Além de um bom planejamento de safra, um gestor de fazenda precisa estar pronto para resolver problemas sob pressão. O manejo de pragas do feijão é uma dessas tarefas que tiram o sono, pois exige decisões rápidas e precisas para minimizar os danos à lavoura.
As pragas que atacam o feijoeiro variam muito dependendo da região e das condições da sua fazenda.
Para ajudar você a proteger sua produção, organizei um guia prático com as principais pragas do feijão, separadas de acordo com o estágio de desenvolvimento da planta. Assim, você e seu engenheiro agrônomo saberão qual o momento certo de agir.
Por Que o Estádio Fenológico é a Chave para o Controle de Pragas?
O primeiro passo para um manejo de pragas eficiente é saber identificar em qual estádio fenológico a sua lavoura de feijão está.
Estádio fenológico: significa a fase de desenvolvimento da planta, desde a germinação até a colheita.
Entender essa cronologia é fundamental, pois cada fase torna a planta mais vulnerável a um tipo específico de praga. Com esse conhecimento, você consegue posicionar o produto certo no momento exato, aumentando a eficácia e evitando desperdícios.
Antes de falarmos das pragas, vamos relembrar rapidamente as fases de desenvolvimento do feijoeiro:
- V0: Germinação (a semente começa a brotar)
- V1: Emergência (a plântula rompe o solo)
- V2: Folhas primárias (as duas primeiras folhas estão totalmente abertas)
- V3: Primeira folha composta (a primeira folha com três folíolos está aberta)
- V4: Terceira folha trifoliolada (a terceira folha com três folíolos está aberta)
- R5: Pré-floração (aparecem os primeiros botões florais)
- R6: Floração (as flores estão abertas)
- R7: Formação de vagens (as primeiras vagens começam a se formar)
- R8: Enchimento das vagens (os grãos estão crescendo dentro das vagens)
- R9: Maturação (as vagens e os grãos começam a secar para a colheita)
Agora, vamos ver quais pragas ameaçam a sua lavoura em cada uma dessas fases.
Pragas do Feijão nas Fases Iniciais (V0 a V3)
Essas são as pragas que atacam no momento mais delicado: sementes, raízes e plântulas. Elas são responsáveis por falhas de germinação e por reduzir o estande inicial da lavoura, causando aquelas falhas nas linhas de plantio que geram grande dor de cabeça.
Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)
A espécie mais comum em lavouras de feijão é a Agrotis ipsilon. Ela ataca as sementes diretamente no sulco de plantio e também corta as plântulas recém-emergidas rente ao solo. Por atacar a cultura no seu crescimento inicial, os danos causados pela lagarta-rosca são muitas vezes irreparáveis, exigindo replantio.
(Fonte: Agrolink)
Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus)
Esta lagarta costuma atacar o caule das plântulas, normalmente próximo à base (colo). Em alguns casos, ela também pode danificar sementes e raízes. Se não for controlada a tempo, a lagarta-elasmo enfraquece as plantas jovens e pode levá-las à morte. Um ponto de atenção é que as lagartas do tipo elasmo costumam atacar em épocas de seca.
Larva-alfinete (Diabrotica speciosa)
A larva-alfinete ataca as raízes e as sementes do feijoeiro. Além disso, é comum observar perfurações nas folhas cotiledonares (as primeiras folhas que surgem). Na prática, as raízes danificadas não conseguem absorver água e nutrientes corretamente, deixando a planta debilitada desde o início.
Para evitar a presença dessas pragas, a prevenção é o melhor caminho: utilize sementes de qualidade, escolha variedades resistentes e invista em um bom tratamento de sementes. E, claro, sempre aplique os princípios do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Pragas Desfolhadoras do Feijão (V2 a R8)
Estas pragas aparecem logo após a fase inicial e podem continuar atacando até o enchimento dos grãos. Elas se alimentam das folhas, o que reduz a área fotossintética da planta (sua capacidade de gerar energia a partir da luz solar), causando perdas significativas na produtividade.
Vaquinha (Diabrotica speciosa, Cerotoma arcuata)
A vaquinha é uma das pragas mais problemáticas para a cultura. Ela provoca uma grande desfolha, o que prejudica a fotossíntese e o crescimento geral do feijoeiro. Os danos são mais severos quando a planta está no estádio de folhas primárias (V2), pois ela tem pouca reserva para se recuperar. Após essa fase, a cultura consegue tolerar uma perda de até 30% da área foliar sem grandes impactos.
Lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens)
Essa praga também causa uma desfolha intensa, impactando diretamente a produtividade. A principal característica do seu ataque é que ela não consome as nervuras das folhas, deixando um aspecto “rendilhado” na folha, que a torna fácil de identificar.
(Fonte: Grupo Cultivar)
Para o controle das pragas desfolhadoras, o monitoramento constante é essencial. As amostragens devem ser semanais, avaliando não apenas as plantas, mas também o solo ao redor em busca de larvas e pupas. Embora o controle químico seja uma opção, considere também o controle biológico, físico e cultural para evitar o desenvolvimento de resistência das pragas aos produtos.
Pragas Sugadoras e Raspadoras (V2 a R8)
Diferente das desfolhadoras, estas pragas não comem as folhas, mas se alimentam sugando a seiva da planta. Cada uma tem seu período de maior incidência:
- A cigarrinha-verde (Empoasca kraemeri) ataca desde o surgimento das folhas primárias até a pré-floração (de V2 a R5).
- O ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus) aparece desde a primeira folha composta até o enchimento dos grãos (de V3 a R8).
Mosca-branca (Bemisia tabaci)
Encontrada entre os estádios V1 a R5, a mosca-branca ataca a planta sugando sua seiva. Embora esse dano direto seja considerado pouco expressivo, o grande problema dessa praga é outro: ela transmite o vírus do mosaico dourado do feijoeiro. Essa doença sim pode causar perdas drásticas na produtividade.
Ácaro-rajado (Tetranhychus urticae)
Essa praga é fácil de identificar! O ataque começa com o aparecimento de pequenos pontos brancos na parte de cima das folhas. Com o tempo, essas áreas se tornam necrosadas. O ácaro-rajado raspa o tecido da folha para se alimentar da seiva exposta. Se não for controlado rapidamente, pode causar danos consideráveis à rentabilidade da lavoura.
(Fonte: Agrolink)
Uma dica prática para o monitoramento e controle é o uso de armadilhas adesivas amarelas. Elas ajudam a identificar a chegada das pragas e a reduzir a população. Mas lembre-se: sempre consulte um engenheiro agrônomo!
Pragas de Hastes e Axilas (V4 a R8)
Essas pragas atacam a estrutura da planta, desde o surgimento da terceira folha trifoliolada até o enchimento dos grãos. Os danos, se não forem manejados, refletem diretamente em perdas de produtividade.
Broca-das-axilas (Crocidosema aporema)
Esta praga geralmente inicia seu ataque pelo ponteiro do feijoeiro (a parte mais alta e nova da planta). Em seguida, as larvas penetram no caule, abrindo galerias. As plantas atacadas podem apresentar um desenvolvimento anormal ou, em casos mais severos, podem morrer.
Tamanduá-da-soja ou Bicudo-da-soja (Sternechus subsignatus)
Apesar do nome, esta praga também ataca o feijoeiro. O adulto causa danos externos, alimentando-se dos pecíolos (cabinhos das folhas) e da haste principal. Já suas larvas se desenvolvem dentro das hastes, o que pode causar a quebra ou a morte das plantas.
Se optar pelo controle químico para essas pragas, é fundamental fazer a rotação dos mecanismos de ação dos inseticidas para evitar o surgimento de populações resistentes.
Pragas das Vagens (R5 a R9)
Atuando da pré-floração até a maturação, estas pragas causam danos diretos nos grãos de feijão, comprometendo a quantidade e a qualidade do seu produto final.
Lagarta-das-vagens (Diversas espécies)
Como o nome indica, o alvo principal são as vagens e os grãos. As espécies mais comuns são Spodoptera eridania, S. cosmioides, Thecla jebus, Maruca testulalis e Etiella zinckenella. A lagarta perfura as vagens para se alimentar dos grãos em formação, depreciando o produto e abrindo portas para doenças.
Lagarta-helicoverpa (Helicoverpa armigera)
Velha conhecida de muitos produtores, a Helicoverpa já causou grandes prejuízos em diversas culturas. Ela é agressiva por se alimentar tanto dos órgãos vegetativos quanto dos reprodutivos, danificando flores, vagens e os próprios grãos.
Para um manejo adequado, o planejamento é essencial. O ciclo de vida da Helicoverpa (de ovo a adulto) dura cerca de 30 dias. Portanto, estabeleça janelas de aplicação de inseticidas com essa duração para quebrar o ciclo da praga.
Conclusão
Depois de todo o investimento e trabalho na sua lavoura, você não pode deixar que as pragas levem seu lucro embora.
Neste artigo, você viu um guia prático das principais pragas do feijão e aprendeu a identificar em qual estádio fenológico elas representam a maior ameaça.
Use este conhecimento para construir um planejamento pré-safra mais eficiente, antecipar os problemas e evitar gastos emergenciais e perdas de produtividade no futuro. Um bom monitoramento é a base de uma lavoura saudável e rentável.
Glossário
Área fotossintética: Refere-se à superfície total das folhas de uma planta capaz de realizar fotossíntese. A redução dessa área por pragas desfolhadoras diminui a capacidade da planta de produzir energia, impactando diretamente a produtividade.
Estande inicial: O número de plantas que germinaram e se estabeleceram com sucesso por área (geralmente por metro ou hectare) no início do ciclo. Pragas que atacam sementes e plântulas podem causar falhas e reduzir o estande, comprometendo o potencial produtivo da lavoura.
Estádio fenológico: Cada uma das fases de desenvolvimento da planta, desde a germinação (V0) até a maturação dos grãos (R9). Entender o estádio fenológico é crucial, pois a planta fica vulnerável a diferentes pragas em cada fase.
MIP (Manejo Integrado de Pragas): Estratégia que combina diferentes métodos de controle (biológico, cultural, químico) de forma equilibrada e sustentável. O objetivo é manter as pragas abaixo do nível de dano econômico, reduzindo a dependência de defensivos químicos.
Mosaico dourado do feijoeiro: Uma das principais doenças virais que afetam a cultura do feijão, transmitida pela mosca-branca. Causa amarelamento intenso das folhas e deformações, podendo levar a perdas de até 100% da produção.
Pecíolos: Pequenas hastes que conectam a folha ao caule principal da planta. No artigo, são mencionados como um dos alvos do tamanduá-da-soja.
Ponteiro do feijoeiro: A extremidade superior e mais jovem do caule principal da planta, onde ocorrem os novos crescimentos. É o ponto de ataque inicial da broca-das-axilas.
Rotação dos mecanismos de ação: Prática de alternar o uso de inseticidas com diferentes modos de atacar a praga. Isso evita que as populações de pragas se tornem resistentes a um único tipo de produto, garantindo a eficácia do controle a longo prazo.
Veja como a tecnologia simplifica o manejo de pragas
Realizar o monitoramento constante, identificar o estádio fenológico correto e aplicar o defensivo certo são tarefas complexas que definem o sucesso da safra. Para organizar todas essas informações e não se perder no dia a dia, a tecnologia é uma aliada fundamental.
Ferramentas de gestão agrícola como o Aegro, por exemplo, permitem que você e sua equipe registrem os dados do monitoramento de pragas direto do talhão, usando o celular. Isso cria um histórico completo que facilita o planejamento das aplicações e a rotação de produtos. O melhor de tudo é que cada operação fica vinculada aos custos da lavoura, ajudando a entender exatamente quanto você está investindo no controle de pragas e a tomar decisões que protejam sua rentabilidade.
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Perguntas Frequentes
Por que é tão importante conhecer o estádio fenológico do feijão para o manejo de pragas?
Conhecer o estádio fenológico é crucial porque cada fase de desenvolvimento do feijoeiro apresenta vulnerabilidades a pragas específicas. Saber se a planta está na fase inicial (V0-V3) ou na de enchimento de grãos (R8), por exemplo, permite aplicar o defensivo certo no momento exato, aumentando a eficácia do controle, evitando desperdícios e protegendo o potencial produtivo da lavoura.
Qual a forma mais prática de realizar o monitoramento de pragas na lavoura de feijão?
O monitoramento prático deve ser feito semanalmente, caminhando em zigue-zague pela lavoura. Inspecione a parte superior e inferior das folhas, o caule e o solo ao redor das plantas. O uso de ferramentas como o pano-de-batida para lagartas e armadilhas adesivas amarelas para insetos voadores, como a mosca-branca, também são métodos eficazes para quantificar a infestação.
Qual a principal diferença entre os danos de pragas desfolhadoras e pragas sugadoras?
Pragas desfolhadoras, como a vaquinha e a falsa-medideira, comem as folhas, reduzindo a área de fotossíntese da planta e sua capacidade de gerar energia. Já as pragas sugadoras, como a mosca-branca e o ácaro-rajado, inserem seus aparelhos bucais para extrair a seiva, enfraquecendo a planta e, muitas vezes, transmitindo doenças graves, como o mosaico dourado.
A mosca-branca danifica diretamente a planta ou o perigo é outro?
Embora a mosca-branca se alimente da seiva, seu dano direto é considerado baixo. O grande perigo dessa praga é sua capacidade de transmitir o vírus do mosaico dourado do feijoeiro, uma doença que causa deformações e amarelamento intenso nas folhas, podendo levar a perdas de até 100% da produção se não for controlada.
O que acontece se eu não controlar as pragas das vagens, como a Helicoverpa, no momento certo?
A falta de controle das pragas de vagens na fase reprodutiva (R5 a R9) causa danos diretos ao produto final. Lagartas como a Helicoverpa perfuram as vagens e se alimentam dos grãos em formação, resultando em perda de peso, grãos de baixa qualidade e, consequentemente, uma redução drástica na produtividade e na rentabilidade da safra.
Condições climáticas como a seca podem aumentar o ataque de alguma praga específica do feijão?
Sim, o clima influencia diretamente a população de pragas. Períodos de seca e altas temperaturas, por exemplo, favorecem o ataque da lagarta-elasmo nas fases iniciais da cultura e também podem acelerar a proliferação de ácaros, como o ácaro-rajado. Por isso, o monitoramento deve ser intensificado nessas condições.
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