O início de 2019 está deixando o produtor de soja em alerta. O mercado avança com muitas incertezas, aguardando uma definição mais clara sobre o tamanho da safra 2018/19 na América do Sul e os desdobramentos da disputa comercial entre Estados Unidos e China.
Esses dois fatores, somados à variação do câmbio, são os principais pontos que estão movimentando os preços da soja neste momento.
Diante desse cenário, muitos produtores optam por armazenar os grãos. A estratégia é esperar por mais segurança no mercado antes de tomar a decisão de vender a produção.
Vamos entender em detalhes como esses fatores influenciam os preços da soja em 2019 e o que você, produtor, pode fazer para tomar a melhor decisão.
Entenda a Queda de Preços Neste Início de Ano
A principal incerteza vem do clima. Já sabemos que haverá alguma quebra de safra na América do Sul, e o problema não se limita ao Brasil, que sofreu com a seca nos últimos meses. O Paraguai também deve produzir menos por causa do calor intenso, enquanto a Argentina enfrenta perdas pelo excesso de chuvas.
(Fonte: USDA/NASS/WASDE em The Van Trump Report)
Com a chance de ter menos soja no mercado, a expectativa seria de preços mais altos. Por isso, não estamos vendo um grande volume de vendas no momento. Como mencionado, muitos produtores estão segurando o grão, aguardando um cenário mais claro sobre a demanda da China e uma recuperação dos preços, que caíram bastante em janeiro.
Segundo dados do Cepea da Esalq/USP, as cotações voltaram a ganhar um pouco de firmeza em fevereiro, após a forte queda do mês anterior.
- Em janeiro, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa da soja Paranaguá teve uma média de
R$ 76,89
por saca de 60 kg. Na metade de fevereiro, a média já subiu para cerca deR$ 78,02
por saca. - Já o Indicador CEPEA/ESALQ Paraná registrou em janeiro seu menor valor real desde 2018, batendo
R$ 72,02
por saca. A média em fevereiro está em torno deR$ 73,00
por saca.
Um dos principais motivos para essa baixa em janeiro foi a desvalorização do dólar em relação ao Real. Quando o dólar cai, nossa soja se torna menos atrativa para os compradores internacionais, o que pressiona os preços para baixo no mercado interno.
Indicador da soja ESALQ/BM&FBovespa – Paranaguá nos últimos 6 meses
(Fonte: Cepea)
Além do câmbio, a expectativa de que a China volte a comprar mais soja dos Estados Unidos também afeta o mercado. Se isso acontecer, a demanda pelo produto brasileiro pode diminuir, pressionando ainda mais os nossos preços.
Contratos Futuros: Uma Ferramenta para Travar Preços
Com os preços atuais ainda baixos, muitos produtores estão avaliando os contratos de venda futura ou a termo como uma alternativa interessante. Esses contratos permitem fixar o preço de venda da sua soja hoje, para entrega e pagamento no futuro.
Muitos agricultores se adiantaram e já garantiram a venda de parte da sua produção ainda no ano passado. Em Mato Grosso, o maior estado produtor do Brasil, 41% da safra atual já foi vendida por meio desses contratos, segundo o Imea (Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária).
Analisando os valores FOB (Free on Board) para o porto de Paranaguá (PR), os contratos a termo de fevereiro a julho de 2019 indicam uma relativa estabilidade nos preços.
Para entender melhor: O preço FOB significa que o valor combinado já inclui o custo para colocar a soja a bordo do navio, com o transporte até o porto e as taxas de embarque pagas pelo vendedor.
Em um mercado com tantas dúvidas como o de 2019, os contratos a termo podem ser uma boa estratégia para garantir preços melhores e reduzir os riscos.
Na Bolsa de Chicago (CME/CBOT), onde são negociados os contratos futuros que servem de referência para o mundo todo, os valores apontam para preços melhores nos próximos dois anos, indicando uma recuperação após as perdas de 2018.
O Fator Frete: Como o Custo do Transporte Pesa no Preço Final
Outro ponto de atenção é a tabela de fretes mínimos, que está em vigor no Brasil desde a greve dos caminhoneiros em 2018. A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) divulgou uma nova tabela em janeiro, que você pode conferir em detalhes aqui.
A medida é criticada pelo setor produtivo, que alega um aumento significativo nos custos de transporte.
Segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, a tabela de fretes mínimos pode afetar as vendas da safra de soja e adicionar mais custos aos agricultores
(Fonte: G1)
O custo para levar a soja da fazenda até o porto é um componente muito importante na formação do preço final. Isso acontece principalmente porque as grandes regiões produtoras do Brasil ficam distantes dos principais portos usados para a exportação.
Custo de Produção e Margem de Lucro: As Contas da Safra 2018/19
Além dos gastos com o transporte, o custo de produção da soja na safra 2018/19 também subiu. Isso foi impulsionado pela valorização do dólar, que encarece insumos como fertilizantes e defensivos, e pela maior demanda por esses produtos.
Cálculos da Equipe de Custo de Produção Agrícola do Cepea mostram um aumento nos custos em várias regiões importantes:
- Guarapuava (PR) e Passo Fundo (RS): aumento de
8%
- Cascavel (PR): aumento de
9%
- Rio Verde (GO): aumento de
11%
- Balsas (MA): aumento de
7%
- Sorriso (MT): aumento de
5%
A combinação de custos mais altos com a provável queda na produtividade da soja em vários estados deve resultar em uma margem de lucro mais apertada para os produtores.
Por isso, nesta safra é fundamental estar atento à sua rentabilidade. Você precisa saber, talhão por talhão, exatamente quanto gastou para produzir e qual será sua receita para garantir que a venda seja lucrativa.
Exemplo da rentabilidade de uma fazenda por talhão, de modo fácil, sem confusão e rápido no software Aegro
*Números meramente ilustrativos
Manter um registro detalhado dos custos de produção é essencial. Apenas sabendo exatamente tudo o que foi gasto é possível definir qual preço de venda realmente vale a pena para o seu negócio.
Cenário de Oferta e Demanda para 2019
Diante do clima adverso, uma nova safra recorde em 2019 está praticamente descartada. Os números mais recentes da Conab já levam em conta as perdas causadas pela seca de dezembro, que prejudicou a cultura da soja em muitos estados.
- Produção no Brasil: A estimativa da Conab em janeiro foi de 118,8 milhões de toneladas, uma redução em relação à previsão anterior de 120,6 milhões. Esse volume é 0,4% menor que o da safra passada, mesmo com a área plantada mantida em 35,8 milhões de hectares.
- Oferta Mundial: O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) projeta uma oferta global de soja em grão de 360,99 milhões de toneladas na safra 2018/19.
- Consumo Interno: O consumo de soja no Brasil deve crescer cerca de 4%, chegando a 45,2 milhões de toneladas em 2019.
- Exportações Brasileiras: As vendas do grão para outros países são estimadas em 75 milhões de toneladas, um volume 8,5% menor do que o exportado em 2018.
Conclusão
Em um cenário de tantas incertezas para os preços da soja em 2019, a melhor estratégia é ter total controle sobre as finanças da sua fazenda. Para tomar a decisão certa sobre quando vender, você precisa dominar os seguintes pontos:
- Custo de Produção Detalhado: Saiba exatamente qual foi o seu custo para produzir cada saca, considerando cada talhão individualmente.
- Custo de Armazenamento e Frete: Coloque na conta quanto custa para armazenar sua soja e qual será o impacto do frete no preço final.
- Acompanhamento do Mercado: Fique de olho nas notícias sobre o câmbio, as negociações entre EUA e China e as novas estimativas de safra.
- Análise de Rentabilidade: Com os indicadores apontando para margens mais apertadas, use seus dados para identificar quais manejos foram mais eficientes e trouxeram melhor retorno financeiro.
Sabendo o custo real da sua produção, você terá clareza para identificar qual preço de venda é vantajoso. Conhecer os custos de armazenamento e as perspectivas do mercado é fundamental para decidir se vale a pena esperar ou vender agora.
Glossário
Bolsa de Chicago (CME/CBOT): Principal mercado mundial para negociação de contratos futuros de commodities agrícolas, como a soja. Os preços definidos nesta bolsa servem como referência para o mercado global, influenciando diretamente os preços no Brasil.
Câmbio: Refere-se à taxa de conversão entre duas moedas, como o Dólar e o Real. Uma desvalorização do Real (dólar mais alto) tende a tornar a soja brasileira mais barata e competitiva no mercado internacional, podendo elevar os preços para o produtor.
Conab (Companhia Nacional de Abastecimento): Órgão do governo brasileiro responsável por gerar e divulgar dados oficiais sobre a agricultura, incluindo estimativas de safra, área plantada, produtividade e estoques de produtos como a soja.
Contratos Futuros (ou a Termo): Acordos de compra e venda de um produto, como a soja, para entrega em uma data futura com um preço fixado no presente. É uma ferramenta utilizada por produtores para se protegerem das variações de preço do mercado.
FOB (Free on Board): Termo comercial que indica que o vendedor é responsável por todos os custos e riscos até que a mercadoria (soja) seja colocada a bordo do navio no porto de embarque. A partir desse ponto, os custos e riscos são transferidos para o comprador.
Indicadores Cepea/Esalq: Preços de referência para produtos agrícolas, calculados diariamente pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP. Servem como um termômetro do mercado físico e são amplamente utilizados em negociações.
Quebra de Safra: Uma redução significativa na produção agrícola esperada para uma determinada colheita. Geralmente é causada por fatores climáticos adversos, como secas prolongadas ou excesso de chuvas, afetando a oferta do produto no mercado.
Talhão: Uma subdivisão ou lote de uma área agrícola, demarcado para fins de manejo específico. Analisar custos e produtividade por talhão permite uma gestão mais precisa da fazenda, identificando as áreas mais e menos rentáveis.
Como a tecnologia ajuda a proteger sua lucratividade
Em um cenário de custos elevados e preços instáveis, saber o momento certo de vender a soja é crucial. A principal dificuldade é ter clareza sobre a própria rentabilidade: qual foi o custo real por saca produzida, incluindo todos os insumos e operações?
Um software de gestão agrícola como o Aegro resolve esse desafio ao centralizar todas as informações financeiras e operacionais da fazenda. Ele permite calcular o custo de produção por talhão e visualizar a margem de lucro em tempo real, fornecendo dados precisos para que você só venda quando o preço for realmente vantajoso.
Além de facilitar o controle de custos, a plataforma também ajuda a gerenciar seus contratos de venda, dando mais segurança para negociar no mercado futuro. Pronto para tomar decisões baseadas em dados e garantir a rentabilidade da sua safra?
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Perguntas Frequentes
Por que os preços da soja caíram em 2019 mesmo com a quebra de safra na América do Sul?
Apesar da menor oferta de grãos, que normalmente elevaria os preços, outros fatores pressionaram as cotações para baixo no início de 2019. A principal causa foi a desvalorização do dólar frente ao Real, que tornou a soja brasileira menos competitiva no mercado externo. Além disso, a incerteza sobre a demanda chinesa, aguardando os desdobramentos da guerra comercial com os EUA, também contribuiu para a queda.
Como a variação do dólar afeta diretamente o preço da soja para o produtor?
O preço da soja no Brasil é fortemente atrelado ao mercado de exportação e cotado em dólar. Quando o dólar sobe, o produtor recebe mais reais pela mesma saca vendida, aumentando sua rentabilidade. Por outro lado, quando o dólar cai, como ocorreu em janeiro de 2019, o valor recebido em reais diminui, pressionando as margens de lucro.
O que são contratos futuros de soja e por que eles são uma boa estratégia em 2019?
Contratos futuros, ou a termo, são acordos que permitem ao produtor fixar o preço de venda da sua soja hoje para entrega e pagamento em uma data futura. Em um ano de alta incerteza como 2019, essa é uma excelente ferramenta para se proteger de possíveis quedas futuras nos preços, garantindo um valor de venda que cubra seus custos e assegure sua margem de lucro.
De que forma a tabela de fretes mínimos impacta a lucratividade da minha safra de soja?
A tabela de fretes mínimos, implementada após a greve de 2018, aumentou o custo do transporte dos grãos da fazenda até os portos ou indústrias. Como o frete é um componente crucial no custo total, esse aumento reduz diretamente a receita líquida do produtor, apertando ainda mais as margens de lucro, especialmente em uma safra com custos de produção já elevados.
Qual a melhor estratégia para 2019: vender a soja agora ou armazenar esperando preços melhores?
Não há uma resposta única, pois a decisão ideal depende da gestão financeira de cada fazenda. A melhor estratégia é conhecer seu custo de produção por saca detalhadamente, incluindo gastos com armazenamento. Com esse número em mãos, você pode avaliar se os preços atuais já garantem uma boa margem ou se vale a pena correr o risco de esperar por cotações mais altas, monitorando o mercado.
Além do frete, por que o custo de produção da soja aumentou na safra 2018/19?
O custo de produção subiu principalmente devido à valorização do dólar ao longo do período de compra de insumos. Como muitos fertilizantes e defensivos são importados ou têm seus preços atrelados à moeda americana, a alta do dólar encareceu diretamente esses produtos essenciais para a lavoura, impactando o custo total por hectare.
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