Percevejo Barriga-Verde no Milho: Guia Completo de Identificação e Manejo

Sou Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal de Goiás, mestre em Agronomia/Proteção de Plantas pela UNESP, e doutorando em entomologia pela ESALQ/USP.
Percevejo Barriga-Verde no Milho: Guia Completo de Identificação e Manejo

O percevejo barriga-verde é uma praga séria na cultura do milho, podendo reduzir a produtividade em até 50% quando o manejo falha.

Um ataque severo pode comprometer todo o seu planejamento agrícola e, em casos mais graves, forçar o replantio da área.

Atualmente, controlar essa praga se tornou um grande desafio para os produtores. Com poucas ferramentas realmente eficazes e o aumento nos custos de controle, a preocupação na lavoura é constante.

Neste artigo, vamos detalhar as características do percevejo barriga-verde e mostrar como fazer um controle eficiente, seguindo as boas práticas do MIP (Manejo Integrado de Pragas). Continue a leitura para saber mais.

uma fotografia macro de um percevejo, provavelmente da espécie Euschistus heros, conhecido como percevejo-marr O percevejo barriga-verde é uma das principais pragas do milho. (Fonte: Roundup Ready)

Percevejo Barriga-Verde: Conheça as Espécies e Por Que se Tornou uma Praga-Chave

O percevejo barriga-verde é uma praga-chave que ataca principalmente no início da cultura do milho safrinha, que geralmente sucede a lavoura de soja.

No Brasil, duas espécies causam os maiores prejuízos econômicos: Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus.

A primeira espécie (D. furcatus) está mais adaptada e é mais comum nos estados da região Sul. Já a segunda (D. melacanthus) predomina nas regiões Centro-Sul do país, como mostra o mapa abaixo:

infográfico que ilustra a distribuição geográfica de duas espécies de percevejo-barriga-verde no Brasil. No cen (Fonte: Agronômico)

Embora seu primeiro relato seja de 1995, foi apenas nos últimos anos que o percevejo barriga-verde se tornou uma praga tão importante para o milho.

Mas por que isso aconteceu? Veja os principais motivos:

  • Adoção do plantio direto: A palhada sobre o solo serve de abrigo para a praga e cria um “efeito guarda-chuva”, que dificulta a chegada dos inseticidas ao alvo.
  • Falhas na dessecação: Plantas daninhas que sobram na área antes do plantio do milho, como trapoeraba e capim-carrapicho, servem de alimento para o percevejo.
  • Sucessão soja-milho ou soja-trigo: Grãos de soja perdidos durante a colheita também se tornam fonte de alimento, mantendo a população da praga na área.
  • Uso de milho Bt: A tecnologia Bt reduziu a necessidade de pulverizações para a lagarta-do-cartucho, o que acabou favorecendo a sobrevivência do percevejo barriga-verde.
  • Uso de soja Bt: Da mesma forma, a redução de pulverizações contra lagartas na soja aumentou a população de percevejos, que depois migram para a lavoura de milho.

composição que exibe a planta daninha conhecida como poaia-branca (Richardia brasiliensis). A foto principal m (Fonte:Rodolfo Bianco)

Ataque do Percevejo Barriga-Verde: Período Crítico, Sintomas e Danos

O período mais crítico para o ataque do percevejo ocorre nos 30 primeiros dias após a emergência (DAE) das plantas de milho.

Nessa fase inicial, a cultura está mais vulnerável ao ataque de pragas agrícolas. É também nesse momento, entre os estágios V3 e V4, que o milho define seu potencial produtivo. Portanto, o produtor precisa estar atento para tomar as decisões certas e evitar perdas.

Quanto mais nova a planta, menos lignificado (ou seja, menos duro e resistente) e mais fino é o seu caule. Isso facilita o ataque do percevejo e aumenta o potencial de danos às plantas de milho.

Após a colheita da soja e o plantio do milho, o percevejo ataca as plantas recém-emergidas na base do caule.

uma fotografia macro de vários percevejos da espécie Dichelops melacanthus, popularmente conhecida como percev (Fonte: Pioneer)

Nessa região da base do caule ficam os tecidos meristemáticos, que são as partes da planta responsáveis pelo seu crescimento e desenvolvimento.

Ao perfurar essa área, o percevejo danifica as futuras folhas do milho, causando problemas no desenvolvimento da planta.

Os sintomas visíveis são:

  • Nas folhas novas do cartucho, aparecem pontuações escuras.
  • À medida que as folhas crescem, surgem lesões em formato de tiras com bordas amareladas.

Outro sintoma muito característico é o “encharutamento” das folhas do cartucho, que se enrolam e não abrem normalmente.

uma planta jovem de milho em estágio inicial de desenvolvimento, vista de cima. A planta apresenta folhas verd Injúrias em folhas de milho causadas pelo ataque do percevejo barriga-verde. (Fonte: Pioneer)

Como reação ao ataque, a planta também pode emitir perfilhos improdutivos, conhecidos como “plantas-ladrão”. Isso reduz o vigor da planta e, em casos extremos, pode levar à sua morte, comprometendo o “estande” final da lavoura.

close-up de uma lavoura de milho em estágio inicial de desenvolvimento vegetativo. As jovens plantas de mil Plantas de milho com perfilhos improdutivos e falhas no estande após ataque do percevejo. (Fonte: André Shimohiro)

Amostragem e Nível de Controle

O monitoramento deve ser intensificado no período que vai desde antes da semeadura do milho até os 30 dias após a emergência (DAE).

Segundo o pesquisador Rodolfo Bianco, do IAPAR, uma forma prática de amostragem é usar iscas atrativas. Veja como fazer:

  1. Prepare a isca: Misture 300g de soja com ½ colher de sal de cozinha. Para isso, deixe os grãos em água por 15 minutos, escorra a água e só então adicione o sal.
  2. Distribua as iscas: Coloque 10 iscas por talhão na sua lavoura.
  3. Avalie a presença da praga: Verifique as iscas 24 horas após a instalação.

Com base no número de iscas com percevejos, você pode definir o nível de infestação e a necessidade de controle:

  • Nível Baixo: Se você encontrar percevejos em até 2 iscas por talhão, não há necessidade de controle imediato.
  • Nível Moderado: Se encontrar percevejos em 3 a 5 iscas, a infestação é moderada. Nesse caso, opte pelo tratamento de sementes (TS) ou por pulverizações foliares.
  • Nível Alto: Se mais de 5 iscas tiverem percevejos, a infestação é alta. A recomendação é combinar o TS com uma pulverização no milho em até 3 dias após a emergência (DAE).

Mesmo após a aplicação, continue monitorando a lavoura. Se você encontrar 1 percevejo vivo para cada 10 plantas, é recomendável realizar uma nova pulverização.

A literatura técnica indica que o nível de controle (NC) para o percevejo varia de 0,6 a 2,0 percevejos por m².

Percevejo Barriga-Verde: Como Manejar Corretamente

Método Químico

A principal estratégia com efeito curativo é o controle químico.

  • Tratamento de Sementes (TS): O uso de inseticidas sistêmicos do grupo químico dos neonicotinóides no tratamento de sementes oferece uma proteção parcial às plantas na fase inicial.
  • TS + Pulverização Foliar: A estratégia mais efetiva em campo tem sido combinar o tratamento de sementes com pulverizações foliares (geralmente uma mistura de neonicotinóides + piretróides) logo que as plantas emergem, até 3 DAE.

Dependendo da infestação, pulverizações feitas depois desse período inicial podem não ser suficientes para evitar os danos.

close-up de uma plântula de milho em estágio inicial de desenvolvimento, brotando de um solo avermelhado e Plantas de milho recém-emergidas sendo atacadas pelo percevejo. (Fonte: André Shimohiro)

Para aumentar a chance de sucesso da pulverização, realize a aplicação nos períodos de maior atividade da praga, que são das 7h às 13h e das 16h às 19h.

Embora alguns produtores apliquem inseticidas junto com o herbicida na dessecação, essa prática não apresenta resultados tão bons quanto a combinação de TS + pulverização foliar inicial. Um dos motivos é que a palhada protege o percevejo, impedindo que o produto o atinja (o chamado “efeito guarda-chuva”).

Atualmente, não existem moléculas específicas e seletivas para o controle do percevejo. Os piretróides e neonicotinóides, apesar de eficientes, também são nocivos à maioria dos inimigos naturais.

Métodos Complementares

As boas práticas de manejo são tão importantes quanto o controle químico.

  • Escolha de Cultivares: Opte por cultivares de milho com desenvolvimento vegetativo rápido e que tenham algum grau de resistência à praga. Um colmo mais espesso, por exemplo, dificulta a penetração do aparelho bucal do inseto, ajudando a reduzir os danos.
  • Dessecação Pré-Plantio: Uma dessecação bem-feita, sem falhas de aplicação, elimina as plantas daninhas e as plantas de soja tiguera (guaxas), que servem de abrigo e alimento para o percevejo.
  • Preservação de Inimigos Naturais: Insetos como tesourinhas, joaninhas e aranhas são predadores do percevejo barriga-verde. Preservar esses inimigos naturais ajuda a reduzir a população da praga na sua lavoura.

Glossário

  • Bt (Tecnologia): Refere-se a plantas geneticamente modificadas (como milho e soja) que produzem proteínas da bactéria Bacillus thuringiensis. Essas proteínas são tóxicas para certas lagartas, reduzindo a necessidade de pulverizações de inseticidas contra elas.

  • DAE (Dias Após a Emergência): Sigla para “Dias Após a Emergência”, uma medida de tempo usada para marcar o desenvolvimento inicial da lavoura. A contagem começa a partir do dia em que as plântulas rompem a superfície do solo, sendo crucial para definir o momento de controle.

  • Dessecação: Prática de aplicar herbicidas para eliminar plantas daninhas e restos culturais antes do plantio da nova safra. Uma dessecação bem-feita remove fontes de alimento e abrigo para pragas como o percevejo barriga-verde.

  • Estande: Termo técnico para a população final de plantas em uma determinada área. Um “estande” ideal, com o número correto de plantas por metro, é essencial para garantir o potencial produtivo da lavoura.

  • MIP (Manejo Integrado de Pragas): Estratégia que combina diferentes métodos de controle (químico, biológico, cultural) de forma racional para manter as pragas abaixo do nível de dano econômico. Visa reduzir a dependência de agrotóxicos e aumentar a sustentabilidade.

  • Milho Safrinha: Refere-se à segunda safra de milho plantada no mesmo ano agrícola, geralmente no verão/outono, após a colheita da soja. É o principal sistema de produção onde ocorre o ataque do percevejo barriga-verde.

  • Perfilhos Improdutivos: Brotos laterais que surgem na base do milho como reação a um estresse, como o ataque de percevejos. Também chamados de “plantas-ladrão”, eles consomem nutrientes da planta principal sem produzir espigas.

  • Plantio Direto: Sistema de cultivo em que a semeadura é feita diretamente sobre a palhada da cultura anterior, sem revolver o solo. Embora traga benefícios para o solo, a palha pode servir de abrigo para pragas.

  • Tecidos Meristemáticos: Regiões da planta responsáveis por todo o seu crescimento e desenvolvimento (caule, folhas, etc.). No milho jovem, ficam na base do caule, sendo o alvo do percevejo, o que causa danos severos.

Veja como a tecnologia otimiza o manejo de pragas

O controle do percevejo barriga-verde, como vimos, exige um monitoramento rigoroso e ações rápidas para não comprometer a produtividade e o planejamento da safra. Registrar os dados da amostragem, definir o momento certo para pulverizar e ainda controlar os custos de cada operação são tarefas complexas, especialmente quando feitas em planilhas ou cadernos.

É nesse ponto que um software de gestão agrícola como o Aegro faz a diferença. Com ele, você pode registrar as informações do monitoramento de pragas diretamente do campo pelo celular, gerando um histórico confiável para o MIP. Além disso, a plataforma centraliza o controle de custos com defensivos e operações, mostrando em tempo real o impacto financeiro do manejo no custo final da sua produção. Assim, fica mais fácil decidir se uma aplicação é economicamente viável e proteger a rentabilidade da lavoura.

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Perguntas Frequentes

Por que o percevejo barriga-verde se tornou uma praga tão problemática para o milho nos últimos anos?

O aumento da importância do percevejo barriga-verde está ligado a práticas agrícolas modernas. A adoção do plantio direto oferece abrigo na palhada, a sucessão soja-milho garante alimento contínuo, e o uso de tecnologias Bt, ao reduzir pulverizações para lagartas, acabou por favorecer a sobrevivência e o aumento da população de percevejos.

Qual é o período mais crítico para o ataque do percevejo barriga-verde e por que ele causa tanto dano?

O período mais crítico são os primeiros 30 dias após a emergência (DAE) do milho. Nessa fase, a planta é jovem e seu caule é mais fino, facilitando o ataque do percevejo à base, onde se encontram os tecidos meristemáticos responsáveis pelo crescimento. O dano nesse ponto compromete todo o desenvolvimento futuro da planta.

O tratamento de sementes (TS) é suficiente para controlar o percevejo barriga-verde?

O tratamento de sementes com inseticidas neonicotinóides é uma ferramenta importante, mas oferece uma proteção parcial e pode não ser suficiente em áreas de alta infestação. A estratégia mais eficaz é combinar o TS com uma pulverização foliar complementar nos primeiros dias após a emergência do milho.

Quais são os primeiros sintomas visíveis do ataque de percevejo barriga-verde na lavoura de milho?

Os primeiros sinais são pontuações escuras nas folhas mais novas, ainda no cartucho. Conforme a planta cresce, essas lesões se expandem, formando estrias com bordas amareladas. Outro sintoma característico é o ’encharutamento’, quando as folhas se enrolam e não abrem corretamente.

É eficaz aplicar inseticida para o percevejo durante a dessecação da área?

Não, essa prática geralmente não apresenta bons resultados. A palhada no sistema de plantio direto cria um ’efeito guarda-chuva’, protegendo os percevejos e impedindo que o inseticida aplicado junto com o herbicida atinja o alvo. A combinação de tratamento de sementes com pulverização pós-emergência é mais eficiente.

Além do controle químico, quais outras práticas de manejo ajudam a reduzir a pressão do percevejo?

Sim, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) é fundamental. Realizar uma dessecação eficiente para eliminar plantas daninhas e soja tiguera, que servem de alimento, é crucial. Além disso, optar por cultivares de milho com desenvolvimento inicial rápido e colmo mais espesso, e preservar inimigos naturais como joaninhas e aranhas, ajuda a reduzir a população da praga.

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