Corriola, campainha, amarra-amarra… a planta daninha corda-de-viola é conhecida por muitos nomes, mas o resultado é sempre o mesmo: um grande problema que pode causar sérios prejuízos se não for manejado corretamente.
Estudos mostram que a presença dessa invasora pode reduzir a produtividade da lavoura em quase 50%, com as culturas de verão sendo as mais prejudicadas.
Para complicar, a corda-de-viola é tolerante ao glifosato. Isso exige um controle mais cuidadoso e específico para impedir que ela se espalhe pela sua área de produção e arredores.
Quer aprender a identificar e controlar a corda-de-viola de maneira eficiente? Continue lendo este guia prático.
Como Identificar a Planta Daninha Corda-de-Viola
A corda-de-viola (Ipomoea sp.) é uma planta daninha com uma aparência marcante, tanto nas folhas quanto nas flores. Suas principais características são fáceis de reconhecer:
- Folhas: São largas e, dependendo da espécie, podem ser inteiras ou com recortes.
- Flores: Possuem cores variadas, que vão do branco ao roxo, geralmente em formato de sino ou funil.
- Hábito de Crescimento: Ela cresce como uma trepadeira, enrolando-se nas plantas da cultura. Seus ramos podem atingir até 3 metros de comprimento.
- Caule: Seus caules e ramos são finos, fibrosos e longos. Eles se espalham pelo chão ou sobem em qualquer obstáculo, como as plantas de soja, milho ou feijão.
A reprodução da corda-de-viola acontece por sementes, o que facilita sua dispersão. Por se enrolar nas culturas, ela dificulta muito a operação de colheita mecanizada.
Exemplares de Ipomea sp. (Corda-de-viola)
(Fonte: Mais soja)
Existem mais de 140 espécies de corda-de-viola catalogadas, e elas estão presentes em todas as regiões do Brasil. Além de competir por recursos essenciais como água, luz e nutrientes, o principal problema que ela causa é físico, atrapalhando diretamente o processo de colheita.
Culturas Afetadas e os Prejuízos Causados
A corda-de-viola afeta diversas culturas de grande importância econômica. As principais são:
- Arroz
- Cana-de-açúcar
- Milho
- Soja
O motivo é que o ciclo de crescimento da corda-de-viola coincide com o dessas culturas de verão. Como ela apresenta tolerância natural ao herbicida glifosato, sua presença é ainda mais comum em lavouras que utilizam cultivares geneticamente modificadas (RR).
Corda-de-viola na cultura da soja
(Fonte: Feis/Unesp)
Corda-de-viola no milho
(Fonte: Embrapa)
A alta infestação dessa planta daninha traz uma série de problemas que geram grandes prejuízos:
- Inviabiliza a colheita mecânica: Seus ramos se enrolam nas máquinas.
- Embuchamento da colhedora: Causa o entupimento e a parada do maquinário.
- Desgaste de componentes: Aumenta o desgaste da plataforma de corte.
- Arrastamento e tombamento: Puxa e derruba as plantas da cultura, dificultando a colheita dos grãos.
- Impacto direto no rendimento: A competição e as perdas na colheita reduzem a produtividade final.
No caso da soja, um estudo mostra que a presença da corda-de-viola pode reduzir a produtividade em mais de 40%. Em lavouras de milho, outro levantamento aponta que até 20 sacas por hectare podem ser perdidas devido à infestação.
Colhedora de cana-de-açúcar “embuchada” por causa da corda-de-viola
(Fonte: LPV/ESALQ/USP)
Como Fazer o Manejo da Corda-de-Viola na Lavoura
Para evitar os problemas causados pela corda-de-viola, é fundamental aplicar técnicas de manejo focadas em impedir sua proliferação e diminuir o banco de sementes no solo.
O método mais tradicional e eficaz é a aplicação de herbicidas específicos no momento certo.
Ponto-chave: Como a corda-de-viola se reproduz por sementes, o controle ideal deve ser feito em pré-emergência (antes da planta nascer) ou pós-emergência inicial (logo que ela germina, antes de começar a se enrolar).
Se você perder essa janela de aplicação, o controle se torna muito mais difícil sem afetar a cultura principal. Agir cedo evita a competição por recursos e os problemas mecânicos na colheita.
Controlar a planta em sua fase inicial também impede a produção de novas sementes, o que é crucial para reduzir o banco de sementes no solo. Com um manejo correto ao longo dos anos, a infestação diminuirá a um nível que não causará mais danos econômicos significativos.
A seguir, apresentamos alguns herbicidas recomendados para o controle de Ipomoea sp.
Flumioxazin
- Ação Principal: É um herbicida eficaz para controle em pré e pós-emergência, com alta seletividade e longo efeito residual no solo.
- Culturas Indicadas: Soja, algodão e cana-de-açúcar.
- Dosagem e Aplicação: Na cultura da soja, a dose recomendada é de
50 g/ha
. - Dicas de Uso: Pesquisas de campo mostram ótimos resultados com misturas. A associação com glifosato, 2,4-D ou imazetapir aumenta a eficácia e o espectro de controle sobre outras plantas daninhas.
2,4-D
- Ação Principal: É um herbicida seletivo muito eficiente contra plantas daninhas de folhas largas, como a corda-de-viola.
- Culturas Indicadas: Trigo, milho, soja, arroz, aveia, sorgo, cana-de-açúcar, café e pastagens de braquiária.
- Dosagem e Aplicação: O momento da aplicação é crítico. Na soja, por exemplo, deve ser aplicado 7 dias antes da semeadura. No café, a aplicação deve ser em jato dirigido para não atingir a cultura.
Oxyfluorfen
- Ação Principal: Apresenta um controle de até 95% na maioria das espécies de corda-de-viola.
- Culturas Indicadas: Arroz irrigado, algodão e cana-de-açúcar.
- Dosagem e Aplicação: No arroz irrigado, é indicado para uso em pré e pós-emergência na dose de
1,0 a 4,0 L/ha
.
Sulfentrazone
- Ação Principal: Herbicida utilizado na pré-emergência da planta daninha. Possui bom efeito residual para controlar o banco de sementes.
- Culturas Indicadas: Soja.
- Dosagem e Aplicação: A recomendação para soja é de
0,4 a 1,2 L/ha
. - Atenção: Não aplique este produto em solos arenosos, pois pode causar danos à cultura. Pode ser usado em associação com herbicidas sistêmicos como glifosato, 2,4-D e chlorimuron.
Amicarbazone
- Ação Principal: Oferece alto controle tanto na pré-emergência quanto na pós-emergência inicial.
- Culturas Indicadas: Milho e cana-de-açúcar.
- Dosagem e Aplicação: A dose recomendada é de
0,4 kg/ha
para o milho e de1,5 a 2,0 kg/ha
para a cana-de-açúcar. - Destaque: Pesquisas em cana-de-açúcar demonstraram controle total de várias espécies de corda-de-viola, além de um ótimo efeito residual.
Para o controle de plantas já adultas, os herbicidas à base de 2,4-D costumam apresentar bons resultados e possuem registro para a maioria das grandes culturas.
Atenção à Tecnologia da sua Lavoura
Lembre-se de verificar a tecnologia da sua cultivar antes de aplicar qualquer herbicida em mistura, especialmente em pós-emergência:
- Tecnologia RR: Tolerante a Glifosato.
- Tecnologia Xtend: Tolerante a Glifosato e Dicamba.
- Tecnologia Enlist: Tolerante a Glifosato, 2,4-D e Glufosinato de Amônio.
É fundamental consultar um engenheiro agrônomo para todas as práticas de aplicação de defensivos agrícolas. A recomendação profissional garante a dose correta, evitando problemas como:
- Fitotoxicidade: danos causados pelo herbicida à própria cultura.
- Resistência ou Tolerância: quando o controle falha e a planta daninha se torna mais forte contra o produto.
Conclusão
A corda-de-viola é uma planta invasora comum em todo o Brasil, com um hábito trepador que se desenvolve principalmente no verão. Seus danos vão além da competição por água, luz e nutrientes. Ela prejudica severamente a colheita mecanizada, causando perdas econômicas expressivas.
Como você viu neste artigo, o manejo eficiente da corda-de-viola depende de ações no momento certo:
- O controle deve ser feito na pré-emergência ou na pós-emergência inicial da planta daninha.
- O uso de herbicidas com longo efeito residual é essencial para controlar o banco de sementes no solo.
- Misturas de herbicidas, como inibidores da Protox com glifosato, são alternativas eficazes para ampliar o controle.
Seguindo essas estratégias e contando sempre com a orientação de um profissional, você poderá controlar a corda-de-viola e proteger o potencial produtivo da sua lavoura.
Glossário
Banco de sementes: A reserva total de sementes viáveis de plantas daninhas presentes no solo. Um manejo eficaz visa esgotar esse banco ao longo do tempo para reduzir infestações futuras.
Efeito residual: Capacidade de um herbicida permanecer ativo no solo por um período após a aplicação. Produtos com longo efeito residual controlam novas plantas daninhas que tentam germinar semanas depois.
Embuchamento: Termo que descreve o entupimento de máquinas agrícolas, como colheitadeiras, pelo acúmulo de material vegetal denso, como os ramos da corda-de-viola. Causa paradas na operação e pode danificar o equipamento.
Fitotoxicidade: Efeito tóxico de um produto químico (como um herbicida) sobre a própria cultura agrícola. Pode causar sintomas como queima das folhas, amarelamento e redução do crescimento, impactando a produtividade.
Herbicida seletivo: Produto que controla espécies específicas de plantas daninhas sem causar danos significativos à cultura principal. Por exemplo, um herbicida que atinge plantas de folhas largas em uma lavoura de milho (folhas estreitas).
Pós-emergência: Refere-se à aplicação de herbicida após a germinação e o surgimento das plantas daninhas acima do solo. O controle em “pós-emergência inicial” é ideal, pois atinge a invasora quando ela ainda é pequena e vulnerável.
Pré-emergência: Modalidade de aplicação de herbicida realizada sobre o solo antes da germinação das plantas daninhas. O objetivo é formar uma barreira química que impede o nascimento das invasoras.
RR (Roundup Ready): Sigla que identifica cultivares (soja, milho) geneticamente modificadas para serem tolerantes ao herbicida glifosato. Essa tecnologia permite aplicar o produto em área total para controlar as plantas daninhas sem afetar a cultura.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
O manejo eficaz da corda-de-viola vai além da escolha do herbicida correto; exige um planejamento rigoroso das atividades e um controle apurado dos custos. A perda da janela de aplicação ou o desgaste excessivo do maquinário são prejuízos que se acumulam rapidamente. Ferramentas de gestão agrícola, como o Aegro, ajudam a centralizar esse controle. Nelas, é possível registrar cada aplicação de defensivo, monitorar os custos com insumos e agendar manutenções de máquinas, garantindo que a operação seja eficiente e econômica.
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Perguntas Frequentes
Por que a corda-de-viola é tão prejudicial, além da competição por nutrientes?
O principal prejuízo da corda-de-viola é físico. Seus ramos longos se enrolam nas plantas e nas partes móveis das colheitadeiras, causando o “embuchamento” (entupimento) do maquinário. Isso resulta em paradas constantes, quebra de equipamentos e perdas significativas de grãos durante a colheita.
O que significa dizer que a corda-de-viola é tolerante ao glifosato?
Significa que a aplicação de glifosato, um dos herbicidas mais comuns, não é eficaz para controlar essa planta daninha. Essa tolerância natural faz com que ela se prolifere facilmente em lavouras RR (Roundup Ready), que dependem desse herbicida, exigindo o uso de produtos com diferentes mecanismos de ação.
Qual é o momento ideal para fazer o controle químico da corda-de-viola?
O controle é mais eficaz e econômico quando realizado em pré-emergência (antes da planta nascer) ou em pós-emergência inicial (logo após a germinação). Agir cedo impede que ela se enrole na cultura, facilita a ação do herbicida e previne a produção de novas sementes, reduzindo a infestação futura.
Perdi a janela ideal de aplicação. Ainda é possível controlar a corda-de-viola já desenvolvida?
Sim, mas o controle se torna muito mais difícil e menos eficiente. Herbicidas como o 2,4-D podem ter ação em plantas adultas, mas o risco de danos à cultura principal aumenta. Além disso, a planta já terá causado prejuízos por competição e estará pronta para atrapalhar a colheita.
Posso usar o mesmo herbicida para controlar a corda-de-viola na soja e no milho?
Não necessariamente. A escolha do herbicida depende da cultura e da tecnologia da semente (RR, Xtend, Enlist). Alguns produtos são seletivos para soja e outros para milho. Usar o produto errado pode causar fitotoxicidade e matar a sua lavoura, por isso é crucial a recomendação de um engenheiro agrônomo.
O uso de herbicidas com efeito residual é importante para o manejo da corda-de-viola?
Sim, é fundamental. Herbicidas com longo efeito residual, como Flumioxazin e Sulfentrazone, permanecem ativos no solo por mais tempo. Isso impede a germinação de novas sementes do banco do solo, garantindo que a lavoura permaneça limpa por um período maior e reduzindo a necessidade de múltiplas aplicações.
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