O mercado da cana-de-açúcar é um dos principais pilares da economia brasileira. Para a safra 2019/20, a produção total está estimada em cerca de 622,3 milhões de toneladas, representando um leve aumento em relação ao ciclo anterior.
Apesar disso, o cenário apresenta desafios. Nas últimas semanas, o preço do ATR (Açúcares Totais Recuperáveis) registrou queda, embora entidades do setor projetem uma possível recuperação a partir de outubro. Ao mesmo tempo, o mercado internacional, especialmente após o recente acordo com os Estados Unidos, não parece muito promissor para o açúcar brasileiro.
Neste artigo, vamos analisar em detalhes as tendências para o preço do ATR em 2019 e as expectativas para os mercados de açúcar e etanol no Brasil.
Cenário da Produção de Açúcar e Etanol na Safra 2019/20
A safra de cana-de-açúcar 2019/20 deve alcançar 622,3 milhões de toneladas, um crescimento de 0,3% em comparação com a safra anterior.
Contudo, a área a ser colhida sofrerá uma redução de 2,5% nesse mesmo período, caindo para aproximadamente 8,4 milhões de hectares, segundo dados da Conab. Mesmo com os ganhos de produtividade vindos da tecnologia aplicada nos canaviais, esses avanços não foram suficientes para compensar a redução da área e impulsionar a produção total, conforme aponta a Conab.
A destinação da matéria-prima está se reequilibrando:
- Açúcar: Cerca de 39% da cana-de-açúcar será destinada à produção de açúcar, um aumento em relação aos 35,7% da safra passada.
- Etanol: A produção está estimada em 30,3 bilhões de litros, um volume 6,4% menor que na safra anterior.
Até mesmo o estado de São Paulo, o maior produtor do país, deve registrar uma queda de 1,5% na produção, totalizando 394,3 milhões de toneladas.
Evolução da paridade dos preços de açúcar cristal, açúcar VHP, etanol hidratado e etanol anidro em cents de dólares por libra-peso (U$c/lb) – referência abril/2019
(Fonte: Cepea, ICE e Pecege)
Mercado do Açúcar
A produção de açúcar no Brasil na safra 2019/2020 deve chegar a 31,8 milhões de toneladas, um crescimento de 9,5% em relação à safra anterior. Segundo a Conab, esse aumento representa um reequilíbrio na destinação da cana, que estava mais focada no etanol.
No entanto, o cenário externo pressiona os preços para baixo. A alta produção de açúcar em outros países aumenta a oferta global, o que prejudica as exportações brasileiras. Essa situação torna o mercado de etanol mais atrativo internamente, já que o biocombustível é uma alternativa competitiva frente aos altos preços da gasolina.
Abaixo, a análise da Conab resume os fatores que influenciam os preços do açúcar:
Mercado do Etanol
A produção de etanol apresenta duas realidades distintas para a safra 2019/20:
- Etanol Anidro: Este é o tipo misturado à gasolina. Sua produção deve crescer 12,6%, atingindo 10,5 bilhões de litros. O objetivo dessa mistura é baratear o combustível, aumentar sua octanagem e reduzir a emissão de poluentes.
- Etanol Hidratado: Este é o etanol comum vendido diretamente nos postos. A produção deve cair 14,1%, totalizando 19,8 bilhões de litros.
Veja a seguir a análise de tendências para o mercado de etanol, segundo a Conab:
Análise do Preço do ATR em 2019
Os preços pagos aos produtores pelo ATR tendem a ser um pouco menores que no mesmo período da safra anterior. Isso é resultado da combinação de menor volume colhido e da pressão da produção no mercado externo.
De acordo com o relatório da Consecana para São Paulo, os preços fecharam em R$ 0,6365/kg em março e R$ 0,6423/kg em abril. Desde então, os valores vêm caindo, refletindo o ritmo lento dos preços dos subprodutos, como o açúcar e o etanol anidro.
Vamos analisar os dados mais recentes do Cepea/Esalq para a primeira semana de setembro:
- Açúcar Cristal: A média do indicador recuou 0,44%, fechando em R$ 60,79/saca.
- Etanol Hidratado: Os preços subiram 0,73%, atingindo R$ 1,7031/litro (sem ICMS e PIS/Cofins), impulsionados por paralisações na moagem devido a chuvas.
- Etanol Anidro: Apesar do maior volume de negócios, os preços caíram 1,06%, fechando o indicador em R$ 1,888/litro (sem PIS/Cofins).
Apesar do cenário atual, as projeções da CNA/Pecege, que consideram o preço até março de 2020, indicam uma tendência positiva para o preço do ATR a partir de outubro de 2019.
(Fonte: Revista Globo Rural)
Como o Acordo com os EUA Influencia os Preços do ATR
Recentemente, o Brasil cedeu a um pedido do governo norte-americano e prorrogou por mais 12 meses a importação de etanol anidro de milho dos EUA.
A portaria anterior venceu em 31 de agosto. Além da prorrogação, o Brasil retirou a cobrança de 20% de imposto de importação e aumentou a cota livre do tributo de 600 milhões para 750 milhões de litros.
Este volume importado abastecerá principalmente a região Nordeste (cerca de 90%), que já enfrenta dificuldades. A chegada desse etanol pode aumentar a oferta e pressionar para baixo os preços do ATR 2019 na região.
Segundo o presidente da Feplana, além do prejuízo a muitas usinas, a retirada do imposto significa que o governo deixará de arrecadar R$ 270 milhões.
Opiniões de Especialistas
- Para o economista Edmar de Almeida, a importação tem uma lógica de mercado, já que é mais barato trazer etanol dos EUA para o Norte e Nordeste do que transportá-lo do Centro-Sul do Brasil.
- Marcos Jank, professor de agronegócio do Insper, argumenta que o protecionismo ao etanol não faz sentido se as tarifas para petróleo e gasolina são baixas. Ele ressalta que falta reciprocidade por parte dos EUA, que não reduziram as taxas de importação do açúcar brasileiro. Atualmente, o Brasil exporta apenas 150 mil toneladas para os EUA sem tarifas.
O acordo, que inicialmente visava abrir o mercado americano para o açúcar brasileiro, não cumpriu essa promessa, gerando desconforto, especialmente entre os produtores do Nordeste, que agora enfrentam maior concorrência e risco de queda nos preços. Essa situação, segundo a Feplana, pode levar à falência de usinas na região. Você pode ler mais sobre o assunto nesta reportagem.
(Fonte: CNA/Pecege)
Etanol de Milho: Uma Alternativa para o Futuro?
Com a oscilação no preço do ATR da cana, uma alternativa que ganha força é a produção de etanol de milho. Comum nos Estados Unidos, essa tecnologia já tem representatividade no Brasil, sendo responsável pela produção de cerca de 1,4 bilhão de litros de etanol (anidro e hidratado).
Os maiores produtores são Mato Grosso, Goiás e Paraná, com investimentos em novas usinas se expandindo para outros estados.
Vamos comparar as duas matérias-primas:
- Eficiência de Conversão:
- Cana-de-açúcar: 1 tonelada produz cerca de 90 litros de etanol.
- Milho: 1 tonelada produz cerca de 400 litros de etanol.
- Processo de Fermentação:
- Cana-de-açúcar: É mais simples quebrar as moléculas de açúcar, levando de 10 a 12 horas.
- Milho: O processo é mais complexo e dura de 38 a 45 horas.
- Produtividade Agrícola:
- Cana-de-açúcar: Produção média de 80 toneladas por hectare.
- Milho: Produção média de 15 a 20 toneladas por hectare.
Embora o milho tenha uma conversão mais alta por tonelada, a cana-de-açúcar oferece uma produtividade muito maior por área plantada. Mesmo assim, para regiões com excedente de grãos, o etanol de milho se apresenta como uma opção viável, especialmente diante dos preços mais baixos pagos pelo ATR da cana.
Conclusão
Com a tendência de alta nos preços do ATR a partir dos próximos meses, é fundamental que o produtor fique atento ao mercado para definir o melhor momento para a colheita e a venda, buscando sempre os maiores valores.
Fique de olho também no cenário internacional, pois acordos como o firmado com os EUA afetam diretamente os preços no mercado interno.
Nessas horas, um bom planejamento e uma estratégia bem definida são essenciais. Avaliar todos os cenários possíveis pode fazer a diferença para garantir maiores ganhos financeiros na sua operação.
Glossário
ATR (Açúcares Totais Recuperáveis): Principal indicador de qualidade da cana-de-açúcar, que mede a quantidade total de açúcares que pode ser extraída da matéria-prima. O preço pago ao produtor é calculado com base no valor do ATR por quilo.
CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento): Órgão do governo brasileiro responsável por gerar e divulgar dados oficiais sobre a produção agrícola, incluindo estimativas de safra, área plantada e produtividade. As análises da Conab são referências para o mercado.
Consecana (Conselho dos Produtores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo): Organização que estabelece os padrões de qualidade e o modelo de precificação da cana-de-açúcar no estado de São Paulo, o maior produtor do país. Seus relatórios de preços servem como referência para todo o setor.
Etanol Anidro: Tipo de etanol praticamente puro (com teor de água inferior a 1%) que é misturado à gasolina comum (tipo C) em um percentual definido por lei. Sua função é aumentar a octanagem do combustível e reduzir a emissão de poluentes.
Etanol Hidratado: É o etanol vendido diretamente nas bombas dos postos de combustível, utilizado em veículos flex. Possui uma pequena porcentagem de água em sua composição (cerca de 5%).
Moagem: Processo industrial de esmagar a cana-de-açúcar para extrair o caldo (garapa). Este caldo é a matéria-prima usada para a produção de açúcar e etanol.
Octanagem: Medida da capacidade de um combustível resistir à detonação espontânea dentro do motor. Combustíveis com maior octanagem, como a gasolina com adição de etanol anidro, permitem que o motor trabalhe com maior eficiência.
Safra: Refere-se ao período de colheita de um determinado produto agrícola. No caso da cana-de-açúcar no Centro-Sul, a safra geralmente se estende de abril de um ano a março do ano seguinte (ex: safra 2019/20).
U$c/lb (Cents de dólar por libra-peso): Unidade de medida de preço comum no mercado internacional de commodities. Representa o custo em centavos de dólar americano por uma libra-peso (aproximadamente 453,6 gramas) do produto.
Como a gestão pode ajudar a navegar neste cenário
Em um mercado com tanta volatilidade no preço do ATR e incertezas externas, o artigo ressalta que um bom planejamento é essencial para garantir a rentabilidade. Mas como tomar a melhor decisão de venda sem conhecer a fundo os próprios números?
O primeiro passo é ter um controle preciso dos custos de produção. Saber exatamente quanto custa produzir cada tonelada de cana permite que o produtor identifique seu ponto de equilíbrio e negocie com muito mais segurança, mesmo diante das flutuações.
Softwares de gestão agrícola, como o Aegro, simplificam esse processo ao centralizar todas as informações financeiras e operacionais. Eles permitem acompanhar os custos em tempo real e gerar relatórios que mostram claramente a margem de lucro da lavoura.
Com esses dados, a decisão sobre o melhor momento para vender deixa de ser um palpite e se torna uma escolha estratégica e bem-informada. Quer ter mais controle sobre sua lucratividade e tomar decisões de venda mais seguras?
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Perguntas Frequentes
O que é o ATR e por que seu preço é tão importante para o produtor de cana?
O ATR (Açúcares Totais Recuperáveis) é o principal indicador da qualidade da cana-de-açúcar, medindo a quantidade de açúcar que pode ser extraída da matéria-prima. Seu preço é crucial porque ele define a remuneração do produtor: quanto maior o valor do ATR, maior será o pagamento recebido por cada tonelada de cana entregue à usina.
De que forma o acordo de importação de etanol com os EUA afeta o produtor brasileiro?
O acordo aumenta a oferta de etanol no mercado brasileiro, principalmente na região Nordeste, ao permitir a entrada de etanol de milho americano com isenção de impostos até uma certa cota. Essa concorrência adicional pode pressionar os preços do etanol nacional para baixo, impactando negativamente o valor do ATR pago aos produtores locais.
Qual a principal diferença entre o etanol de milho e o etanol de cana-de-açúcar?
A principal diferença está na produtividade e na eficiência. Uma tonelada de milho produz mais litros de etanol do que uma tonelada de cana. No entanto, a cana-de-açúcar é muito mais produtiva por hectare, o que significa que se produz um volume total de etanol muito maior na mesma área plantada, tornando-a mais eficiente no uso da terra.
Por que a produção de etanol hidratado diminuiu enquanto a de etanol anidro aumentou na safra 2019/20?
Essa mudança reflete uma estratégia de mercado das usinas. O etanol anidro, que é obrigatoriamente misturado à gasolina, teve sua produção aumentada para atender a essa demanda específica. Já a produção de etanol hidratado, que compete diretamente com a gasolina na bomba, foi reduzida em resposta às condições de preço e demanda do consumidor.
Se a área colhida de cana diminuiu, como a produção total conseguiu aumentar?
O leve aumento na produção total, mesmo com a redução da área colhida, deve-se aos ganhos de produtividade agrícola. A aplicação de tecnologia e melhores práticas de manejo nos canaviais permitiu colher mais toneladas de cana por hectare, compensando a menor área e resultando em um pequeno crescimento no volume final da safra.
Existe uma previsão de melhora para o preço do ATR na safra 2019/20?
Sim. Apesar de um início de safra com preços em queda, o artigo aponta para projeções da CNA/Pecege que indicavam uma tendência de recuperação e alta nos preços do ATR a partir de outubro de 2019. Essa expectativa era um fator importante para o planejamento de colheita e venda dos produtores.
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