O milho é uma cultura com enorme potencial de resposta ao bom manejo. A cada safra, novos híbridos chegam ao mercado com tetos produtivos cada vez mais altos. No entanto, todo esse potencial pode ser perdido se não dermos atenção a um inimigo silencioso: as plantas daninhas.
Infestações descontroladas podem reduzir a produtividade da sua lavoura em até 87%, um prejuízo que impacta diretamente a rentabilidade do seu negócio.
Por isso, é fundamental conhecer as principais plantas daninhas que afetam a cultura do milho e, mais importante, saber as estratégias corretas para manejá-las. Neste guia, vamos detalhar as invasoras mais comuns e como você pode garantir que seu milho atinja o máximo potencial produtivo.
Estratégias de Manejo: O Jogo Começa Antes do Plantio
No Brasil, o sistema de produção mais comum é a sucessão soja-milho, onde a soja é plantada na safra de verão e o milho entra logo em seguida, na segunda safra (safrinha). Para que esse sistema funcione bem, muitos produtores usam variedades de soja de ciclo curto para abrir a janela de plantio do milho o mais cedo possível.
Isso significa que a colheita da soja e a semeadura do milho acontecem quase simultaneamente, às vezes no mesmo dia. Com uma janela tão apertada, não há tempo para erros. O manejo de plantas daninhas do milho precisa ser planejado com muita antecedência, ainda no ciclo da soja.
O objetivo principal é um só: semear o milho no limpo. Isso é especialmente crítico para o controle de gramíneas, pois, como o milho também é uma gramínea, a quantidade de herbicidas seletivos que podemos usar depois que a cultura emerge é bastante limitada.
Já no caso do milho de verão, frequentemente plantado para silagem, o manejo tende a ser um pouco mais simples. Há um período de entressafra que permite um controle mais tranquilo das invasoras. A principal atenção, nesse caso, é com o efeito residual de herbicidas: significa o período em que o produto aplicado anteriormente continua ativo no solo, podendo prejudicar o desenvolvimento do milho.
Lavoura de milho infestada por plantas daninhas
(Fonte: Paraquat Information Center)
Principais Plantas Daninhas do Milho: Conheça o Inimigo
Capim-amargoso (Digitaria insularis)
O capim-amargoso é, sem dúvida, uma das plantas daninhas mais problemáticas do Brasil. Presente em quase todo o país, ele é famoso pelo seu difícil controle. Isso acontece por já existirem casos de resistência a herbicidas e por suas características físicas, que dificultam a absorção dos produtos.
É uma planta de ciclo perene que forma touceiras e se espalha por sementes e rizomas: estruturas subterrâneas de reserva que permitem a rebrota da planta. Uma única planta pode produzir mais de 100 mil sementes, que são facilmente levadas pelo vento.
Um ponto crítico é que o capim-amargoso começa a formar rizomas a partir de 45 dias após a emergência. Essa capacidade de armazenar energia no subsolo lhe confere uma enorme resiliência para se recuperar de aplicações de herbicidas.
Recomendação de Manejo
- Manejo Antecipado é Chave: O controle mais eficaz do capim-amargoso é feito antes da semeadura do milho. O ideal é não ter nenhuma touceira na área quando o milho for plantado.
- Se Hรก Touceiras na Área: Se você já tem touceiras estabelecidas, considere atrasar a semeadura do milho para focar no controle delas. Lembre-se de respeitar o período residual dos graminicidas. Outra alternativa é plantar trigo, que oferece uma janela maior para o manejo.
- Áreas com Histórico de Infestação: Se o banco de sementes do solo é grande, use herbicidas pré-emergentes. Boas opções incluem: trifluralina, s-metolachlor e a mistura pyroxasulfone+flumioxazin.
- Controle em Pós-emergência (Plantas Pequenas): Se surgirem plantas pequenas (com até 3 perfilhos: novos brotos que surgem na base da planta), os herbicidas nicosulfuron, tembotrione e mesotrione podem apresentar bom controle.
- Tecnologias Específicas:
- Liberty Link: O glufosinato de amônia é uma opção para plantas pequenas.
- Enlist (Futuro): Híbridos com essa tecnologia permitirão o uso de haloxyfop em pós-emergência, uma ferramenta importante para o manejo.
- Plantas Grandes: Para plantas maiores, infelizmente, não existem produtos pós-emergentes eficientes, principalmente devido à resistência generalizada ao glifosato.
Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica)
O capim-pé-de-galinha também infesta lavouras em quase todo o Brasil. Sua importância vem crescendo nos últimos anos devido ao aumento dos casos de resistência a herbicidas.
É uma planta de ciclo anual (vive de 120 a 180 dias) e se reproduz apenas por sementes. Sua capacidade de produção é impressionante: uma única planta pode gerar mais de 120 mil sementes, que o vento espalha com facilidade. Além disso, ela começa a perfilhar muito cedo. A partir de 3 perfilhos, a eficiência dos herbicidas cai drasticamente.
Recomendação de Manejo
O manejo é semelhante ao do capim-amargoso, mas com um ponto de atenção crucial: o controle deve ser feito em plantas com menos de 2 perfilhos.
Fique atento durante o monitoramento. Quando pequena, essa planta cresce bem rente ao solo (prostrada) e pode ficar escondida sob a palhada, passando despercebida.
Buva (Conyza sp.)
A buva é outra grande dor de cabeça para o produtor brasileiro. Espalhada por todo o território, ela possui múltiplos casos de resistência a diferentes herbicidas.
Ela tem uma grande capacidade de hibridizar: cruzar com outras plantas do mesmo gênero, o que torna sua identificação exata (a nível de espécie) possível apenas em laboratório. A buva tem ciclo anual e se propaga exclusivamente por sementes.
Sua dispersão é extremamente eficiente. Além da alta produção, suas sementes são leves e podem ser carregadas pelo vento por até 1,5 km de distância. A germinação ocorre principalmente no outono e inverno (de junho a setembro), um período que muitas vezes coincide com o final do ciclo do milho safrinha.
Recomendação de Manejo
- Pós-emergência no Milho Safrinha: A associação de atrazina + tembotrione é uma opção eficaz para o controle.
- Tecnologia Liberty Link: O glufosinato de amônia pode ser usado para controlar plantas pequenas ou em aplicações sequenciais.
- Tecnologia Enlist (Futuro): Híbridos Enlist permitirão o uso de 2,4-D em doses maiores na pós-emergência, o que será uma ferramenta poderosa contra a buva.
- Manejo Integrado: Além do controle químico, o consórcio de milho com braquiária tem se mostrado muito eficiente para suprimir o desenvolvimento da buva, cobrindo o solo e competindo por luz e nutrientes.
Infestação de buva logo após a colheita do milho
(Fonte: Albrecht, A.J.P. e Albrecht, L.P.)
Picão-preto (Bidens sp.)
O picão-preto (Bidens pilosa ou Bidens subalternans) é uma planta de ciclo anual encontrada em praticamente todas as regiões produtoras do Brasil.
A diferenciação entre as duas espécies principais pode ser feita observando os aquênios (frutos secos que contêm a semente): B. pilosa tem de 2 a 3 pontas (aristas), enquanto B. subalternans tem 4.
O picão-preto produz de 3 a 6 mil sementes por planta. Essas sementes possuem um mecanismo de dormência: capacidade de esperar no solo por condições ideais para germinar, o que a torna uma competidora persistente. Sua principal forma de disseminação é através de animais, máquinas e implementos agrícolas que carregam as sementes aderidas.
Recomendação de Manejo
- Milho Convencional: Recomenda-se a aplicação de atrazina em pré-emergência da planta daninha. Dependendo do nível de infestação, pode ser necessária uma segunda aplicação em pós-emergência.
- Tecnologia RR (Roundup Ready): O glifosato ainda apresenta alta eficiência no controle. Atenção: recentemente foi confirmado o primeiro caso de resistência de picão-preto ao glifosato no Paraguai, o que serve de alerta para o Brasil.
- Tecnologia Liberty Link: O glufosinato de amônia é eficaz em plantas pequenas ou em manejo sequencial.
- Tecnologia Enlist (Futuro): A opção de usar 2,4-D em doses maiores na pós-emergência também será uma excelente ferramenta para o controle do picão-preto.
Amendoim-bravo ou Leiteiro (Euphorbia heterophylla)
O amendoim-bravo, também conhecido como leiteiro, é uma planta de ciclo anual com altíssima capacidade de crescimento, podendo atingir até 2 metros de altura e competir fortemente com o milho.
Suas sementes são grandes e não são levadas pelo vento, mas podem permanecer viáveis no solo por muitos anos. Outro desafio é sua capacidade de germinar durante todo o ano, pois se adapta bem a diferentes condições de temperatura, umidade e tipo de solo. A disseminação ocorre principalmente por máquinas, implementos e animais.
Recomendação de Manejo
- Milho Convencional: Para o controle químico, recomenda-se a aplicação em sistema de “plante-aplique” com produtos como atrazina, atrazina+s-metolachlor ou atrazina+simazine.
- Tecnologia RR: O glifosato tem sido muito eficiente. Porém, fique atento: já foi identificada uma população de leiteiro resistente a glifosato no Brasil. É fundamental monitorar a eficiência do controle.
- Tecnologia Liberty Link: O glufosinato de amônia é uma opção para plantas pequenas ou em manejo sequencial.
- Tecnologia Enlist (Futuro): Com a chegada desta tecnologia, o uso de 2,4-D em doses maiores na pós-emergência será mais uma alternativa para o manejo.
Conclusão: Lavoura Limpa é Lavoura Produtiva
Para garantir que o potencial genético do seu híbrido de milho se transforme em sacas na colheita, o controle das plantas daninhas é um passo que não pode ser negligenciado.
Neste artigo, você viu os pontos mais importantes sobre o manejo de invasoras no milho:
- Planejamento é tudo: O controle começa antes mesmo do plantio, principalmente no sistema de sucessão soja-milho.
- O objetivo é um só: Semear sempre no limpo, livre da matocompetição inicial.
- Conheça seu inimigo: Identificar corretamente as principais daninhas (capim-amargoso, pé-de-galinha, buva, picão-preto e amendoim-bravo) é o primeiro passo para o controle eficaz.
- Use as ferramentas certas: Combine estratégias de manejo, rotacione mecanismos de ação e utilize as tecnologias de herbicidas disponíveis para cada situação.
Com essas recomendações em mãos, você está mais preparado para fazer um controle certeiro, proteger o potencial produtivo da sua lavoura e alcançar melhores resultados em sua propriedade.
Glossário
Dormência (de sementes): Estado em que sementes de plantas daninhas permanecem viáveis no solo, mas não germinam, aguardando condições ideais de luz, umidade e temperatura. Essa característica permite que infestem a lavoura em diferentes momentos ao longo do tempo.
Efeito residual de herbicidas: Período em que um herbicida permanece ativo no solo após sua aplicação. É crucial respeitar esse tempo para não prejudicar o desenvolvimento da cultura seguinte, como o milho plantado após a soja.
Matocompetição: A competição direta entre as plantas daninhas (mato) e a cultura de interesse (milho) por recursos essenciais como água, luz e nutrientes. Essa disputa afeta negativamente o desenvolvimento e a produtividade da lavoura.
Perfilho: Broto lateral que surge na base de plantas gramíneas, como o capim-pé-de-galinha. O controle químico é muito mais eficaz quando a planta daninha tem poucos perfilhos (até 2 ou 3).
Pós-emergência: Refere-se à aplicação de herbicidas realizada após a germinação e o surgimento das plantas daninhas e/ou da cultura. O objetivo é controlar as invasoras que já estão visíveis na lavoura.
Rizoma: Tipo de caule subterrâneo que cresce horizontalmente e armazena energia, típico do capim-amargoso. Essa estrutura permite que a planta rebrote com força, mesmo após o controle da parte aérea, tornando-a muito resistente.
RR (Roundup Ready): Sigla para uma tecnologia genética que confere às plantas de culturas como soja e milho tolerância ao herbicida glifosato. Permite a aplicação do produto em área total para controlar as daninhas sem danificar a lavoura.
Como a tecnologia simplifica o manejo e protege sua rentabilidade
O controle eficaz de plantas daninhas, como vimos, é uma operação complexa que exige planejamento, monitoramento constante e o uso correto de insumos. Cada decisão, desde a escolha do herbicida até o momento da aplicação, impacta não apenas a produtividade, mas também os custos de produção, afetando diretamente a rentabilidade da safra.
Um software de gestão agrícola como o Aegro ajuda a transformar esse desafio em uma vantagem competitiva. Nele, é possível planejar e registrar todas as atividades de manejo, garantindo que as aplicações sejam feitas no momento certo e com os insumos corretos. Ao mesmo tempo, o sistema vincula essas operações ao controle financeiro, permitindo que você acompanhe em tempo real o custo por talhão e tome decisões mais inteligentes para proteger seu lucro.
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Perguntas Frequentes
Por que é tão importante ‘semear o milho no limpo’, principalmente na safrinha?
Na safrinha, a janela entre a colheita da soja e o plantio do milho é muito curta, o que impede um manejo de dessecação caprichado. Além disso, como o milho é uma gramínea, as opções de herbicidas seletivos para controlar outras gramíneas (como capim-amargoso) em pós-emergência são muito limitadas. Começar com a área limpa evita a matocompetição inicial e garante o melhor arranque para a cultura.
Qual a principal dificuldade no controle do capim-amargoso em comparação com outras daninhas?
A maior dificuldade está em sua capacidade de rebrota a partir de rizomas, que são caules subterrâneos que armazenam energia. Mesmo que a parte aérea da planta seja controlada, os rizomas permitem que ela se recupere rapidamente. Por isso, o manejo deve ser focado em eliminar as touceiras antes do plantio do milho.
O que é resistência a herbicidas e como posso evitar que ela surja na minha propriedade?
Resistência é a capacidade de uma planta daninha sobreviver a um herbicida que normalmente a controlaria. Para evitar seu surgimento, é fundamental rotacionar os mecanismos de ação dos herbicidas, ou seja, não usar sempre o mesmo produto. Além disso, integrar outras práticas de manejo, como o uso de pré-emergentes e a rotação de culturas, é essencial.
Se eu perder o momento ideal de controle do capim-pé-de-galinha, ainda é possível controlá-lo?
Sim, mas a eficiência do controle cai drasticamente. O ideal é aplicar herbicidas quando a planta tem menos de 3 perfilhos. Plantas maiores se tornam muito mais tolerantes aos produtos disponíveis para pós-emergência no milho. Por isso, o monitoramento constante para identificar a infestação no início é crucial.
Além do controle químico, que outra estratégia é eficaz para manejar a buva no milho?
Uma estratégia muito eficiente mencionada no artigo é o manejo integrado, especificamente o consórcio de milho com braquiária. A braquiária forma uma cobertura no solo que compete com a buva por luz e nutrientes, suprimindo seu desenvolvimento. Essa prática reduz a dependência de herbicidas e ajuda a prevenir a resistência.
O que significa ’efeito residual de herbicida’ e qual cuidado devo ter ao plantar milho?
Efeito residual é o período em que um herbicida aplicado anteriormente permanece ativo no solo. Ao plantar milho, especialmente no sistema de verão, é crucial verificar o histórico de aplicações na área para garantir que o residual de produtos usados na cultura anterior não irá prejudicar o desenvolvimento inicial do milho, causando fitotoxicidade.
Como as tecnologias Liberty Link e Enlist ajudam no manejo de daninhas resistentes ao glifosato?
Essas tecnologias oferecem alternativas ao glifosato (usado em milho RR). O milho Liberty Link é tolerante ao glufosinato de amônia, enquanto o Enlist permite o uso de 2,4-D e haloxyfop em pós-emergência. Isso proporciona diferentes mecanismos de ação para controlar plantas daninhas que já desenvolveram resistência ao glifosato, como a buva e o capim-amargoso.
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