Para alcançar uma alta produtividade, sua lavoura de milho depende de muitos fatores, mas a oferta correta de nutrientes é um dos pilares principais.
O potássio (K) é um dos nutrientes que a cultura do milho mais exige. Ele é diretamente responsável pelo crescimento da planta, pela formação dos grãos e espigas e também por aumentar a resistência contra doenças, especialmente as causadas por fungos.
Fazer o manejo correto desse nutriente é, portanto, essencial para garantir um bom resultado na colheita. Neste artigo, vamos detalhar como identificar os sintomas de deficiência de potássio e como realizar a adubação de forma correta e eficiente. Acompanhe a seguir.
Como Identificar a Deficiência de Potássio no Milho
Os sintomas de falta de um nutriente geralmente aparecem de forma visível nas plantas. A chave para identificar qual nutriente está faltando é observar onde o sintoma aparece primeiro.
Isso está ligado à mobilidade do nutriente, ou seja, sua capacidade de se mover dentro da planta. O potássio (K) é um nutriente muito móvel, o que significa que a planta consegue transportá-lo das folhas mais velhas para as mais novas, que são prioridade para o crescimento.
Por causa disso, os sintomas visuais de falta de potássio aparecem primeiro nas folhas mais velhas (as de baixo). Os sinais clássicos são:
- Amarelamento (clorose) que começa na ponta das folhas e avança pelas bordas.
- Com o tempo, essas bordas amareladas secam, morrem (necrose: tecido morto, com aparência de queimado) e podem até se rasgar.
- As espigas de plantas com deficiência de K ficam menores, muitas vezes com formato de cone (pontiagudas) e com a ponta falhada, sem grãos bem formados.
- Outro sintoma é o encurtamento dos internódios, deixando a planta mais baixa e compactada.
Em casos muito severos, as folhas novas também podem apresentar um amarelamento entre as nervuras, um sintoma que pode ser confundido com a falta de ferro.
Sintomas visuais de deficiência de potássio no milho. Note o amarelamento característico nas bordas das folhas mais velhas.
(Fonte: IPNI)
Análise de Folha: O Diagnóstico Preciso
Observar os sintomas visuais é o primeiro passo, mas para ter certeza e quantificar o problema, a análise foliar é a ferramenta mais precisa.
Este método compara os níveis de nutrientes encontrados nas folhas da sua lavoura com os níveis considerados ideais para a cultura. A tabela abaixo mostra as faixas de referência para o milho:
(Fonte: CCPran)
Mas podemos coletar qualquer folha para essa análise?
Não. Para garantir um resultado confiável no milho, a coleta deve seguir um padrão rigoroso:
- Qual folha coletar? A folha inteira que fica oposta e um pouco abaixo da primeira espiga (a espiga de cima). É importante remover a nervura central antes de enviar para o laboratório.
- Quando coletar? O momento ideal é no início do florescimento feminino, quando os “cabelos” do milho começam a aparecer (fase de embonecamento).
Por que essa folha e nessa época específica?
- Fácil Identificação: Tanto o estágio de desenvolvimento da planta quanto a posição da folha são fáceis de reconhecer no campo, evitando erros.
- Sem Perda de Produção: Retirar apenas uma folha por planta não afeta em nada a produção final.
- Concentração Estável: Nessa fase, o efeito de “diluição” dos nutrientes (quando a planta cresce muito rápido e a concentração de nutrientes cai) é mínimo.
- Alta Demanda: É um período em que a planta está exigindo uma grande quantidade de nutrientes, tornando a análise um reflexo fiel do estado nutricional.
A recomendação padrão é coletar cerca de 30 folhas por hectare quando 50% a 75% das plantas da área estiverem na fase de embonecamento.
Para que Serve o Potássio no Milho?
Depois do nitrogênio, o potássio é o nutriente que o milho absorve em maior quantidade. Manter os níveis de potássio adequados no solo e na planta traz uma série de benefícios diretos:
- Folhas mais sadias e verdes, essenciais para a fotossíntese.
- Atua na regulação estomática, que é o controle da abertura e fechamento dos poros da folha, gerenciando a perda de água e a absorção de gás carbônico.
- Ativa mais de 60 enzimas que são vitais para o metabolismo da planta.
- Melhora o crescimento do sistema radicular, o que ajuda a planta a buscar mais água e outros nutrientes.
- Como consequência de tudo isso, aumenta diretamente o rendimento de grãos.
Além disso, o potássio é fundamental na formação dos frutos (enchimento de grãos), na resistência ao frio e na defesa contra doenças causadas por fungos.
O potássio também fortalece a estrutura física da planta. Em solos com bom suprimento de K, a lavoura apresenta menos problemas de quebramento de colmo e acamamento, facilitando a colheita mecânica e evitando perdas.
Adubação de Potássio para Milho Silagem
Atenção: Toda recomendação de adubação deve, obrigatoriamente, começar com uma análise de solo bem-feita!
Com o resultado da análise em mãos, o primeiro passo é verificar em qual classe de disponibilidade de potássio o seu solo se encontra (muito baixo, baixo, médio, etc.). A tabela abaixo serve como referência para essa interpretação:
Recomendação de adubação potássica para o milho com base nos teores encontrados na análise de solo.
(Fonte: CCPran)
O segundo passo é definir sua meta de produtividade para o milho silagem. As doses de adubo são calculadas com base na produção esperada, pois uma lavoura mais produtiva extrai mais nutrientes do solo.
A tabela a seguir cruza os dados da análise de solo com a produtividade esperada para recomendar a dose de NPK:
Recomendação de adubação para milho destinado à produção de forragem (silagem), com base na análise de solo e na produtividade esperada.
(Fonte: Embrapa)
Para se ter uma ideia do impacto, estudos mostram que em solos com teores de potássio considerados “baixos”, a simples adição de 120 kg a 150 kg de K₂O por hectare
pode aumentar a produção em até 100%.
Mas será que posso aplicar toda essa quantidade de uma só vez? Vamos ver isso a seguir.
Quando e Como Aplicar: Parcelamento da Adubação Potássica
O milho absorve potássio de forma muito intensa nos estágios iniciais de crescimento. O pico de absorção ocorre entre os 60 e 70 dias após a emergência. Nessa fase, a planta já acumulou cerca de 50% de sua matéria seca total, mas já absorveu quase 90% de todo o potássio que precisará durante seu ciclo.
Gráfico mostrando o acúmulo de matéria seca e nutrientes (N, P e K) na parte aérea do milho. Note como a curva de potássio (K) sobe rapidamente no início.
(Fonte: Embrapa)
Devido a essa “fome” inicial por potássio, a recomendação geral é fornecer o nutriente o mais cedo possível, no máximo até 30 dias após o plantio. O ideal, se possível, é aplicar toda a dose necessária no sulco de plantio. Em solos muito deficientes, essa aplicação no sulco concentra o nutriente perto das raízes jovens, facilitando a absorção.
Porém, cuidado! Em situações de alta deficiência, a dose recomendada de potássio pode ser muito grande. Doses elevadas de adubo no sulco podem causar o efeito salino: o excesso de sais do fertilizante perto da semente “rouba” a água dela, podendo “queimar” a semente e prejudicar a germinação e o estande inicial de plantas.
Regra prática para parcelamento:
- Doses até 50 kg/ha de K₂O: Podem ser aplicadas inteiramente no sulco de plantio.
- Doses superiores a 50 kg/ha de K₂O: Recomenda-se parcelar. Aplique um terço da dose no plantio e o restante em cobertura.
As adubações de cobertura podem ser feitas em uma ou duas aplicações, desde que ocorram entre os estágios fenológicos V3 e V6 (quando a planta tem de 3 a 6 folhas completamente desenvolvidas).
Estudo mostrando o efeito do parcelamento de potássio e nitrogênio na produção de grãos de milho irrigado.
(Fonte: INPI)
Qual Fonte de Potássio Usar e Como Aplicar
Quando o potássio presente no solo não é suficiente para a demanda da cultura, precisamos fornecer o nutriente através de fertilizantes.
A fonte de potássio mais comum e utilizada na agricultura brasileira, tanto para o plantio quanto para a cobertura, é o Cloreto de Potássio (KCl).
O KCl pode ser aplicado sozinho ou misturado a fontes de nitrogênio, como a ureia, para a adubação de cobertura, sem problemas de incompatibilidade.
Resumindo a forma de aplicação:
- Até 50 kg/ha de K₂O: Aplicação no sulco de plantio.
- Acima de 50 kg/ha de K₂O: Aplicação a lanço (se for em pré-plantio) ou em cobertura (após a emergência da planta).
Conclusão
O manejo do potássio tem um impacto direto e significativo na produtividade do milho. Portanto, saber como definir a dose correta e o momento certo de aplicá-la é um dos pontos-chave para o sucesso da sua lavoura.
Lembre-se dos passos principais:
- Diagnóstico: Saiba reconhecer os sinais visuais de deficiência nas folhas mais velhas e utilize a análise foliar para confirmar e quantificar o problema.
- Planejamento: Baseie sua adubação na análise de solo e na sua meta de produtividade.
- Estratégia: Defina a melhor estratégia de aplicação, considerando o parcelamento para doses altas para evitar o efeito salino e garantir que o nutriente esteja disponível quando a planta mais precisa.
Incorporar essas práticas ao seu planejamento agrícola é fundamental para buscar uma produção mais eficiente e rentável.
Glossário
Acamamento: Tombamento das plantas, geralmente causado pela fraqueza do colmo ou problemas no sistema radicular. Níveis adequados de potássio fortalecem a estrutura da planta, reduzindo o risco de acamamento e as perdas na colheita.
Análise foliar: Método de diagnóstico que mede a quantidade de nutrientes presentes nas folhas da planta. É uma ferramenta precisa para confirmar deficiências nutricionais suspeitas e ajustar o programa de adubação.
Clorose: Amarelamento das folhas devido à falta de clorofila. No caso da deficiência de potássio no milho, a clorose é característica por começar na ponta das folhas mais velhas e avançar pelas bordas.
Efeito salino: Dano causado às sementes ou raízes jovens pelo excesso de sais provenientes de fertilizantes aplicados no sulco de plantio. Esse excesso de sais “rouba” a água da semente, podendo queimar o embrião e prejudicar a germinação.
Embonecamento: Estágio reprodutivo inicial do milho, quando os estigmas (os “cabelos”) começam a emergir da ponta da espiga. É o momento exato recomendado para a coleta de folhas para análise foliar.
Estágios fenológicos (V3-V6): Fases do desenvolvimento vegetativo do milho, onde “V” significa vegetativo e o número indica a quantidade de folhas completamente expandidas. O período entre V3 (3 folhas) e V6 (6 folhas) é a janela ideal para a adubação de cobertura.
K₂O (Óxido de Potássio): Unidade padrão utilizada para expressar a concentração de potássio nos fertilizantes e nas recomendações de adubação. Por exemplo, uma recomendação de “100 kg/ha de K₂O” indica a quantidade do nutriente na forma de óxido.
Necrose: Morte do tecido vegetal, que se apresenta como uma área seca de cor marrom ou escura, com aparência de queimado. Na deficiência de potássio, a necrose ocorre nas bordas das folhas, como uma evolução da clorose.
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Perguntas Frequentes
Por que os sintomas da falta de potássio no milho aparecem primeiro nas folhas mais velhas (de baixo)?
Isso ocorre porque o potássio (K) é um nutriente muito móvel dentro da planta. Quando há uma carência, a planta prioriza o crescimento novo, transportando o potássio disponível das folhas mais velhas para as mais novas. Como resultado, os sinais de amarelamento e necrose nas bordas surgem primeiro na base da planta.
Posso aplicar toda a dose de potássio de uma vez no sulco de plantio?
Depende da dose. Doses de até 50 kg/ha de K₂O podem ser aplicadas integralmente no plantio. Doses superiores devem ser parceladas (parte no plantio, parte em cobertura) para evitar o ’efeito salino’, onde a alta concentração de sais do fertilizante pode ‘queimar’ a semente e prejudicar a germinação.
Qual é a melhor época para fazer a adubação de potássio em cobertura no milho?
A adubação de potássio em cobertura deve ser realizada nos estágios iniciais do desenvolvimento, idealmente entre as fases V3 e V6 (quando a planta tem de 3 a 6 folhas completamente expandidas). Aplicar nesse período garante que o nutriente esteja disponível para a planta durante seu pico de absorção, que acontece antes do florescimento.
Além da perda de produtividade, que outros problemas a deficiência de potássio pode causar na lavoura?
A falta de potássio enfraquece a estrutura geral da planta, resultando em colmos mais frágeis e maior propensão ao quebramento e acamamento. Isso não só dificulta a colheita mecânica, mas também torna a lavoura mais suscetível a doenças, especialmente as causadas por fungos.
Análise de solo ou análise foliar: qual é mais importante para o manejo do potássio?
Ambas são importantes e se complementam. A análise de solo é fundamental para o planejamento inicial, indicando a quantidade de potássio disponível no solo antes do plantio. Já a análise foliar funciona como um diagnóstico durante o ciclo da cultura, mostrando o que a planta está realmente absorvendo e permitindo ajustes finos na adubação de cobertura.
Como posso diferenciar a deficiência de potássio de outras deficiências nutricionais no milho?
A chave é observar onde o sintoma aparece primeiro e qual o padrão do amarelamento. A falta de potássio se manifesta como um amarelamento que começa na ponta das folhas mais velhas e avança pelas bordas. Já a deficiência de nitrogênio, por exemplo, também começa nas folhas velhas, mas o amarelamento forma um ‘V’ invertido a partir da ponta e seguindo a nervura central.
A adubação de potássio para milho silagem é a mesma que para milho grão?
Não necessariamente. Como a produção de silagem remove a planta inteira do campo (colmo, folhas e espigas), a extração e exportação de potássio do solo é muito maior do que na colheita apenas dos grãos. Por isso, as doses de adubação potássica para silagem costumam ser mais altas para repor os nutrientes e manter a fertilidade da área para os próximos cultivos.
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