Pragas Polífagas: Como Identificar e Controlar na Lavoura

Engenheira agrônoma, mestre e doutora em Ciências/Entomologia. Atualmente na gestão acadêmica do SolloAgro.
Pragas Polífagas: Como Identificar e Controlar na Lavoura

Excelente. Assumindo meu papel como especialista em conteúdo para o agronegócio, vou transformar o texto fornecido em um artigo de blog otimizado, claro e altamente informativo, mantendo toda a profundidade técnica necessária para um público experiente.


Você já enfrentou uma praga que parece atacar sua lavoura não importa a cultura plantada? Se a resposta for sim, é muito provável que você esteja lidando com uma praga polífaga.

Esses insetos são verdadeiros generalistas: atacam diversas culturas e podem causar grandes prejuízos econômicos se não forem manejados corretamente. Produtores de milho, soja e algodão, por exemplo, frequentemente combatem os mesmos inimigos.

Mas o que exatamente define uma praga polífaga e, mais importante, como é possível controlá-las de forma eficaz? Este guia completo vai explicar tudo o que você precisa saber.

O Que São Pragas Polífagas e Por Que Elas se Tornaram um Problema?

A palavra “polífaga” vem do grego e significa “comer de tudo”. No contexto agrícola, usamos esse termo para descrever pragas que se alimentam de uma grande variedade de plantas.

Em outras palavras: Praga polífaga: é um inseto que não depende de uma única cultura para sobreviver e se multiplicar.

Embora o termo possa ser novo para alguns, as pragas certamente não são. Elas estão entre as mais difíceis de controlar, pois causam danos o ano inteiro em diferentes lavouras. Isso acontece por duas características principais:

  • Alta variabilidade genética: Significa que a praga tem uma grande capacidade de se adaptar a novos ambientes, plantas hospedeiras e até mesmo a métodos de controle.
  • Alto potencial reprodutivo: Quer dizer que se multiplicam muito rápido, gerando grandes populações em um curto período.

O aumento dessas pragas não aconteceu por acaso. A intensificação da agricultura, com plantios ininterruptos ao longo do ano, criou um ambiente perfeito para a propagação desses insetos. Sistemas de sucessão de culturas, como soja-milho ou milho-algodão, criaram as chamadas “pontes verdes”. Essas pontes oferecem alimento constante, permitindo que as pragas migrem de uma cultura recém-colhida para uma nova em desenvolvimento, sem interrupção.

Por isso, é fundamental adotar um manejo cuidadoso. Pragas que hoje são especialistas em uma única cultura podem se tornar polífagas com o tempo, aproveitando essa facilidade de encontrar novos hospedeiros. Um bom manejo não só garante sua produtividade, mas também ajuda a evitar que esse problema cresça.

As 4 Principais Pragas Polífagas no Brasil

Existem muitas espécies de insetos que se alimentam de diversas plantas. No entanto, algumas se destacam por causar prejuízos significativos em culturas de grande importância econômica. Vamos conhecer as principais:

Spodoptera frugiperda (Lagarta-do-cartucho)

A Spodoptera frugiperda, conhecida como lagarta-do-cartucho, pertence à ordem Lepidoptera (que inclui borboletas e mariposas).

Ela é considerada a praga-chave da cultura do milho, onde causa danos desde a fase de plântula até a espiga. No início do desenvolvimento do milho, seus ataques podem até ser confundidos com os da lagarta-rosca.

Sua alta adaptabilidade a torna um problema generalizado. A lagarta-do-cartucho ataca mais de 100 tipos de plantas hospedeiras, sem preferência por folhas largas ou estreitas. Isso significa que ela pode causar danos severos em culturas muito diferentes se não for controlada a tempo.

Helicoverpa armigera

Assim como a Spodoptera, a Helicoverpa armigera também é uma lagarta da ordem Lepidoptera.

Essa praga é considerada exótica, pois não existia no Brasil até ser identificada em 2013. Desde então, tornou-se um grande desafio para produtores de soja, milho e algodão. Para se ter uma ideia do seu potencial destrutivo, na safra 2012/2013, a Helicoverpa causou um prejuízo de mais de R$ 1 bilhão apenas na cultura do algodão.

Devido a esse histórico, ela é uma ameaça constante e exige monitoramento rigoroso por parte dos produtores.

Euschistus heros (Percevejo-marrom)

percevejo marrom Adulto de Euschistus heros (Fonte: Promip)

O percevejo-marrom é um inseto sugador da ordem Hemiptera. Embora a soja seja seu principal hospedeiro, sua população cresceu significativamente com o aumento do uso de cultivares transgênicas focadas no controle de lagartas.

Além disso, o manejo incorreto com inseticidas não seletivos contribuiu para que o percevejo-marrom se tornasse mais frequente em outras culturas importantes. Uma característica preocupante é sua capacidade de sobreviver em ambientes desfavoráveis, entrando em diapausa: um estado de “hibernação” que reduz seu metabolismo até que as condições melhorem.

Bemisia tabaci (Mosca-branca)

Esta é uma imagem macrofotográfica que exibe um agrupamento de moscas-brancas (provavelmente da espécie Bemisia tabaci) sobre Adultos de Bemisia tabaci (Fonte: Perring et al., 2018)

Apesar do nome, a mosca-branca não é uma mosca, mas sim um inseto da ordem Hemiptera, a mesma dos percevejos.

Seus danos diretos (sucção de seiva) já são um problema, mas os danos indiretos são ainda mais preocupantes: a mosca-branca é um vetor eficiente na transmissão de um grande número de viroses para as plantas. Ela tem causado perdas severas em culturas como soja, algodão, tomate e feijão.

Sua alta variabilidade genética levou à diferenciação da espécie em biótipos: são como “raças” diferentes da mesma espécie, cada uma com suas próprias características de resistência e capacidade de transmitir doenças.

Como Controlar as Pragas Polífagas: A Estratégia do MIP

A forma mais correta, sustentável e eficaz de controlar essas pragas é aplicando as táticas do Manejo Integrado de Pragas (MIP). O MIP combina diferentes métodos de controle para manter as pragas em níveis que não causem dano econômico.

pragas polífagas Bases e pilares do MIP

Monitoramento: O Ponto de Partida Essencial

O primeiro passo, muitas vezes negligenciado, é o monitoramento constante da lavoura. É impossível controlar o que não se mede.

Com monitoramentos de rotina, adaptados para sua região, cultura e histórico da área, é possível identificar a chegada das pragas e evitar surtos. A aplicação de defensivos só deve ser feita quando a praga atinge o nível de controle.

Para entender melhor: Nível de controle: é a densidade populacional da praga na lavoura que justifica o custo de uma aplicação, evitando prejuízos econômicos.

Aplicar antes disso gera custos desnecessários e pode desequilibrar o ambiente. Lembre-se que essas pragas sobrevivem em hospedeiros alternativos, como plantas daninhas. Portanto, o monitoramento deve ser feito antes, durante e depois da safra, incluindo a observação de plantas daninhas e restos culturais.

Métodos de Controle Integrado na Prática

O MIP não descarta nenhum método, mas preza pelo seu uso racional e estratégico. Veja as principais táticas:

  1. Controle Cultural: Ações simples, como a eliminação de restos de colheita e de plantas daninhas hospedeiras, podem impedir que as pragas se multipliquem entre uma safra e outra.
  2. Uso de Plantas Geneticamente Modificadas (Bt): É uma ferramenta poderosa, mas deve ser sempre combinada com áreas de refúgio. Sem o refúgio, a pressão de seleção sobre a praga aumenta, acelerando o surgimento de populações resistentes à tecnologia.
  3. Controle Biológico: O uso de organismos benéficos, como predadores e parasitoides, é uma tática que potencializa os outros métodos. É fundamental preservar os inimigos naturais que já existem na sua área, utilizando produtos seletivos.
  4. Controle Químico Racional: A aplicação de defensivos deve ser a última opção, usada apenas quando o monitoramento indicar que o nível de controle foi atingido.
    • Não faça aplicações calendarizadas (com base em datas fixas), pois isso aumenta os custos, o risco de resistência e prejudica os inimigos naturais.
    • Prefira inseticidas seletivos aos inimigos naturais.
    • Faça a rotação de grupos químicos com diferentes modos de ação para evitar ou retardar a resistência das pragas.
    • Preste muita atenção à tecnologia de aplicação: calibre os equipamentos e aplique sob condições climáticas adequadas (temperatura, umidade e vento).

Lembre-se: por atacarem muitos hospedeiros, todo cuidado é pouco para evitar que as pragas polífagas causem surtos inesperados e grandes prejuízos.

Conclusão

As pragas polífagas representam um desafio crescente na agricultura moderna, atacando diversas culturas de grande importância econômica. O aumento de sua população está diretamente ligado às práticas agrícolas intensivas, como o plantio sucessivo, que cria “pontes verdes” para sua sobrevivência.

Neste artigo, vimos que as principais pragas dessa categoria no Brasil são:

  • Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho)
  • Helicoverpa armigera
  • Euschistus heros (percevejo-marrom)
  • Bemisia tabaci (mosca-branca)

A boa notícia é que o controle é possível. A melhor estratégia é a adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP), que combina monitoramento rigoroso com o uso inteligente de diferentes táticas de controle, garantindo uma produção mais sustentável e rentável.


Glossário

  • Áreas de Refúgio: Porções da lavoura cultivadas com plantas não-transgênicas (não-Bt), plantadas próximas à lavoura Bt. Seu objetivo é garantir a sobrevivência de insetos suscetíveis à toxina Bt, retardando o desenvolvimento de resistência na população da praga.

  • Biótipos: Populações de uma mesma espécie de inseto que apresentam características genéticas distintas, como maior resistência a inseticidas ou maior capacidade de transmitir doenças. É como se fossem “raças” diferentes dentro da mesma praga.

  • Diapausa: Um estado de “hibernação” ou dormência em que o metabolismo do inseto é drasticamente reduzido. Esse mecanismo permite que a praga sobreviva a períodos desfavoráveis, como a entressafra, com escassez de alimento e condições climáticas adversas.

  • Manejo Integrado de Pragas (MIP): Estratégia que combina diferentes métodos de controle (biológico, cultural, químico, etc.) de forma harmônica. O objetivo não é erradicar a praga, mas mantê-la em níveis que não causem prejuízos econômicos.

  • Nível de Controle (NC): Densidade populacional de uma praga que, se não for controlada, causará prejuízos econômicos maiores que o custo da aplicação do defensivo. É o “gatilho” que indica o momento exato para realizar o controle químico.

  • Pontes Verdes: Sequência de culturas ou plantas hospedeiras (incluindo daninhas) disponíveis ao longo do ano. Essa oferta contínua de alimento permite que as pragas migrem de uma lavoura para outra sem interrupção, favorecendo sua multiplicação.

  • Praga Polífaga: Inseto-praga que se alimenta e se reproduz em uma grande variedade de plantas hospedeiras. Diferente de pragas especialistas, não depende de uma única cultura para sobreviver, tornando seu controle mais complexo.

  • Praga-chave: A principal praga de uma determinada cultura, que ocorre com frequência e em altas populações, exigindo controle constante para evitar danos econômicos significativos. A lagarta-do-cartucho, por exemplo, é a praga-chave do milho.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

O monitoramento constante e o registro preciso de informações são os pilares para controlar pragas polífagas com eficiência, mas gerenciar esses dados manualmente pode ser um grande desafio. Anotar contagens de pragas em cadernos, controlar o estoque de defensivos e calcular o custo de cada aplicação são tarefas que consomem tempo e estão sujeitas a erros. Um software de gestão agrícola como o Aegro simplifica esse processo, permitindo registrar os monitoramentos diretamente no campo pelo aplicativo e centralizando o controle de estoque e custos. Com isso, o produtor toma decisões baseadas em dados concretos, aplicando defensivos apenas quando necessário e com um controle financeiro muito mais apurado.

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Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre uma praga polífaga e uma praga especialista?

A principal diferença está na dieta. Uma praga especialista se alimenta de poucas espécies de plantas, geralmente de uma mesma família. Já a praga polífaga, como a lagarta-do-cartucho, é generalista e consegue se alimentar e se reproduzir em uma vasta gama de culturas diferentes, o que a torna mais difícil de manejar, pois sempre encontra uma fonte de alimento disponível.

O que são ‘pontes verdes’ e como posso eliminá-las na minha fazenda?

As ‘pontes verdes’ são sequências ininterruptas de plantas hospedeiras (culturas comerciais ou plantas daninhas) que servem de alimento para as pragas ao longo do ano. Para eliminá-las, você pode adotar práticas como a rotação de culturas com espécies não hospedeiras, a eliminação de plantas daninhas na entressafra e o respeito ao vazio sanitário, interrompendo o ciclo de vida da praga.

Por que não devo usar apenas inseticidas para controlar pragas polífagas?

A utilização exclusiva de inseticidas, especialmente em aplicações calendarizadas, pode levar ao rápido desenvolvimento de resistência na população da praga, além de eliminar inimigos naturais que ajudam no controle. O ideal é integrar o controle químico a outras táticas do MIP, como o controle biológico e cultural, aplicando defensivos apenas quando o nível de controle é atingido.

Qual o dano mais perigoso da mosca-branca: a sucção de seiva ou a transmissão de viroses?

Embora a sucção de seiva enfraqueça a planta, o dano indireto causado pela mosca-branca é muito mais perigoso. Ela é um vetor eficiente de diversas viroses que podem causar perdas totais na lavoura. Uma vez que a planta é infectada pelo vírus, não há cura, tornando a prevenção e o controle do inseto vetor absolutamente cruciais.

O que é o ’nível de controle’ e por que é tão importante no manejo de pragas?

O ’nível de controle’ é a densidade populacional de uma praga que justifica economicamente uma medida de controle, como a aplicação de um inseticida. É um pilar do MIP porque evita aplicações desnecessárias, que geram custos e impactos ambientais. Agir apenas ao atingir esse nível garante que o custo do controle será menor que o prejuízo que a praga causaria.

Como as áreas de refúgio ajudam no manejo de pragas polífagas em lavouras Bt?

As áreas de refúgio, com plantas não-Bt, permitem a sobrevivência de insetos suscetíveis à tecnologia. Esses insetos se acasalam com os poucos indivíduos resistentes que sobrevivem na área Bt, gerando descendentes suscetíveis. Isso atrasa significativamente o desenvolvimento de populações de pragas resistentes, prolongando a vida útil da tecnologia Bt.

Artigos Relevantes

  • Reduza drasticamente suas aplicações utilizando o Manejo Integrado de Pragas: Este artigo é o aprofundamento ideal sobre a solução central proposta no guia principal. Enquanto o artigo principal apresenta o MIP, este detalha o ‘porquê’ e o ‘como’, explorando a fundo os conceitos de resistência de pragas e os níveis de controle (NC/NDE), o que solidifica o argumento para a adoção da estratégia e seu impacto na redução de custos.
  • Mosca-branca: como fazer o manejo eficiente: Este artigo funciona como um ‘zoom-in’ essencial em uma das quatro pragas-chave citadas no conteúdo principal, a mosca-branca. Ele entrega um valor único ao detalhar os biótipos, os danos indiretos (viroses e fumagina) e as táticas de controle específicas, oferecendo a profundidade prática que um guia geral sobre pragas polífagas não consegue abordar.
  • Lagarta-do-cartucho do milho: Controle eficiente com as táticas do MIP: Complementa perfeitamente o artigo principal ao focar na lagarta-do-cartucho, um dos exemplos mais importantes de praga polífaga. Seu diferencial está na abordagem prática, que ensina a aplicar o MIP ao destacar erros comuns de manejo e apresentar ferramentas específicas como a Escala de Davis, transformando o conceito geral do MIP em uma ação concreta para o produtor.
  • Helicoverpa armigera: histórico, importância, características e tecnologias de manejo: Este artigo expande o conhecimento sobre a Helicoverpa armigera, outra praga polífaga central do guia. Ele agrega um valor singular ao contextualizar a praga como exótica e quarentenária no Brasil, um aspecto não explorado no artigo principal, e fornece guias visuais detalhados para sua correta identificação, o que é um desafio comum no campo.
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