A cultura do trigo é fundamental para a produção de alimentos no mundo todo, servindo como uma matéria-prima essencial. Sendo um dos cereais mais cultivados globalmente, ele se adapta a diversas regiões produtoras.
Contudo, como em qualquer lavoura, o trigo enfrenta a ameaça de doenças e pragas que podem comprometer seriamente a produtividade.
Você sabe identificar e combater as pragas que mais afetam sua lavoura de trigo? Neste guia prático, vamos detalhar cada uma delas e apresentar as melhores estratégias de manejo.
As Principais Pragas da Cultura do Trigo
A ocorrência de pragas no trigo varia conforme a região de cultivo, mas um grupo de insetos costuma causar mais preocupação aos produtores. As principais pragas são:
- Pulgões
- Lagarta-do-trigo
- Lagarta-militar
- Percevejos
- Corós
- Gorgulhos
Esses insetos podem atacar a lavoura em todas as fases, desde o plantio no campo até a fase de armazenamento dos grãos. Para facilitar o entendimento, vamos dividir o guia em duas categorias: pragas de campo e pragas de armazenamento.
1. Pulgões: A Ameaça Dupla
Os pulgões são pequenos insetos sugadores (afídeos) que causam dois tipos de danos graves no trigo. O dano direto ocorre quando eles sugam a seiva da planta, o que resulta em menor poder de germinação das sementes, menos grãos por espiga e grãos menores e mais leves.
O dano indireto, muitas vezes mais perigoso, é a transmissão de viroses, especialmente o Barley yellow dwarf virus (BYDV), também conhecido como Nanismo Amarelo da Cevada. Mesmo uma população pequena de pulgões pode espalhar a doença e causar perdas significativas.
As espécies mais comuns (família Aphididae, ordem Hemiptera) que atacam o trigo são:
Pulgão-do-colmo-do-trigo – Rhopalosiphum padi
(Fonte: Defesa Vegetal)
Pulgão-da-folha-do-trigo – Metopolophium dirhodum
(Fonte: Defesa Vegetal)
Pulgão-da-espiga-do-trigo – Sitobion avenae
(Fonte: Defesa Vegetal)
Pulgão-verde-dos-cereais – Schizaphis graminum
(Fonte: Defesa Vegetal)
Como controlar os pulgões?
A decisão sobre qual método de controle usar deve sempre começar com um bom monitoramento da área. Avaliar a população de pulgões é o primeiro passo para uma ação eficiente.
Monitoramento e critérios para tomada de decisão no controle de pulgões em trigo
(Fonte: Informações Técnicas para Trigo e Triticale)
- Controle Biológico: Para reduzir populações que causam danos diretos, o uso de inimigos naturais como parasitoides e predadores (microhimenópteros e joaninhas) é uma excelente estratégia.
- Controle Químico: Devido ao risco de transmissão de viroses, o controle químico muitas vezes se torna necessário. Existem diversos produtos registrados no Agrofit/Mapa, incluindo inseticidas dos grupos piretroides e neonicotinoides.
2. Lagartas Desfolhadoras: As Devoradoras de Folhas
As lagartas desfolhadoras representam um grande risco para o trigo, pois atacam a planta desde a fase de plântula até a formação das espigas. Se não forem controladas a tempo, podem causar perdas expressivas de produtividade.
As três principais espécies (família Noctuidae, ordem Lepidoptera) são:
Lagarta-do-trigo – Pseudaletia adultera
Adulto (a) e lagarta de Pseudaletia adultera (b)
(Fonte: Agrolink)
Lagarta-do-trigo – Pseudaletia sequax
Adulto (a) e lagarta de Pseudaletia sequax (b)
(Fonte: Defesa Vegetal e Agrolink)
Lagarta-militar – Spodoptera frugiperda
(Fonte: Agro Bayer Brasil)
Como controlar as lagartas desfolhadoras?
O monitoramento é a chave para o controle eficaz das lagartas. As amostragens devem ser feitas semanalmente, inspecionando não apenas as plantas, mas também o solo ao redor delas.
Monitoramento e critérios para tomada de decisão no controle de lagartas em trigo
(Fonte: Informações Técnicas para Trigo e Triticale)
- Para a lagarta-militar: O monitoramento deve começar logo após a emergência das plantas. A decisão de controle deve ser tomada quando as lagartas ainda são pequenas, pois são mais fáceis de controlar.
- Para as lagartas-do-trigo: Intensifique o monitoramento durante o espigamento. Fique atento à redução da área da folha bandeira, que é essencial para o enchimento dos grãos.
O controle biológico, tanto natural (preservando inimigos naturais) quanto aplicado (liberação de agentes biológicos), é muito eficaz para reduzir a população de lagartas.
Se o uso de inseticidas for necessário, opte por produtos seletivos (específicos para lagartas) para preservar os inimigos naturais. Sempre verifique o registro no Mapa.
3. Percevejos: Danos na Formação das Espigas
Os percevejos mais comuns na cultura do trigo pertencem ao gênero Dichelops (família Pentatomidae, ordem Hemiptera). Eles são especialmente problemáticos durante a fase de emborrachamento do trigo.
Seu ataque pode causar desenvolvimento atrofiado da planta, redução da altura e, o mais grave, má formação das espigas, que podem ficar total ou parcialmente vazias.
As duas espécies principais são conhecidas como percevejos-barriga-verde: Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus.
Dichelops furcatus (a) e Dichelops melacanthus (b)
(Fonte: Embrapa)
Como as duas espécies são muito parecidas, é importante saber diferenciá-las para um manejo mais preciso. A tabela abaixo ajuda na identificação:
Características fenológicas de adultos dos percevejos barriga-verde que permitem separar as duas espécies mais comuns
(Fonte: Embrapa Trigo)
Como controlar o percevejo-barriga-verde?
O monitoramento deve ser constante durante os períodos vegetativo e reprodutivo da cultura.
Monitoramento e critérios para tomada de decisão no controle de percevejos barriga-verde em trigo
(Fonte: Informações Técnicas para Trigo e Triticale)
Atualmente, o controle principal dos percevejos é feito com inseticidas químicos. No entanto, é importante lembrar que existem inimigos naturais (parasitoides e predadores) que ajudam a controlar a população.
Ao escolher um produto químico, dê preferência aos inseticidas sistêmicos, que são mais específicos para o controle de percevejos. Evite inseticidas de amplo espectro, que matam também os inimigos naturais.
4. Corós: O Inimigo Oculto no Solo
Os corós são as pragas de solo que mais causam prejuízos na cultura do trigo. São larvas de besouros que vivem no solo, a uma profundidade de aproximadamente 10 cm.
As infestações geralmente ocorrem em reboleiras e podem variar muito de um ano para o outro, dependendo do ciclo da praga, da presença de inimigos naturais e das condições climáticas. Seu ataque é direcionado a sementes, raízes e plântulas, podendo até puxar as plantas jovens para dentro do solo.
As espécies mais comuns são:
Coró-das-pastagens – Diloboderus abderus
Adultos (A) e Larva (B)
(Fonte: Embrapa Trigo)
Coró-do-trigo – Phyllophaga triticophaga
Adulto (A) e Larva (B)
(Fonte: Embrapa Trigo)
Como controlar os corós?
Conhecer o histórico de infestação da sua área é uma das melhores formas de prevenir surtos, já que esses insetos podem permanecer no solo por mais tempo que um ciclo de cultivo do trigo.
O monitoramento deve ser realizado antes mesmo da semeadura.
Monitoramento e critérios para tomada de decisão no controle de corós em trigo
(Fonte: Informações Técnicas para Trigo e Triticale)
- Controle Cultural: Práticas como aração e gradagem podem reduzir drasticamente a população de corós. No entanto, esse método não é compatível com o sistema de plantio direto.
- Tratamento de Sementes: Para o plantio direto, o tratamento de sementes com inseticidas específicos é o método mais indicado e eficiente para proteger a lavoura contra o ataque inicial dos corós.
5. A Batalha Continua no Silo: Pragas de Armazenamento
Seria ótimo se, após a colheita, o trigo estivesse completamente seguro no local de armazenamento. Infelizmente, a ameaça continua.
Existem diversas pragas que atacam o trigo armazenado, divididas em duas categorias:
- Pragas primárias: Atacam diretamente os grãos sadios e inteiros.
- Pragas secundárias: Atacam grãos que já foram danificados pelas pragas primárias ou por outros fatores.
Além de consumirem os grãos, esses insetos facilitam a contaminação por fungos e a produção de micotoxinas, reduzindo a qualidade do produto.
Os principais insetos-praga de armazenamento pertencem às ordens Lepidoptera e Coleoptera (famílias Curculionidae e Bostrichidae). Os mais comuns são:
Gorgulho-do-milho – Sitophilus zeamais
(Fonte: Termitek)
Gorgulho-do-arroz – Sitophilus oryzae
(Fonte: Defesa Vegetal)
Besourinho-dos-cereais – Rhyzopertha dominica
(Fonte: Defesa Vegetal)
Como controlar as pragas de armazenamento?
O controle começa com a avaliação do histórico de infestação do local de armazenamento. Adote um conjunto de medidas integradas para proteger seus grãos:
- Medidas Preventivas:
- Armazene os grãos com teor de umidade abaixo de 13%.
- Realize a higienização completa dos silos e instalações antes de receber a nova safra.
- Elimine focos de infestação e restos de grãos antigos.
- Pulverize as instalações vazias com inseticidas registrados para este fim.
- Monitoramento Contínuo:
- O trigo deve ser monitorado durante todo o período em que estiver armazenado.
- Faça amostragens periódicas para detectar a presença de pragas.
- Meça a temperatura e a umidade dos grãos com frequência, pois aumentos podem indicar atividade de insetos.
- Medidas Curativas (Expurgo):
- Caso a infestação seja detectada, realize o expurgo (fumigação) dos grãos.
- Utilize produtos à base de fosfina, devidamente registrados no Mapa.
- Garanta a vedação total do silo ou armazém para que o tratamento seja eficaz e seguro.
Conclusão
A cultura do trigo possui grande importância econômica e, para garantir uma safra rentável, é essencial proteger a lavoura contra o ataque de pragas.
Neste guia, você viu que o manejo começa no campo e continua até o armazenamento. As principais pragas do trigo, como pulgões, lagartas, percevejos e corós, exigem monitoramento constante para que as decisões de controle sejam tomadas no momento certo.
Ao aplicar os princípios do Manejo Integrado de Pragas (MIP), combinando controle biológico, cultural e químico de forma estratégica, você protege sua produtividade e garante a qualidade dos grãos colhidos.
Glossário
BYDV (Barley yellow dwarf virus): Sigla para o vírus do Nanismo Amarelo da Cevada, uma das principais viroses que afetam o trigo. É transmitido por pulgões e causa perdas significativas ao amarelar as folhas e reduzir o crescimento da planta.
Controle Biológico: Estratégia de manejo que utiliza inimigos naturais, como predadores (joaninhas) e parasitoides (microvespas), para reduzir a população de uma praga. É uma alternativa mais sustentável ao uso exclusivo de defensivos químicos.
Emborrachamento: Fase de desenvolvimento do trigo em que a espiga já está formada, mas ainda se encontra dentro da bainha da folha bandeira, deixando a parte superior do colmo com aparência “inchada”. É um período crítico de vulnerabilidade ao ataque de percevejos.
Expurgo (Fumigação): Processo de controle de pragas em grãos armazenados que consiste na aplicação de um gás inseticida (como a fosfina) em um ambiente hermeticamente fechado, como um silo. O objetivo é eliminar todas as fases de vida dos insetos (ovos, larvas, pupas e adultos).
Folha Bandeira: A última folha que surge na planta de trigo antes da emissão da espiga. É a principal responsável pela fotossíntese durante o enchimento dos grãos, sendo fundamental para a produtividade da lavoura.
Inseticida Sistêmico: Tipo de defensivo químico que, ao ser aplicado na planta, é absorvido e translocado por todo o seu sistema vascular (seiva). Dessa forma, ele controla pragas sugadoras, como os percevejos, quando estes se alimentam de qualquer parte da planta.
MIP (Manejo Integrado de Pragas): Um sistema que combina diferentes táticas de controle (biológico, cultural, químico) com base no monitoramento constante da lavoura. A aplicação de defensivos só ocorre quando a população da praga atinge um nível que pode causar dano econômico, tornando o controle mais eficiente e sustentável.
Reboleiras: Termo usado para descrever infestações de pragas ou doenças que ocorrem em manchas ou áreas concentradas na lavoura, em vez de se distribuírem uniformemente. É uma característica comum do ataque de pragas de solo, como os corós.
Como a tecnologia otimiza o manejo de pragas no trigo
O monitoramento constante de pulgões, lagartas e percevejos, somado à necessidade de registrar cada ocorrência e decidir o momento certo para o controle, é uma tarefa complexa. Anotar tudo em cadernos ou planilhas pode levar a falhas e a um controle de custos impreciso.
Para simplificar esse processo, um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza todas as informações. Ele permite registrar os dados do monitoramento diretamente do campo, com o aplicativo, e planejar as aplicações de defensivos de forma mais eficiente. Assim, você não apenas segue as melhores práticas do MIP, mas também acompanha de perto os custos com insumos, garantindo que cada decisão proteja tanto a lavoura quanto a rentabilidade.
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Perguntas Frequentes
Qual a diferença entre o dano direto e o indireto causado pelos pulgões no trigo?
O dano direto ocorre quando o pulgão suga a seiva, enfraquecendo a planta e diminuindo o peso dos grãos. Já o dano indireto, muitas vezes mais severo, é a transmissão de viroses como o Nanismo Amarelo da Cevada (BYDV), que pode comprometer a produtividade da lavoura mesmo com uma baixa população da praga.
Por que a folha bandeira é tão crucial para a produtividade do trigo?
A folha bandeira é a última folha a se desenvolver e é responsável por cerca de 75% da fotossíntese durante a fase de enchimento dos grãos. Qualquer dano a ela, seja por lagartas ou doenças, impacta diretamente a capacidade da planta de produzir energia, resultando em grãos mais leves e uma queda significativa na produtividade final.
Qual o momento mais crítico para monitorar o percevejo-barriga-verde na cultura do trigo?
O período mais crítico para o monitoramento é a fase de emborrachamento, quando a espiga está se formando dentro da bainha da folha. O ataque do percevejo neste momento pode causar má formação ou até mesmo espigas completamente vazias, gerando perdas diretas e irreversíveis na produção.
Como o sistema de plantio afeta a estratégia de controle dos corós no solo?
O sistema de plantio muda completamente a abordagem. No plantio convencional, a aração e a gradagem expõem as larvas (corós) ao sol e a predadores, sendo um método de controle cultural eficaz. Já no sistema de plantio direto, como o solo não é revolvido, a principal e mais recomendada ferramenta de controle é o tratamento de sementes com inseticidas específicos.
É possível usar o mesmo inseticida para controlar lagartas e percevejos no trigo?
Embora existam produtos de amplo espectro, não é a prática mais recomendada no Manejo Integrado de Pragas (MIP). O ideal é utilizar inseticidas seletivos: produtos específicos para lagartas e outros para percevejos (como os sistêmicos). Essa abordagem preserva os inimigos naturais presentes na lavoura, que ajudam a controlar outras pragas de forma gratuita e sustentável.
Apenas a limpeza do silo é suficiente para prevenir pragas nos grãos de trigo armazenados?
Não. A higienização completa das estruturas de armazenamento é um passo fundamental, mas deve ser parte de um conjunto de ações. É essencial também garantir que os grãos sejam armazenados com umidade abaixo de 13%, eliminar restos de safras antigas e monitorar constantemente a temperatura da massa de grãos, pois um aumento pode indicar atividade de insetos.
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