argentina é um grande competidor do Brasil no mercado global, especialmente na exportação de farelo e óleo de soja. Quando o país enfrenta problemas logísticos (como greves) ou climáticos que reduzem sua produção, os compradores internacionais se voltam para o Brasil para suprir suas necessidades, aumentando a demanda e valorizando a soja brasileira.
Como o produtor pode se proteger das variações de preço da soja?
Uma das principais ferramentas para proteção contra a volatilidade são os contratos futuros, que permitem travar um preço de venda antes mesmo da colheita. Além disso, conhecer detalhadamente o custo de produção é fundamental para identificar o momento ideal de venda e garantir uma margem de lucro satisfatória, aproveitando os picos de cotação.
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