A podridão radicular por fitóftora é uma das doenças mais sérias que podem atingir a lavoura de soja. Em lavouras com variedades muito sensíveis, o impacto é devastador, podendo levar a uma perda de até 100% no rendimento de grãos.
Presente na maioria das regiões produtoras de soja do Brasil, essa doença já causou grandes prejuízos para muitos produtores.
Neste guia prático, vamos detalhar como identificar os sintomas da podridão radicular em cada fase da cultura e apresentar as melhores estratégias de manejo para proteger sua safra.
Qual o Agente Causador da Podridão Radicular na Soja?
A doença, também conhecida como podridão da raiz e da haste por fitóftora, é causada pelo oomiceto Phytophthora sojae.
Para entender melhor: Oomiceto significa um organismo muito parecido com um fungo, mas que pertence a um grupo biológico diferente. Eles se desenvolvem em condições de alta umidade e são conhecidos por serem bastante agressivos.
O nome Phytophthora vem do grego e revela seu poder: Phyto significa “planta” e phthora significa “destruidor”. Ou seja, é um verdadeiro “destruidor de plantas”.
Organismos deste grupo são conhecidos por causar estragos não apenas na soja, mas também em outras culturas importantes como tomate, batata e citros.
Sintomas da Doença: Como Identificar no Campo
Os sinais da podridão radicular por fitóftora podem aparecer em qualquer estágio da lavoura, desde a pré-emergência das plântulas até a fase adulta da soja.
A gravidade dos sintomas depende diretamente do nível de resistência da cultivar utilizada. É importante notar que plantas jovens são sempre mais vulneráveis do que plantas já estabelecidas.
Sintomas Iniciais: Da Semente à Plântula
- Falha na Germinação: No solo, as sementes infectadas apodrecem antes mesmo de germinar, ou a germinação ocorre de forma muito lenta e desigual.
- Tombamento (Damping-off): As plântulas que conseguem emergir apresentam tecidos encharcados e de coloração marrom-escura na base do caule. É muito comum que essas plântulas morram logo após a emergência, causando falhas no estande.
Sintomas de podridão radicular por fitóftora em mudas de soja: (A) leve descoloração das raízes e lesão com aspecto encharcado no caule; (B) lesão de coloração marrom no caule e raízes; (C1-C3) danos no hipocótilo e cotilédone; (D) podridão da semente
(Fonte: Traduzido de Chang et al., 2017)
Sintomas em Plantas Adultas
Em plantas mais desenvolvidas, a doença avança de forma característica:
- Lesão na Haste: O sintoma mais claro é o aparecimento de uma lesão de coloração marrom-escura que começa na base da haste e sobe, podendo atingir os ramos laterais.
- Apodrecimento das Raízes: O sistema radicular é severamente atacado. As raízes secundárias são destruídas, e a raiz principal apodrece, ficando com uma coloração marrom e perdendo sua função.
- Reflexo na Parte Aérea: Como resultado do dano nas raízes, a planta não consegue absorver água e nutrientes. As folhas ficam amareladas (clorose), murcham e, por fim, secam. Uma característica marcante é que as folhas secas permanecem presas à planta.
Sintomas de podridão da raiz e haste por fitóftora em soja
(Fonte: Daren Mueller)
Impacto na Lavoura
O resultado final é uma lavoura desuniforme e com um estande de plantas reduzido. Em áreas muito afetadas, pode ser necessário realizar a ressemeadura, o que aumenta diretamente os custos de produção. Consequentemente, a doença diminui o rendimento e a produtividade de grãos.
Os sintomas podem aparecer em plantas isoladas ou, mais comumente, em reboleiras, que são manchas de plantas mortas ou morrendo, geralmente localizadas nas áreas mais baixas e úmidas do talhão.
Reboleira de soja com sintomas de podridão da raiz e haste por fitóftora
(Fonte: Cary Hicks)
Resumo dos Principais Sintomas
- Apodrecimento total do sistema radicular.
- Lesões de cor-marrom que sobem pela haste principal.
- Clorose (amarelamento) e murcha das folhas.
- Redução no estande, no rendimento e na produtividade de grãos.
Como a Doença se Espalha na Área?
A podridão radicular por fitóftora tem apenas um ciclo de infecção durante a safra de soja. Isso significa que uma planta infectada não transmite a doença para outras plantas vizinhas na mesma safra. Ela servirá como fonte de contaminação apenas para a próxima safra.
Para entender melhor: Inóculo é a parte do patógeno (como esporos ou fragmentos) que pode iniciar a doença em uma planta.
O patógeno Phytophthora sojae é muito resistente e consegue sobreviver por longos períodos no solo, mesmo sem a presença de soja. As duas principais fontes de inóculo são:
- O solo contaminado.
- Os restos culturais de uma lavoura de soja infectada.
Uma informação crucial é que, diferentemente de outras doenças, o patógeno da podridão radicular não é transmitido ou disseminado por sementes de soja.
Ciclo da podridão radicular por fitóftora
(Fonte: Traduzido de Crop Protection Network)
Condições Ideais para o Desenvolvimento da Doença
O patógeno se desenvolve melhor em condições ambientais específicas. Fique atento quando o cenário incluir:
- Temperatura: Clima quente, com temperaturas entre
25 °C
e30 °C
. - Umidade: Alta umidade do solo, especialmente solos encharcados ou saturados de água.
A doença é mais comum e severa em solos argilosos, solos compactados e áreas com má drenagem, onde a água tende a se acumular.
Além disso, algumas práticas de manejo podem, sem querer, agravar o problema:
- Plantio direto contínuo na soja: A ausência de revolvimento pode manter o inóculo na superfície.
- Altas doses de fertilizantes orgânicos: A aplicação pouco antes da semeadura pode favorecer o patógeno.
Estratégias de Manejo para Controlar a Podridão Radicular
O controle eficaz da podridão radicular exige uma abordagem integrada, focada principalmente na prevenção.
Use Cultivares Resistentes: Esta é a principal e mais eficaz ferramenta de manejo. Opte por cultivares de soja com resistência genética à Phytophthora sojae.
- Ponto de Atenção: Mesmo com cultivares resistentes, monitore a lavoura. O patógeno pode evoluir e desenvolver novas raças capazes de quebrar a resistência da cultivar.
Melhore as Condições do Solo: Como a doença depende de umidade, foque em práticas que melhorem a drenagem e a descompactação do solo. Um solo bem estruturado e sem camadas compactadas evita o acúmulo de água que favorece o oomiceto.
Pratique a Rotação de Culturas: A rotação de culturas com espécies não hospedeiras (como milho, sorgo ou algodão) é fundamental. Essa prática ajuda a reduzir a quantidade de inóculo do patógeno no solo ao longo do tempo.
O que NÃO funciona?
É importante saber quais medidas não são eficazes para esta doença específica:
- Fungicidas Foliares: Segundo a Embrapa, a aplicação de fungicidas na parte aérea das plantas não tem nenhum efeito contra a podridão radicular por fitóftora.
- Tratamento de Sementes: Atualmente, no Brasil, não existem produtos químicos registrados para o tratamento de sementes de soja com o objetivo de controlar esta doença.
Conclusão
A podridão radicular por fitóftora é uma doença séria, mas que pode ser manejada com planejamento e boas práticas agrícolas.
Lembre-se dos pontos-chave para proteger sua lavoura:
- Agente Causador: É o oomiceto Phytophthora sojae, que sobrevive no solo e nos restos culturais.
- Principal Estratégia: A ferramenta mais poderosa é o plantio de cultivares com resistência genética.
- Manejo Integrado: Combine a resistência genética com um bom manejo do solo (foco em drenagem e descompactação) e a rotação de culturas.
Ao adotar essas medidas preventivas, você cria um ambiente desfavorável para a doença, garantindo a saúde do seu solo e a produtividade da sua lavoura de soja.
Glossário
Clorose: Amarelamento das folhas da planta, causado pela incapacidade de produzir clorofila. No caso da podridão radicular, ocorre porque as raízes danificadas não conseguem absorver os nutrientes necessários do solo.
Cultivar: Termo técnico para uma variedade específica de uma planta cultivada (como a soja), que foi desenvolvida para apresentar características desejáveis, como alta produtividade ou resistência a uma determinada doença.
Inóculo: Refere-se à parte do patógeno (neste caso, o oomiceto Phytophthora sojae) que é capaz de iniciar uma nova infecção. Pode estar presente no solo ou em restos de plantas da safra anterior.
Oomiceto: Um organismo semelhante a um fungo, mas que pertence a um reino biológico distinto. Eles se desenvolvem em ambientes com alta umidade e são conhecidos por causar doenças agressivas em plantas, como a podridão radicular.
Phytophthora sojae: Nome científico do oomiceto que causa a podridão da raiz e da haste na soja. O nome vem do grego e significa “destruidor de plantas”, o que reflete sua severidade.
Reboleiras: Manchas ou áreas circulares na lavoura onde as plantas apresentam sintomas severos da doença, como murcha e morte. Geralmente, aparecem nos locais mais baixos e úmidos do talhão.
Tombamento (Damping-off): Morte de plântulas (plantas jovens) logo após a emergência do solo. A base do caule fica encharcada e apodrecida, fazendo com que a planta tombe e morra, resultando em falhas no estande.
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Gerenciar os impactos da podridão radicular envolve um controle de custos rigoroso e um planejamento de safra impecável. O aumento de despesas com uma eventual ressemeadura, por exemplo, precisa ser registrado para não comprometer a margem de lucro. Além disso, organizar a rotação de culturas, uma estratégia chave, exige um histórico preciso de cada talhão. Um software de gestão agrícola como o Aegro simplifica esses dois desafios, centralizando o controle de custos e o planejamento agrícola em um só lugar.
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Perguntas Frequentes
O que é a podridão radicular por fitóftora e por que ela é tão perigosa para a soja?
É uma doença causada pelo oomiceto Phytophthora sojae, que ataca o sistema radicular e a haste da planta. Sua periculosidade está na capacidade de causar perdas de até 100% do rendimento em variedades sensíveis, atacando a lavoura em qualquer estágio e sobrevivendo por longos períodos no solo.
Quais os sintomas mais claros para diferenciar a podridão radicular de outras doenças no campo?
O sintoma mais característico é uma lesão marrom-escura que começa na base da haste e sobe em direção aos ramos. Outro sinal distintivo é que as folhas ficam amarelas, murcham e secam, mas permanecem presas à planta, diferentemente de outras doenças.
A podridão radicular por fitóftora pode ser transmitida pelas sementes de soja?
Não. O artigo esclarece que o patógeno Phytophthora sojae não é transmitido ou disseminado por sementes. As principais fontes de contaminação são o solo e os restos culturais de uma lavoura infectada na safra anterior.
Quais condições de solo e clima favorecem o surgimento da podridão radicular?
A doença prospera em solos quentes, com temperaturas entre 25°C e 30°C, e com alta umidade. Solos argilosos, compactados e com má drenagem são especialmente vulneráveis, pois o acúmulo de água cria o ambiente perfeito para o desenvolvimento do oomiceto.
Por que a doença geralmente aparece em “reboleiras” na lavoura?
As reboleiras, que são manchas com plantas mortas, surgem porque o patógeno se desenvolve intensamente em condições de encharcamento. Essas áreas correspondem às partes mais baixas ou compactadas do talhão, onde a água se acumula, favorecendo a infecção e a morte de plantas em grupo.
Aplicar fungicida foliar é uma estratégia eficaz para controlar a podridão radicular?
Não, a aplicação de fungicidas na parte aérea da planta é ineficaz contra esta doença. Como a infecção ocorre no sistema radicular a partir do solo, as estratégias de manejo devem focar na prevenção, como o uso de cultivares resistentes, boa drenagem do solo e rotação de culturas.
Além de usar cultivares resistentes, o que mais posso fazer para manejar a podridão radicular?
O manejo integrado é fundamental. Além da resistência genética, invista na melhoria da estrutura do solo para evitar a compactação e garantir boa drenagem. Praticar a rotação de culturas com espécies não hospedeiras, como milho ou sorgo, também é crucial para reduzir a presença do patógeno no solo.
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