Nutrição da Soja: Identificando Deficiências e Momento Ideal de Adubação

Sou engenheira-agrônoma e mestra em agronomia, com ênfase em produção vegetal, pela Universidade Federal de Goiás.
Nutrição da Soja: Identificando Deficiências e Momento Ideal de Adubação

Manejar corretamente a adubação da soja é um passo fundamental para quem busca lavouras mais produtivas e rentáveis. Uma nutrição balanceada não só aumenta o rendimento, mas também fortalece a planta contra o ataque de pragas e doenças.

Para que a adubação funcione de verdade, é crucial fornecer os nutrientes no momento exato em que a soja mais precisa. Entender a marcha de absorção de nutrientes – o ritmo em que a planta consome cada elemento – é o segredo para aumentar a eficiência da sua adubação e evitar desperdícios.

Neste artigo, vamos detalhar como identificar a falta de nutrientes na sua lavoura, como usar a análise foliar corretamente e qual o melhor momento para nutrir sua soja. Continue a leitura e prepare-se para uma safra mais forte.

Como Identificar a Deficiência de Nutrientes na Soja

A maioria dos solos brasileiros usados para grãos possui, naturalmente, baixa fertilidade e acidez elevada. Por isso, é muito mais comum encontrar problemas por falta de nutrientes do que por excesso.

A deficiência de NPK – a falta dos macronutrientes nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) – é uma das principais preocupações. Cada um deles tem um papel vital, e a ausência de qualquer um pode comprometer seriamente a produtividade.

Nitrogênio (N)

O nitrogênio (N) é o nutriente que a soja consome em maior volume. Felizmente, a planta consegue obter a maior parte do que precisa do ar, através da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN).

A aplicação de nitrogênio mineral na soja é um tema polêmico e nem sempre recomendado. A prática padrão e mais eficiente é a inoculação das sementes com bactérias do gênero Bradyrhizobium, que realizam a FBN.

Para que essa fixação biológica funcione bem, a presença dos micronutrientes cobalto (Co) e molibdênio (Mo) é essencial. Eles agem como “ferramentas” para as bactérias trabalharem.

Os sintomas da falta de nitrogênio aparecem primeiro nas folhas mais velhas. Fique atento a estes sinais:

  • Clorose: significa um amarelamento geral da folha.
  • Necrose: é a morte do tecido, que fica com aspecto seco e marrom.

A clorose pode ser uniforme ou aparecer entre as nervuras da folha. Além disso, a falta de N deixa a planta com porte reduzido, mais vulnerável a pragas e doenças, e resulta em grãos com menor teor de proteína.

close-up detalhado de uma planta de soja jovem, destacando suas folhas e caule. As folhas, de um verde-clar Clorose decorrente da deficiência de nitrogênio na soja (Fonte: Yara Brasil)

Fósforo (P)

Na hora de comprar adubo para a soja, o fósforo (P) é o nutriente que mais pesa no bolso do produtor. As fontes mais comuns no mercado são o superfosfato simples (com 20% de P2O5) e o fosfato monoamônio (MAP) (com 48% de P2O5).

Assim como o nitrogênio, os sinais de falta de fósforo também aparecem primeiro nas folhas mais velhas. Isso acontece porque o fósforo é muito móvel dentro da planta, que o desloca das folhas antigas para as novas.

Plantas com deficiência de P têm crescimento limitado e folhas menores. A coloração das folhas pode ficar estranha, variando de um verde-escuro para um tom azulado, e também pode ocorrer clorose e necrose entre as nervuras.

close-up de folhas de soja apresentando sintomas visíveis de estresse fitossanitário. As folhas, predominan Clorose seguida de necrose em função da deficiência de fósforo na soja (Fonte: Yara Brasil)

Potássio (K)

Depois do nitrogênio, o potássio (K) é o segundo nutriente mais consumido pela soja. A fonte mais utilizada no campo é o cloreto de potássio (KCl).

A falta de potássio também se manifesta primeiro nas folhas mais velhas, mas o sintoma é bem característico: a clorose (amarelamento) começa nas bordas da folha e avança para o centro, evoluindo para necrose (tecido morto).

Essa deficiência impacta diretamente o seu produto final: a falta de potássio resulta em grãos menores, mais leves, enrugados e deformados, afetando a qualidade e o peso na hora da venda.

close-up de folhas de uma planta, provavelmente soja, apresentando sintomas severos de uma doença ou defici Clorose seguida de necrose, iniciando nas margens das folhas, pela deficiência de potássio na soja (Fonte: Yara Brasil)

Como Avaliar o Estado de Nutrição da Soja

A análise foliar é uma ferramenta poderosa para complementar a análise de solo no manejo da nutrição. Ela funciona como um “exame de sangue” da planta, mostrando o que ela realmente absorveu do solo. Isso ajuda a confirmar se a fertilidade do solo está se traduzindo em nutrição de verdade.

Para fazer essa avaliação, coleta-se uma amostra de folhas para análise química em laboratório. O momento ideal para a coleta é no início do florescimento, no estágio fenológico conhecido como R1 (início do florescimento) a R2 (pleno florescimento).

Segundo o ciclo fenológico da soja, o ponto ideal para a amostragem é exatamente no estádio R1. É nessa fase que a planta está com o “tanque cheio”, acumulando o máximo de nutrientes. Portanto, a análise foliar em R1 fornece o retrato mais fiel do estado nutricional da lavoura.

O número de folhas a coletar varia com a uniformidade do talhão, a cultivar e o tipo de solo. Como referência, a Embrapa recomenda a coleta de 35 folhas trifolioladas por talhão.

Para a coleta, siga estas regras importantes:

  1. Escolha a folha certa: pegue a terceira ou quarta folha completamente desenvolvida a partir do topo da haste principal.
  2. Remova o pecíolo: o pecíolo (cabinho que prende a folha ao caule) deve ser retirado.
  3. Use folhas recém-maduras: não colete folhas velhas nem muito novas.

a parte superior de uma planta de soja sobre um fundo preto, funcionando como um guia visual técnico. Ela está Terceira ou quarta folhas de soja que podem ser colhidas para análise do tecido no início do florescimento (Fonte: Agência Embrapa de Informação Tecnológica)

Interpretando os Resultados

Depois de receber o resultado do laboratório, você precisa interpretá-lo. A tabela abaixo, baseada em dados da Embrapa Soja, mostra as faixas de concentração ideais para os principais nutrientes, ajudando a classificar se sua lavoura está bem nutrida, com deficiência ou com excesso.

uma tabela técnica de referência utilizada na agricultura para a interpretação de análises foliares. A tabela Classes e teores de nutrientes utilizados na interpretação dos resultados das análises de folhas (sem pecíolo) de soja de tipos de crescimento determinado e indeterminado (Fonte: Embrapa Soja)

Uma grande vantagem da análise foliar é a capacidade de diagnosticar a “fome oculta” ou a “toxidez oculta”. Isso ocorre quando a planta já está sofrendo com a falta ou o excesso de um nutriente, mas ainda não mostrou sintomas visuais. É uma forma de agir antes que o problema se torne visível e cause mais danos.

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Glossário

  • Análise Foliar: Técnica de diagnóstico que funciona como um “exame de sangue” da planta, medindo os níveis de nutrientes diretamente nas folhas. Ajuda a identificar deficiências ou excessos nutricionais que a análise de solo não revela, permitindo ajustes finos na adubação.

  • Clorose: Amarelamento das folhas devido à falta de clorofila, pigmento responsável pela cor verde e pela fotossíntese. É um dos sintomas visuais mais comuns de deficiência nutricional, especialmente de nitrogênio e potássio.

  • Estágios Fenológicos (R1/R2): Fases específicas do ciclo de desenvolvimento da soja. O estágio R1 marca o início do florescimento (uma flor aberta em qualquer nó da haste principal) e o R2 o pleno florescimento, sendo o período ideal para a coleta de folhas para análise foliar.

  • Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): Processo natural no qual bactérias do gênero Bradyrhizobium, presentes nas raízes da soja, capturam o nitrogênio do ar e o convertem em uma forma que a planta pode absorver. Essa simbiose é a principal fonte de nitrogênio para a cultura.

  • Inoculação: Prática de aplicar um produto contendo bactérias Bradyrhizobium (inoculante) diretamente nas sementes de soja antes do plantio. O objetivo é garantir uma população eficiente dessas bactérias para maximizar a Fixação Biológica de Nitrogênio.

  • Necrose: Morte e escurecimento do tecido vegetal, que fica com aparência seca e quebradiça. Geralmente é um estágio avançado de uma deficiência nutricional severa ou o resultado de doenças e ataques de pragas.

  • NPK: Sigla para Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K), os três macronutrientes primários e mais exigidos pela maioria das culturas. As formulações de fertilizantes são comumente expressas com base na concentração desses três elementos.

  • Pecíolo: Estrutura que liga a lâmina foliar (a parte principal da folha) ao caule da planta; é o “cabinho” da folha. Para a análise foliar da soja, é importante remover o pecíolo e analisar apenas as folhas (folíolos).

Como otimizar a adubação da soja com o apoio da tecnologia

Gerenciar os altos custos dos fertilizantes e, ao mesmo tempo, garantir que a lavoura receba a nutrição correta no momento certo são os maiores desafios da adubação. Um planejamento impreciso pode levar a gastos desnecessários e comprometer a produtividade. Para resolver isso, a tecnologia é uma grande aliada.

Um software de gestão agrícola como o Aegro, por exemplo, ajuda a centralizar o planejamento e o controle das operações. Nele, você pode registrar todas as aplicações de fertilizantes, monitorar os custos de insumos por talhão e comparar o desempenho de cada área. Essa visão completa facilita a tomada de decisões, garantindo que seu investimento em adubação traga o máximo retorno.

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Perguntas Frequentes

Por que a inoculação com bactérias é mais recomendada para a soja do que a adubação com nitrogênio?

A soja, através da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), consegue captar a maior parte do nitrogênio que precisa diretamente do ar, em parceria com bactérias do gênero Bradyrhizobium. A inoculação garante a presença dessas bactérias, sendo uma fonte de nitrogênio muito mais eficiente e econômica do que a aplicação de fertilizantes nitrogenados minerais, que são caros e nem sempre trazem o retorno esperado.

Qual a principal diferença visual entre a falta de potássio e a de nitrogênio nas folhas da soja?

Embora ambas as deficiências causem amarelamento (clorose) nas folhas mais velhas, a localização do sintoma é a chave. A falta de nitrogênio causa um amarelamento mais uniforme em toda a folha. Já a deficiência de potássio é bem característica, com o amarelamento começando nas bordas (margens) da folha e avançando para o centro.

Se já fiz a análise de solo, por que preciso fazer a análise foliar na minha lavoura de soja?

A análise de solo informa os nutrientes disponíveis na terra, enquanto a análise foliar mostra o que a planta realmente conseguiu absorver e está utilizando. Ela funciona como um ’exame de sangue’ da lavoura, confirmando a eficiência da adubação e diagnosticando a ‘fome oculta’, que é a falta de nutrientes antes mesmo dos sintomas aparecerem visualmente.

Qual é o momento exato para coletar folhas de soja para análise e por quê?

O momento ideal é no início do florescimento, no estágio fenológico R1. Nessa fase, a planta está com seu máximo acúmulo de nutrientes, antes de começar a movê-los para a formação de vagens e grãos. A análise em R1 oferece o diagnóstico mais preciso do estado nutricional da lavoura, permitindo correções a tempo.

O que é ‘fome oculta’ na soja e como a análise foliar ajuda a identificá-la?

A ‘fome oculta’ ocorre quando a planta já sofre com a falta de um nutriente, o que limita seu potencial produtivo, mas ainda não apresenta sintomas visuais claros como amarelamento ou necrose. A análise foliar é a única ferramenta capaz de detectar essa deficiência oculta, pois mede os teores de nutrientes diretamente no tecido da planta, permitindo que o produtor aja antes que o problema se agrave e cause perdas maiores.

A falta de potássio (K) na soja afeta apenas as folhas ou também os grãos?

A deficiência de potássio afeta diretamente a qualidade e o rendimento dos grãos. A falta desse nutriente resulta em grãos menores, mais leves, enrugados e deformados. Isso compromete não apenas a produtividade total (peso por hectare), mas também a qualidade do produto final que será comercializado.

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