Pragas do Arroz: Como Identificar e Controlar as 6 Principais Ameaças

Engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Fitotecnia focado em plantas daninhas.
Pragas do Arroz: Como Identificar e Controlar as 6 Principais Ameaças

O Brasil é um gigante na produção de arroz. Na safra 2018/2019, por exemplo, plantamos 1,69 milhões de hectares, com 79,5% dessa área em lavouras irrigadas e 20,5% em sequeiro, resultando em uma colheita total de 10,44 milhões de toneladas.

Esses números mostram a importância do arroz para nossa economia e, claro, para a mesa do brasileiro. Como os grãos são consumidos diretamente após o beneficiamento, qualquer dano causado por pragas impacta diretamente a produtividade e a qualidade final que chega ao consumidor.

Por isso, conhecer as principais pragas da lavoura de arroz e saber como identificá-las corretamente não é apenas uma boa prática, é uma necessidade para garantir a rentabilidade da sua safra.

Neste guia prático, detalhamos as características e os sinais das pragas mais comuns para que você possa agir no momento certo.

1. Gorgulho-Aquático ou Bicheira-do-Arroz (Oryzophagus oryzae)

Considerada uma das pragas mais importantes na cultura do arroz irrigado, o gorgulho-aquático exige atenção especial do produtor.

Identificação e Ciclo de Vida

Os adultos são besouros de coloração cinza que iniciam seu ataque no começo do período quente, geralmente entre setembro e dezembro. Inicialmente, eles se alimentam das folhas, deixando cicatrizes brancas e longitudinais, um sinal claro da sua presença.

O grande problema começa quando as fêmeas depositam seus ovos nas folhas. Após a eclosão, as larvas causam os danos mais severos. Elas descem para o sistema radicular da planta para se alimentar das raízes novas, cortando sua parte central e se transformando em pupas no local.

Danos na Lavoura

Os danos causados pelas larvas são visíveis na lavoura: as plantas atacadas ficam amareladas, menores e podem ser arrancadas com facilidade, já que suas raízes estão comprometidas.

Durante o ciclo do arroz, geralmente ocorrem duas gerações de larvas:

  • A primeira surge cerca de 20 dias após a irrigação.
  • A segunda aparece aproximadamente 70 dias após a emergência das plantas.

Monitoramento e Controle

O monitoramento deve começar 20 dias após a entrada da água na lavoura. O dano econômico ocorre a partir de cinco larvas por amostra. Fique atento a esse número para tomar a decisão de controle.

Em março, os adultos que sobrevivem entram em hibernação, abrigando-se na própria resteva ou em áreas próximas com vegetação. Isso reforça a importância de um bom manejo de plantas daninhas dentro e ao redor da lavoura.

composição de três painéis (A, B e C) que ilustram o ciclo de vida e os danos causados pela bicheira-da-raiz-d Gorgulho-aquático: inseto adulto (A); larva (B); raiz danificada (C) (Fonte: Embrapa Clima Temperado, Pelotas – RS, 2009)

2. Lagarta-da-Panícula (Pseudaletia sequax e P. adultera)

Esta praga ataca a parte mais valiosa da planta: a panícula, onde os grãos se formam.

Identificação e Ciclo de Vida

A fase adulta é uma mariposa com um ponto escuro característico no centro das asas da frente. O ciclo começa quando ela deposita os ovos nas folhas e no colmo do arroz. Cerca de 8 dias depois, nascem as lagartas, que podem ser pardo-escuras (P. adultera) ou rosadas (P. sequax).

Danos na Lavoura

Nos estágios iniciais da cultura, as lagartas se alimentam das folhas. No entanto, o ataque mais prejudicial ocorre na fase de emissão da panícula, podendo continuar até a colheita. Elas cortam as panículas para se alimentar, causando a queda de grãos e perdas diretas de produtividade.

Monitoramento e Controle

A lagarta-da-panícula tem hábitos noturnos, passando a maior parte do dia escondida na base das plantas. Por isso, a vistoria mais eficiente deve ser feita ao entardecer.

Na fase de formação da panícula, intensifique o monitoramento, se possível diariamente. Procure pela presença das lagartas e verifique se há grãos ou partes de panículas caídas no solo.

Foto de mariposa, praga do arroz Mariposa de Pseudaletia sequax (Fonte: Agrolink)

3. Percevejo-do-Colmo (Tibraca limbativentris)

Este percevejo ataca a base da planta, comprometendo o fluxo de nutrientes e o desenvolvimento do arroz.

Identificação e Ciclo de Vida

Os adultos têm coloração marrom, enquanto os jovens (ninfas) são pretos. A fêmea deposita os ovos nas folhas, e as ninfas surgem em aproximadamente 8 dias.

Danos na Lavoura

O ataque começa logo após a emergência das plantas. O percevejo perfura o colmo para sugar a seiva, deixando pontuações marrons. Esse dano pode levar ao sintoma de “coração morto”, que é a morte da folha central da planta.

Em plantas mais desenvolvidas, o ataque no colmo impede a formação correta da panícula, resultando em:

  • Panículas brancas: espigas que não se desenvolvem e ficam esbranquiçadas.
  • Esterilidade parcial dos grãos: falhas na formação dos grãos.

Monitoramento e Controle

Atenção: a amostragem deve ser feita com cuidado, pois cerca de 70% dos insetos ficam escondidos na parte inferior da planta. Se a presença do percevejo for confirmada, o controle deve ser rápido para evitar danos irreversíveis à panícula.

Assim como o gorgulho, esta praga também hiberna. A partir de março, ela pode se abrigar na resteva ou em plantas hospedeiras, como a daninha rabo-de-burro (Andropogon sp.). Mais um motivo para manter a área limpa.

Foto de percevejo do arroz Percevejo do colmo (Fonte: Agrolink)

4. Lagarta-da-Folha ou Lagarta-Militar (Spodoptera frugiperda)

Velha conhecida de outras culturas, a lagarta-militar também causa grandes estragos no arroz, principalmente por seu alto poder de destruição.

Identificação e Danos

Com coloração marrom-acinzentada, esta praga é prejudicial em todas as suas fases. As lagartas atacam as plantas desde o início, dificultando o estabelecimento do estande ideal ao reduzir a área foliar.

O impacto na produtividade é direto: estima-se que cada lagarta pode reduzir o rendimento de grãos em 1% por metro quadrado. Se não for controlada a tempo, pode levar a planta à morte. Fique atento, pois o ataque costuma ser mais intenso no início da manhã.

Foto de lagarta do arroz Lagarta-da-folha (Fonte: Bayer)

5. Percevejo-do-Grão (Oebalus poecilus e O. ypsilongriseus)

Diferente do percevejo-do-colmo, esta praga foca seu ataque diretamente nos grãos, afetando a qualidade final do produto.

Danos e Impacto na Qualidade

Assim como outros percevejos, ele se alimenta sugando a seiva, mas seu alvo são os grãos em formação. O ataque causa dois problemas principais:

  • Chochamento: os grãos ficam vazios e não se desenvolvem.
  • Gessamento: os grãos ficam com uma aparência esbranquiçada (de gesso) e se tornam extremamente frágeis, quebrando facilmente durante o processo de beneficiamento.

Monitoramento e Controle

Fique atento: muitas plantas daninhas comuns em lavouras de arroz servem de hospedeiras para esta praga. O monitoramento deve ser frequente, pois tanto as ninfas quanto os adultos se movem com muita facilidade pela área.

Foto de percevejo-do-grão Percevejo-do-grão (Oebalus poecilus) (Fonte: Agrolink)

6. Pulgão-da-Raiz (Rhopalosiphum rufiabdominale)

Pequeno, discreto e perigoso. O pulgão-da-raiz ataca o sistema radicular e pode passar despercebido.

Identificação e Danos

Esta praga tem uma coloração escura, o que dificulta sua visualização, pois pode se confundir com as partículas de solo. Apesar do tamanho reduzido, o dano na produtividade pode ser considerável, já que suga a seiva diretamente das raízes, enfraquecendo a planta.

Dicas Práticas para Monitoramento

Para encontrar o pulgão-da-raiz, siga estes passos:

  1. Arranque algumas plantas em pontos diferentes da lavoura.
  2. Divida o torrão de raízes em partes menores para facilitar a inspeção.
  3. Use um papel ou lona branca: coloque o material no chão e agite as raízes da planta sobre ele. Os pulgões se soltarão e ficarão visíveis contra o fundo claro.

Lembre-se sempre: o monitoramento da área é o primeiro passo e a ferramenta mais importante para tomar a decisão correta sobre o controle.

Banner planilha- manejo integrado de pragas

Conclusão

A cultura do arroz é fundamental para o agronegócio brasileiro e para a nossa alimentação. Por isso, um controle de pragas eficiente é indispensável para evitar perdas de produtividade e garantir a qualidade dos grãos.

Neste artigo, você viu em detalhes as principais pragas do arroz, suas características, os danos que causam e o momento ideal para agir. Use essas informações para aprimorar seu planejamento pré-safra, monitorar sua lavoura de forma mais eficaz e evitar gastos desnecessários com aplicações de defensivos.

Com o conhecimento certo, você estará mais preparado para proteger sua lavoura de arroz e garantir uma colheita rentável.


Glossário

  • Chochamento: Processo em que os grãos de arroz não se desenvolvem, ficando vazios e sem peso. É um dano direto causado pela sucção de seiva por pragas como o percevejo-do-grão.

  • Colmo: É o caule da planta de arroz, a estrutura principal que sustenta as folhas e a panícula. Pragas como o percevejo-do-colmo atacam esta parte, comprometendo o fluxo de nutrientes.

  • Coração morto: Sintoma visual em que a folha central mais jovem da planta de arroz morre e seca. Ocorre quando pragas, como o percevejo-do-colmo, atacam a base da planta, interrompendo o fluxo de seiva.

  • Gessamento: Anomalia que deixa os grãos de arroz com aparência esbranquiçada e opaca, como se fossem de gesso. Esse dano, causado pelo percevejo-do-grão, torna o grão frágil e propenso à quebra durante o beneficiamento.

  • Hibernação: Estado de dormência ou inatividade que alguns insetos, como o gorgulho-aquático, entram durante períodos desfavoráveis (geralmente o inverno). Eles se abrigam em restos de cultura (resteva) ou em plantas daninhas até o início da próxima safra.

  • Ninfas: Fase jovem de alguns insetos, como os percevejos, que se assemelha ao adulto, mas em tamanho menor e sem asas desenvolvidas. As ninfas também se alimentam da planta e causam danos.

  • Panícula: É a inflorescência do arroz, a parte da planta onde os grãos se formam e se desenvolvem. É a estrutura mais importante para a produtividade e o alvo principal de pragas como a lagarta-da-panícula.

  • Resteva: Conjunto de resíduos culturais, como palha e raízes, que permanecem no campo após a colheita. A resteva pode servir de abrigo para pragas hibernarem entre uma safra e outra.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

O monitoramento constante e a tomada de decisão no tempo certo são a base para um controle de pragas eficiente, como vimos ao longo do artigo. No entanto, gerenciar todas essas informações manualmente pode ser complexo e levar a erros ou gastos desnecessários com defensivos.

É aqui que a tecnologia se torna uma grande aliada. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza o registro das vistorias de pragas, permitindo que você anote as ocorrências diretamente do campo pelo celular. Esse histórico detalhado ajuda a identificar os níveis de infestação e a planejar as aplicações com muito mais precisão, garantindo que o controle seja feito apenas quando realmente necessário. Além disso, o sistema integra essas atividades ao controle de estoque e aos custos de produção, oferecendo uma visão clara do impacto financeiro de cada decisão.

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Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre os danos do Percevejo-do-Colmo e do Percevejo-do-Grão?

A principal diferença está na parte da planta que atacam. O Percevejo-do-Colmo ataca a base da planta (o colmo), sugando a seiva e causando sintomas como “coração morto” e panículas brancas. Já o Percevejo-do-Grão ataca diretamente os grãos em formação, resultando em grãos chochos (vazios) ou gessados (quebradiços), impactando diretamente a qualidade e o rendimento final.

Por que o manejo de plantas daninhas é tão importante para o controle de pragas no arroz?

Muitas plantas daninhas servem como hospedeiras alternativas ou abrigo para pragas entre uma safra e outra. Pragas como o percevejo-do-colmo e o gorgulho-aquático hibernam na resteva ou em vegetação próxima. Portanto, manter a área limpa é uma estratégia preventiva fundamental para reduzir a população inicial de pragas na lavoura.

Qual é a fase mais crítica da lavoura de arroz para o ataque de pragas?

Embora todas as fases exijam atenção, a fase reprodutiva, desde a emissão da panícula até o enchimento dos grãos, é extremamente crítica. Nessa etapa, pragas como a lagarta-da-panícula e o percevejo-do-grão causam perdas diretas na produtividade. No entanto, o ataque inicial do gorgulho-aquático nas raízes também é muito prejudicial, pois compromete toda a estrutura da planta.

O gorgulho-aquático é um problema apenas em lavouras de arroz irrigado?

Sim, o gorgulho-aquático é considerado a principal praga do arroz irrigado porque seu ciclo de vida está diretamente ligado à presença de água. As fêmeas depositam os ovos nas folhas submersas e as larvas, que causam os maiores danos, desenvolvem-se alimentando-se das raízes em ambiente inundado. Em sistemas de sequeiro, sua ocorrência e impacto são insignificantes.

Existe um horário ideal do dia para fazer o monitoramento de pragas na lavoura de arroz?

Sim, o horário pode influenciar a eficácia do monitoramento. Pragas de hábitos noturnos, como a lagarta-da-panícula, são mais facilmente encontradas no final da tarde ou início da manhã, quando estão se alimentando. Para outras pragas, a inspeção pode ser feita durante o dia, mas é sempre importante verificar a base das plantas, onde muitos insetos se escondem.

Como a hibernação de pragas como o gorgulho-aquático impacta o planejamento da próxima safra?

A hibernação significa que a praga sobrevive na área de uma safra para outra, abrigada em restos culturais (resteva) ou plantas daninhas. Isso impacta o planejamento ao exigir um bom manejo de entressafra, como a eliminação da resteva e o controle de vegetação hospedeira. Essas ações reduzem a população inicial da praga, diminuindo a pressão de infestação no início do novo ciclo.

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