Apesar de um pequeno atraso no plantio da soja na safra 2019/20 por causa da seca, a produção brasileira alcançou um nível recorde. Agora, para a safra 2020/2021 que se aproxima, o cenário já mostra um ritmo acelerado.
Impulsionada pela alta do dólar, a negociação antecipada do grão atingiu um patamar inédito: 44% da produção estimada para a próxima safra já foi negociada. Essa é uma movimentação muito significativa e mostra um mercado aquecido.
Segundo dados do Cepea, a procura pela soja brasileira continua forte. Além disso, mudanças nas expectativas de produção nos Estados Unidos e na demanda da China influenciam diretamente os preços que chegam até você, produtor.
Neste artigo, vamos detalhar como esses fatores impactam o mercado da soja e o que você pode fazer para se proteger das oscilações e negociar melhor o seu produto.
Como Estão os Preços da Soja no Brasil?
Para acompanhar os preços da soja no país, os dois principais indicadores são o Esalq/BM&FBovespa Paranaguá (PR) e o Cepea/Esalq Paraná. Você pode consultar esses dados atualizados em sites especializados, como o do Cepea.
Nos últimos meses, ambos os indicadores registraram novas marcas históricas para os preços da soja, um recorde atrás do outro. O mercado ficou ainda mais agitado recentemente, após o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) divulgar seu novo relatório de expectativas de safra, que traz projeções para os EUA e outros grandes produtores mundiais.
Mesmo com a safra recorde no Brasil em 2019/20, a disputa pelo grão está bastante acirrada, tanto por parte dos importadores quanto das indústrias nacionais.
Indicador do preço da soja Cepea/Esalq – Paraná nos últimos 6 meses
(Fonte: Cepea/Esalq)
Para se ter uma ideia, na semana de 10 a 15 de agosto de 2020:
- O indicador Esalq/BM&FBovespa Paranaguá (PR) subiu 3,3%, alcançando o valor de R$ 127,26 por saca.
- O indicador Cepea/Esalq Paraná avançou 2,8%, elevando o valor da saca para R$ 121,54.
Com esses valores, a diferença entre o preço pago no porto e no mercado interno foi a menor registrada desde 2016, mostrando a forte demanda interna.
Indicador do preço da soja Esalq/BM&FBovespa – Paranaguá nos últimos 6 meses
(Fonte: Cepea/Esalq)
Segundo os pesquisadores do Cepea, esses preços mais altos ocorreram devido à presença mais ativa dos compradores no mercado spot: ou seja, na negociação de lotes para entrega imediata, principalmente para fechar cargas de navios. Do lado dos vendedores, a maioria dos sojicultores aproveitou o momento para vender os volumes que ainda restavam da safra 2019/2020.
O Ritmo Acelerado das Vendas Antecipadas de Safra
Com o dólar valorizado e a demanda chinesa aquecida, a venda antecipada da safra se tornou um fator decisivo na formação do preço da soja.
Das 131 milhões de toneladas de soja estimadas para a próxima safra, o Brasil já negociou 44% desse total. Isso é possível graças às operações no mercado futuro.
Para comparar, na mesma época do ano passado (safra 2019/2020), apenas 16% da produção havia sido negociada. O volume atual é, portanto, quase três vezes maior.
Ainda assim, a expectativa é que o ritmo das vendas diminua nos próximos meses, tornando-se mais lento e gradual, à medida que os produtores iniciam os preparativos para o plantio, previsto para setembro.
O estado do Mato Grosso está na liderança da comercialização antecipada, com 52% da sua safra já negociada.
Comercialização antecipada da safra de soja por estado brasileiro
(Fonte: Canal Rural)
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O Que Pode Mexer com o Mercado e Influenciar os Preços da Soja em 2020?
Três fatores principais estão no radar do mercado e podem causar novas movimentações nos preços.
1. Aumento na Estimativa de Produção dos Estados Unidos
O relatório do USDA, liberado em 11 de agosto, trouxe uma nova estimativa para a safra 2020/2021 de soja nos EUA, que atingiu o patamar de 120,4 milhões de toneladas. O mercado já esperava um aumento, mas o número veio acima das expectativas.
Essa nova projeção representa um crescimento significativo:
- 8 milhões de toneladas a mais em relação à estimativa de julho.
- 26,6 milhões de toneladas a mais quando comparada à safra anterior (2019/2020).
Em outras palavras: uma maior oferta de grãos no mercado global tende a pressionar os preços para baixo.
2. Evento Climático Atípico em Iowa, nos Estados Unidos
Até recentemente, as lavouras americanas apresentavam boas condições climáticas, o que ajudava a estabilizar a bolsa de Chicago. No entanto, um evento isolado mudou parte desse cenário.
Uma tempestade severa, com ventos e chuvas fortes, chamada de derecho, atingiu estados do meio-oeste americano, incluindo Iowa, o segundo maior produtor de grãos do país. O fenômeno causou grandes danos em silos, galpões e, principalmente, nas lavouras de soja e milho.
Eventos como esse, mesmo que localizados, funcionam como catalisadores para os preços. A reação foi imediata: na bolsa de Chicago, os preços da soja subiram mais de 2% após o ocorrido.
Silos distorcidos e derrubados pelo derecho em Iowa (EUA)
(Fonte: USDA)
Embora o governo dos EUA já tenha liberado auxílios emergenciais aos produtores afetados, novos efeitos nos preços podem ser esperados nas próximas semanas, conforme a real dimensão das perdas for calculada.
3. Aumento da Demanda Chinesa
O mesmo relatório do USDA que aumentou a projeção da safra americana também trouxe um aumento na expectativa de importação da China para a safra 2020/21. Este é um fator que pode influenciar positivamente os preços da soja.
A projeção de importação da China atingiu um recorde histórico: 99 milhões de toneladas, o que representa 1 milhão de toneladas a mais do que na safra 2019/20.
Série histórica de produção, consumo e importações de soja pela China
(Fonte: Cogo/Canal Rural)
Essa forte demanda chinesa, impulsionada pela recuperação da sua produção de suínos e aves, pode equilibrar os efeitos da maior oferta de grãos dos Estados Unidos.
Principais fatores que podem influenciar os preços da soja
(Fonte: Conab)
Alternativas Para se Proteger das Variações nos Preços da Soja
O risco no mercado de commodities é uma realidade bem conhecida do produtor. Como a margem de lucro na agricultura muitas vezes é apertada, prejuízos podem ocorrer quando os preços de venda não cobrem os custos de produção.
Para evitar problemas com essas oscilações, existem ferramentas financeiras importantes.
Hedge: Uma das principais alternativas é o hedge. Essa é uma operação financeira que protege o valor do seu produto contra as variações futuras do preço de venda, travando um valor para sua saca hoje. Confira aqui como fazer um contrato de hedge e como ele pode assegurar sua rentabilidade.
Barter: Outra estratégia que tem ganhado espaço é o barter. Diferente do hedge, o barter é uma operação de troca, na qual você negocia sua produção futura por insumos agrícolas de que precisa para a safra.
Para adotar qualquer uma dessas estratégias e garantir bons preços para a sua soja, é fundamental ter um planejamento detalhado da lavoura e um controle preciso dos custos de operação.
Softwares de gestão agrícola como o Aegro são projetados para te ajudar nessa tarefa. Com ele, você consegue saber exatamente se o preço da soja que está sendo negociado cobre ou não seus custos de produção, permitindo uma tomada de decisão mais segura.
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Conclusão
Antes de buscar travar o preço da soja, o primeiro passo é sempre interno: entender sua própria produção, equilibrando despesas e sabendo qual é o seu real custo para produzir cada saca.
O preço da soja, assim como o de outras commodities, pode variar rapidamente por conta de fatores como política, clima e demanda internacional. Por isso, é essencial estar sempre atento ao que acontece no mercado.
Ferramentas como o barter e o hedge são aliadas importantes e vale a pena conhecê-las para proteger sua margem e garantir os melhores resultados possíveis na safra
Glossário
Barter: Operação de troca direta da produção futura (soja) por insumos agrícolas (sementes, fertilizantes). É uma forma de financiar a safra, negociando a colheita antes mesmo do plantio para obter os recursos necessários.
Cepea: Sigla para Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, ligado à Esalq/USP. É uma das principais referências no Brasil para a cotação e análise de preços de produtos agrícolas.
Commodities: Produtos que funcionam como matéria-prima e têm seus preços definidos pelo mercado global, como a soja, o milho e o petróleo. O valor não depende da marca, mas da oferta e da demanda mundial.
Hedge: Estratégia financeira para se proteger contra as variações de preços. O produtor trava um preço de venda para sua safra futura, garantindo sua rentabilidade independentemente das oscilações do mercado.
Indicadores de Preço (Cepea/Esalq e Esalq/BM&FBovespa): Referências usadas para acompanhar o valor da soja em mercados específicos, como o porto de Paranaguá. Funcionam como um “termômetro” do mercado para guiar as negociações.
Mercado Futuro: Ambiente de negociação onde são firmados contratos de compra e venda de produtos para entrega em uma data futura, com um preço definido hoje. É o mecanismo que viabiliza a venda antecipada da safra.
Mercado Spot: Refere-se à negociação de produtos para entrega imediata, com pagamento “à vista” (em curto prazo). Foca na necessidade presente de compra e venda, diferentemente do mercado futuro.
Saca: Unidade de medida padrão para comercialização de grãos no Brasil. No caso da soja e do milho, uma saca equivale a 60 kg.
USDA: Sigla para United States Department of Agriculture (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Seus relatórios de estimativa de safra e estoques são acompanhados mundialmente e têm forte impacto nos preços das commodities.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
A volatilidade do mercado da soja, como vimos, exige que o produtor tenha um controle financeiro impecável para aproveitar as oportunidades sem arriscar a margem de lucro. O principal desafio é saber exatamente qual é o seu custo de produção por saca para fechar um bom negócio, seja no mercado spot, em operações de hedge ou barter. Ferramentas de gestão agrícola como o Aegro são projetadas para resolver essa questão, centralizando o acompanhamento de custos em tempo real. Assim, você sabe se o preço oferecido hoje realmente cobre suas despesas e garante a rentabilidade da safra.
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Perguntas Frequentes
Quais são os principais fatores que levaram ao recorde no preço da soja em 2020?
A alta histórica nos preços da soja em 2020 foi impulsionada principalmente por três fatores: a valorização do dólar, que tornou o grão brasileiro mais competitivo no mercado externo; a forte e contínua demanda da China para alimentar seu rebanho; e a acirrada disputa interna e externa pelos lotes restantes da safra 2019/20.
Qual a diferença prática entre as estratégias de hedge e barter para o produtor?
O hedge é uma operação financeira para travar o preço de venda da sua soja em dinheiro, protegendo o lucro contra futuras quedas. Já o barter é uma operação de troca, onde você negocia sua produção futura diretamente por insumos agrícolas. Enquanto o hedge garante um valor monetário, o barter garante os insumos para a próxima safra, travando a relação de troca.
Por que a estimativa da safra de soja nos Estados Unidos afeta o preço que recebo no Brasil?
Porque a soja é uma commodity global e seu preço é definido pela oferta e demanda mundial. Uma safra maior nos EUA aumenta a oferta global de grãos, o que tende a pressionar os preços para baixo em mercados internacionais como a Bolsa de Chicago. Essa tendência se reflete diretamente nos preços pagos aos produtores brasileiros.
Vender a soja de forma antecipada é sempre um bom negócio?
A venda antecipada é uma excelente ferramenta para garantir a rentabilidade, especialmente em cenários de alta como o de 2020. No entanto, ela envolve o risco de perder lucros maiores caso os preços subam ainda mais após a fixação. A decisão ideal envolve conhecer seu custo de produção e, possivelmente, vender a safra em lotes para mitigar os riscos e aproveitar oportunidades.
O que significa negociar no ‘mercado spot’ e como isso impacta o preço da soja?
O mercado spot refere-se à negociação de lotes para entrega imediata, com pagamento em curto prazo. Quando há muitos compradores ativos no mercado spot, como mencionado no artigo, isso sinaliza uma forte demanda presente e uma escassez de produto disponível, o que força os preços para cima para toda a cadeia.
Como a demanda da China consegue equilibrar o efeito de uma grande safra americana?
A China é a maior importadora de soja do mundo. Mesmo que os EUA produzam um volume recorde (aumentando a oferta), uma demanda chinesa igualmente recorde (aumentando a procura) cria um ponto de equilíbrio. A forte necessidade da China por grãos pode absorver essa produção extra, impedindo que os preços caiam drasticamente.
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- Como garantir uma boa negociação da venda da soja de forma antecipada: Este artigo é o aprofundamento prático ideal para as soluções citadas no artigo principal. Enquanto o texto base introduz Hedge e Barter, este candidato detalha quatro modalidades de comercialização (Mercado Físico, a Termo, Futuro e de Opções), oferecendo ao produtor um guia estratégico completo para executar a proteção de rentabilidade sugerida.
- Mercado futuro da soja: seu funcionamento e as principais vantagens: Complementa perfeitamente o artigo principal ao desmistificar o conceito de ‘mercado futuro’, que é a base para a estratégia de hedge. Ele oferece um valor educacional único, explicando o funcionamento, os custos e as vantagens dessa ferramenta, transformando uma sugestão teórica do artigo principal em um conhecimento prático e acionável para o leitor.
- O que esperar dos preços da soja em 2021: Este artigo funciona como a continuação lógica da jornada do leitor, projetando o cenário para o ano seguinte. Ele analisa a evolução dos mesmos fatores-chave (produção nos EUA, demanda da China, clima), permitindo que o produtor entenda as tendências de médio prazo e se planeje para além da safra de 2020 abordada no texto principal.
- Demanda chinesa, clima e câmbio direcionam preços da soja 2019: Oferece um contexto histórico essencial, mostrando que os principais vetores de preço de 2020 (demanda chinesa, clima, câmbio) já eram determinantes em 2019. Sua singularidade está em adicionar a variável do custo do frete, uma dimensão prática e fundamental que não foi aprofundada no artigo principal, enriquecendo a compreensão do leitor sobre a formação de preços.
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