Garantir um bom começo para a lavoura de soja é fundamental. No entanto, logo no início do ciclo, algumas pragas podem atacar a cultura e pegar o produtor de surpresa, causando falhas no estande e perdas de produtividade. Se não forem bem conhecidas, o prejuízo é certo.
As quatro principais ameaças que atacam a soja logo após a germinação são:
- Corós
- Percevejo-castanho-da-raiz
- Lagarta-elasmo
- Lagarta-rosca
Neste artigo, vamos detalhar cada uma dessas pragas e mostrar as melhores estratégias para proteger sua lavoura desde o primeiro dia.
Identificando as Principais Pragas no Início da Lavoura
Antes mesmo de colocar a semente no chão, é crucial que você analise o histórico da sua área. Essa avaliação ajuda a prever quais pragas podem já estar presentes e a planejar um manejo de controle mais eficiente para evitar danos futuros.
O ideal é adotar o Manejo Integrado de Pragas (MIP) durante todo o ciclo da cultura, começando antes mesmo do plantio. O MIP é uma estratégia que combina diferentes métodos de controle para manter as pragas em níveis que não causem prejuízos econômicos.
Conhecendo o histórico do talhão, você já sabe quais pragas procurar. O próximo passo é o monitoramento constante da lavoura, uma peça-chave do MIP.
Você pode se perguntar: não seria mais fácil fazer aplicações preventivas de defensivos? A resposta é não. Se o nível de controle da praga não for atingido, você estará gastando com produtos químicos sem necessidade, o que aumenta os custos e pode prejudicar o meio ambiente.
Para entender melhor: O nível de controle é a quantidade de pragas na lavoura que justifica o custo da aplicação de um defensivo. Abaixo desse nível, o prejuízo com o produto é maior do que o dano que a praga causaria.
A seguir, vamos conhecer em detalhes as quatro principais pragas que atacam a soja na fase inicial.
1. Corós
Os corós são pragas de solo que atacam diretamente o sistema de raízes da soja. O ataque começa na germinação da semente e pode ser ainda mais severo em áreas de plantio direto.
Eles são larvas de besouros da família Melolonthidae e ordem Coleoptera. Existem várias espécies diferentes que ocorrem nas diversas regiões do Brasil, sendo as principais dos gêneros Phyllophaga spp., Cyclocephala spp., Diloboderus spp. e Liogenys spp.
Larva de coró-da-soja. Note o corpo branco e curvado em formato de “C”.
(Fonte: Embrapa)
Os danos são causados pelas larvas, que têm um corpo branco, curvado em forma de “C”, e três pares de pernas. Elas podem atingir até 4 cm de comprimento.
O ataque costuma ocorrer em reboleiras, ou seja, em manchas concentradas na lavoura. As larvas ficam no subsolo, a uma profundidade de 20 cm a 30 cm
. A fase larval pode durar até 250 dias, o que significa que ela pode comprometer todo o ciclo da cultura da soja.
Falhas no estande de plantas de soja causadas pelo ataque de corós em reboleiras.
(Fonte: Embrapa)
Como controlar os corós
As espécies de corós geralmente têm uma geração por ano. A fase de larva ocorre no início do período de chuvas, que coincide com a época de plantio da soja. Por isso, o monitoramento antes do plantio é essencial para identificar focos da praga.
Se você encontrar focos, as principais estratégias de controle são:
- Tratamento de Sementes: O uso de inseticidas no tratamento de sementes é uma das formas mais eficazes de proteger as plântulas no arranque inicial.
- Aplicação no Sulco de Semeadura: Aplicar inseticidas diretamente no sulco durante o plantio também protege as raízes durante a germinação.
- Controle Cultural (Plantio Convencional): Em sistemas convencionais, o revolvimento do solo com arado ou grade expõe as larvas a predadores (como pássaros), ao sol e à falta de umidade, reduzindo a população.
- Época de Semeadura: Evite o plantio tardio, pois há maior chance de encontrar larvas maiores e mais vorazes no campo.
- Manejo do Solo: Um solo bem manejado, com boa fertilidade e estrutura, permite que as plantas desenvolvam um sistema radicular mais forte e tolerem melhor o ataque de corós.
2. Percevejo-castanho-da-raiz
Assim como os corós, o percevejo-castanho-da-raiz é um inseto de hábito subterrâneo que pode causar grandes estragos no início do ciclo da soja.
Essa praga pertence à família Cydnidae (ordem Hemiptera). A espécie mais comum na soja é a Scaptocoris castanea, mas a Atarsocoris brachiariae também pode ocorrer.
O adulto tem coloração marrom-clara e mede cerca de 7 mm
de comprimento. As ninfas (formas jovens) são branco-amareladas e menores.
Adultos de percevejo-castanho-da-raiz.
(Fonte: Embrapa)
Tanto os adultos quanto as ninfas se alimentam das raízes. Eles inserem seu aparelho bucal sugador, injetam toxinas e sugam a seiva da planta. Esse ataque reduz o crescimento, causa murcha e deixa as folhas amareladas.
Os danos também aparecem em reboleiras e são fáceis de identificar pelo cheiro forte e característico que os percevejos liberam (um feromônio de comunicação).
Em períodos chuvosos, com alta umidade, os insetos ficam mais perto da superfície. Em épocas de seca, eles se aprofundam no solo, podendo chegar a profundidades de 50 cm
a 2 m
.
Como controlar o percevejo-castanho-da-raiz
Como esta praga se aprofunda no solo, o monitoramento deve ser feito logo após o início das chuvas, quando eles sobem para a superfície. Antes de plantar, faça amostragens no solo para verificar a presença dos insetos.
Se o percevejo for encontrado, as opções de manejo incluem:
- Controle Cultural: A aração profunda do solo, especialmente com arado de aiveca, ajuda a expor os percevejos a condições desfavoráveis.
- Antecipação da Semeadura: Plantar a soja mais cedo pode ajudar a cultura a se estabelecer antes que a população da praga atinja seu pico.
- Controle Químico e Biológico no Sulco: O tratamento de sementes e a aplicação de produtos no sulco de semeadura são muito eficazes.
- Controle Biológico: O uso do fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae é uma excelente opção. Esse fungo é um inimigo natural do percevejo e pode ser aplicado de forma inundativa no solo.
3. Lagarta-rosca
Esta praga recebe esse nome porque tem o costume de se enrolar como uma rosca quando é perturbada. A espécie mais comum é a Agrotis ipsilon, da família Noctuidae (ordem Lepidoptera).
Os adultos são mariposas de cor marrom ou parda, com cerca de 5 cm
de envergadura de asa. Elas têm hábitos noturnos e colocam seus ovos nas plantas ou no solo próximo a elas.
Lagarta-rosca enrolada, sua principal característica.
(Fonte: TD Monsanto)
As lagartas têm coloração que varia, mas geralmente são pardo-acinzentadas e podem chegar a 4,5 cm
de comprimento. Elas também têm hábitos noturnos; durante o dia, ficam escondidas no solo.
O dano da lagarta-rosca é inicial e severo: ela corta as plantas rente ao solo (tombamento) e se alimenta das sementes recém-germinadas. A presença desta praga está muito associada a solos mais úmidos e com alta concentração de matéria orgânica.
Como controlar a lagarta-rosca
O monitoramento antes do plantio também é fundamental aqui. Como ela prefere ambientes úmidos e com muita palhada, algumas medidas preventivas são muito eficazes:
- Dessecação Antecipada: Eliminar plantas daninhas e a cultura de cobertura com antecedência reduz a oferta de alimento e abrigo para a praga antes do plantio da soja.
- Tratamento de Sementes: O uso de inseticidas sistêmicos no tratamento protege as plântulas contra o ataque noturno das lagartas. Inseticidas sistêmicos são produtos absorvidos pela planta, que circulam por todo o seu sistema e a protegem por dentro.
- Controle Químico: A pulverização de inseticidas sistêmicos nos sulcos de semeadura também é uma estratégia eficiente.
4. Lagarta-elasmo
A lagarta-elasmo, também conhecida como broca-do-colo, é outra praga que causa sérios danos no plantio da soja se não for bem manejada. A espécie é a Elasmopalpus lignosellus (família Pyralidae, ordem Lepidoptera).
O adulto também é uma mariposa de hábito noturno, um pouco menor que a da lagarta-rosca, com 2 a 3 cm
de envergadura.
Lagarta-elasmo em sua fase jovem.
(Fonte: Bayer)
Esta praga tem preferências bem definidas: ela ataca principalmente emsolos mais arenosose se beneficia de umperíodo de seca prolongadopara se estabelecer na lavoura.
Logo após a germinação da soja, as lagartas perfuram o colo da planta (a região entre a raiz e o caule), causando tombamento e morte das plântulas. Elas são muito ágeis e podem destruir uma grande área em pouco tempo.
As lagartas começam com uma cor esverdeada e se tornam amarronzadas à medida que crescem, podendo chegar a 2 cm
.
Como controlar a lagarta-elasmo
Para a lagarta-elasmo, o controle preventivo é a melhor abordagem, já que o dano é muito rápido. As principais ferramentas são:
- Monitoramento e Tratamento de Sementes: A combinação de monitoramento pré-plantio e o uso de sementes tratadas é a primeira linha de defesa.
- Controle Cultural: Aumentar um pouco a densidade de semeadura em áreas com histórico da praga pode ajudar a compensar perdas de plantas. Manter uma boa umidade no solo também dificulta o desenvolvimento da lagarta.
- Biotecnologia (Soja Bt): O uso de soja transgênica com a tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis) é altamente eficaz. A Tecnologia Bt se refere a plantas de soja que produzem uma proteína tóxica para certas lagartas, controlando-as quando se alimentam da planta.
Além da lagarta-elasmo, a tecnologia Bt também controla outras pragas importantes da fase vegetativa, como a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), a falsa-medideira (Chrysodeixis includens) e a lagarta-das-maçãs (Chloridea virescens).
Conclusão
Neste artigo, vimos as quatro principais pragas que ameaçam a soja logo no plantio: corós, percevejo-castanho-da-raiz, lagarta-rosca e lagarta-elasmo.
Para todas elas, a base de um bom controle é o Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Lembre-se que o monitoramento constante evita gastos desnecessários com insumos e garante que o controle seja feito no momento certo.
Cada praga tem suas particularidades, mas o tratamento de sementes se destaca como uma ferramenta estratégica para proteger a lavoura contra todas elas na fase mais crítica.
Com esses cuidados, você estará mais preparado para garantir um bom plantio e proteger o potencial produtivo da sua soja desde o início.
Glossário
Broca-do-colo: Outro nome para a lagarta-elasmo. Recebe este nome pois a lagarta perfura a planta na região do colo (transição entre a raiz e o caule), causando seu tombamento e morte.
Inseticidas sistêmicos: Produtos químicos que são absorvidos pela planta e se movem por todo o seu sistema vascular (seiva). Isso faz com que a planta inteira se torne tóxica para a praga que tentar se alimentar dela.
MIP (Manejo Integrado de Pragas): Uma estratégia ampla que combina diferentes métodos de controle (cultural, biológico, químico) de forma racional. O objetivo é manter as pragas abaixo do nível de dano econômico, reduzindo o uso de defensivos e os custos.
Nível de controle: A densidade populacional de uma praga em que é necessário aplicar uma medida de controle para evitar perdas econômicas. Abaixo desse nível, o custo da aplicação do defensivo é maior do que o prejuízo que a praga causaria.
Reboleiras: Termo usado para descrever ataques de pragas que ocorrem em manchas ou áreas concentradas na lavoura, em vez de se espalharem uniformemente por todo o talhão.
Tecnologia Bt: Refere-se a plantas geneticamente modificadas (transgênicas) que produzem proteínas da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt). Essas proteínas são tóxicas para certas lagartas, funcionando como um inseticida embutido na própria planta.
Tratamento de Sementes: Processo de aplicar inseticidas e fungicidas diretamente sobre as sementes antes do plantio. Essa camada protetora defende a plântula contra pragas e doenças do solo durante a fase inicial de desenvolvimento, que é a mais vulnerável.
Como o Aegro ajuda a aplicar o MIP e controlar os custos
O Manejo Integrado de Pragas (MIP), como vimos, é a estratégia mais inteligente, mas colocá-lo em prática exige organização. Registrar os dados de monitoramento de cada talhão e acompanhar o nível de controle para decidir o momento certo de agir pode ser um desafio. É aqui que um software de gestão agrícola como o Aegro se torna um aliado fundamental. Com ele, você registra as informações do praguejamento direto no campo pelo celular e centraliza o histórico da área, facilitando o planejamento das aplicações. Essa organização não só otimiza o controle agronômico, mas também impacta diretamente o financeiro, pois permite um acompanhamento preciso dos custos com defensivos, evitando gastos desnecessários e garantindo que cada real investido traga o máximo retorno.
Que tal colocar o MIP em prática de forma simples e ainda otimizar seus custos?
Experimente o Aegro gratuitamente e veja como a gestão integrada pode proteger sua produtividade e sua margem de lucro.
Perguntas Frequentes
Qual a melhor forma de monitorar pragas de solo como corós e percevejo-castanho antes do plantio da soja?
O monitoramento deve ser feito antes do plantio, analisando o histórico da área e realizando amostragens no solo. Para o percevejo-castanho, o ideal é fazer a amostragem logo após as primeiras chuvas, quando eles se aproximam da superfície. Para os corós, a verificação em trincheiras de 25 cm a 50 cm de profundidade em pontos aleatórios da lavoura é a prática mais recomendada.
Qual a principal diferença entre o ataque da lagarta-rosca e da lagarta-elasmo nas plântulas de soja?
A principal diferença está no local e no tipo de dano. A lagarta-rosca corta as plântulas rente ao solo, causando o tombamento. Já a lagarta-elasmo, ou broca-do-colo, perfura a base do caule da planta, abrindo uma galeria interna que leva à murcha e morte, um dano mais difícil de ser percebido inicialmente.
O tratamento de sementes sozinho é suficiente para controlar todas essas pragas iniciais da soja?
O tratamento de sementes é a principal ferramenta de defesa e é altamente eficaz para proteger as plântulas na fase mais vulnerável. No entanto, em áreas com alto histórico de infestação, ele deve ser visto como parte do Manejo Integrado de Pragas (MIP), podendo ser necessário complementar com outras ações, como a aplicação de inseticidas no sulco de plantio.
Minha área tem solo arenoso e previsão de seca. Qual praga inicial da soja merece mais atenção?
Nessas condições, a lagarta-elasmo (broca-do-colo) é a praga que exige maior atenção. Ela se desenvolve melhor em solos arenosos e períodos de estiagem. Portanto, o monitoramento deve ser intensificado e o uso de sementes tratadas ou tecnologia Bt se torna ainda mais crucial para evitar perdas severas.
Por que não devo aplicar inseticidas preventivamente sem conhecer a população da praga?
A aplicação sem atingir o nível de controle da praga é economicamente desvantajosa, pois o custo do defensivo pode ser maior que o prejuízo que a praga causaria. Além disso, aumenta os custos de produção, pode eliminar inimigos naturais e contribui para a seleção de pragas resistentes, dificultando o controle futuro.
O Manejo Integrado de Pragas (MIP) se aplica a pragas de solo que são difíceis de ver?
Sim, o MIP é fundamental justamente para pragas de solo. Ele começa com o levantamento do histórico da área, monitoramento pré-plantio e rotação de culturas. Ferramentas como o controle biológico (uso de fungos como Metarhizium para o percevejo-castanho) e o controle cultural (revolvimento do solo em sistema convencional) são pilares do MIP para essas pragas.
Artigos Relevantes
- Como proteger sua lavoura da lagarta-rosca: Este artigo aprofunda o conhecimento sobre a lagarta-rosca, uma das quatro pragas centrais do artigo principal. Ele oferece um guia de manejo extremamente detalhado, incluindo tabelas com produtos comerciais registrados, que transforma a recomendação genérica do artigo principal em uma solução prática e acionável para o produtor.
- Todas as formas de controle para se livrar do percevejo-castanho: Complementa o artigo principal ao focar exclusivamente no percevejo-castanho, uma praga de solo de difícil controle. Seu valor único está na explicação aprofundada do comportamento do inseto (como a movimentação vertical no solo), o que é crucial para o sucesso do monitoramento e das táticas de controle, indo muito além da visão geral do texto base.
- Inseticidas para soja: Faça eles se pagarem: Este artigo fornece a estrutura estratégica e econômica para as recomendações de controle químico do artigo principal. Ele expande o conceito de MIP ao detalhar a tecnologia Bt, a importância vital das áreas de refúgio e como tomar decisões que garantam o retorno sobre o investimento em defensivos, agregando uma camada de gestão financeira ao manejo técnico.
- Controle biológico das lagartas da soja: Enquanto o artigo principal foca em métodos mais tradicionais, este conteúdo expande o pilar biológico do MIP, que foi apenas mencionado. Ele detalha ferramentas específicas como Baculovírus e Trichogramma para o controle de lagartas, oferecendo alternativas sustentáveis e eficazes que enriquecem o leque de opções do produtor, alinhado à filosofia do manejo integrado.
- 12 principais pragas da soja que podem acabar com sua lavoura: Este artigo contextualiza as quatro pragas iniciais dentro do cenário completo da safra de soja, respondendo à pergunta implícita: ‘o que vem depois?’. Ele funciona como um guia de referência para todo o ciclo, apresentando outras ameaças importantes como a mosca-branca e os percevejos de vagem, permitindo um planejamento de manejo mais abrangente e proativo.