A falta de chuva no início da nova safra deixou os produtores de soja com um pé atrás em boa parte do país. O plantio da safra 2019/20, que normalmente acelera em setembro, chegou a novembro com apenas 46% da área semeada. Este ritmo é muito mais lento que o da safra passada, que no mesmo período já batia 60%.
Embora as chuvas recentes tenham permitido um avanço nas últimas semanas, o tempo continua seco e instável em muitas regiões. Essa situação gera duas grandes preocupações: a finalização da semeadura da soja dentro da janela ideal e o risco para o plantio da safrinha de milho.
Neste artigo, vamos analisar o cenário atual do plantio de soja 2019/20 e, mais importante, discutir estratégias para você minimizar os riscos de perdas na lavoura causados por esses atrasos.
Qual é o Cenário Atual do Plantio de Soja 2019/20?
Mesmo com o alívio das chuvas na última semana de outubro, o tempo instável mantém o plantio da soja 2019/20 atrasado em comparação com a safra anterior. Segundo dados da consultoria AgRural, até 4 de novembro, o país atingiu 46% da área estimada, enquanto na safra 2018/19 já estávamos com 60%. Apesar do atraso, o resultado geral ainda está dentro da média histórica dos últimos cinco anos.
A situação varia bastante entre os estados:
- Mato Grosso: No principal estado produtor, a semeadura acelerou e alcançou 84% da área no final de outubro, segundo o Imea.
- Paraná: No segundo maior produtor, o índice subiu para 60%.
Essa recuperação, após um forte atraso inicial, só foi possível porque as máquinas trabalharam dia e noite. Muitos produtores optaram pelo chamado “plantio no pó”: semear no solo seco, apostando na chegada das chuvas para garantir a germinação.
A situação mais delicada é no Mato Grosso do Sul. O plantio de soja atingiu apenas 58% da área, e a falta de umidade já forçou muitos produtores a fazer o replantio. Além do custo extra, isso gera uma grande preocupação com a segunda safra de milho. Se a semeadura da soja não for concluída na primeira quinzena de novembro, a janela para a safrinha no estado ficará seriamente comprometida.
O tempo mais seco atrasou o plantio na safra de soja 2019/20. Em Mato Grosso, principal produtor do grão, a semeadura avançou rapidamente após o retorno das chuvas, mas ainda não alcançou 100% da área prevista. (Foto: Dinheiro Rural)
Previsões de Área e Produção: O que os Números Dizem?
De acordo com a Conab, as regiões Centro-Oeste e Sul continuam sendo as principais produtoras do grão, respondendo por mais de 70% de toda a produção de soja do Brasil.
Mapa da produção de soja no país. A expectativa é que o Brasil alcance 36,5 milhões de hectares plantados nesta safra. (Fonte: Conab)
As estimativas da Conab apontam que a área de plantio da safra 2019/20 será, em média, 2% maior que a anterior. Estão previstos 36,5 milhões de hectares, contra 35,8 milhões da safra passada. Este número representa mais da metade da área agricultável total do Brasil, que é de pouco mais de 60 milhões de hectares, mostrando a força da nossa sojicultura.
Evolução da área de soja no Brasil (em mil hectares), mostrando um crescimento constante nos últimos anos. (Fonte: Conab)
Apesar do aumento da área plantada, um ponto de atenção é que as estimativas indicam uma produtividade por hectare menor do que a registrada em anos como 2016 e 2017. Essa possível queda está diretamente ligada ao atraso na semeadura da cultura da soja. A soja é uma cultura que depende muito de condições ideais de temperatura e água para expressar seu máximo potencial produtivo.
Calendário de plantio e colheita de soja nas diferentes regiões do Brasil. (Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2015)
O Efeito Dominó: Como o Atraso da Soja Impacta a Segunda Safra
Na maior parte da região tropical do Brasil, a sucessão soja e milho é o sistema de produção mais comum. Embora a safrinha também possa ser feita com culturas como algodão e sorgo, o milho predomina. Na prática, a maior parte do milho que produzimos no país vem justamente da segunda safra.
A regra é clara: atrasar a primeira safra significa atrasar a segunda.
No clima tropical, não é uma boa ideia adiar o plantio da safrinha para além de fevereiro e março. Isso porque a lavoura enfrentará restrições de luz (dias mais curtos) e água (fim do período chuvoso). Essa combinação afeta diretamente a produtividade, além de expor a lavoura a riscos maiores, como geadas.
Diante disso, o produtor precisa colocar na ponta do lápis o custo da segunda safra e o risco de semear tarde. Em um cenário de atraso, o milho pode não ser a melhor opção. Culturas de cobertura ou com maior resistência à falta de água, como o sorgo, podem se sair melhor.
Mais Além da Safrinha: Outros Problemas Causados pelo Atraso no Plantio
1. Falta de Sementes para o Replantio
Um problema grave para quem precisa replantar a área por falta de chuva — como já ocorre em partes do Mato Grosso do Sul — é o custo. Além do gasto adicional com a operação, os produtores podem enfrentar a falta de cultivares de soja específicas no mercado, um problema que já é sentido em algumas regiões.
2. Maior Pressão da Ferrugem Asiática
O vazio sanitário — período obrigatório sem plantas de soja vivas no campo — ajuda a reduzir a quantidade inicial de esporos da ferrugem asiática no ar. Quando a soja é semeada no início da safra, esse manejo faz com que a infecção pelo fungo ocorra em um estágio mais avançado da cultura, diminuindo seu impacto na produtividade.
Ao semear a soja mais tarde, a planta encontra uma alta concentração de esporos do fungo no ambiente. Isso aumenta a pressão da doença, que pode infectar a lavoura em um estágio mais vulnerável, causando perdas maiores.
A tabela abaixo, baseada em pesquisa, mostra como a data de semeadura impacta o momento em que a ferrugem aparece e a produtividade final.
Estádio fenológico em que foram constatadas as primeiras pústulas de ferrugem (EF) e produtividade (kg/ha) de grãos de soja, em função das diferentes épocas (EP) e datas (DS) de semeadura. (Fonte: Souza, 2015)
Para saber mais sobre como se proteger, confira nosso artigo com "6 Dicas para combater de vez a ferrugem asiática da soja".
Conclusão: Planejamento é a Chave para Superar os Desafios
O plantio tardio da soja quase sempre é um mau negócio. No entanto, sem chuva, o produtor fica de mãos atadas. A boa notícia é que existem estratégias para contornar o problema e proteger o sistema de produção.
- Adote cultivares resistentes à ferrugem para diminuir o impacto da doença em plantios tardios.
- Avalie culturas mais adaptadas a uma segunda safra tardia, como o sorgo, que tolera melhor a falta de água.
- Considere o milho na safra principal, aproveitando a alta do preço do grão para garantir uma boa rentabilidade e pagar as contas.
A falta de chuvas é mais uma das muitas adversidades que o produtor brasileiro enfrenta. Mas com conhecimento técnico, planejamento e força de vontade, continuaremos a movimentar o agro brasileiro.
Glossário
Conab (Companhia Nacional de Abastecimento): Órgão do governo brasileiro responsável por gerar e divulgar dados oficiais sobre a agricultura, como previsões de safra e área plantada. Suas informações são referências para o mercado.
Cultivar: Refere-se a uma variedade específica de uma planta, como a soja, que foi desenvolvida por melhoramento genético para ter características desejáveis. Por exemplo, existem cultivares de soja mais resistentes à ferrugem asiática ou à seca.
Estádio fenológico: Corresponde às diferentes fases do desenvolvimento de uma planta, desde a germinação até a maturação. Saber o estádio fenológico da lavoura é crucial para decidir o momento certo de aplicar defensivos ou fertilizantes.
Ferrugem asiática: É uma das doenças mais severas que afetam a cultura da soja, causada por um fungo. Ela provoca a queda precoce das folhas, o que compromete o desenvolvimento dos grãos e pode causar grandes perdas de produtividade.
Plantio no pó: Técnica de semear a cultura, como a soja, no solo ainda seco, antes da chegada das chuvas. É uma estratégia de risco que visa adiantar o plantio, contando com a previsão de chuva para que a semente possa germinar.
Safrinha (ou Segunda safra): Refere-se à segunda safra cultivada no mesmo ano agrícola, logo após a colheita da safra principal de verão. O exemplo mais comum no Brasil é o plantio de milho (safrinha) após a colheita da soja.
Vazio sanitário: Período determinado por lei em que é proibido manter plantas vivas de soja no campo. O objetivo é quebrar o ciclo de doenças, como a ferrugem asiática, reduzindo a quantidade de esporos do fungo no ambiente para a safra seguinte.
Veja como a gestão agrícola ajuda a superar os desafios da safra
O atraso no plantio e os custos extras com replantio, como os vistos na safra 2019/20, exigem um controle financeiro apurado para não comprometer a rentabilidade. Ao mesmo tempo, a pressão para aproveitar a janela de plantio ideal demanda um planejamento operacional impecável.
Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza o acompanhamento de custos e o planejamento de atividades, permitindo que o produtor tome decisões mais seguras sobre a segunda safra e otimize o uso de maquinário e insumos. Ter essa visão completa é fundamental para minimizar perdas em anos atípicos.
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Perguntas Frequentes
O que é ‘plantio no pó’ e quais são os principais riscos dessa estratégia?
O ‘plantio no pó’ é a técnica de semear a soja com o solo ainda seco, na expectativa de chuvas futuras para a germinação. O principal risco é a chuva não chegar no tempo previsto ou ser irregular, resultando em uma germinação desuniforme, um estande de plantas falho e, em casos piores, a necessidade de um custoso replantio.
Por que o atraso no plantio da soja impacta diretamente a safrinha de milho?
Atrasar a colheita da soja empurra a janela de plantio do milho safrinha para além do período ideal (fevereiro/março). Isso expõe a lavoura de milho a condições desfavoráveis, como dias mais curtos com menos luz e o fim do período chuvoso, o que limita drasticamente o potencial produtivo e aumenta o risco de perdas por seca ou geadas.
Como o plantio tardio da soja aumenta a pressão da ferrugem asiática?
O plantio no início da janela se beneficia do vazio sanitário, que reduz a quantidade de esporos do fungo no ambiente. Ao plantar mais tarde, a lavoura se desenvolve em um período onde a concentração de esporos já é alta, aumentando a probabilidade de uma infecção precoce e mais severa, o que pode causar perdas de produtividade significativas.
Além do custo com insumos e maquinário, qual outro grande desafio do replantio da soja?
Um dos maiores desafios é a disponibilidade de sementes. A necessidade de replantio por muitos produtores ao mesmo tempo pode causar uma escassez de cultivares de soja de alto potencial produtivo no mercado, forçando o agricultor a optar por variedades menos adaptadas à sua região, o que também pode comprometer o resultado final da safra.
O sorgo é sempre uma alternativa melhor que o milho para uma segunda safra tardia?
Em cenários de plantio tardio e risco de seca, o sorgo geralmente é uma alternativa mais segura. Ele é mais tolerante à falta de água do que o milho, o que reduz o risco de perdas severas. A decisão final deve considerar os custos de produção, a expectativa de preço de ambos os grãos e o histórico climático da região.
A produtividade da soja é sempre menor em um plantio realizado fora da janela ideal?
Sim, na grande maioria dos casos. A soja é uma cultura sensível ao fotoperíodo e às condições climáticas. Plantar fora da janela ideal significa que fases críticas do seu desenvolvimento, como o florescimento e o enchimento de grãos, podem ocorrer sob estresse hídrico ou temperaturas inadequadas, impedindo que a planta expresse seu máximo potencial genético de produtividade.
Artigos Relevantes
- Ciclo da ferrugem da soja e novidades da doença para esta safra: Este artigo é a continuação direta de um dos principais riscos apontados no texto principal: a maior pressão da ferrugem asiática em plantios tardios. Ele aprofunda o tema de forma técnica, explicando o ciclo da doença e detalhando estratégias de manejo integrado, o que oferece ao leitor uma solução clara e acionável para um problema específico que foi levantado.
- Custo de produção de soja 2019/20 (+ planilha): O artigo principal menciona os custos extras com replantio e os riscos financeiros do atraso. Este candidato complementa perfeitamente ao focar na análise do custo de produção da safra 2019/20, detalhando o impacto dos insumos. Ele transforma a preocupação abstrata com custos em uma análise de dados concreta, oferecendo uma ferramenta prática (planilha) para o produtor gerenciar suas finanças neste cenário adverso.
- Atraso na semeadura e incertezas marcam o mercado da soja 2019/20: Enquanto o artigo principal foca nos desafios agronômicos do atraso no plantio, este artigo fornece a perspectiva de mercado e econômica essencial para o mesmo período (safra 2019/20). Ele conecta os problemas da lavoura com as incertezas de preço e comercialização, oferecendo ao leitor uma visão 360º do cenário, o que é crucial para o planejamento estratégico de vendas.
- Como começar a plantação de soja e 6 passos para melhorar sua lavoura: Este artigo serve como um guia de melhores práticas fundamentais, sendo um recurso valioso para o produtor que enfrenta replantio ou planeja a próxima safra após um ano difícil. Ele detalha etapas cruciais como a escolha da cultivar e o preparo do solo, que são mencionadas como estratégias de mitigação no artigo principal. Assim, ele oferece o conhecimento base para executar as soluções propostas de forma mais eficaz.
- Cultura da soja no Brasil: Guia Completo do Plantio à Industrialização: Este artigo oferece um guia completo e aprofundado sobre a cultura da soja, funcionando como uma base de conhecimento que enriquece a compreensão do leitor sobre os temas do artigo principal. Ele detalha o ciclo da soja, as principais doenças (incluindo a ferrugem) e os sistemas de produção, fornecendo o contexto técnico necessário para que o produtor entenda por que o atraso no plantio é tão prejudicial e como as estratégias de manejo funcionam.