Você continua enfrentando problemas e custos elevados para manejar as plantas daninhas durante a safra? A boa notícia é que você pode reduzir significativamente essa despesa ao adotar um manejo adequado durante o período da pré-safra.
Nos últimos anos, o custo com o controle de plantas daninhas tem aumentado de forma consistente. Parte desse aumento se deve ao crescente número de casos de resistência a defensivos agrícolas, o que torna o manejo cada vez mais complexo e caro.
Atualmente, o Brasil já registra 49 casos de resistência, sendo a maioria relacionada a ervas daninhas resistentes ao herbicida glifosato. Este cenário impacta diretamente os custos de produção, elevando seus gastos e diminuindo a margem de lucro.
Implementar um bom manejo de plantas daninhas na pré-safra é uma estratégia fundamental. Ela não só ajuda a controlar as invasoras de forma mais eficaz, mas também previne o desenvolvimento de novos casos de resistência.
O que são Plantas Daninhas?
De forma direta, plantas daninhas são quaisquer plantas que crescem em um local onde não são desejadas. Segundo o especialista Harri Lorenzi (2014), elas interferem direta e indiretamente nas culturas de interesse econômico.
Essa interferência causa perdas de produção que podem variar de 20% a 30%, dependendo do nível de infestação e das práticas de manejo adotadas.
Nessa categoria, incluímos também as chamadas tigueras (ou guaxas).
- [Tiguera]: significa plantas voluntárias de culturas anteriores que germinam na lavoura atual. Um exemplo clássico é o milho tiguera crescendo no meio da soja.
Essas plantas competem por recursos essenciais como água, luz e nutrientes. Além disso, podem servir como hospedeiras para pragas e doenças, criando uma “ponte verde” entre as safras.
As 7 Principais Plantas Daninhas que Ameaçam sua Lavoura
No Brasil, a presença das principais plantas daninhas varia conforme a região, o tipo de cultivo e as condições do ambiente. No entanto, algumas espécies se destacam pela alta adaptabilidade, capacidade de reprodução e resistência aos métodos de controle.
Conheça a seguir as plantas daninhas predominantes no território brasileiro e os problemas que elas causam na lavoura.
1. Buva (Conyza spp.)
A buva é uma das invasoras mais conhecidas. Existem três espécies principais: Conyza canadensis, Conyza bonariensis e Conyza sumatrensis.
- Dispersão: Suas sementes são leves e se espalham facilmente pelo vento, o que explica sua presença na maior parte das lavouras do país.
- Resistência: No Brasil, já existem oito casos registrados de buva resistente a herbicidas. Desses, dois são de resistência múltipla, ou seja, a planta é resistente a mais de um mecanismo de ação de herbicida.
O manejo eficaz dessa espécie durante a entressafra é crucial para prevenir o aumento da resistência, que já é um problema consolidado em grande parte do Brasil.
Conyza bonariensis (Fonte: Max Licher em SEINet)
Leia também:
- Como fazer o controle da buva resistente a glifosato
- O guia do manejo eficiente da buva (Conyza spp.)
2. Leiteira ou Amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla)
O leiteiro, também conhecido como amendoim-bravo, é outra planta daninha de grande importância.
- Dificuldade de Controle: É uma das plantas de manejo mais difícil, especialmente na cultura da soja.
- Dispersão: Está presente em quase todo o Brasil e pode germinar o ano todo, mas seu pico ocorre nas épocas mais quentes. Suas sementes são arremessadas pela própria planta a distâncias de dois a cinco metros.
- Resistência: No Brasil, já foram relatados casos de resistência a herbicidas inibidores da ALS e da PROTOX.
- Danos Indiretos: Além da competição direta, essa planta é hospedeira do vírus do mosaico-anão, afetando indiretamente a produtividade da cultura.
Apesar dos desafios, seu controle pode ser otimizado com a rotação de culturas na entressafra.
(Fonte: Plants Database)
3. Caruru (Amaranthus spp.)
O gênero caruru inclui algumas das plantas daninhas mais problemáticas do Brasil.
- Características: Possui alta adaptabilidade, crescimento rápido e uma enorme capacidade de reprodução. Uma única planta pode produzir milhares de sementes, que permanecem viáveis no solo por vários anos.
- Espécies Comuns: As mais encontradas são o caruru-roxo (Amaranthus hybridus), o caruru-de-mancha (Amaranthus viridis) e o temido caruru-palmeri (Amaranthus palmeri), conhecido por sua agressividade e múltiplos casos de resistência.
Você pode ter interesse por:
- Entenda como fazer o manejo de Amaranthus hybridus (Caruru)
- O guia completo do manejo do caruru Amaranthus palmeri
4. Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica)
Encontrado em áreas agrícolas e pastagens, o capim-pé-de-galinha é famoso por sua resistência e competição.
- Resistência: É conhecido por sua alta resistência ao glifosato.
- Reprodução: A planta se reproduz por sementes, produzidas em grande quantidade e com capacidade de germinar ao longo de várias safras.
- Adaptabilidade: Desenvolve-se bem em solos compactados e suporta condições adversas, como altas temperaturas e baixa umidade.
- Uso Alternativo: Em algumas regiões, quando manejado adequadamente, pode ser utilizado como forragem para animais.
Doses do herbicida glifosato em população suscetível (frente) e resistente (atrás). (Fonte: Chen et al. 2017)
5. Azevém (Lolium multiflorum)
O azevém pode ser tanto um problema quanto uma solução, dependendo do contexto.
- Contexto: É muito comum em regiões de clima temperado e frequentemente usado como planta forrageira. Contudo, quando surge em áreas de cultivo não planejadas, torna-se uma planta daninha altamente competitiva.
- Ocorrência: É facilmente encontrado nas lavouras do Rio Grande do Sul, com casos de resistência identificados em plantações de soja, milho e trigo.
(Fonte: Heap, 2017)
6. Capim-branco (Brachiaria decumbens)
O capim-branco é uma invasora muito comum, especialmente em áreas de pastagem que são convertidas para a agricultura.
- Problema: Invade sistemas agrícolas e compete fortemente com culturas como soja, milho, arroz e cana-de-açúcar.
- Manejo: Sua resistência a alguns herbicidas e seu crescimento contínuo dificultam o controle. Práticas como rotação de culturas, adubação adequada e controle mecânico (gradagem e capina) são eficazes para seu manejo.
7. Capim-amargoso (Digitaria insularis)
Um dos maiores desafios atuais no campo.
- Resistência: Em 2008, foram relatados os primeiros casos de resistência ao herbicida glifosato em lavouras de soja no Paraná. Desde então, o problema se espalhou.
- Características: É uma planta perene, que se adapta bem a solos compactados e condições de estresse, como seca e altas temperaturas.
- Controle: O manejo exige uma abordagem integrada, combinando herbicidas com diferentes mecanismos de ação, rotação de culturas e um bom sistema de plantio direto.
Manejo de Plantas Daninhas na Pré-Safra
O manejo integrado é a base para um controle bem-sucedido. Dificilmente uma única ação resolverá o problema. A combinação de diferentes métodos na pré-safra trará reflexos positivos durante toda a safra.
Aqui estão algumas práticas infalíveis para um manejo eficaz nesse período:
1. Cobertura do Solo
A cobertura do solo consiste em usar materiais orgânicos ou culturas específicas para proteger e melhorar o solo. Ela pode ser feita de duas formas:
- Plantas de cobertura: Uso de leguminosas (crotalária, feijão-de-porco) e gramíneas (braquiária, milheto).
- Cobertura morta (mulching): Uso de palha ou restos culturais da safra anterior.
Principais benefícios:
- Controle de plantas daninhas: A cobertura forma uma barreira física que impede a germinação e o crescimento das invasoras.
- Prevenção da erosão: Protege o solo do impacto da chuva e do vento.
- Retenção de umidade: Mantém o solo úmido por mais tempo.
- Aumento da matéria orgânica: Melhora a fertilidade e a estrutura do solo.
- Regulação da temperatura do solo: Evita extremos de calor e frio.
É fundamental escolher as plantas de cobertura adequadas para sua região e sistema de produção, além de manejar corretamente a decomposição da palhada para não prejudicar a cultura principal.
Área em pousio (esquerda) e área com planta de cobertura (direita) (Fonte: News de Rio Verde)
2. Uso de Herbicidas Pré-emergentes
Herbicidas pré-emergentes são aplicados para controlar plantas daninhas antes que elas germinem. Eles criam uma barreira química na camada superficial do solo, que impede o desenvolvimento das plântulas invasoras.
Vantagens:
- Reduz a competição inicial: A cultura principal se desenvolve “no limpo”, sem competir por recursos desde o início.
- Diminui a necessidade de capinas ou aplicações em pós-emergência.
- Aumenta a produtividade ao garantir um bom arranque para a lavoura.
Pontos de atenção:
- Escolha correta do produto: O herbicida deve ser seletivo para a sua cultura e eficaz contra as plantas daninhas alvo.
- Risco de resistência: O uso repetido do mesmo mecanismo de ação pode selecionar plantas resistentes.
- Condições do solo: A umidade e a matéria orgânica do solo influenciam a eficácia do produto.
- Fitotoxicidade: Uma aplicação mal feita ou em condições erradas pode prejudicar a cultura.
O uso responsável dessa tecnologia é uma ferramenta poderosa para o manejo eficiente das invasoras.
Conclusão
Fica claro que todas as estratégias de controle de plantas invasoras exigem um bom planejamento.
Neste artigo, você revisou o que são plantas daninhas, identificou as principais espécies que causam prejuízos e aprendeu quais delas já apresentam resistência a herbicidas.
Agora, você também conhece as melhores práticas de manejo para a pré-safra e está mais preparado para aplicá-las em sua propriedade. Faça seu planejamento, integre diferentes métodos de controle e prepare-se para uma safra mais limpa e lucrativa.
Boa safra!
Saiba mais informações:
- 5 pragas agrícolas resistentes a defensivos agrícolas e como combatê-las
- Acerte nas aplicações de defensivos com planejamento agrícola
Glossário
Entressafra: Período entre o fim da colheita de uma cultura principal e o início do plantio da safra seguinte. É uma janela estratégica para realizar o manejo do solo e o controle de plantas daninhas.
Fitotoxicidade: Efeito tóxico de um produto químico (como um herbicida) sobre a cultura principal. Causa danos que vão desde a redução do crescimento até a morte da planta, geralmente por aplicação incorreta.
Glifosato: Tipo de herbicida de amplo espectro, um dos mais utilizados no mundo para o controle de plantas daninhas. O artigo destaca o aumento de espécies que se tornaram resistentes a ele.
Herbicidas pré-emergentes: Defensivos aplicados no solo antes que as plantas daninhas germinem. Eles criam uma barreira química na superfície do solo que impede o desenvolvimento inicial das invasoras.
Mecanismo de ação: Refere-se à maneira específica como um herbicida atua para matar a planta, como inibir uma enzima essencial. Rotacionar produtos com diferentes mecanismos de ação é fundamental para evitar a resistência.
Ponte verde: Situação em que plantas daninhas ou tigueras que sobrevivem na entressafra servem de hospedeiras para pragas e doenças, permitindo que esses problemas “pulem” de uma safra para a outra.
Resistência múltipla: Fenômeno em que uma planta daninha é resistente a dois ou mais herbicidas com mecanismos de ação diferentes. Um exemplo citado no texto é o da buva, o que torna seu controle muito mais complexo.
Tiguera: Também chamada de planta guaxa ou voluntária, é uma planta da cultura anterior que germina espontaneamente no meio da lavoura atual. Um exemplo clássico é o milho tiguera nascendo em um campo de soja.
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Lidar com o aumento dos custos de produção e, ao mesmo tempo, com a complexidade do manejo de plantas daninhas resistentes é um desafio constante. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza o controle financeiro e operacional, permitindo um acompanhamento preciso dos gastos com insumos e defensivos. Além disso, o registro das atividades no campo ajuda a planejar a rotação de herbicidas com mais eficiência, uma tática essencial para combater a resistência e proteger a produtividade da lavoura.
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Perguntas Frequentes
Por que o manejo de plantas daninhas na pré-safra é tão crucial para a lavoura?
O manejo na pré-safra é crucial porque permite que a cultura principal se desenvolva em um ambiente “limpo”, sem a competição inicial por água, luz e nutrientes. Além disso, essa estratégia ajuda a reduzir o banco de sementes de plantas daninhas no solo e é fundamental para quebrar o ciclo de espécies resistentes a herbicidas, diminuindo os custos e a complexidade do controle durante a safra.
O que diferencia uma planta ’tiguera’ de uma planta daninha comum?
A principal diferença é a origem. Uma planta daninha comum é uma espécie invasora que não faz parte do cultivo (como a buva ou o capim-amargoso). Já a ’tiguera’ é uma planta voluntária da cultura anterior que germina na safra atual, como um pé de milho crescendo no meio da lavoura de soja. Ambas competem por recursos e podem hospedar pragas, exigindo controle.
Como a cobertura de solo realmente impede o crescimento das plantas daninhas?
A cobertura de solo atua de duas formas principais. Primeiro, ela cria uma barreira física (seja com plantas de cobertura ou palhada) que bloqueia a passagem de luz solar, impedindo a germinação de muitas sementes de invasoras. Segundo, algumas plantas de cobertura liberam substâncias químicas que inibem o desenvolvimento de outras plantas ao redor, um efeito conhecido como alelopatia.
Qual o principal risco ao usar herbicidas pré-emergentes e como posso evitá-lo?
O principal risco é a fitotoxicidade, que é o dano causado pelo herbicida à cultura principal. Para evitar esse problema, é essencial escolher um produto seletivo para a sua cultura, respeitar rigorosamente a dose recomendada na bula, e realizar a aplicação sob condições ideais de umidade do solo, evitando solos muito secos ou encharcados.
O que é ‘resistência múltipla’ em plantas daninhas e por que isso é tão preocupante?
Resistência múltipla ocorre quando uma planta daninha se torna resistente a herbicidas de dois ou mais mecanismos de ação diferentes, como a buva citada no artigo. Isso é extremamente preocupante porque reduz drasticamente as opções de controle químico disponíveis, tornando o manejo muito mais complexo, caro e, em alguns casos, quase inviável apenas com defensivos.
É possível eliminar completamente plantas resistentes como o capim-amargoso de uma área?
Eliminar completamente é um objetivo muito difícil, pois suas sementes podem permanecer viáveis no solo por anos e a planta tem alta capacidade de reprodução. O foco do manejo integrado não é a erradicação, mas sim a redução da infestação a níveis que não causem danos econômicos, combinando rotação de culturas, herbicidas com diferentes mecanismos de ação e práticas culturais.
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