Níquel nas Plantas: Guia Essencial sobre Funções, Sintomas e Adubação

Sou engenheira-agrônoma e mestra em agronomia, com ênfase em produção vegetal, pela Universidade Federal de Goiás.
Níquel nas Plantas: Guia Essencial sobre Funções, Sintomas e Adubação

Os micronutrientes são elementos que as plantas precisam para se desenvolver, mas em quantidades muito pequenas. O níquel é um desses nutrientes essenciais. Quando falta, ele pode comprometer seriamente o crescimento e a produtividade da sua lavoura. Além disso, o níquel tem um papel fundamental no processo de fixação biológica do nitrogênio, especialmente em leguminosas.

Para garantir uma boa safra, é crucial que você, produtor, saiba identificar os sintomas de deficiência e de excesso (toxidez). Este guia completo vai explicar a importância do níquel, suas funções na planta e no solo, e como acertar na adubação.

O que é o níquel e por que ele é essencial para as plantas?

O níquel é classificado como um metal pesado, mas para as plantas, ele atua como um micronutriente essencial. Ele foi o último a entrar na lista oficial de micronutrientes, que já incluía cloro, manganês, boro, zinco, ferro, cobre e molibdênio.

Para ser considerado essencial, um nutriente precisa cumprir duas regras principais:

  1. Função Direta: O níquel faz parte da estrutura de enzimas importantes, como a urease e a hidrogenase, que são vitais para o metabolismo da planta.
  2. Insubstituível: Nenhum outro nutriente consegue fazer o trabalho do níquel. Se ele faltar, a planta simplesmente não consegue completar seu ciclo de vida, da germinação à produção de sementes.

As raízes absorvem o níquel do solo de duas formas: por difusão passiva (um processo natural, sem gasto de energia) e por transporte ativo (quando a planta gasta energia para puxar o nutriente para dentro).

Dentro da planta, o níquel é um elemento com alta mobilidade. Isso significa que ele se move facilmente dos tecidos mais velhos para os mais novos. Por exemplo, em plantas de soja na fase final do ciclo (senescência), até 70% do níquel que estava nas folhas pode ser transferido para os grãos.

A concentração de níquel varia conforme o estágio de desenvolvimento e a parte da planta. Embora esteja presente em todos os tecidos, ele se acumula mais nos grãos, nas folhas e nas partes mais jovens.

A seguir, vamos ver em detalhes como identificar a falta ou o excesso de níquel na sua lavoura.

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Sintomas de Deficiência de Níquel na Soja e em Outras Culturas

É raro encontrar sintomas visíveis de deficiência de níquel no campo, mas quando ocorrem, são bem característicos. Um dos mais conhecidos é chamado de “orelha de rato”, observado em folhas jovens de nogueira-pecã, que ficam com as pontas escuras e arredondadas, parecendo a orelha do animal.

Os principais sintomas visuais da falta de níquel nas plantas são:

  • Clorose (amarelamento das folhas);
  • Redução do tamanho das folhas;
  • Alteração no formato das folhas;
  • Manchas verde-escuras na ponta das folhas;
  • Necrose (morte do tecido) na região da ponta das folhas;
  • Folhas curvadas e enrugadas;
  • Crescimento anormal da planta inteira.

É importante destacar que a clorose foliar não é um sinal confiável para diagnosticar a falta de níquel. A deficiência de vários outros nutrientes também causa o amarelamento.

Na soja, a falta de níquel causa queima e necrose nas pontas das folhas. Isso acontece porque o níquel é um componente essencial da enzima urease. Sem níquel, a urease não funciona e não consegue quebrar a uréia nas folhas. A uréia se acumula em níveis tóxicos, causando a queima dos tecidos.

Sintomas de Toxidez por Excesso de Níquel

A toxicidade por excesso de níquel varia muito entre as culturas. Existem plantas mais sensíveis, outras moderadamente tolerantes e até algumas que conseguem acumular grandes quantidades do nutriente sem sofrer danos.

Um desafio no diagnóstico é que os sintomas de excesso de níquel podem ser facilmente confundidos com a deficiência de manganês ou ferro. Os principais sinais de toxidez por níquel são:

  • Clorose nas folhas: O excesso de níquel atrapalha a absorção de ferro pela planta, causando o amarelamento.
  • Redução do crescimento: Tanto as raízes quanto a parte aérea da planta crescem menos.

O excesso de níquel também pode levar à deficiência de zinco. Em casos mais graves, a planta pode apresentar deformações e manchas nas folhas.

close-up detalhado de uma única folha verde, possivelmente de soja, isolada contra um fundo preto sólido. ASintomas de toxidez de níquel na soja cultivada em solo muito argiloso, submetido à aplicação de 5,0 mg dm-3 de níquel (Fonte: Rodak, 2014)

A Função do Níquel no Solo

O níquel é um elemento naturalmente presente nos solos. Sua concentração original depende do material de origem — o tipo de rocha que formou o solo. Solos originados de rochas ígneas (especialmente as máficas e ultramáficas) costumam ter mais níquel.

No entanto, ter níquel no solo não significa que ele está disponível para a planta. A disponibilidade depende de vários fatores:

  • pH: O nível de acidez ou alcalinidade do solo;
  • CTC do solo: Capacidade de Troca de Cátions, ou seja, a habilidade do solo de reter nutrientes;
  • Teor de matéria orgânica;
  • Classe textural: A proporção de areia, silte e argila;
  • Composição das argilas;
  • Teores de óxidos de ferro e manganês;
  • Competição com outros nutrientes pelos pontos de absorção;
  • Atividade dos microrganismos.

Dentre todos esses fatores, o pH do solo é o que mais influencia a disponibilidade de níquel. A regra geral é: quanto maior o pH (solo mais alcalino), menor a disponibilidade de níquel. Em solos mais ácidos (pH abaixo de 5,5) e com pouca matéria orgânica, a planta consegue absorver o níquel com mais facilidade.

A textura do solo também é importante. Partículas mais finas, como a argila, possuem mais cargas negativas e uma área de superfície maior. Por isso, solos argilosos tendem a reter maiores concentrações de níquel.

A Função do Níquel nas Plantas

O níquel é um micronutriente com várias funções cruciais no metabolismo das plantas. Ele participa de processos que vão desde a germinação até a defesa contra doenças.

Em resumo, suas principais funções são:

  • Participa da produção de etileno (hormônio de amadurecimento);
  • Auxilia na germinação das sementes;
  • Aumenta a resistência a doenças;
  • Atua no metabolismo de aminoácidos e ácidos orgânicos;
  • É um componente essencial de várias enzimas;
  • Melhora a conservação de frutos após a colheita.

1. Ativação da Enzima Urease: A função mais conhecida do níquel é como componente da enzima urease. Essa enzima é responsável por converter a uréia em amônia e gás carbônico, um passo fundamental para que a planta possa aproveitar o nitrogênio.

2. Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): Em leguminosas como a cultura da soja, o níquel é vital para a FBN. Ele faz parte da enzima hidrogenase, que atua no processo de fixação realizado pelas bactérias nos nódulos das raízes. Um fornecimento adequado de níquel melhora a nodulação e, consequentemente, a produção de grãos.

3. Resistência a Doenças: O níquel também ajuda no sistema de defesa das plantas. Ele atua na produção de fitoalexinas, que são compostos de defesa que a planta produz quando está sob estresse, como o ataque de um patógeno. Isso contribui para aumentar a resistência natural da cultura.

Como Fazer a Adubação com Níquel?

Apesar de sua importância, ainda não existem recomendações oficiais de adubação com níquel para a maioria das culturas no Brasil. As informações sobre a melhor forma de aplicar este micronutriente ainda são limitadas.

A exigência de níquel pelas plantas é muito baixa, semelhante à de molibdênio e cobalto, cerca de 0,05 mg por quilo de matéria seca produzida pela planta.

As principais fontes de níquel que podem ser utilizadas na adubação são:

  • Cloreto de níquel;
  • Nitrato de níquel;
  • Sulfato de níquel;
  • Carbonato de níquel;
  • Quelatos de níquel;
  • Silicato de níquel.

Além das fontes diretas, o níquel pode estar presente em outros insumos usados na fazenda. O lodo de esgoto, um resíduo urbano por vezes utilizado como fertilizante, pode ter altas concentrações de níquel. O calcário e os adubos fosfatados também podem conter pequenas quantidades do elemento.

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Conclusão

O níquel, embora necessário em pequenas doses, é um micronutriente fundamental para o sucesso da lavoura. Um fornecimento inadequado pode impactar diretamente o desenvolvimento das culturas, afetando desde o metabolismo do nitrogênio até a resistência a doenças.

Lembre-se que fatores como o pH e a CTC do solo controlam a sua disponibilidade para as plantas. Em leguminosas, o níquel é um aliado da fixação biológica do nitrogênio, e em todas as culturas, pode fortalecer as defesas naturais.

Como as recomendações de adubação ainda estão em desenvolvimento, a melhor prática é sempre consultar um(a) engenheiro(a)-agrônomo(a). Uma análise de solo e foliar pode ajudar a determinar a real necessidade de níquel na sua área.


Glossário

  • Clorose: Amarelamento das folhas devido à falta de clorofila. No contexto do artigo, é um sintoma que pode indicar tanto a deficiência quanto o excesso (toxidez) de níquel, embora não seja um sinal exclusivo.

  • CTC do solo (Capacidade de Troca de Cátions): A habilidade do solo de reter nutrientes de carga positiva (cátions), como o níquel. Solos com alta CTC, como os argilosos, seguram mais nutrientes, influenciando sua disponibilidade para as plantas.

  • FBN (Fixação Biológica de Nitrogênio): Processo realizado por bactérias nas raízes de leguminosas (como a soja) que converte o nitrogênio do ar em uma forma utilizável pela planta. O níquel é vital para a FBN, pois compõe enzimas essenciais para a eficiência desse processo.

  • Fitoalexinas: Substâncias de defesa produzidas pela própria planta quando atacada por patógenos. O níquel participa da produção desses compostos, aumentando a resistência natural da cultura a doenças.

  • Hidrogenase: Enzima que contém níquel e é crucial para otimizar o processo de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN). Ela ajuda a reciclar energia durante a fixação, tornando-a mais eficiente.

  • Micronutrientes: Elementos essenciais para as plantas, porém exigidos em quantidades muito pequenas. Assim como o boro e o zinco, o níquel é um micronutriente cuja ausência pode comprometer todo o ciclo da cultura.

  • pH do solo: Medida que indica o nível de acidez ou alcalinidade do solo. É o principal fator que controla a disponibilidade de níquel: quanto mais ácido o solo (pH baixo), mais disponível o níquel estará para a absorção pelas plantas.

  • Urease: Enzima que depende do níquel para converter a uréia em amônia, uma forma de nitrogênio que a planta pode usar. Sem níquel, a urease não funciona, causando acúmulo de uréia e queima das pontas das folhas.

Da teoria à prática: como gerenciar o custo e o impacto dos micronutrientes

Entender a função do níquel é o primeiro passo, mas o verdadeiro desafio do produtor é traduzir esse conhecimento em ações rentáveis no campo. A adubação, especialmente com micronutrientes, exige um controle de custos rigoroso, pois cada aplicação impacta diretamente a margem de lucro da safra. Ferramentas de gestão agrícola como o Aegro são essenciais nesse processo, pois permitem registrar e analisar cada centavo investido em insumos, garantindo que o manejo nutricional não apenas melhore a produtividade, mas também a saúde financeira da fazenda.

Além do controle financeiro, tomar decisões baseadas em dados é fundamental. Registrar o histórico de análises de solo, aplicações e resultados da colheita em um só lugar transforma a gestão da sua propriedade. Que tal dar o próximo passo?

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Perguntas Frequentes

Qual a principal função do níquel nas plantas e por que ele é considerado essencial?

A principal função do níquel é ser um componente vital de enzimas, como a urease, que metaboliza o nitrogênio, e a hidrogenase, essencial para a fixação biológica de nitrogênio em leguminosas. Ele é considerado essencial porque a planta não consegue completar seu ciclo de vida (da germinação à produção de sementes) sem ele, e nenhum outro nutriente pode substituí-lo nessas funções.

Como diferenciar os sintomas de falta (deficiência) e excesso (toxidez) de níquel na lavoura?

A deficiência de níquel causa sintomas como necrose (queima) nas pontas das folhas, especialmente em soja, devido ao acúmulo tóxico de ureia. Já a toxidez por excesso de níquel geralmente causa clorose (amarelamento) nas folhas e uma redução geral no crescimento da planta, sintomas que podem ser facilmente confundidos com a falta de ferro ou manganês.

O que mais afeta a disponibilidade de níquel no solo para as minhas plantas?

O fator que mais influencia a disponibilidade de níquel é o pH do solo. Em solos mais ácidos (pH baixo), o níquel se torna mais disponível para a absorção pelas raízes. Em solos mais alcalinos (pH alto), sua disponibilidade diminui drasticamente. A textura do solo também é importante, com solos argilosos tendo maior capacidade de reter o níquel.

Qual a importância específica do níquel para a cultura da soja?

Para a soja, o níquel é crucial em duas frentes. Primeiro, ele ativa a enzima urease, impedindo o acúmulo de ureia que causa a queima das folhas. Segundo, ele é fundamental para a enzima hidrogenase, que otimiza a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) nos nódulos das raízes, melhorando a nodulação e, consequentemente, a produtividade de grãos.

Preciso fazer uma adubação específica com níquel na minha fazenda?

Geralmente não é necessário, pois a exigência das plantas é muito baixa e os solos costumam suprir essa demanda. Ainda não existem recomendações oficiais de adubação com níquel no Brasil. A melhor prática é realizar análises de solo e foliar e consultar um engenheiro agrônomo para determinar se há uma real necessidade de suplementação.

A deficiência de níquel é um problema comum na agricultura brasileira?

Não, a deficiência de níquel é considerada rara em condições de campo no Brasil. Embora sua falta possa impactar severamente a cultura, a quantidade necessária é tão pequena que o solo e outros fertilizantes (como calcário e fosfatados) geralmente fornecem o suficiente para as plantas se desenvolverem adequadamente.

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