Você acompanha o desenvolvimento da sua lavoura todos os dias, desde o plantio até a colheita. Mas na hora de vender a produção, o preço das commodities nem sempre parece recompensar todo o seu esforço.
Compreender o que realmente movimenta as cotações é um passo fundamental para proteger sua margem de lucro.
Neste artigo, vamos analisar o mercado para desvendar como o tamanho da safra influencia diretamente o preço das commodities agrícolas.
Como o tamanho da safra afeta o preço das commodities agrícolas?
A regra mais fundamental que mexe com o preço das commodities é a conhecida lei da oferta e da demanda.
Pense da seguinte forma: a safra representa a oferta, ou seja, a quantidade total de um produto agrícola, como soja ou milho, disponível no mercado durante um certo período.
Quando a colheita é grande, tanto no Brasil quanto em outros grandes países produtores, a oferta daquele produto aumenta no mercado mundial. Se a demanda – que é a procura por esse produto pelos compradores – não crescer no mesmo ritmo, o resultado é simples: sobra produto no mercado.
Essa abundância, ou excesso de oferta, acaba pressionando os preços das commodities agrícolas para baixo. Isso acontece porque os vendedores precisam competir entre si para conseguir vender seus estoques. Portanto, uma safra cheia pode resultar em preços menos atraentes na hora da venda para você, produtor.
O contrário também é verdadeiro. Em caso de quebra de safra, seja por seca, geada, pragas ou doenças, a oferta de produto diminui. Se a demanda continuar alta, o preço naturalmente sobe. Menos produto disponível significa que os compradores disputam o que restou, e consequentemente pagam mais por isso.
É importante lembrar que o mercado também é afetado por eventos fora do seu controle, como problemas climáticos em outras partes do mundo, crises de saúde ou conflitos entre países.
Esses fatores alteram a oferta e a demanda em escala global, gerando alta volatilidade, que é a velocidade e a intensidade com que os preços sobem e descem. A sua safra define a base da oferta, mas o preço final é formado por um cenário muito mais amplo e imprevisível.
Quem determina o preço das commodities no Brasil?
O preço das commodities é formado por uma combinação de forças globais e locais. Imagine um cabo de guerra, onde vários fatores puxam os preços para lados diferentes.
A principal referência para as commodities agrícolas é a Bolsa de Chicago (CBOT). Lá, são negociados contratos futuros, que são acordos de compra e venda para uma data futura, baseados em fatores globais como o clima nos EUA, a demanda da China, políticas de biocombustíveis e a atuação de fundos de investimento.
Contudo, o preço de Chicago é apenas o ponto de partida. Aqui no Brasil, esse valor é ajustado pelo chamado diferencial de base, que leva em conta os seguintes fatores locais:
- Prêmios ou deságios nos portos: Dependem da oferta e demanda nos terminais de exportação. Se há muita procura para embarque, paga-se um “prêmio” a mais; se a procura está baixa, há um “deságio” (desconto).
- Custos logísticos: O valor do frete rodoviário, ferroviário ou fluvial para levar o produto da fazenda ao porto influencia diretamente o preço que você recebe.
- Taxas portuárias: Custos de armazenagem e embarque também são descontados do preço final.
- Oferta e demanda regional: A dinâmica do mercado na sua região pode puxar os preços para cima ou para baixo, independentemente da cotação internacional.
Além desses pontos, o dólar tem um papel central. Um dólar mais alto aumenta o preço da sua commodity em Reais, o que é bom. Por outro lado, ele também encarece os insumos importados, como fertilizantes e defensivos.
Outra variável importante é o mercado futuro, que tenta antecipar tendências com base em previsões de clima, políticas e demanda global. Os preços de hoje reagem às expectativas sobre o que pode acontecer nos próximos meses.
Por fim, não se esqueça que o Brasil, como um dos maiores exportadores do mundo, também influencia os preços globais. O desempenho da nossa safra tem força para alterar o rumo do mercado internacional.
Quais fatores podem afetar os preços das commodities?
O mercado agrícola funciona como uma grande teia conectada, sensível a uma série de influências que podem vir tanto da sua região quanto do outro lado do mundo.
Por causa disso, os preços das commodities podem mudar rapidamente devido a diversos fatores. Vamos ver os principais:
1. Clima
Não basta se preocupar apenas com a chuva que cai (ou não cai) na sua lavoura. O que acontece no clima de outras grandes regiões produtoras do mundo tem impacto direto aqui no Brasil.
Secas prolongadas na Argentina, enchentes nas planícies dos Estados Unidos ou fenômenos climáticos de grande escala, como o El Niño ou La Niña, podem causar quebras de safra em outros continentes.
Essa situação reduz a oferta mundial de grãos. Pela lei da oferta e demanda, isso tende a puxar os preços para cima em todo o mundo, inclusive para a sua produção.
O fenômeno El Niño, por exemplo, já foi apontado como um fator de risco climático importante, podendo causar menos chuva no Nordeste brasileiro e prejudicar a produção agrícola da região.
2. Cenário macroeconômico e geopolítico mundial
O agronegócio brasileiro está totalmente conectado à economia e à política global. Eventos que acontecem do outro lado do planeta podem ter um impacto direto e rápido no preço que você recebe na porteira da fazenda.
Guerras e tensões
Conflitos, como o que ocorreu entre Rússia e Ucrânia, impactaram não apenas o mercado mundial de grãos, mas também o de fertilizantes. Tensões no Oriente Médio podem afetar o preço do petróleo, o que encarece o diesel usado nas máquinas agrícolas e o frete para escoar a produção, afetando os custos em todo o mundo.
Saúde da economia global
O ritmo de crescimento (ou recessão) das grandes economias é fundamental. A China, em particular, é a maior compradora de muitas commodities brasileiras, como soja, minério de ferro e carne. Se a economia chinesa desacelera, a tendência é que ela compre menos, o que diminui a demanda global e pressiona os preços para baixo.
Relações comerciais
Disputas comerciais entre grandes potências, como as que já aconteceram entre Estados Unidos e China, podem criar janelas de oportunidade para o Brasil. Se um país impõe tarifas sobre os produtos de outro, o Brasil pode surgir como um fornecedor alternativo para atender aos mercados que ficaram desabastecidos.
3. Custos de produção
O preço que você paga pelos insumos – fertilizantes, defensivos, sementes, diesel e maquinário – afeta diretamente a sua margem de lucro.
Se os custos de produção sobem muito e os preços de venda da sua commodity não aumentam na mesma proporção, a sua rentabilidade diminui. Isso pode fazer com que muitos produtores decidam, na próxima safra, reduzir a área plantada daquela cultura ou investir menos em tecnologia.
Quando essa decisão é tomada por milhares de produtores, ela pode levar a uma oferta menor no futuro. Por sua vez, uma oferta menor pode dar sustentação a preços mais altos lá na frente. É um ciclo contínuo: os preços das commodities influenciam os custos de produção, que influenciam as decisões de plantio, que influenciam os preços futuros.
4. Políticas governamentais
As decisões dos governos, tanto no Brasil quanto no exterior, têm forte influência sobre o mercado de commodities. Medidas ligadas a crédito, estoques, comércio internacional e biocombustíveis podem impulsionar ou frear a produção, afetando diretamente a formação dos preços.
- Crédito e financiamento: A disponibilidade e as condições do crédito rural (como os Planos Safra e as taxas de juros) afetam diretamente a sua capacidade de investimento.
- Estoques reguladores: Em certos momentos, órgãos como a CONAB podem intervir no mercado. Eles podem comprar ou vender estoques públicos para tentar estabilizar os preços internos de alguns produtos.
- Acordos comerciais e barreiras: A assinatura de novos acordos comerciais pode abrir mercados para os produtos brasileiros. Por outro lado, a imposição de barreiras sanitárias ou tarifárias por outros países pode fechá-los.
- Mandatos de biocombustíveis: Políticas que obrigam ou incentivam a mistura de biocombustíveis (como etanol e biodiesel) na gasolina e no diesel criam uma demanda interna extra e muito importante para essas matérias-primas.
5. Especulação financeira
O mercado de commodities não é formado apenas por produtores e consumidores. Grandes fundos de investimento e outros agentes financeiros negociam volumes enormes de contratos futuros de commodities nas bolsas de valores.
Na maioria das vezes, o objetivo deles não é comprar ou vender o produto físico (o grão em si), mas sim lucrar com as variações de preço.
Esses movimentos financeiros podem aumentar as tendências de alta ou de baixa. Eles também podem gerar muita volatilidade nos preços, às vezes fazendo com que as cotações se descolem da realidade da oferta e da demanda física do produto.
Fica claro, portanto, que acompanhar o mercado agrícola exige uma visão ampla, que vai além da porteira da fazenda e considera desde o clima na Ásia até as decisões políticas em Brasília ou Washington.
Mercado agrícola brasileiro: como ficam a soja e o milho?
A soja e o milho são as culturas que mais movimentam a economia do agronegócio no Brasil, gerando bilhões em exportações. Por isso, seus preços são diretamente influenciados por uma combinação de fatores internos e externos.
Soja
O preço da soja no Brasil é fortemente influenciado por fatores externos, principalmente pela Bolsa de Chicago (CBOT) e pela demanda da China, nossa principal compradora. O que acontece nesses dois cenários geralmente dita o ritmo das cotações por aqui.
Na prática, grandes safras no Brasil e nos Estados Unidos aumentam a oferta global, o que tende a pressionar os preços para baixo. No entanto, uma taxa de câmbio favorável, com o dólar valorizado em relação ao real, pode compensar essa pressão, aumentando o valor em reais que você, produtor, recebe.
Além disso, a eficiência da logística para escoar a safra e os prêmios pagos nos portos no momento do embarque são decisivos para o preço final que chega ao agricultor. Por isso, é fundamental acompanhar os levantamentos de safra da CONAB e as análises de mercado de instituições como o CEPEA.
Estudos do IPEA, em parceria com a CONAB e o CEPEA, já mostraram como essa interação de fatores é complexa. Um exemplo foi o cenário de boa produtividade global, que ajudou a derrubar os preços internacionais após um período de forte alta causado pelo início da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Milho
O mercado de milho no Brasil se tornou mais complexo nos últimos anos. O principal motivo foi a entrada das usinas de etanol de milho, especialmente no Centro-Oeste. Antes, o grão era usado principalmente para ração animal e exportação. Agora, ele passou a ser disputado também por essa nova e crescente demanda interna.
Em março de 2024, por exemplo, os preços dispararam. Isso ocorreu por uma combinação de oferta restrita (entressafra e atraso na colheita), forte demanda das usinas de etanol e estoques baixos, fazendo o preço atingir o maior valor em três anos.
Essa mudança estrutural na demanda tende a dar mais sustentação aos preços no longo prazo. O milho também segue um ciclo claro: supersafras derrubam os preços e desestimulam o plantio, enquanto quebras na produção ajudam na recuperação das cotações.
Além disso, o mercado do milho sofre forte influência de fatores como o clima, o dólar e as tensões geopolíticas. Estudos mostram que os preços costumam subir no início do ano, cair com a colheita da safrinha e voltar a subir no fim do ano. A volatilidade é alta — já chegou a superar 90% ao ano —, o que reforça a importância do planejamento para o produtor.
Tanto para a soja quanto para o milho, fica evidente que o produtor precisa estar conectado não apenas com a sua lavoura, mas com um amplo conjunto de informações de mercado, domésticas e internacionais, para navegar neste ambiente complexo.
Glossário
CBOT (Bolsa de Chicago): Sigla para Chicago Board of Trade. É a principal bolsa de valores do mundo onde são negociados os preços futuros de commodities agrícolas, como soja e milho, servindo de referência para o mercado global.
Commodities: Produtos que funcionam como matéria-prima e são negociados em escala global, com pouca diferenciação de qualidade entre produtores (ex: soja, milho, café, petróleo). Seus preços são definidos pela oferta e demanda internacional.
CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento): Órgão do governo brasileiro responsável por gerar dados sobre a safra, gerenciar estoques públicos e fornecer informações estratégicas para o agronegócio, influenciando políticas agrícolas.
Contratos futuros: Acordos de compra ou venda de uma commodity por um preço pré-definido, mas com entrega para uma data futura. Produtores os utilizam para se protegerem contra a variação de preços.
Diferencial de base: É a diferença entre o preço cotado na bolsa de valores (ex: CBOT) e o preço físico pago ao produtor em sua região. Este cálculo inclui custos de frete, taxas portuárias e a dinâmica da oferta e demanda local.
Oferta e Demanda: Princípio econômico fundamental que define os preços. A “oferta” é a quantidade de produto disponível no mercado (a safra), enquanto a “demanda” é a procura por esse produto. Uma safra grande (muita oferta) tende a baixar os preços.
Quebra de safra: Redução drástica da produção agrícola esperada, geralmente causada por problemas climáticos (seca, geada), pragas ou doenças. A diminuição da oferta resultante tende a elevar os preços.
Volatilidade: Medida da intensidade e da velocidade com que os preços de um ativo, como uma commodity, sobem e descem. Alta volatilidade significa que as cotações mudam de forma brusca e imprevisível.
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Gerenciar a rentabilidade em meio à volatilidade dos preços e ao aumento dos custos de produção é, sem dúvida, o maior desafio. Saber exatamente quanto custou para produzir cada saca é o primeiro passo para tomar decisões de venda mais inteligentes e proteger sua margem de lucro.
Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, ajudando a registrar e acompanhar cada despesa da lavoura, desde a semente até a colheita. Com relatórios claros sobre o custo real da sua produção, fica muito mais fácil identificar o momento certo para vender e negociar contratos com segurança.
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Perguntas Frequentes
O que é o ‘diferencial de base’ e como ele afeta o preço que recebo pela minha safra?
O diferencial de base é a diferença entre a cotação da commodity na Bolsa de Chicago (CBOT) e o preço efetivamente pago na sua região. Ele reflete os custos locais, como frete até o porto, taxas de embarque e a dinâmica da oferta e demanda regional. Um diferencial alto significa que o preço final recebido por você será menor que a cotação internacional.
Como a taxa de câmbio do dólar impacta diretamente o preço das commodities agrícolas?
O dólar tem um impacto duplo. Um dólar mais alto aumenta o valor em Reais que você recebe pela sua produção, pois as commodities são cotadas na moeda americana, o que é positivo para a receita. Por outro lado, ele também encarece os insumos importados, como fertilizantes e defensivos, elevando seus custos de produção e pressionando sua margem de lucro.
Por que o clima em outros países, como nos EUA ou Argentina, influencia o preço da minha soja no Brasil?
O mercado de commodities é global. Uma quebra de safra em um grande produtor, como uma seca nos EUA, diminui a oferta mundial do produto. Pela lei da oferta e demanda, com menos produto disponível no mercado global, os preços tendem a subir em todo o mundo para equilibrar a balança, impactando positivamente as cotações aqui no Brasil.
Qual a principal diferença na formação de preço do milho em comparação com a soja no Brasil atualmente?
A principal diferença é a força da demanda interna pelo milho, impulsionada pelas usinas de etanol. Essa nova demanda compete diretamente com a exportação e o setor de ração animal, oferecendo maior sustentação aos preços locais. A soja, por sua vez, continua mais dependente da demanda externa, especialmente da China, e das cotações na Bolsa de Chicago.
De que forma a especulação financeira pode afetar o preço real que eu recebo pelo meu grão?
Grandes fundos de investimento negociam contratos futuros de commodities não para comprar o produto físico, mas para lucrar com as variações de preço. Esses movimentos de grande volume podem intensificar tendências de alta ou baixa, gerando alta volatilidade e fazendo com que as cotações na bolsa se descolem temporariamente da realidade da oferta e demanda física da safra.
Se uma safra recorde no Brasil tende a baixar os preços, isso é sempre ruim para o produtor?
Não necessariamente. Embora um preço menor por saca possa reduzir a receita, uma safra recorde geralmente significa uma produtividade muito alta (mais sacas por hectare). Se o aumento no volume colhido for proporcionalmente maior que a queda no preço, a rentabilidade total da fazenda ainda pode ser positiva, especialmente para produtores com custos de produção bem controlados.
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