As 5 Principais Plantas Daninhas do Arroz: Guia de Identificação e Controle

Engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Fitotecnia focado em plantas daninhas.
As 5 Principais Plantas Daninhas do Arroz: Guia de Identificação e Controle

Fazer um controle eficiente de plantas daninhas na lavoura de arroz é um desafio constante. Para ter sucesso e proteger sua produtividade, você precisa saber exatamente o que fazer e quando fazer.

Isso envolve três etapas essenciais:

  • Identificar as espécies invasoras corretamente;
  • Saber o momento ideal para realizar o manejo;
  • Escolher os métodos de controle mais eficientes.

Especialmente na cultura do arroz, algumas daninhas são mais difíceis de controlar do que outras. Por isso, preparamos este guia com informações práticas para te ajudar a realizar esse trabalho de forma mais efetiva. Confira!

1 – Arroz vermelho (Oryza sativa L.)

O arroz vermelho é, sem dúvida, uma das maiores preocupações na produção de arroz, principalmente na região Sul do Brasil.

O maior desafio é que esta planta pertence à mesma espécie do arroz que cultivamos. Isso torna o controle químico e a diferenciação visual muito mais complicados.

A principal diferença visível entre os dois está na cor do pericarpo: a casca que envolve o grão. No arroz vermelho, essa casca tem uma tonalidade avermelhada característica.

Além disso, o arroz vermelho apresenta outros traços distintos:

  • Sementes com dormência, que permanecem viáveis no solo por mais tempo;
  • Colmos (caules) mais finos;
  • Ciclo de desenvolvimento mais longo;
  • Plantas geralmente mais altas que o arroz comercial;
  • Variação de cor na pálea e lema (estruturas que cobrem o grão);
  • Folhas de cor verde-claro e mais caídas (decumbentes);
  • Deiscência precoce, ou seja, a liberação das sementes antes da colheita.

Apesar dessas diferenças, identificar o arroz vermelho no meio da lavoura a olho nu é extremamente difícil antes da fase de maturação dos grãos.

Por pertencerem à mesma família, as condições climáticas que favorecem o seu arroz também favorecem o arroz vermelho, aumentando a competição por recursos.

Estudos demonstram o tamanho do prejuízo: uma população de apenas 20 plantas de arroz vermelho por m², competindo com a lavoura por 120 dias, pode reduzir a produtividade da cultura em até 68%.

close-up detalhado de uma panícula de arroz em fase de maturação. O foco seletivo destaca os grãos em prime Arroz vermelho (Oryza sativa L.) (Fonte: Planeta Arroz)

Recomendações de manejo para o arroz-vermelho

Para minimizar a infestação em sua lavoura, é fundamental adotar um conjunto de práticas de manejo:

Uso de Sementes Certificadas

Uma das principais portas de entrada do arroz vermelho na lavoura é o uso de sementes não certificadas ou “salvas”. Por isso, invista sempre em sementes de boa procedência. Isso garante não apenas a qualidade genética da sua cultura, mas também a ausência de sementes de plantas invasoras.

Escolha da Cultivar

  • Cultivares de Ciclo Precoce: Dê preferência a cultivares de ciclo mais curto. Com elas, a colheita do arroz pode ser feita antes que o arroz vermelho amadureça e libere suas sementes. Essa estratégia ajuda a reduzir o banco de sementes no solo para as próximas safras.
  • Cultivares Clearfield®: Outra opção estratégica é o uso de cultivares com tecnologia Clearfield®. Elas são geneticamente tolerantes a herbicidas do grupo das imidazolinonas, permitindo o controle químico seletivo do arroz vermelho sem afetar a sua lavoura.

Rotação de Culturas

A rotação de culturas é uma prática fundamental para quebrar o ciclo de plantas daninhas, pragas e doenças. A alternância com culturas como soja e milho permite o uso de diferentes herbicidas e manejos, reduzindo drasticamente o banco de sementes de arroz vermelho.

Controle Químico

Devido à grande semelhança com o arroz cultivado, existem poucas opções de herbicidas seletivos. As alternativas registradas são:

  • Imazapic + imazethapyr (exclusivo para cultivares Clearfield®)
  • Glifosato (em dessecação pré-plantio)
  • Paraquat (em dessecação pré-plantio)
  • Oxadiazon
  • Oxyfluorfen

Importante: As práticas de manejo como uso de sementes certificadas, escolha da cultivar e rotação de culturas são eficazes contra a maioria das plantas daninhas. Por isso, nos próximos tópicos, vamos focar principalmente nas opções de controle químico para cada espécie.

2 – Capim-coloninho (Echinochloa colona)

O capim-coloninho é uma planta daninha de ciclo anual: nasce, cresce e morre dentro de um ano. Suas principais características são o porte ereto, a formação de touceiras e a ausência de pelos, sendo classificada como glabra.

É muito comum em solos úmidos ou inundados, mas também consegue se desenvolver em solos mais secos, como nos cultivos de sequeiro.

Além da competição direta com o arroz, esta planta serve como hospedeira alternativa para o nematoide Meloidogyne incognita, mais conhecido como nematoide das galhas, o que aumenta os riscos sanitários para a lavoura.

close-up detalhado de uma planta de capim-arroz (gênero Echinochloa), uma conhecida planta daninha, em prim Capim-coloninho (Echinochloa colona) (Fonte: Moreira e Bragança, 2010)

Recomendações de manejo para capim-coloninho

Para o controle químico do capim-coloninho na cultura do arroz, os principais herbicidas registrados são:

  • Cialofope
  • Quizalofop
  • Clomazone
  • Glifosato
  • Imazapic
  • Trifluralina
  • Flourfiroxifen
  • Oxadiazon

3 – Capim-arroz (Echinochloa crus-galli)

O capim-arroz é outra invasora muito frequente, principalmente em áreas de arroz irrigado. No Brasil, encontramos três variedades principais: crus-galli, crus-pavonis e mitis.

São plantas de ciclo anual, com porte ereto, que podem formar touceiras ou não, dependendo da variedade.

O grande desafio no manejo do capim-arroz é o histórico de resistência a herbicidas. É fundamental conhecer os casos já registrados no Brasil para planejar uma rotação de princípios ativos eficiente:

  • 1999: Registrado o primeiro caso de resistência ao herbicida quincloraque.
  • 2009: Identificada resistência múltipla a imazethapyr, bispyribac, quincloraque e penoxsulam.
  • 2015: Confirmada resistência aos herbicidas cialofope, quincloraque e penoxsulam.

primeiro plano, com grande detalhe, a inflorescência de uma planta daninha, muito provavelmente o capim-arr Capim-arroz (Echinochloa crus-galli) (Fonte:Agrolink)

Recomendações de manejo para capim-arroz

As opções de herbicidas registrados para o controle do capim-arroz são:

  • Trifluralina
  • Glifosato
  • Cialofope
  • Clomazone
  • Paraquate
  • Propanil
  • Florfiroxifen
  • Quizalofop
  • Penoxsulam
  • Oxadiazon
  • Quincloraque
  • Bispyribac

4 – Capim-colchão (Digitaria ssp.)

O nome popular capim-colchão geralmente se refere a três espécies do gênero Digitaria: Digitaria horizontalis, Digitaria ciliaris e Digitaria sanguinalis.

A D. horizontalis é a mais comum no país, infestando tanto lavouras anuais quanto perenes. Já a D. sanguinalis é menos frequente, sendo encontrada com maior intensidade na região Sul.

Todas são plantas de ciclo anual, herbáceas, que podem crescer de forma ereta ou mais rasteira (decumbentes) e que formam touceiras.

Recomendações de manejo do capim-colchão

As opções de controle químico para o capim-colchão na cultura do arroz incluem:

  • Glifosato
  • Trifluralina
  • Cialofope
  • Propanil
  • Quizalofop
  • Fenoxaprop
  • Oxadiazon

5 – Trapoeraba (Commelina benghalensis)

A trapoeraba é uma planta daninha de ciclo perene, com crescimento semi-prostrado (rasteiro) e caules suculentos.

A trapoeraba infesta lavouras em todo o país, mas se desenvolve melhor em solos férteis, com boa umidade e algum nível de sombreamento.

Recomendações de manejo para trapoeraba

A trapoeraba é considerada uma planta de difícil controle. Seus caules suculentos e a superfície de suas folhas possuem mecanismos que dificultam a penetração e absorção de herbicidas.

Para um controle eficaz, é essencial seguir as boas práticas de aplicação. Isso inclui:

  1. Não usar volumes de calda muito baixos, para garantir boa cobertura.
  2. Utilizar um bom adjuvante para quebrar a tensão superficial e melhorar a absorção do produto.

As opções de manejo químico para a trapoeraba registradas para o arroz são:

  • 2,4 D
  • Metsulfuron
  • Bentazon
  • Imazamox

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Conclusão

O controle de plantas daninhas é um pilar para garantir a produtividade da sua lavoura de arroz. Ignorar a infestação pode levar a perdas significativas, como vimos no caso do arroz vermelho, que pode comprometer mais da metade da sua safra.

Neste artigo, detalhamos as características das 5 principais invasoras e as estratégias de manejo para cada uma. Lembre-se que o sucesso depende de um plano integrado, que combina sementes de qualidade, rotação de culturas e o uso correto e rotacionado de herbicidas, sempre atento aos casos de resistência.

Use estas informações para planejar suas ações, monitorar sua lavoura de perto e proteger o potencial produtivo da sua safra


Glossário

  • Ciclo Anual: Refere-se a plantas que completam todo o seu ciclo de vida – germinação, crescimento, floração, produção de sementes e morte – dentro de um único ano agrícola. O capim-arroz é um exemplo de planta daninha de ciclo anual.

  • Colmos: Termo técnico para os caules de plantas da família das gramíneas, como o arroz e o milho. No artigo, é mencionado que o arroz vermelho possui colmos mais finos que o arroz comercial.

  • Cultivares Clearfield®: Variedades de arroz geneticamente modificadas para serem tolerantes a herbicidas do grupo das imidazolinonas. Essa tecnologia permite o controle químico seletivo do arroz vermelho e outras daninhas sem prejudicar a lavoura.

  • Decumbente: Descreve o hábito de crescimento de uma planta cujos caules se deitam sobre o solo, mas com as pontas erguidas. O capim-colchão e o arroz vermelho podem apresentar essa característica.

  • Deiscência precoce: Processo natural pelo qual a planta libera suas sementes antes ou durante a colheita da cultura principal. O arroz vermelho apresenta essa característica, o que aumenta o banco de sementes no solo para a safra seguinte.

  • Glabra: Termo botânico que descreve uma planta ou parte dela que não possui pelos (tricomas), tendo uma superfície lisa. O capim-coloninho é um exemplo de planta daninha glabra.

  • Imidazolinonas: Grupo químico de herbicidas utilizado para o controle de plantas daninhas de folhas largas e gramíneas. Sua aplicação na cultura do arroz é viável apenas em cultivares com tecnologia Clearfield®.

  • Pericarpo: Camada que envolve a semente, popularmente conhecida como a “casca” do grão. No caso do arroz vermelho, é o pericarpo de cor avermelhada que dá nome à planta e a diferencia do arroz comercial.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Gerenciar um plano integrado contra plantas daninhas e, ao mesmo tempo, controlar os custos de produção são os maiores desafios para o produtor de arroz. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza o controle operacional e financeiro, permitindo o planejamento e registro de todas as pulverizações. Isso não só ajuda a rotacionar os herbicidas corretamente para evitar resistência, mas também fornece uma visão clara dos custos com insumos por talhão, garantindo que o manejo seja eficiente e lucrativo.

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Perguntas Frequentes

Por que o arroz vermelho é considerado a planta daninha mais prejudicial para a lavoura de arroz?

O arroz vermelho é tão prejudicial porque pertence à mesma espécie do arroz cultivado, o que torna o controle químico seletivo quase impossível sem tecnologias específicas. Além disso, ele compete agressivamente por recursos e libera suas sementes antes da colheita, contaminando o solo para as próximas safras e causando perdas de produtividade que podem superar 60%.

O que é a tecnologia Clearfield® e por que ela é importante no controle de plantas daninhas?

A tecnologia Clearfield® se refere a cultivares de arroz geneticamente tolerantes a herbicidas do grupo das imidazolinonas. Essa característica permite que o produtor aplique esses herbicidas na lavoura para controlar seletivamente o arroz vermelho e outras gramíneas, sem causar danos à cultura do arroz. É uma ferramenta estratégica, especialmente em áreas com alta infestação.

Como posso evitar ou retardar o surgimento de resistência a herbicidas na minha lavoura?

Para evitar a resistência, é fundamental rotacionar herbicidas com diferentes mecanismos de ação, ou seja, não usar o mesmo produto ou produtos da mesma família repetidamente. Além disso, utilize sempre as doses recomendadas, faça aplicações nos estágios corretos de desenvolvimento das daninhas e integre outras práticas, como a rotação de culturas, para reduzir a pressão de seleção.

O artigo menciona ‘rotação de culturas’. Qual o benefício prático dessa técnica para o controle de daninhas no arroz?

A rotação com culturas como soja ou milho quebra o ciclo de vida das plantas daninhas específicas do arroz, como o arroz vermelho. Essa prática permite o uso de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, que não seriam seletivos para o arroz, limpando a área e reduzindo drasticamente o banco de sementes no solo para quando o arroz for plantado novamente.

Por que a trapoeraba é considerada uma planta de difícil controle?

A trapoeraba é difícil de controlar devido às suas características físicas. Seus caules suculentos e suas folhas com superfície cerosa dificultam a absorção e a translocação dos herbicidas. Para um controle mais eficaz, é crucial garantir uma boa cobertura da planta, utilizando volumes de calda adequados e adicionando adjuvantes que ajudem a quebrar essa barreira.

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