Podridão Branca da Espiga no Milho: Guia Completo para Identificar e Controlar

Engenheira agrônoma, mestre e doutora em Fitopatologia.
Podridão Branca da Espiga no Milho: Guia Completo para Identificar e Controlar

Diversos fatores podem prejudicar a produção de uma lavoura, e as doenças estão entre os principais. A podridão branca da espiga, por exemplo, é uma ameaça séria, capaz de gerar perdas superiores a 70% no peso das espigas. Esse impacto afeta diretamente a produtividade e a qualidade final da sua colheita.

Para reduzir os prejuízos com essa doença, é fundamental conhecê-la a fundo e saber como manejá-la de forma correta e eficiente.

Por isso, preparamos este artigo em parceria com o Agronômica Laboratório de Diagnóstico Fitossanitário. Aqui, você vai encontrar tudo o que precisa para entender, identificar e evitar a podridão branca na sua lavoura. Vamos lá!

o logotipo da empresa ‘Agronômica’. O design é composto por um ícone de duas folhas verdes estilizadas, com co

Entendendo a Podridão Branca da Espiga: Importância e Agentes Causadores

A podridão branca da espiga é uma doença que causa grandes prejuízos na cultura do milho, pois ataca diretamente os grãos e as sementes, que são o seu produto comercial. O resultado é uma redução significativa na produtividade e na qualidade do que é colhido.

Esta doença é causada por dois fungos principais:

  • Stenocarpella macrospora
  • Stenocarpella maydis (também conhecido por seu sinônimo, Diplodia maydis)

Por causa desses nomes, você pode encontrar a doença sendo chamada de Podridão da Espiga causada por Diplodia.

Para se ter uma ideia do estrago, uma pesquisa da Embrapa demonstrou perdas de mais de 70% no peso das espigas quando foram infectadas artificialmente com o fungo S. maydis, em comparação com espigas sadias.

Além da podridão na espiga, essas espécies de Stenocarpella podem causar outros problemas, como a Podridão do Colmo e a Mancha Foliar de Diplodia.

Condições Favoráveis para a Doença

A ocorrência da podridão branca depende muito do clima. Condições de temperaturas moderadas e alta umidade são ideais para o desenvolvimento do fungo. Portanto, fique especialmente atento após longos períodos de chuva.

Mas como saber se essa doença está presente na sua lavoura? Vamos aos sintomas.

close-up detalhado de uma espiga de milho severamente afetada por uma doença fúngica, provavelmente a podri Doença causa perda de produtividade e qualidade na lavoura de milho. (Fonte: Elevagro)

Como Identificar a Podridão Branca da Espiga no Campo

Geralmente, os sintomas da podridão branca começam a aparecer na base da espiga. O principal sinal é o crescimento do micélio do fungo: uma massa branca, parecida com algodão, que se desenvolve entre os grãos e sobre a palha.

Fique atento aos seguintes sinais visuais:

  • Cor e Aparência: As espigas infectadas adquirem uma coloração acinzentada a esbranquiçada, ficam enrugadas e mais leves que o normal.
  • Palhas Aderidas: Se a infecção ocorre logo após a polinização, o micélio do fungo pode fazer com que as palhas internas fiquem fortemente grudadas umas nas outras e aos grãos.
  • Grãos Danificados: Os grãos ou sementes infectados apresentam uma coloração que varia de cinza a marrom.

Com o avanço da doença, uma camada branca se forma entre as fileiras de grãos, o que dá o nome característico de podridão branca da espiga.

uma espiga de milho em close-up, severamente afetada por uma contaminação fúngica. Uma camada espessa e esbran Espiga completamente colonizada por Stenocarpella maydis. (Fonte: Embrapa)

Se a infecção ocorrer mais tarde no ciclo da cultura, os sintomas podem ser menos visíveis por fora. Mesmo assim, ao abrir a espiga, é possível notar o crescimento do fungo entre os grãos.

Impacto nas Sementes e Plântulas

Sementes contaminadas podem não germinar, pois os fungos atacam e matam o embrião. Caso a semente consiga germinar, a plântula já emerge infectada, resultando em uma planta com vigor comprometido desde o início.

Diferenciando os Fungos Causadores

A olho nu, não é possível diferenciar se a doença é causada por S. macrospora ou S. maydis. A identificação precisa é feita em laboratório, observando o tamanho dos esporos (conídios) em um microscópio. Geralmente, os esporos de S. macrospora são maiores que os de S. maydis.

micrografia que exibe conídios (esporos assexuados) de um fungo fitopatogênico. As estruturas, vistas sob gran Conídios de Stenocarpella macrospora. (Fonte: Embrapa)

Esta imagem é uma micrografia que exibe conídios, que são esporos assexuados de um fungo. As estruturas observadas são pequen Conídios de Stenocarpella maydis. (Fonte: Embrapa)

Agora que você sabe como identificar a doença, vamos ver as estratégias para controlá-la.

Como Fazer o Controle da Podridão da Espiga na Sua Lavoura

Para um controle eficiente da podridão branca, o ideal é adotar um manejo integrado, combinando diferentes práticas preventivas. A estratégia mais importante é começar com o pé direito, usando sementes sadias.

Mesmo que os grãos não pareçam “ardidos”, é recomendável enviá-los para análise em um laboratório especializado. Laboratórios como o Agronômica utilizam métodos rápidos e sensíveis para a detecção precoce do fungo, garantindo mais segurança para seus lotes de sementes e grãos.

Aqui estão as principais medidas de controle integrado:

  1. Uso de Sementes Sadias: É a primeira linha de defesa. Sementes certificadas e de boa procedência reduzem drasticamente o risco de introduzir a doença na área.
  2. Tratamento de Sementes: Ajuda a prevenir a deterioração da semente no solo e evita a transmissão de patógenos para as plântulas.
  3. Rotação de Culturas: Interrompe o ciclo de vida do fungo. Evite plantar milho sobre milho, especialmente em áreas com histórico da doença.
  4. População Adequada de Plantas: Um estande muito denso pode criar um microclima úmido e abafado, ideal para o fungo. Siga a recomendação técnica para seu híbrido e região.
  5. Equilíbrio Nutricional: Plantas bem nutridas são mais resistentes a doenças. Garanta que o solo tenha os nutrientes necessários para um desenvolvimento saudável.
  6. Resistência Genética: Opte por híbridos de milho que apresentem maior resistência ou tolerância às podridões de colmo e espiga. Consulte o portfólio das empresas de sementes.

Em caso de dúvidas, procure sempre a orientação de um(a) engenheiro(a) agrônomo(a).

Fontes de Inóculo e Disseminação da Doença

Para controlar a doença, é crucial entender de onde ela vem. Os fungos S. macrospora e S. maydis são necrotróficos: ou seja, eles matam o tecido da planta para se alimentar. Eles sobrevivem de duas formas: como parasitas em plantas vivas e como saprófitas, decompondo restos culturais.

As duas principais fontes de inóculo (material que pode iniciar a doença) são:

  1. Sementes Contaminadas: Este é o principal veículo para levar os fungos a novas áreas. Sementes infectadas, mesmo quando armazenadas, garantem a sobrevivência dos patógenos até a próxima semeadura.
  2. Restos Culturais: A palhada de milho infectada que permanece na superfície do solo serve de abrigo para o fungo. De lá, os esporos são disseminados pelo vento, podendo infectar as novas plantas.

O período mais crítico para a infecção da espiga é de duas a três semanas após o início da formação dos grãos.

O Papel da Monocultura e do Sistema Plantio Direto (SPD)

A podridão branca ocorre com mais intensidade em áreas de monocultura de milho. O plantio sucessivo na mesma área aumenta o acúmulo de inóculo nos restos culturais.

Nesse sentido, a Aprosoja alerta que a combinação de plantios sucessivos, plantio direto sem rotação de culturas e o uso de híbridos suscetíveis favorece muito a ocorrência da doença.

Atenção: O problema não é o sistema de plantio direto em si, mas a falta de rotação de culturas, que é um dos seus princípios fundamentais. A palha sobre o solo, benéfica para o sistema, também aumenta o tempo de sobrevivência desses fungos se não houver rotação para quebrar o ciclo.

Grãos Ardidos e Micotoxinas: O Impacto na Qualidade

Os fungos S. macrospora e S. maydis são famosos por causar os chamados “grãos ardidos”. Este nome vem do fato de que as espigas infectadas ficam muito leves, devido ao baixo peso dos grãos doentes.

Um grão é classificado como ardido quando pelo menos um quarto de sua superfície está descolorida, com tons que variam de marrom a roxo e vermelho.

uma comparação visual clara entre dois grupos de grãos de milho, dispostos sobre uma superfície branca e ident Comparação de amostras de grãos de milho ardidos (A) e sadios (B). (Fonte: Rodrigo Véras da Costa em Embrapa)

A presença de grãos ardidos causa redução no preço de comercialização e afeta a qualidade geral do lote.

  • Grãos Ardidos: Contaminação que ocorre na lavoura (pré-colheita).
  • Grãos Mofados ou Embolorados: Contaminação que ocorre após a colheita (transporte e armazenamento).

O Perigo das Micotoxinas

Além de estragar a aparência e o peso, os fungos podem produzir micotoxinas: substâncias tóxicas que representam um risco para a saúde humana e animal. Sua presença afeta o valor econômico dos grãos e reduz a qualidade nutricional para consumo ou para a fabricação de rações.

O fungo S. maydis, por exemplo, pode produzir uma micotoxina chamada diplodiotoxina.

planilha de produtividade de milho

Conclusão

A podridão branca da espiga é uma doença séria que pode comprometer sua lavoura de milho, causando perdas quantitativas (menos peso) e qualitativas (grãos ardidos e micotoxinas).

Neste artigo, você aprendeu:

  • Os fungos que causam a doença (Stenocarpella spp.).
  • Como identificar os principais sintomas na espiga e nos grãos.
  • As estratégias de manejo integrado, com foco em sementes sadias e rotação de culturas.
  • As principais fontes de inóculo e como a doença se espalha.
  • O impacto dos grãos ardidos e das micotoxinas na qualidade final do produto.

Com esse conhecimento, você está mais preparado para implementar um manejo eficiente e proteger sua lavoura, evitando prejuízos com a podridão branca da espiga na sua propriedade.


Glossário

  • Conídios: São os esporos assexuados dos fungos, responsáveis por sua disseminação. Funcionam como as “sementes” do fungo, sendo espalhados pelo vento para infectar novas plantas de milho.

  • Grãos Ardidos: Termo técnico para grãos de milho que apresentam descoloração (tons de marrom a roxo) devido à infecção por fungos ainda no campo. Essa condição reduz drasticamente o peso, a qualidade e o valor de comercialização do lote.

  • Inóculo: Refere-se a qualquer parte do patógeno (como esporos ou micélio) capaz de iniciar uma nova infecção na planta. No contexto da podridão branca, sementes contaminadas e restos de palhada infectada são as principais fontes de inóculo.

  • Micélio: É o conjunto de filamentos que formam o corpo vegetativo do fungo. Na podridão branca, o micélio é a massa branca, com aparência de algodão, que cresce visivelmente entre os grãos e sobre a palha da espiga infectada.

  • Micotoxinas: Substâncias tóxicas produzidas por fungos que contaminam alimentos e rações. No caso da podridão branca, o fungo S. maydis pode produzir a diplodiotoxina, que representa um risco para a saúde animal e humana.

  • Necrotrófico: Tipo de patógeno que primeiro mata as células do tecido do hospedeiro para depois se alimentar da matéria orgânica morta. Os fungos do gênero Stenocarpella são necrotróficos, causando a morte dos tecidos da espiga para seu desenvolvimento.

  • Stenocarpella spp.: Gênero de fungos que agrupa as espécies Stenocarpella macrospora e Stenocarpella maydis (Diplodia maydis). São os agentes causadores da doença conhecida como podridão branca da espiga no milho.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

O manejo integrado da podridão branca, como vimos, exige um controle rigoroso de práticas como a rotação de culturas e o monitoramento de atividades no campo. Manter esse histórico detalhado no papel ou em planilhas separadas pode levar a falhas que comprometem a eficácia do controle e a produtividade da lavoura.

Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, permitindo planejar a rotação de culturas com base no histórico de cada talhão e registrar todas as operações agronômicas em um só lugar. Ter esses dados organizados facilita a tomada de decisão, ajuda a identificar áreas de maior risco e garante que as estratégias de manejo sejam executadas corretamente, protegendo a rentabilidade da sua safra.

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Perguntas Frequentes

Quais são os primeiros sinais da podridão branca da espiga que devo procurar no campo?

Os primeiros sinais geralmente aparecem na base da espiga. Procure por uma massa branca com aparência de algodão (micélio do fungo) crescendo entre os grãos e sobre a palha. As espigas infectadas também podem ficar com uma coloração acinzentada, enrugadas e mais leves que o normal.

O sistema de plantio direto aumenta o risco da podridão branca na lavoura de milho?

O plantio direto em si não é o problema, mas sim a sua combinação com a monocultura de milho. A ausência de rotação de culturas permite que os fungos sobrevivam na palhada que fica sobre o solo, aumentando a quantidade de inóculo para infectar a safra seguinte. Portanto, a rotação de culturas é fundamental para o sucesso do plantio direto.

Qual é a medida de controle mais importante para evitar a podridão branca na minha lavoura?

A medida mais crucial e a primeira linha de defesa é o uso de sementes sadias e certificadas. Isso evita a introdução do patógeno na área. Essa prática deve ser combinada com outras estratégias de manejo integrado, como a rotação de culturas e a escolha de híbridos com maior resistência genética à doença.

Qual a diferença entre ‘grãos ardidos’ e ‘grãos mofados’?

A principal diferença está no momento da contaminação. ‘Grãos ardidos’ são o resultado de uma infecção por fungos que ocorre na lavoura, antes da colheita, como no caso da podridão branca. Já ‘grãos mofados’ ou embolorados são contaminados por fungos após a colheita, durante as etapas de transporte ou armazenamento inadequado.

A podridão branca da espiga pode produzir substâncias tóxicas perigosas?

Sim. Além de causar a perda de peso e qualidade dos grãos (grãos ardidos), o fungo Stenocarpella maydis pode produzir uma micotoxina chamada diplodiotoxina. Essa substância é tóxica para animais e humanos, afetando a segurança do produto para consumo ou fabricação de ração.

A podridão branca é a mesma doença que a podridão de Diplodia?

Sim, são nomes diferentes para a mesma doença. O nome podridão de Diplodia vem de Diplodia maydis, um sinônimo para um dos fungos causadores da doença, o Stenocarpella maydis. Portanto, ambos os termos se referem à infecção causada por esses fungos na espiga do milho.

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