Canola: Um Guia Completo Sobre Cultivo e Vantagens na Rotação de Culturas

Redatora parceira Aegro.
Canola: Um Guia Completo Sobre Cultivo e Vantagens na Rotação de Culturas

A canola é a terceira oleaginosa mais produzida no mundo, ficando atrás apenas da soja e da palma. Oleaginosas são plantas cultivadas principalmente por seus óleos e gorduras, que são essenciais na nossa alimentação.

O cultivo da canola tem dois destinos principais: a produção de óleo para consumo humano e para biodiesel. Além disso, o farelo que sobra do processo é rico em proteínas, tornando-se um ingrediente valioso para rações animais.

Para o produtor rural, a canola se destaca como uma excelente alternativa econômica na rotação de culturas, especialmente com trigo, soja e milho. Sua inclusão no sistema ajuda a quebrar o ciclo de pragas e doenças que afetam esses cultivos, melhorando a saúde do solo.

Quer entender se essa cultura é uma boa opção para a sua fazenda? Continue a leitura e veja um guia completo sobre o manejo e os benefícios da canola.

O que é a Canola e por que ela se destaca?

A canola é uma planta de ciclo anual que pertence à mesma família do repolho e da couve-flor. No entanto, seu cultivo é focado na produção de grãos, de onde se extrai o óleo.

Uma de suas principais características é a boa adaptação ao frio, o que abre um grande potencial de cultivo em diversas regiões da América do Sul. A cultura já faz sucesso nas lavouras do Sul do Brasil.

Em 2020, a área semeada com canola no país foi de 35,5 mil hectares. Desse total, a grande maioria, 34,8 mil hectares, estava concentrada no Rio Grande do Sul.

Nessa região, o cultivo se encaixa perfeitamente na sucessão das culturas de verão, como soja e milho. A canola também é uma ótima opção para rotacionar com as culturas de inverno, como trigo, centeio, cevada, aveia e triticale.

Principais Benefícios da Plantação de Canola

Incluir a canola na rotação de culturas ajuda a reduzir a necessidade de defensivos agrícolas. Com isso, você também diminui os custos de produção e torna sua operação mais sustentável.

A cultura também é uma ótima alternativa econômica por um motivo prático: ela não exige a compra de máquinas e equipamentos específicos. Você pode usar a mesma estrutura que já tem na propriedade para outras culturas de grãos. Além disso, a canola possui uma boa produtividade, com médias de 1500 kg/ha.

Vamos ver em detalhes como a canola beneficia as principais culturas do seu sistema produtivo.

Vantagens para o Trigo

A rotação com canola diminui a incidência de doenças importantes na lavoura de trigo. Ela ajuda a eliminar as estruturas de fungos que sobrevivem nos restos culturais de uma safra para outra.

  • Fusariose e septoriose: são duas das principais doenças fúngicas que a rotação com canola ajuda a controlar.

A canola também é uma forte aliada no manejo do azevém, uma das plantas daninhas que mais dá dor de cabeça no trigo. A canola cresce de forma mais vigorosa e compete melhor por luz e nutrientes, sufocando o azevém.

Vantagens para a Soja

A canola não hospeda o nematoide do cisto da soja. Isso quebra o ciclo de vida da praga e ajuda a limpar as áreas contaminadas, protegendo a produtividade da sua soja.

Atenção: É preciso respeitar um intervalo mínimo de 20 dias entre a colheita da canola e a semeadura da soja. Isso é necessário por causa do efeito alelopático: a canola libera substâncias no solo que podem atrapalhar a germinação da soja se plantada logo em seguida.

Vantagens para o Milho

Quando o milho é cultivado após as culturas de inverno, a canola na rotação ajuda a reduzir problemas com doenças como a mancha de diplodia e a cercosporiose, protegendo o potencial produtivo da lavoura de verão.

Guia Prático: Como Manejar a Plantação de Canola

Para alcançar bons resultados e lucratividade com a canola, o planejamento é fundamental. A escolha da área mais adequada e a atenção a alguns detalhes de manejo fazem toda a diferença.

A canola é sensível a vários herbicidas com efeito residual, ou seja, que permanecem ativos no solo por um tempo.

Por isso, a recomendação é cultivar canola em áreas onde a safra anterior foi de soja resistente a glifosato. Essa prática diminui o risco de que resíduos de outros herbicidas no solo prejudiquem o desenvolvimento da canola.

A cultura se desenvolve melhor em áreas livres de doenças como canela-preta, sclerotinia (mofo-branco) e com baixa infestação de nabiça.

Ponto de Cuidado: Se a soja vem em sucessão à canola, o risco de mofo-branco pode aumentar. Fique atento ao manejo para evitar que a canola potencialize esse problema.

Ambiente de Cultivo Ideal para Canola

No Sul do Brasil, o período de cultivo vai de abril a novembro. A geada é um dos maiores inimigos da canola, especialmente em dois momentos críticos: no estádio de plântula (logo após a germinação) e durante o florescimento.

  • Na fase de plântula: os danos podem levar à morte das plantas. O risco é maior quando a geada ocorre de forma súbita, sem um período de pelo menos três dias de frio antes para aclimatar as plantas.
  • No florescimento: a geada pode causar o abortamento de flores, o que resulta em queda direta na produção. Além disso, pode provocar o efeito de “grão verde”.

Os grãos verdes ocorrem quando a geada atinge a planta durante a fase de enchimento. Isso causa um acúmulo de clorofila e o “desligamento” dos grãos da planta-mãe antes de estarem maduros.

A canola também pode rebrotar após uma geada, o que leva a uma maturação desuniforme na lavoura. Isso complica a colheita e aumenta a proporção de grãos verdes. Quanto mais avançada a fase da planta, maior o prejuízo, pois a chance de emitir novas hastes laterais é menor.

Para reduzir os danos por geadas, siga estas dicas:

  1. Evite semear em áreas de baixada, onde o ar frio se acumula.
  2. Evite áreas muito próximas a matas fechadas, que bloqueiam a circulação de ar.

composição de duas fotografias que ilustram o impacto de uma forte geada em uma lavoura. A foto superior mostr Geada em plantas de canola. (Fonte: Embrapa)

Sementes e Preparo do Solo para Semeadura

Utilize apenas sementes de híbridos registrados. Isso garante vários benefícios:

  • Evita a introdução de doenças na sua área por meio de sementes contaminadas.
  • Reduz o risco de precisar fazer uma ressemeadura, o que atrasaria o próximo cultivo.
  • Assegura uma emergência vigorosa e uniforme, facilitando a maturação e a colheita.

A profundidade de semeadura ideal para a canola é de 2 cm.

Os melhores solos para canola são os mesmos adequados para cereais de inverno, como trigo e cevada, incluindo alguns solos arenosos. É muito importante evitar solos com alta probabilidade de encharcamento. A cultura pode ser plantada em áreas com o mesmo preparo e manejo que você já realiza para outras culturas de grãos.

Adubação da Plantação de Canola

A canola responde muito bem à adubação nitrogenada. A falta de nitrogênio limita a produtividade, mas o excesso também é prejudicial: ele prolonga a fase vegetativa, deixando a planta exposta a doenças por mais tempo e reduzindo a qualidade final.

A cultura também exige muito enxofre, pois seus grãos têm alto teor de óleo e proteína. Uma boa nutrição com enxofre pode aumentar tanto a produção quanto o teor de óleo das sementes.

A canola utiliza fósforo e potássio de forma eficiente. Aumentos na produção também podem ser obtidos com a aplicação de micronutrientes como boro, zinco e cobre.

Antes de qualquer coisa, faça uma análise de solo. A adubação e a correção do solo devem ser sempre baseadas nos resultados do seu talhão.

Manejo de Pragas

As principais pragas que atacam o cultivo da canola são:

A traça-das-crucíferas é a praga que geralmente causa mais danos. Suas lagartas se alimentam das hastes e das síliquas (vagens) da planta, podendo também causar desfolha. Os danos são maiores se o ataque ocorrer antes da floração.

Para um controle eficiente, monitore a lavoura. Se houver infestação generalizada e cerca de 10% de desfolha, realize o controle químico com inseticidas reguladores de crescimento.

Para algumas pragas de solo, como os corós, não há relatos de controle químico eficiente. Portanto, evite semear em áreas com infestação superior a 5 corós por metro quadrado. O monitoramento constante da lavoura é a sua melhor ferramenta.

Para te ajudar, separamos uma planilha gratuita para você organizar seu Manejo Integrado de Pragas (MIP). Clique na imagem abaixo para baixar:

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Manejo de Doenças

A canela-preta é uma das doenças que pode causar os maiores prejuízos. Como o fungo sobrevive nos restos culturais, a melhor estratégia é a prevenção:

  • Mantenha a área livre do cultivo de canola por pelo menos dois anos após uma infestação.
  • Escolha áreas localizadas a mais de 1.000 metros de distância de lavouras que tiveram canela-preta na safra anterior.

Para o mofo-branco e a podridão negra das crucíferas, o caminho é o manejo integrado, pois não existe um método de controle 100% eficaz.

No Manejo Integrado de Doenças (MID), você deve combinar várias práticas:

  1. Fazer rotação de culturas com espécies não suscetíveis.
  2. Usar sementes sadias e certificadas.
  3. Evitar áreas com histórico de ocorrência dessas doenças.
  4. Dar preferência à semeadura direta.
  5. Controlar plantas daninhas que também podem hospedar as doenças.

Cuidados na Colheita

Atrasar a colheita da canola pode resultar em grandes perdas por debulha natural. A cor dos grãos é o melhor indicador para definir o ponto de colheita ideal.

O momento certo é quando 40% a 60% dos grãos localizados na haste principal mudam da cor verde para a marrom.

A partir desse ponto, você pode optar por duas estratégias:

  1. Corte e Enleiramento: As plantas são cortadas e deixadas em leiras no campo para secar. A colheita com a recolhedora é feita quando a umidade dos grãos atinge cerca de 10%.
  2. Colheita Direta: Pode ser feita quando o teor de umidade dos grãos está, no máximo, em 18%. O uso de dessecantes não é recomendado para a cultura.

Independentemente do método, você deve regular a colheitadeira com cuidado. Os pontos principais são vedar bem todos os locais por onde os grãos pequenos podem vazar e reduzir a velocidade de deslocamento para minimizar perdas.

Conclusão

A canola é muito mais do que uma alternativa de inverno. Ela melhora todo o sistema produtivo, trazendo benefícios diretos para a soja, o milho e o trigo ao quebrar o ciclo de pragas e doenças.

Essa oleaginosa contribui para a redução dos custos com defensivos e se adapta à estrutura de máquinas que você já possui.

Com um bom planejamento e manejo adequado, a canola se torna uma excelente opção para a rotação de culturas, oferecendo um retorno econômico satisfatório e melhorando a saúde da sua lavoura a longo prazo.

Veja mais


Glossário

  • Abortamento de flores: Perda prematura das flores da planta, geralmente causada por estresse ambiental como geadas. Este fenômeno impede a formação dos grãos e reduz drasticamente a produtividade da lavoura.

  • Debulha natural: Processo em que as vagens (síliquas) da canola se abrem espontaneamente no campo, liberando os grãos antes da colheita. Atrasar o momento da colheita aumenta o risco de perdas por debulha.

  • Efeito alelopático: Fenômeno em que uma planta libera substâncias químicas que podem afetar negativamente o desenvolvimento de outras plantas ao redor. No artigo, os resíduos da canola podem inibir a germinação da soja se o plantio for feito sem o intervalo recomendado.

  • Enleiramento: Técnica de colheita que consiste em cortar as plantas e deixá-las secando no campo, organizadas em fileiras (leiras). Após a secagem, uma máquina recolhe as leiras para trilhar os grãos.

  • Herbicidas com efeito residual: Produtos que permanecem ativos no solo por um período após sua aplicação, controlando a germinação de plantas daninhas. É preciso ter cuidado, pois o resíduo pode prejudicar culturas sensíveis como a canola, se plantada em sucessão.

  • kg/ha (Quilogramas por hectare): Unidade de medida para produtividade agrícola. Um hectare (ha) equivale a 10.000 m², aproximadamente a área de um campo de futebol oficial. Uma produtividade de 1.500 kg/ha significa colher 1,5 tonelada de grãos nessa área.

  • Oleaginosa: Termo usado para designar plantas cultivadas principalmente para a produção de óleos e gorduras, extraídos de seus grãos ou frutos. A canola, a soja e o girassol são exemplos de oleaginosas.

  • Rotação de culturas: Prática de alternar diferentes espécies de plantas em uma mesma área agrícola a cada safra. Essa técnica ajuda a quebrar o ciclo de pragas e doenças, melhora a fertilidade do solo e aumenta a sustentabilidade do sistema produtivo.

  • Síliquas: Nome técnico das vagens da canola e outras plantas da família das crucíferas. São as estruturas alongadas onde os grãos se desenvolvem.

Como a tecnologia ajuda a superar os desafios da canola

O artigo destaca dois pontos cruciais para o sucesso da lavoura: a redução dos custos de produção e o manejo eficiente de pragas e doenças. Controlar esses fatores exige um acompanhamento detalhado, que muitas vezes se perde em anotações de papel ou planilhas complexas.

Um software de gestão agrícola como o Aegro resolve esse problema ao centralizar o controle financeiro e operacional. Nele, você registra todos os gastos com defensivos e insumos, sabendo exatamente o custo por hectare. Ao mesmo tempo, o planejamento e registro de atividades no campo ajudam a organizar o monitoramento e as aplicações, garantindo um controle mais eficaz e econômico.

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Perguntas Frequentes

Por que a canola é considerada uma boa opção para a rotação de culturas?

A canola é excelente para a rotação de culturas porque quebra o ciclo de pragas e doenças que afetam cultivos como soja, milho e trigo. Isso reduz a necessidade de defensivos agrícolas, diminui os custos de produção e melhora a saúde geral do solo, tornando o sistema produtivo mais sustentável e lucrativo a longo prazo.

Qual o maior risco climático para a lavoura de canola no Sul do Brasil?

O maior risco climático é a geada, especialmente em duas fases críticas: no estádio de plântula, quando pode matar as plantas, e durante o florescimento, causando o abortamento de flores e o problema do “grão verde”. Para minimizar os danos, recomenda-se evitar o plantio em áreas de baixada e próximas a matas fechadas, que acumulam ar frio.

É preciso ter cuidado ao plantar soja em sucessão à canola?

Sim, são necessários dois cuidados principais. Primeiro, deve-se respeitar um intervalo mínimo de 20 dias entre a colheita da canola e a semeadura da soja para evitar o efeito alelopático, que pode prejudicar a germinação. Segundo, o produtor deve ficar atento ao manejo do mofo-branco, pois a canola pode aumentar o risco de incidência da doença na soja subsequente.

Preciso comprar máquinas específicas para cultivar e colher canola?

Não, e essa é uma das grandes vantagens econômicas da canola. O produtor pode utilizar a mesma estrutura de máquinas e equipamentos que já possui para outras culturas de grãos, como semeadoras e colheitadeiras. É necessário apenas realizar uma boa regulagem e vedação da colheitadeira para evitar perdas dos grãos pequenos.

Como saber o momento ideal para a colheita da canola e evitar perdas?

O indicador mais confiável é a cor dos grãos. A colheita deve ser iniciada quando 40% a 60% dos grãos na haste principal mudam da cor verde para a marrom. Colher nesse ponto é crucial para minimizar as perdas por debulha natural, que é a abertura espontânea das vagens no campo.

Quais nutrientes são mais importantes na adubação da canola?

A canola responde muito bem à adubação nitrogenada, essencial para a produtividade, mas também é altamente exigente em enxofre. Uma nutrição adequada com enxofre é fundamental, pois ele participa da formação de óleo e proteína, impactando diretamente tanto a produção quanto a qualidade dos grãos.

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