Enfrentar as plantas daninhas é um dos desafios que mais tiram o sono de quem produz, não é verdade? Sabemos bem que os custos com o manejo, especialmente com herbicidas, representam uma parte significativa do orçamento da lavoura.
Por isso, preparamos um guia prático sobre as seis espécies de plantas daninhas mais comuns na soja, com dicas valiosas para um controle mais eficaz.
Uma estratégia fundamental, que já adiantamos aqui, é realizar uma boa dessecação antes do plantio. Essa prática ajuda a reduzir a competição inicial, dando à soja uma vantagem crucial desde o início. Vamos ver em detalhes como lidar com cada uma dessas invasoras.
As 6 principais plantas daninhas da soja
A cultura da soja pode ser afetada por diversas espécies de plantas daninhas. A seguir, listamos as 6 que mais causam problemas e as formas de controle mais recomendadas para cada uma:
- Capim-amargoso
- Capim-pé-de-galinha
- Amendoim-bravo (ou Leiteira)
- Buva
- Trapoeraba
- Caruru
1. Capim-amargoso (Digitaria insularis)
Quando se fala em plantas daninhas da soja, o capim-amargoso é, sem dúvida, um dos primeiros nomes que vêm à mente. Conhecido também como capim-flecha ou capim-pororó, é uma planta de ciclo perene (vive por mais de dois anos), cresce de forma ereta e forma touceiras densas.
Sua capacidade de se espalhar é alta, pois se reproduz tanto por sementes quanto por rizomas (caules subterrâneos), o que torna seu controle um verdadeiro desafio.
Na cultura da soja, a presença de apenas uma planta de capim-amargoso por metro quadrado já pode causar perdas de produtividade de até 20%.
Herbicidas registrados para o controle:
- Graminicidas: cletodim, fenoxaprop, haloxifop, quizalofop e setoxidim.
- Outros mecanismos de ação: diclosulam, imazapir, imazetapir, glifosato, glufosinato, s-metolachlor, trifluralina, e a mistura flumioxazin + imazetapir.
Em um estudo da 37ª Reunião de Pesquisa de Soja (RPS 2019), pesquisadores obtiveram bons resultados no controle do capim-amargoso usando herbicidas em pré-emergência com as seguintes doses:
- Diclosulam:
29,4 g i.a. ha-1
(gramas de ingrediente ativo por hectare). - Trifluralina:
1.200 g i.a. ha-1
. - Trifluralina + Imazetapir:
1.200 + 160 g i.a. ha-1
. - S-metolacloro:
1.440 g i.a. ha-1
.
Para plantas já estabelecidas (perenizadas) ou em áreas com alta infestação, o manejo exige uma abordagem mais robusta. Geralmente, são necessárias três aplicações sequenciais de herbicidas ou uma roçada seguida de duas aplicações.
Uma estratégia eficaz é combinar o glifosato com outros produtos. Veja um exemplo de manejo sequencial:
- 1ª aplicação: Glifosato + Graminicida.
- 2ª aplicação (na rebrota): Um produto com ação de contato para eliminar o que restou.
- 3ª aplicação: Um graminicida diferente do utilizado na primeira aplicação para rotacionar os mecanismos de ação.
2. Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica)
O capim-pé-de-galinha é outra gramínea problemática. Pode ser anual ou perene, forma touceiras e se reproduz principalmente por sementes.
Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica)
Herbicidas registrados para o controle:
- Graminicidas: cletodim, fenoxaprop, haloxifop, quizalofop, setoxidim, fluazifop, propaquizafop e tepraloxidim.
- Outros mecanismos de ação: metribuzin, sulfentrazone, glifosato, glufosinato, s-metolachlor, trifluralina, carfentrazone + clomazone, clomazone, e as misturas glifosato + imazethapyr e glifosato + s-metolachlor.
Agora, falando das folhas largas, vamos destacar algumas das principais plantas daninhas da soja: o amendoim-bravo, a buva e o caruru.
3. Amendoim-bravo ou Leiteira (Euphorbia heterophylla)
Também chamado de flor-dos-poetas, o amendoim-bravo pertence à família Euphorbiaceae. É uma planta de ciclo anual, ereta e que libera um líquido leitoso (látex) quando cortada. Sua reprodução é por sementes.
Leiteiro (Euphorbia heterophylla)
O sucesso dessa planta daninha se deve a três características principais:
- Longa viabilidade das sementes: Elas sobrevivem por muito tempo no solo.
- Germinação profunda: Consegue emergir de camadas mais profundas do solo.
- Crescimento rápido: Compete agressivamente com a soja por luz e nutrientes.
Antes da soja RR (tolerante ao glifosato), o leiteiro era controlado principalmente com herbicidas inibidores da ALS. No entanto, em 1993, foi relatado o primeiro caso de resistência a produtos como chlorimuron e imazethapyr. A chegada da soja RR facilitou o manejo, mas a trégua durou pouco: na safra 2018/19, foram confirmados biótipos de leiteiro resistentes também ao glifosato.
Herbicidas registrados para o controle:
- 2,4-D
- Acifluorfen + bentazon
- Chlorimuron
- Dicamba
- Diclosulam
- Diquat
- Fluazifop + fomesafen
- Sulfentrazone
- Saflufenacil
- Lactofen
- Imazethapyr
- Imazaquin
- Imazamox
- Glufosinato
- Glifosato + imazethapyr
Estudos de Ramires et al. (2010) mostraram que, para plantas de leiteiro com uma a três folhas, a associação de glifosato com outros herbicidas (como cloransulam, fomesafen ou lactofen) resultou em um controle superior a 90%.
4. Buva (Conyza sumatrensis, C. bonariensis e C. canadensis)
A buva, também conhecida como voadeira, pertence à família Asteraceae. São plantas de ciclo anual que, se não controladas, podem produzir até 350 mil sementes por planta.
Suas sementes são extremamente leves e se espalham facilmente pelo vento, além de permanecerem viáveis por longos períodos no banco de sementes do solo. Outro problema é que plantas de buva no final do ciclo da soja servem como hospedeiras para doenças e pragas, que podem atacar a cultura seguinte.
Plantas de buva (Conyza spp.)
Herbicidas registrados para o controle (varia por espécie de Conyza):
- C. sumatrensis: 2,4-D, chlorimuron e diclosulam.
- C. canadensis: Imazethapyr, glifosato e saflufenacil.
- C. bonariensis: 2,4-D, sulfentrazone, saflufenacil, diclosulam, dicamba, diquat, chlorimuron, flumioxazin, imazapyr, glufosinato e glifosato.
5. Trapoeraba (Commelina benghalensis)
A trapoeraba costuma aparecer com mais força no final do ciclo da cultura da soja. Embora tenha a aparência de uma planta de folha larga, ela é botanicamente classificada como folha estreita.
Seu controle é complexo porque ela produz sementes tanto na parte aérea quanto subterrânea, além de apresentar tolerância natural ao herbicida glifosato. A falta de controle durante o ciclo da soja pode criar um grande problema para a cultura sucessora.
Herbicidas utilizados para o manejo: 2,4-D, glufosinato, chlorimuron, sulfentrazone, glifosato + imazethapyr, dicamba, clomazone, carfentrazone, lactofen, imazethapyr, s-metolachlor, fomesafen e flumioxazin.
Atenção: É fundamental consultar a bula de cada produto para verificar a seletividade e o momento correto de aplicação na cultura da soja.
6. Caruru
O gênero caruru (Amaranthus) inclui diversas espécies que infestam as lavouras de soja. As mais comuns são:
- Caruru-rasteiro (Amaranthus deflexus)
- Caruru-roxo (Amaranthus hybridus var. paniculatus)
- Caruru (Amaranthus hybridus var. patulus)
- Caruru-gigante (Amaranthus retroflexus)
- Caruru-de-espinho (Amaranthus spinosus)
- Caruru-de-mancha (Amaranthus viridis)
Caruru (Amaranthus hybridus var. patulus), caruru-roxo (Amaranthus hybridus var. paniculatus) e caruru-de-mancha (Amaranthus viridis)
Para o controle de caruru e muitas outras daninhas, o uso de herbicidas em pré-emergência se tornou uma ferramenta essencial no manejo integrado.
Por que usar herbicidas em pré-emergência da soja
A aplicação de herbicidas em pré-emergência oferece diversas vantagens estratégicas:
- Aumenta o período anterior à interferência (PAI): Dá mais tempo para a soja se estabelecer sem competição.
- Reduz o banco de sementes do solo: Diminui a quantidade de sementes de plantas daninhas viáveis para as próximas safras.
- Rotaciona mecanismos de ação: Muitos pré-emergentes agem de forma diferente dos pós-emergentes, ajudando a prevenir a resistência.
- Dá vantagem competitiva para a soja: A cultura emerge em um ambiente “limpo”, o que favorece seu desenvolvimento inicial.
Como vimos, para cada planta daninha existe uma opção de herbicida pré-emergente. Aqui estão os principais registrados para a soja e sua especialidade:
- Diclosulam: Possui ação residual e é ótimo no controle de folhas largas, como a buva, e também de algumas gramíneas, como o capim-amargoso.
- Clomazone: Com ação residual, é muito usado no sistema de aplique-plante. Controla bem gramíneas de sementes pequenas, como capim-colchão e capim-pé-de-galinha.
- Flumioxazin: Também residual, pode ser usado no aplique-plante da soja. É eficaz contra folhas largas e algumas gramíneas.
- S-metolachlor: Residual, focado no controle de gramíneas de sementes pequenas, como capim-pé-de-galinha e capim-amargoso.
- Sulfentrazone: Possui ação residual sobre folhas largas, algumas gramíneas e também sobre a tiririca.
- Trifluralin: Residual, com bom controle sobre plantas daninhas de semente pequena, como o capim-amargoso e o capim-pé-de-galinha.
Conclusão
Neste artigo, detalhamos as principais espécies de plantas daninhas que ameaçam a produtividade da soja, incluindo caruru, trapoeraba, capim-amargoso, capim-pé-de-galinha e buva.
Analisamos os herbicidas registrados para o controle de cada uma e destacamos a importância estratégica do uso de produtos pré-emergentes para um manejo mais eficaz e sustentável.
Lembre-se sempre: a seletividade dos herbicidas para a soja pode variar. Portanto, a consulta à bula do produto é indispensável para posicionar corretamente as aplicações e garantir a segurança da sua lavoura.
Glossário
Ação residual: Capacidade de um herbicida de permanecer ativo no solo por um período após a aplicação, controlando novas plantas daninhas que tentam germinar. É uma característica fundamental dos herbicidas pré-emergentes.
Biótipos: Grupos de plantas dentro de uma mesma espécie que desenvolveram características genéticas distintas, como a resistência a um determinado herbicida. O texto cita, por exemplo, biótipos de amendoim-bravo resistentes ao glifosato.
Ciclo perene: Refere-se a plantas que vivem por mais de dois anos, rebrotando a cada estação. Plantas daninhas perenes, como o capim-amargoso, são mais difíceis de controlar por possuírem estruturas de reserva de energia, como os rizomas.
Dessecação: Prática de aplicar herbicidas antes do plantio para eliminar toda a vegetação existente na área. Essa técnica garante que a cultura comece a se desenvolver em um campo “limpo”, sem a competição inicial por luz, água e nutrientes.
g i.a. ha⁻¹ (gramas de ingrediente ativo por hectare): Unidade de medida para a dosagem de defensivos agrícolas. Indica a quantidade exata do princípio ativo do produto (a substância que efetivamente controla a praga ou daninha) a ser aplicada em uma área de um hectare (10.000 m²).
Graminicidas: Herbicidas seletivos desenvolvidos especificamente para controlar plantas da família das gramíneas (capins). São muito utilizados na soja para combater invasoras como o capim-amargoso sem prejudicar a cultura principal.
Herbicidas em pré-emergência: Produtos aplicados no solo após o plantio, mas antes que as plantas daninhas (e, em alguns casos, a própria cultura) germinem. Eles formam uma barreira química na superfície do solo para impedir o desenvolvimento inicial das invasoras.
Rizomas: Caules subterrâneos que crescem horizontalmente e armazenam nutrientes. Permitem que plantas como o capim-amargoso se espalhem e rebrotem com vigor, tornando seu controle mais desafiador.
Soja RR (Roundup Ready): Variedade de soja geneticamente modificada para ser tolerante ao herbicida glifosato. Essa tecnologia permite que o produtor aplique glifosato sobre toda a área para controlar as plantas daninhas sem matar a soja.
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Perguntas Frequentes
Qual é a melhor época para aplicar herbicidas pré-emergentes na soja?
A aplicação ideal de herbicidas pré-emergentes ocorre logo após o plantio, no sistema conhecido como ‘aplique-plante’, ou em até 48 horas. O objetivo é criar uma barreira química no solo antes da germinação das plantas daninhas, garantindo que a cultura da soja emerja em um ambiente limpo e com máxima vantagem competitiva inicial.
Por que o capim-amargoso (Digitaria insularis) é tão difícil de controlar?
O controle do capim-amargoso é um grande desafio por duas razões principais: seu ciclo perene e sua dupla forma de reprodução. Por ser perene, ele possui rizomas (caules subterrâneos) que armazenam energia e permitem a rebrota mesmo após o controle da parte aérea. Além disso, ele se espalha tanto por sementes quanto por esses rizomas, o que aumenta drasticamente seu potencial de infestação.
O que significa ‘rotação de mecanismos de ação’ de herbicidas e por que é importante?
Rotação de mecanismos de ação é a prática de alternar herbicidas que matam as plantas daninhas de formas diferentes. Essa estratégia é crucial para prevenir ou retardar o desenvolvimento de resistência, como os casos relatados para a buva e o amendoim-bravo. Usar repetidamente o mesmo tipo de herbicida seleciona indivíduos resistentes, que se multiplicam e tornam o controle ineficaz.
Se a minha lavoura já está infestada com buva (Conyza spp.), qual é a abordagem mais eficaz?
Para controlar a buva já estabelecida, especialmente em estágios mais desenvolvidos, o manejo sequencial é a melhor abordagem. Geralmente, recomenda-se uma primeira aplicação combinando herbicidas sistêmicos (como glifosato + 2,4-D ou dicamba) para translocar o produto pela planta, seguida, após alguns dias, por uma segunda aplicação com um herbicida de contato (como diquat ou glufosinato) para eliminar a rebrota.
Qual a diferença prática entre controlar uma planta daninha de folha larga e uma de folha estreita na soja?
A principal diferença prática está na seletividade dos herbicidas. Existem produtos específicos para cada grupo, como os graminicidas, que controlam apenas folhas estreitas (capins) sem afetar a soja (folha larga). Entender a classificação correta de cada daninha, como a trapoeraba que parece folha larga mas é folha estreita, é fundamental para escolher o herbicida correto e garantir um controle eficaz sem causar fitotoxidez à cultura.
O uso de herbicidas pré-emergentes elimina a necessidade de aplicações em pós-emergência?
Não necessariamente. Os pré-emergentes reduzem significativamente a pressão inicial das plantas daninhas e o banco de sementes, dando à soja uma grande vantagem. No entanto, dependendo do nível de infestação, do período residual do produto e das condições climáticas, alguns escapes podem ocorrer, tornando necessária uma aplicação complementar em pós-emergência para garantir que a lavoura permaneça limpa até o fechamento das entrelinhas.
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- Herbicidas pré-emergentes para soja: Os melhores produtos e suas orientações: Enquanto o artigo principal introduz a importância dos pré-emergentes, este candidato detalha o ‘como fazer’ de forma magistral. Seu valor exclusivo está nos 6 pontos cruciais de atenção antes de aplicar, abordando fatores práticos como tipo de solo, palhada e o importantíssimo efeito residual (carryover) na cultura sucessora, preenchendo uma lacuna operacional crítica.
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- Como reduzir os custos da gestão de herbicidas e tornar o manejo mais eficiente: Este artigo oferece o contexto estratégico e financeiro que justifica todas as recomendações técnicas do artigo principal. Seu valor único é a quantificação do custo da resistência em R$/hectare, provando o retorno sobre o investimento de um manejo bem-feito e conectando o controle de daninhas à viabilidade econômica da fazenda.