Lavouras de soja que enfrentam ervas daninhas resistentes a glifosato podem ter um aumento de custo que varia de 42% a 222%, de acordo com dados da Embrapa.
É um cenário frustrante: você monitora a lavoura dias após a aplicação de herbicidas e percebe que a área continua infestada. Para muitos, chega a ser desesperador.
Apesar de seguir todos os protocolos de aplicação — como usar o produto adequado e pulverizar em condições climáticas ideais — por que o controle das plantas daninhas não foi 100% eficaz?
Essa situação é um forte indício de que pode haver plantas daninhas resistentes a herbicidas em sua propriedade.
Como Identificar a Resistência a Herbicidas no Campo?
Reconhecer o problema é o primeiro passo. Existem sinais claros que apontam para a presença de plantas resistentes na sua lavoura.
3 Sinais de Alerta para Plantas Daninhas Resistentes
A seguir, vamos detalhar as principais plantas daninhas resistentes a herbicidas no Brasil. Esteja preparado para identificá-las e manejá-las corretamente em sua área.
O Que Exatamente São Plantas Daninhas Resistentes?
A resistência de uma planta daninha a um herbicida é a capacidade que uma planta adquire para sobreviver e se reproduzir, mesmo após a aplicação de um herbicida na dose recomendada na bula e em condições normais de uso.
Para garantir que suas aplicações sejam feitas da forma correta, você pode conferir nosso artigo sobre como acertar nas aplicações de defensivos com um bom planejamento agrícola.
Essa resistência geralmente se desenvolve devido a um conjunto de práticas repetitivas:
- Uso contínuo de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação.
- Aplicação repetida dentro do mesmo ciclo da cultura.
- Utilização do mesmo produto como única forma de controle por vários anos.
- Ausência de práticas complementares, como manejo integrado e rotação de culturas.
Para aprofundar seu conhecimento sobre o tema, leia nosso guia sobre resistências a defensivos agrícolas.
O Desafio das Plantas Daninhas Resistentes ao Glifosato
O uso massivo de glifosato em culturas geneticamente modificadas acelerou o desenvolvimento de resistência em diversas espécies de plantas daninhas.
As culturas mais afetadas por essa resistência são a soja e o milho. Além delas, pomares diversos também enfrentam o problema, pois as culturas são naturalmente tolerantes ao herbicida, permitindo seu uso contínuo.
Como mencionado, a Embrapa estima que os custos de produção em lavouras de soja com daninhas resistentes ao glifosato podem aumentar, em média, de 42% a 222%.
Para entender melhor seus números: Leia o artigo Entenda os custos de produção agrícola e esteja no comando de sua fazenda para gerenciar suas finanças com mais precisão.
Aumentar a dose de glifosato acima do recomendado na bula pode até funcionar em um primeiro momento. No entanto, essa prática apenas seleciona as plantas que conseguem sobreviver a doses ainda maiores, agravando o problema a longo prazo.
O glifosato continuará sendo uma ferramenta importante devido à sua eficiência e baixo custo, mas é fundamental associá-lo a outros herbicidas e práticas de manejo.
Estratégias de Manejo para Resistência ao Glifosato
- Na dessecação: Utilize herbicidas de contato não seletivos, como o glufosinato de amônio (Liberty) e o paraquat. Fique atento ao usar glufosinato, pois ele é mais eficaz em plantas daninhas jovens, com cerca de
10 cm
de altura. - Diversifique com pré-emergentes: O uso de herbicidas pré-emergentes ajuda a variar os mecanismos de ação. Combine a aplicação de glifosato com graminicidas ou latifolicidas em pós-emergência para um controle mais robusto.
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Principais Plantas Daninhas Resistentes ao Glifosato no Brasil
 com inflorescência característica em detalheris elata*)
Comum em lavouras perenes, o capim-branco teve seus primeiros casos de resistência ao glifosato relatados em 2014 no Brasil. Até o momento, não apresenta resistência a outros mecanismos de ação, e é fundamental trabalharmos para que continue assim. A espécie é muito encontrada nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde floresce quase o ano todo, mas também está presente em fazendas do Sul.
(Fonte: [Ian HeaHastes de capim-amargoso (Digitaria insularis) em fundo azul.com.br/caruru-amaranthus-palmeri)
O primeiro relato desta espécie no Brasil ocorreu em 2015, no Mato Grosso, e desde então tem causado grandes prejuízos. Estima-se que o caruru-palmeri tenha potencial para reduzir a produtividade de soja, milho e algodão em até 90%.
A hipótese mais provável é que sementes da planta chegaram ao Brasil em colhedoras usadas importadas dos Estados Unidos. Esse fato reforça a importância crítica da limpeza de máquinas e de um bom planejamento das operações.
Identifique gargalos na sua operação: Saiba onde está o gargalo de seu planejamento agrícola clicando aqui.
A espécie introduzida no Brasil já é resistente ao glifosato e aos inibidores da ALS. Visualmente, ela se diferencia de outros carurus (Amaranthus spp.) por ter o pecíolo (o “cabinho” da folha) com comprimento igual ou maior que o da própria folha.
(Lavoura de soja saudável com presença de caruru entre as plantass (insetos, doenças e plantas daninhas) resistentes.
Leia mais: 5 pragas agrícolas resistentes a defensivos agrícolas e como combatê-las.
Confira outras plantas daninhas importantes que desenvolveram resistência a diferentes mecanismos de ação:
Caruru (Amaranthus retroflexus e Amaranthus viridis)
Pertencentes ao mesmo gênero do caruru-palmeri, estas espécies apresentam resistência aos inibidores da ALS e do fotossistema II. Além disso, A. retroflexus também é resistente aos inibidores da PROTOX.
Picão-preto (Bidens subalternans e Bidens pilosa)
Ambas as espécies de picão-preto possuem biótipos com resistência confirmada aos herbicidas inibidores da ALS e do fotossistema II.
Capim-arroz (Echinochloa crus-galli var. crus-galli)
Muito comum em lavouras de arroz, o capim-arroz já foi relatado com resistência múltipla (resistência a diferentes mecanismos de ação). Isso inclui resistência aos inibidores da ALS, da celulose e da ACCase. A prevenção, através do uso de sementes de boa qualidade e da limpeza rigorosa de máquinas e equipamentos, é essencial para o controle desta espécie.
A: Caruru (Amaranthus viridis); B: Picão-preto (Bidens pilosa); C: Capim-arroz (Echinochloa crus-galli var. crus-galli)
(Fonte: Ian Heap)
Para todas as plantas daninTrês espécies de plantas daninhas identificadas: A, B e Curas plantadas na mesma área.
- Rotação de herbicidas: Diversificar os mecanismos de ação dos produtos utilizados.
- Manejo na entressafra: Não deixar a área abandonada, controlando as daninhas que surgem entre as safras.
- Uso de plantas de cobertura: Ajudam a suprimir o crescimento de plantas daninhas.
- Monitoramento constante: Inspecionar a área regularmente para identificar problemas no início.
3 Livros Essenciais sobre Plantas Daninhas do Brasil
Para quem deseja se aprofundar no assunto, estes três livros são referências indispensáveis. Eu os utilizo e recomendo:
1. Manual de Identificação e Controle de Plantas Daninhas
- Edição: 7ª Edição
- Editora: Instituto Plantarum
- Conteúdo: Apresenta as plantas daninhas mais comuns nas lavouras brasileiras e indica os herbicidas recomendados para o controle de cada uma.
(Fonte: Agro Livros)
2. Plantas Daninhas do Brasil
- Edição: 4ª Edição
- Editora: Instituto Plantarum
- Conteúdo: Um guia completo comManual de Identificação e Controle de Plantas Daninhas, 7ª edição, por Harri Lorenzi
(Fonte: Livraria UFV)
3. Guia de Herbicidas
- Edição: 6ª Edição
- Conteúdo: Apresenta os herbicidas registrados no Brasil, suas principais características, as culturas onde são recomendados, além de informar as doses e os momentos adequados de aplicação.
![a capa do livro ‘GUIA DE HERBICIDASCapa do livro Plantas Daninhas do Brasil, 4ª edição, por Harri Lorenziicidas-referencia-para-manejo-de-plant.webp “Guia de Herbicidas: Referência para Manejo de Plantas Daninhas”) (Fonte: PDL)
Conclusão
Se, mesmo após aplicar herbicidas corretamente, você ainda observa a presença de plantas daninhas na sua lavoura, isso é um sinal claro de que pode haver casos de resistência na sua área.
Neste artigo, você aprendeu a identificar os sinais de resistência, conheceu as principais plantas daninhas resistentes a herbicidas nCapa do Guia de Herbicidas 6ª ediçãoejamento cuidadoso das medidas de manejo, sempre considerando a diversificação dos mecanismos de ação dos herbicidas e a integração de outras práticas de controle.
Agora que você tem esse conhecimento, faça seu planejamento agrícola, esteja preparado para combater essas plantas e garanta o sucesso da sua safra
Glossário
Alelopatia: Fenômeno em que uma planta libera substâncias químicas que inibem o desenvolvimento de outras ao seu redor. Um exemplo prático é o uso do centeio como cultura de cobertura, que libera compostos que dificultam a germinação do azevém.
Biótipo: Grupo de plantas da mesma espécie que possui características genéticas distintas, como a resistência a um herbicida. É por isso que, em um mesmo talhão, algumas plantas de capim-amargoso morrem com a aplicação enquanto outras (de um biótipo resistente) sobrevivem.
Dessecação: Aplicação de herbicida para secar rapidamente a vegetação existente (plantas de cobertura ou daninhas) antes do plantio da cultura principal. Esta prática prepara a área para a semeadura e é uma etapa chave no manejo de plantas resistentes.
Fotoblástica Positiva: Característica de sementes que necessitam de luz para germinar. A buva é um exemplo; por isso, práticas que sombreiam o solo, como o uso de plantas de cobertura, ajudam a reduzir sua infestação.
Glifosato: Herbicida sistêmico não seletivo, amplamente utilizado no controle de plantas daninhas, principalmente em culturas geneticamente modificadas tolerantes a ele. O uso repetitivo e isolado deste produto acelerou o surgimento de plantas resistentes.
Mecanismo de Ação: Refere-se à maneira específica como um herbicida mata a planta (ex: inibindo uma enzima ou interrompendo a fotossíntese). Rotacionar produtos com diferentes mecanismos de ação é a principal estratégia para prevenir e manejar a resistência.
Perfilhamento: Fase de crescimento de gramíneas em que a planta começa a emitir novos brotos laterais a partir da base, formando uma touceira. O controle de daninhas como o capim-pé-de-galinha torna-se muito mais difícil após o início desta fase.
Pré-emergente: Tipo de herbicida aplicado sobre o solo antes da germinação das plantas daninhas. Ele forma uma barreira química que impede que as sementes de daninhas se desenvolvam, sendo uma ferramenta crucial para diversificar as estratégias de controle.
Resistência a Herbicidas: Capacidade genética e hereditária de uma planta daninha de sobreviver a uma aplicação de herbicida que, em condições normais, seria eficaz para controlá-la. É o resultado da seleção de indivíduos naturalmente resistentes devido ao uso repetido do mesmo mecanismo de ação.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
O aumento nos custos de produção, que pode chegar a 222% em áreas com plantas daninhas resistentes, exige um controle financeiro rigoroso. Ferramentas de gestão agrícola, como o Aegro, ajudam a resolver esse problema centralizando o acompanhamento de custos por talhão. Assim, você sabe exatamente quanto está gastando com defensivos e operações, tomando decisões mais seguras para proteger sua margem de lucro.
Além do financeiro, o manejo eficaz depende de um planejamento agronômico preciso para rotacionar herbicidas e monitorar o campo. Manter o registro de cada aplicação e seu resultado é fundamental. Com um software como o Aegro, é possível planejar, delegar e registrar todas as atividades no campo pelo celular, garantindo que o histórico da área esteja sempre atualizado e acessível para consultas futuras.
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Perguntas Frequentes
O que é o ‘mecanismo de ação’ de um herbicida e por que é tão importante rotacioná-lo?
O mecanismo de ação é a forma específica como um herbicida age para eliminar uma planta daninha, como inibir uma enzima ou interromper a fotossíntese. Rotacionar produtos com diferentes mecanismos de ação é crucial para evitar que as plantas daninhas desenvolvam resistência, pois essa prática as expõe a diferentes formas de controle, dificultando sua adaptação e sobrevivência.
Aumentar a dose de glifosato para controlar plantas que escaparam da aplicação é uma estratégia eficaz?
Não, essa é uma prática arriscada e ineficaz a longo prazo. Aumentar a dose pode funcionar momentaneamente, mas acelera o processo de seleção de plantas ainda mais resistentes, que sobreviverão e se multiplicarão. A estratégia correta é integrar outros métodos de manejo e rotacionar herbicidas com diferentes mecanismos de ação.
Identifiquei sinais de resistência na minha lavoura. Qual é o primeiro passo prático que devo tomar?
O primeiro passo é confirmar a suspeita com a ajuda de um engenheiro agrônomo. Em seguida, é essencial identificar corretamente a espécie da planta daninha resistente para definir a melhor estratégia de manejo, que deve incluir a diversificação de métodos de controle, como o uso de herbicidas pré-emergentes e a rotação de culturas já no próximo planejamento de safra.
Como a limpeza do maquinário agrícola ajuda a prevenir a disseminação de plantas daninhas resistentes?
Sementes de plantas daninhas resistentes, como o caruru-palmeri, podem ser transportadas de uma área para outra presas em colheitadeiras, tratores e implementos. A limpeza rigorosa do maquinário antes de movê-lo entre talhões ou propriedades é uma medida de prevenção fundamental para conter a disseminação dessas sementes e evitar que novas áreas sejam infestadas.
Além da rotação de herbicidas, quais práticas de manejo integrado são mais eficazes contra a resistência?
Práticas como a rotação de culturas, o uso de plantas de cobertura na entressafra (como o centeio, que possui efeito alelopático), o manejo integrado de pragas e o monitoramento constante da lavoura são altamente eficazes. Essas ações integradas reduzem a dependência exclusiva de herbicidas, diminuindo a pressão de seleção e preservando a eficácia das ferramentas químicas.
Usar herbicidas pré-emergentes é realmente mais vantajoso do que aplicar apenas pós-emergentes?
Sim, é muito vantajoso. Os herbicidas pré-emergentes controlam as plantas daninhas antes mesmo de elas germinarem, evitando a competição inicial com a cultura. Essa prática diversifica os mecanismos de ação utilizados na área, reduz a pressão de seleção sobre os herbicidas pós-emergentes e ajuda a manter o banco de sementes de daninhas no solo sob controle.
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