Podridão Vermelha da Raiz na Soja: Guia Completo para Identificar e Controlar

Engenheira agrônoma, mestre e doutora em Fitopatologia.
Podridão Vermelha da Raiz na Soja: Guia Completo para Identificar e Controlar

Entre as mais de 40 doenças de soja já identificadas no Brasil, uma delas exige atenção especial do produtor nos últimos anos: a podridão vermelha da raiz.

Este problema pode causar perdas severas de produtividade, chegando a mais da metade da lavoura em casos graves. O desafio é que a doença é causada por um fungo de solo, o que torna seu controle muito mais complexo.

Então, como você pode identificar os sintomas desse problema mais cedo e garantir um manejo eficiente para proteger sua safra?

Continue lendo para conferir essas e outras recomendações práticas!

Qual o impacto da podridão vermelha da raiz na soja?

A podridão vermelha da raiz, também conhecida como síndrome da morte súbita da soja, já foi encontrada em todas as regiões produtoras do Brasil. No entanto, ela se desenvolve com mais força em solos úmidos e com temperaturas amenas.

close-up de folhas de soja severamente afetadas por uma doença foliar. Observam-se múltiplas lesões necróti (Fonte: Austeclinio Lopes de Faria Neto em Embrapa)

Observada pela primeira vez no país na safra 1981/82, em Minas Gerais, é considerada uma doença relativamente nova.

Ela pode ser causada por três espécies de fungos do gênero Fusarium que já foram relatadas no Brasil: F. brasiliense, F. tucumaniae e F. crassistipitatum.

Para entender melhor: Fusarium é um gênero comum de fungos que vive no solo. Muitas de suas espécies podem causar doenças em diversas culturas agrícolas, incluindo a soja.

A podridão vermelha da raiz ataca o sistema radicular das plantas, o que interfere diretamente na formação de vagens e grãos. Com as raízes danificadas, a planta não consegue absorver água e nutrientes corretamente, o que prejudica a fotossíntese e todo o seu desenvolvimento.

Nos casos mais severos, os prejuízos são altos, com relatos de perdas na lavoura que variam entre 40% e 60%.

Para evitar esse cenário, o primeiro passo é saber reconhecer os sinais da doença.

Como identificar os sintomas da podridão vermelha da raiz

O nome da doença já entrega o principal sintoma. O patógeno infecta a raiz da planta, e o primeiro sinal é uma mancha avermelhada visível na raiz principal, logo abaixo do nível do solo.

Com o avanço da doença, essa mancha cresce, circunda toda a raiz e adquire uma coloração mais escura. A casca externa da raiz (o córtex) pode morrer e apodrecer. Ao cortar a raiz, você verá que a parte interna (a medula) fica com uma coloração castanho-clara, um sinal característico que pode subir pelo caule por alguns centímetros.

Em lavouras com alta umidade, é possível observar um anel vermelho na base da haste da planta.

Além dos danos nas raízes, o fungo produz toxinas que viajam pela planta até as folhas. Essas toxinas causam necrose internerval, que é a morte do tecido foliar entre as nervuras, resultando no sintoma conhecido como folha carijó.

Na prática, as folhas ficam com manchas amareladas (cloróticas) e marrons (necróticas) entre as nervuras, enquanto a região das próprias nervuras permanece verde.

Esses sintomas foliares costumam aparecer perto da floração, podendo causar queda de folhas (desfolha), abortamento de vagens e, em casos extremos, a morte das plantas.

composição de quatro fotografias numeradas que ilustram os sintomas da Podridão Vermelha da Raiz na cultura da Podridão vermelha da raiz (1); sintomas foliares iniciais (2); sintoma carijó (3 e 4) (Fonte: Pablo de Melo Oliveira)

As raízes secundárias (as mais finas) podem se degradar rapidamente, restando apenas a raiz principal. Em solos muito úmidos, a casca da raiz principal pode se soltar com facilidade, expondo a parte lenhosa, que geralmente tem uma cor clara.

Como não confundir com outras doenças

Para ter certeza de que se trata da podridão vermelha da raiz, e não de outra doença com sintomas parecidos, observe estes detalhes:

  • Podridão da haste (ou podridão de Sclerotinia): Apresenta descoloração na parte interna da haste, algo que não ocorre na podridão vermelha da raiz.
  • Cancro da haste: Causa lesões e feridas visíveis (cancros) na parte externa da haste, o que também não é um sintoma da podridão vermelha.

Agora que você já sabe identificar os sintomas, vamos entender como o fungo age e quais condições o favorecem.

O Patógeno e as Condições Ideais para a Doença

As espécies de Fusarium que causam esta doença são classificadas como fungos de solo. Eles sobrevivem no ambiente de duas formas:

  1. Conídios: São como “sementes” (esporos) do fungo, disseminadas pela água da chuva ou irrigação, mas que sobrevivem por pouco tempo no solo.
  2. Clamidósporos: São estruturas de resistência, mais duras, que permitem ao fungo sobreviver por longos períodos no solo e em restos de culturas, como a palhada. Eles são o inóculo primário, ou seja, a fonte inicial que contamina a nova safra.

A doença pode ser ainda mais severa se houver a presença do nematoide do cisto da soja (Heterodera glycines). Ferimentos causados pelo nematoide nas raízes podem servir como porta de entrada para o fungo.

As condições que mais favorecem a podridão vermelha da raiz são:

  • Alta umidade do solo: Solos encharcados ou mal drenados são um prato cheio.
  • Temperaturas amenas: Em torno de 15℃ favorece a infecção nas raízes, enquanto temperaturas entre 22℃ e 24℃ aceleram o aparecimento dos sintomas nas folhas.
  • Solo compactado: A compactação dificulta a drenagem e o desenvolvimento das raízes, deixando as plantas mais vulneráveis.

A doença pode se manifestar em reboleiras (manchas concentradas na lavoura) ou de forma generalizada, dependendo das condições da área.

Estratégias de Manejo da Podridão Vermelha da Raiz

Como se trata de um fungo de solo, o controle é difícil e exige uma abordagem integrada, conhecida como Manejo Integrado de Doenças (MID). Não existe uma solução única. O sucesso está na combinação de várias práticas:

  1. Escolha de Cultivares: Cultivares de soja de ciclo precoce geralmente sofrem menos com a doença. Embora não existam materiais com resistência total, opte por cultivares com tolerância parcial ou moderada, que já ajudam a reduzir o impacto.

  2. Época de Semeadura: Evite semear a soja muito cedo, pois as condições de solo mais frio e úmido do início da estação podem favorecer o desenvolvimento do fungo.

  3. Tratamento de Sementes: Atualmente, não há um controle químico via pulverização que seja eficaz para a podridão vermelha da raiz. A principal ferramenta química é o tratamento de sementes com fungicidas específicos, que pode proteger as plântulas nos estágios iniciais e reduzir a incidência da doença.

  4. Rotação de Culturas: A rotação ou sucessão de culturas com plantas não hospedeiras, como sorgo, milho e trigo, é uma das medidas mais eficientes. Isso ajuda a quebrar o ciclo de vida do fungo no solo.

  5. Manejo do Solo:

    • Evite solos mal drenados e compactados.
    • Se já tem histórico da doença na área, melhore a drenagem para evitar o acúmulo de água.
    • Adote práticas para prevenir e corrigir a compactação do solo.

Como dica final, para definir a melhor combinação de estratégias para a sua lavoura, procure sempre a orientação de um(a) engenheiro(a) agrônomo(a).

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Conclusão

A podridão vermelha da raiz é uma doença séria que pode causar grandes prejuízos na cultura da soja. Por ser causada por um fungo de solo, seu manejo exige planejamento e a combinação de várias estratégias.

Neste artigo, você aprendeu a identificar os principais sintomas, como a mancha vermelha na raiz e a folha carijó. Também entendeu quais as condições favorecem o patógeno e, o mais importante, quais as medidas de manejo mais indicadas.

Ao aplicar um manejo integrado, combinando a escolha de cultivares, rotação de culturas e cuidados com o solo, você protege o potencial produtivo da sua lavoura e garante uma safra mais segura.


Glossário

  • Clamidósporos: Estruturas de resistência de um fungo que permitem sua sobrevivência no solo por longos períodos. Funcionam como “cápsulas de sobrevivência” que garantem a contaminação da safra seguinte.

  • Folha carijó: Sintoma visual em que as folhas da soja apresentam manchas amareladas e marrons entre as nervuras, que permanecem verdes. Esse padrão manchado, ou “carijó”, é causado por toxinas do fungo.

  • Fusarium: Gênero comum de fungos que vivem no solo. Várias espécies de Fusarium são patógenos de plantas e podem causar doenças radiculares e vasculares em diversas culturas, incluindo a soja.

  • Inóculo primário: A primeira fonte do patógeno que inicia o ciclo da doença em uma nova safra. No caso da podridão vermelha, os clamidósporos presentes no solo são o principal inóculo primário.

  • Manejo Integrado de Doenças (MID): Uma estratégia que combina diferentes métodos de controle (como rotação de culturas, escolha de cultivares e tratamento de sementes) para manejar doenças de forma sustentável, em vez de depender de uma única solução.

  • Necrose internerval: Termo técnico que descreve a morte (necrose) do tecido vegetal localizado entre as nervuras (internerval) da folha. É o que causa o sintoma de “folha carijó”.

  • Patógeno: Qualquer microrganismo, como um fungo, bactéria ou vírus, capaz de causar uma doença em uma planta. No artigo, o fungo Fusarium é o patógeno.

  • Reboleiras: Manchas ou áreas concentradas na lavoura onde a doença se manifesta com maior intensidade. A ocorrência em reboleiras é comum para doenças causadas por patógenos de solo.

Como a tecnologia facilita o manejo integrado

Aplicar um Manejo Integrado de Doenças (MID) eficaz, como o recomendado para a podridão vermelha da raiz, exige um planejamento detalhado e um registro preciso de todas as atividades. Controlar informações como a escolha de cultivares, a data de semeadura, o histórico de rotação de culturas e os tratamentos aplicados em cada talhão pode se tornar complexo, especialmente ao longo de várias safras.

Nesse cenário, um software de gestão agrícola como o Aegro se torna um forte aliado. Ele centraliza todo o planejamento e o acompanhamento das operações no campo, garantindo que nenhuma etapa do manejo seja esquecida. Ao registrar cada atividade, o sistema também associa os custos correspondentes, permitindo que o produtor visualize o impacto financeiro de suas decisões e proteja a rentabilidade da lavoura com mais segurança.

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Perguntas Frequentes

Quais são os principais sintomas visuais da podridão vermelha da raiz na soja?

Os sintomas mais característicos são uma mancha avermelhada na raiz principal, logo abaixo da linha do solo, que escurece com o tempo. Nas folhas, o sinal clássico é a “folha carijó”, que consiste em manchas amarelas e marrons entre as nervuras, enquanto as próprias nervuras permanecem verdes.

Por que o controle da podridão vermelha da raiz é considerado tão complexo?

O controle é complexo porque o fungo Fusarium sobrevive por longos períodos no solo e em restos de cultura através de estruturas de resistência (clamidósporos). Como o patógeno vive no solo, ele não pode ser eliminado com pulverizações foliares, exigindo um manejo integrado e preventivo ao longo de várias safras.

É possível controlar a podridão vermelha da raiz com pulverização de fungicidas?

Não, atualmente não há fungicidas aplicados via pulverização foliar que sejam eficazes contra esta doença. A principal ferramenta de controle químico disponível é o tratamento de sementes com fungicidas específicos, que ajuda a proteger as plantas jovens nos estágios iniciais de desenvolvimento.

Como posso diferenciar a podridão vermelha da raiz de outras doenças com sintomas parecidos?

Para diferenciar, observe a haste da planta. A podridão vermelha não causa descoloração na parte interna da haste, como a podridão de Sclerotinia, nem feridas externas (cancros), como o cancro da haste. O sintoma chave da podridão vermelha é a coloração castanho-clara na medula (parte interna) da raiz e base do caule.

A rotação de culturas realmente funciona contra a podridão vermelha da raiz?

Sim, a rotação de culturas é uma das medidas mais eficientes. Utilizar plantas não hospedeiras, como milho, sorgo ou trigo, ajuda a quebrar o ciclo de vida do fungo no solo, diminuindo a quantidade de inóculo (fonte de contaminação) para a próxima safra de soja e reduzindo a severidade da doença.

Quais condições de clima e solo mais favorecem a doença?

A doença prospera em solos com alta umidade, seja por excesso de chuva ou má drenagem, e também em solos compactados. Temperaturas amenas (em torno de 15°C) favorecem a infecção inicial nas raízes, enquanto temperaturas um pouco mais altas (22°C a 24°C) aceleram o aparecimento dos sintomas foliares.

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