O trigo é uma cultura estratégica para a rotação de cultivos e para o melhor aproveitamento de áreas em diversas regiões do Brasil. Além de seu valor comercial, o trigo é um excelente aliado no manejo de plantas daninhas, graças ao seu rápido fechamento de entrelinhas e à boa produção de palhada.
Contudo, para que esses benefícios se concretizem, é fundamental conhecer as principais plantas daninhas que afetam a cultura e saber exatamente como controlá-las.
Neste guia, vamos detalhar as melhores estratégias de manejo e como combater as invasoras mais comuns na sua lavoura de trigo.
Estratégias de Manejo de Plantas Daninhas no Trigo
No Brasil, o trigo frequentemente entra em rotação com a cultura da soja, ocupando a janela que seria do milho safrinha. Essa dinâmica muda o planejamento do controle de invasoras.
A principal diferença é que o período de entressafra acontece entre a colheita da soja e o plantio do trigo. É neste momento que você deve focar no controle das plantas daninhas para garantir uma semeadura do trigo no limpo.
Embora o trigo forme uma boa cobertura no solo, a presença de plantas daninhas nos estágios iniciais da cultura causa danos severos à produtividade.
- Para cultivares de porte baixo: estudos mostram que o período anterior à interferência — o tempo que a cultura tolera a competição sem perdas — é de apenas 12 dias após a emergência.
- Período Crítico: O intervalo mais sensível, onde o controle é indispensável, vai dos 12 aos 24 dias após a emergência das plântulas de trigo.
Em outras palavras, seu planejamento deve garantir que a lavoura de trigo fique livre de competição por, no mínimo, os primeiros 12 a 24 dias.
Além disso, um bom manejo no trigo facilita a operação seguinte. A semeadura da soja ocorrerá logo após a colheita do trigo. Se a área estiver infestada, você terá duas opções ruins: semear a soja “no sujo” ou atrasar o plantio, o que geralmente é inviável.
Um ponto crítico no manejo é a seletividade dos herbicidas. Como o trigo é uma gramínea, o número de produtos eficazes para controlar outras gramíneas na pós-emergência é limitado. Portanto, a prioridade máxima é controlar as gramíneas invasoras na entressafra, antes mesmo de plantar o trigo.
Principais Plantas Daninhas do Trigo
Azevém (Lolium multiflorum)
Esta planta daninha é um dos maiores desafios para os triticultores da região Sul do Brasil. No passado, foi usada como cultura de cobertura ou forrageira, o que contribuiu para sua ampla disseminação.
O azevém é uma gramínea de ciclo anual ou bianual que se desenvolve bem durante o inverno. Sua planta é ereta, perfilha bastante e não possui pelos (é glabra). Sua reprodução ocorre exclusivamente por sementes.
O impacto na produtividade é severo. Estudos indicam que uma população de apenas 24 plantas de azevém por metro quadrado, competindo com o trigo por 35 dias, pode reduzir o rendimento de grãos em até 62%.
Recomendação de manejo do azevém
O controle deve ser feito, prioritariamente, antes da semeadura do trigo.
Pré-semeadura (Dessecação):
- Plantas pequenas: A aplicação de herbicidas graminicidas é eficaz.
- Plantas desenvolvidas: É necessária a aplicação sequencial de glifosato + graminicidas para um controle robusto.
- Banco de sementes: O herbicida pendimethalin no sistema plante-aplique pode ser usado para controlar sementes que ainda não germinaram.
Pós-emergência (na cultura do trigo):
- Se o azevém emergir junto com a cultura, as opções de herbicidas seletivos são iodosulfuron, clodinafop e diclofop.
Além da alta competitividade, o azevém possui biótipos resistentes a herbicidas no Brasil. Os casos de resistência registrados no país são:
- 2010: Resistência ao iodosulfuron.
- 2010: Resistência aos herbicidas clethodim e glifosato.
- 2016: Resistência múltipla a clethodim e iodosulfuron.
- 2017: Resistência múltipla a iodosulfuron, pyroxsulam e glifosato.
Se você enfrenta biótipos resistentes em sua lavoura de trigo, uma alternativa é o uso de variedades Clearfield®, que são tolerantes ao herbicida imazamox, oferecendo uma ferramenta adicional de controle.
Capim-amargoso (Digitaria insularis)
O capim-amargoso é uma planta daninha de ciclo perene, que forma touceiras e produz rizomas (estruturas subterrâneas de reserva que permitem a rebrota). É uma das invasoras mais problemáticas do Brasil, presente em quase todo o território.
O segredo para seu controle é a aplicação nos estágios iniciais. Após a planta formar rizomas, o que ocorre por volta de 45 dias após a emergência, sua capacidade de rebrotar após a aplicação de herbicidas aumenta drasticamente.
Capim-amargoso é uma das principais plantas daninhas do trigo
(Foto: Germani Concenço/Embrapa)
Recomendação de manejo do capim-amargoso
O foco principal do controle deve ser antes da semeadura do trigo.
Pré-semeadura (Dessecação):
- Plantas jovens: Aplicações de graminicidas são eficazes.
- Plantas estabelecidas (com rizomas): A aplicação sequencial de glifosato + graminicidas é a estratégia mais recomendada.
- Banco de sementes: O uso de pendimethalin no sistema plante-aplique ajuda a controlar novas germinações.
Pós-emergência (na cultura do trigo):
- Se o capim-amargoso emergir na lavoura, a única opção de herbicida seletivo disponível é o clodinafop.
Existem biótipos de capim-amargoso resistentes a herbicidas no Brasil. Os casos relatados são:
- 2008: Resistência ao glifosato.
- 2016: Resistência ao haloxyfop.
Aveia (Avena strigosa e A. sativa)
Conhecida como aveia-preta ou aveia-branca, esta planta daninha também tem grande importância na região Sul. Assim como o azevém, seu uso anterior como cultura de cobertura ou forrageira ajudou a disseminá-la.
É uma das poucas gramíneas com capacidade de vegetar bem durante o inverno. Possui ciclo anual, porte ereto, alto perfilhamento e se reproduz apenas por sementes. A principal diferença entre as espécies é a cor da semente: a Avena strigosa tem sementes escuras, por isso é chamada de aveia-preta.
Lavoura de aveia preta
(Foto: Agrolink)
Recomendação de manejo da aveia:
O controle deve ser priorizado antes da semeadura do trigo.
Pré-semeadura (Dessecação):
- Plantas jovens: A aplicação de graminicidas costuma ser suficiente.
- Plantas desenvolvidas: O controle químico exige a aplicação sequencial de glifosato + graminicidas.
Pós-emergência (na cultura do trigo):
- Se a aveia emergir na lavoura, as opções seletivas disponíveis são iodosulfuron, clodinafop e diclofop.
Nabo (Raphanus raphanistrum e R. sativus)
As espécies de nabo forrageiro, também conhecidas como nabiça, são plantas de folha larga com ciclo anual, porte ereto e reprodução exclusiva por sementes. São muito competitivas por luz, água e nutrientes.
Lavoura de trigo infestada com nabo
Recomendação de manejo do nabo:
Antes do plantio do trigo:
- Os herbicidas eficazes na dessecação incluem glifosato, 2,4-D, metribuzin e metsulfuron.
Pós-emergência (na cultura do trigo):
- As opções disponíveis para controle na lavoura já estabelecida são metsulfuron, 2,4-D, iodosulfuron e bentazon.
O nabo também possui casos de resistência a herbicidas no Brasil:
- 2001: Resistência a herbicidas do grupo das sulfonilureias e imidazolinonas (metsulfuron, imazetapir, clorimuron, nicosulfuron, cloransulam).
- 2013: Resistência múltipla aos mesmos herbicidas do caso anterior, mais iodosulfuron e imazapic.
Buva (Conyza spp.)
A buva é uma das principais plantas daninhas do Brasil, infestando lavouras em todo o país. É uma planta de folha larga, ciclo anual, porte ereto e com alta produção de sementes, que são facilmente espalhadas pelo vento.
Lavoura de trigo infestada por buva
(Fonte: Mais Soja)
Recomendação de manejo da buva:
A cultura do trigo é uma excelente ferramenta para o manejo integrado da buva. Como suas sementes precisam de luz para germinar, um bom manejo inicial seguido pelo rápido fechamento de linha do trigo e a palhada deixada após a colheita ajudam a suprimir a emergência de novas plantas.
Antes do plantio do trigo:
- As opções de herbicidas para dessecação são glifosato, 2,4-D, metribuzin e metsulfuron. O manejo outonal é crucial para evitar que a buva se estabeleça.
Pós-emergência (na cultura do trigo):
- As opções para controle na cultura são metsulfuron, 2,4-D, iodosulfuron e bentazon.
A buva tem um histórico extenso de resistência a herbicidas no Brasil, com múltiplos casos relatados:
- 2005: Conyza bonariensis e Conyza canadensis resistentes ao glifosato.
- 2010: Conyza sumatrensis resistente ao glifosato.
- 2011: Conyza sumatrensis resistente ao clorimuron e, posteriormente, com resistência múltipla a glifosato e clorimuron.
- 2016: Conyza sumatrensis resistente ao paraquat.
- 2017: Conyza sumatrensis resistente ao saflufenacil.
- 2018: Conyza sumatrensis com resistência múltipla a diuron, paraquat, glifosato, 2,4-D e saflufenacil.
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Conclusão
Neste artigo, detalhamos as particularidades e a importância de um manejo bem planejado de plantas daninhas na cultura do trigo.
A principal mensagem é a necessidade de começar com a área limpa, focando o controle na entressafra para proteger os estágios iniciais e mais críticos da cultura.
Analisamos as principais espécies invasoras, os danos que causam, os crescentes casos de ervas daninhas resistentes e as recomendações de manejo mais eficazes para garantir que sua lavoura de trigo atinja o máximo potencial produtivo.
Glossário
Aplicação Sequencial: Tática de controle que consiste em aplicar dois ou mais herbicidas em momentos diferentes, com um intervalo de alguns dias. É usada para controlar plantas daninhas difíceis, como o capim-amargoso já estabelecido, combinando, por exemplo, glifosato e um graminicida.
Biótipos Resistentes: Populações de uma mesma espécie de planta daninha que desenvolveram a capacidade de sobreviver a aplicações de herbicidas que antes eram eficazes. O artigo cita vários exemplos, como azevém resistente ao glifosato.
Entressafra: Período entre a colheita de uma cultura principal e o plantio da cultura seguinte. No contexto do artigo, é o intervalo crucial entre a colheita da soja e a semeadura do trigo, momento ideal para o controle inicial de plantas daninhas.
Graminicidas: Tipo de herbicida seletivo, formulado especificamente para controlar plantas da família das gramíneas (capins). São essenciais no manejo de invasoras como azevém e capim-amargoso.
Palhada: Camada de material vegetal seco (restos culturais) que fica sobre a superfície do solo após a colheita. A palhada do trigo é valorizada por abafar o solo, dificultando a germinação de sementes de plantas daninhas como a buva.
Período Anterior à Interferência (PAI): O tempo máximo que a cultura do trigo pode conviver com as plantas daninhas após sua emergência sem que haja perdas significativas de produtividade. No artigo, este período é estimado em cerca de 12 dias.
Pós-emergência: Refere-se à aplicação de herbicidas quando tanto a cultura (trigo) quanto as plantas daninhas já germinaram e estão visíveis no campo.
Rizomas: Estruturas de caule que crescem horizontalmente abaixo da superfície do solo, capazes de armazenar nutrientes e gerar novas plantas. O capim-amargoso possui rizomas, o que lhe confere alta capacidade de rebrota e dificulta seu controle.
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O controle eficaz de plantas daninhas no trigo, como vimos, exige um planejamento minucioso e um controle de custos rigoroso. A aplicação sequencial de herbicidas, a escolha do momento certo para cada operação e o manejo da resistência são tarefas complexas que, se não forem bem gerenciadas, podem comprometer a rentabilidade da lavoura.
Um software de gestão agrícola como o Aegro ajuda a resolver isso. Ele permite planejar todas as atividades de manejo, desde a dessecação até as aplicações em pós-emergência, registrando os produtos, as doses e os custos por talhão. Ter esse histórico detalhado não só garante que as operações sejam executadas no tempo certo, mas também facilita a rotação de herbicidas para manejar a resistência e oferece uma visão clara dos gastos com defensivos, ajudando a proteger a margem de lucro.
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Perguntas Frequentes
Qual é o momento mais crítico para o controle de plantas daninhas no trigo e por quê?
O período mais crítico, onde o controle é indispensável, ocorre entre 12 e 24 dias após a emergência das plântulas de trigo. A competição com plantas daninhas nesta fase inicial pode causar perdas severas e irreversíveis na produtividade, pois é quando a cultura define seu potencial de rendimento.
Por que é tão difícil controlar gramíneas como azevém e capim-amargoso depois que o trigo já emergiu?
O trigo também é uma gramínea, o que limita o número de herbicidas seletivos que podem ser usados em pós-emergência sem danificar a própria cultura. Por isso, a estratégia mais eficaz é focar no controle dessas invasoras na entressafra, antes do plantio do trigo, garantindo uma semeadura no limpo.
Se eu tenho azevém resistente a glifosato na minha área, qual a melhor estratégia de manejo?
Para azevém resistente, a recomendação principal é a aplicação sequencial de herbicidas na dessecação, combinando glifosato com graminicidas específicos. Após a emergência do trigo, uma alternativa é o uso de cultivares Clearfield®, que são tolerantes ao herbicida imazamox, oferecendo uma ferramenta adicional de controle.
O que é uma aplicação sequencial de herbicidas e quando ela é recomendada no manejo do trigo?
A aplicação sequencial consiste em aplicar dois ou mais herbicidas em momentos diferentes, com um intervalo de dias. Essa tática é recomendada para o controle de plantas daninhas de difícil manejo, como capim-amargoso já estabelecido com rizomas ou populações de azevém resistentes, garantindo uma maior eficácia na dessecação pré-plantio.
Além dos herbicidas, como a cultura do trigo pode ajudar no manejo da buva?
A cultura do trigo é uma excelente ferramenta no manejo integrado da buva. Seu rápido crescimento e fechamento de entrelinhas sombreia o solo, inibindo a germinação das sementes de buva, que necessitam de luz. Além disso, a palhada deixada após a colheita cria uma barreira física que suprime a emergência de novas plântulas.
Quais são as principais opções de herbicidas para controlar plantas de folha larga, como o nabo, na pós-emergência do trigo?
Para o controle de plantas daninhas de folha larga, como nabiça ou buva, na cultura do trigo já estabelecida (pós-emergência), as principais opções de herbicidas seletivos mencionados são metsulfuron, 2,4-D, iodosulfuron e bentazon. A escolha deve considerar o histórico da área e possíveis casos de resistência.
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