Nematoides do Milho: Como Identificar e Combater esse Inimigo Silencioso

Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutorando em Produção Vegetal pela (ESALQ/USP). Especialista em Manejo e Produção de Culturas no Brasil.
Nematoides do Milho: Como Identificar e Combater esse Inimigo Silencioso

O Brasil se destaca como o terceiro maior produtor de milho do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Para a safra 2023/24, a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) estimou uma produção nacional de 118,5 milhões de toneladas.

No entanto, um inimigo invisível ameaça essa produtividade. Um estudo da Syngenta, Agroconsult e Sociedade Brasileira de Nematologia calcula que os prejuízos causados por nematoides podem ultrapassar R$ 873 bilhões até 2031. Desse total, mais de R$ 110 bilhões estariam ligados diretamente às perdas na produção de milho.

Os nematoides do milho representam um dos maiores desafios para o produtor. Por serem vermes microscópicos que vivem no solo, eles atacam as raízes de forma silenciosa, mas causam perdas econômicas gigantescas.

Principais Sintomas de Nematoides no Milho

O principal alvo dos nematoides do milho é o sistema radicular, a base de sustentação da planta. Ao atacar as raízes, eles comprometem a capacidade da planta de absorver água e nutrientes essenciais do solo.

Diferente da soja, onde os ataques de nematoides costumam formar “reboleiras” (manchas bem definidas de plantas fracas), no milho o impacto é mais discreto e espalhado, mas igualmente prejudicial.

Identificar os sinais logo no início é fundamental para salvar a lavoura. Fique atento se a sua plantação apresentar os seguintes sintomas:

  • Manchas desuniformes no campo: Áreas onde as plantas de milho crescem em alturas e com vigor diferentes umas das outras.
  • Folhas amareladas: Um sinal claro de que a planta não está conseguindo absorver os nutrientes do solo corretamente.
  • Raízes deformadas ou com galhas: Um sintoma clássico do ataque do nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.). [Galhas]: significa inchaços ou caroços que se formam nas raízes.
  • Desenvolvimento reduzido: As plantas atacadas crescem menos, um problema que fica ainda mais evidente em períodos de falta de água.

Esses sintomas costumam aparecer com mais força em solos com histórico de compactação ou baixa fertilidade, pois essas condições dificultam ainda mais o trabalho das raízes já danificadas.

planilha de planejamento da safra de milho

Como Funciona o Ciclo de Vida dos Nematoides no Solo

Os nematoides possuem um ciclo de vida que passa pelas fases de ovo, larva e adulto. Fatores como a temperatura e a umidade do solo influenciam diretamente a rapidez com que eles se reproduzem e se tornam ativos na lavoura.

Em solos compactados ou mal manejados, os nematoides encontram o ambiente perfeito para se multiplicar. Além disso, algumas práticas comuns podem agravar o problema:

  • Uso de maquinário contaminado: Tratores e implementos que carregam solo de uma área infestada para outra.
  • Cultivo contínuo de plantas hospedeiras: Plantar milho safrinha após milho verão, ou outras culturas que também alimentam os nematoides.
  • Presença de plantas daninhas e tigueras: O mato e as plantas de milho voluntárias ([tigueras]: significa plantas que nascem de grãos perdidos na colheita anterior) servem de “ponte”, mantendo a população de nematoides viva entre uma safra e outra.

Espécies de Nematoides que Mais Atacam o Milho

Os nematoides do milho podem atacar as plantas em qualquer fase, desde a germinação. Por isso, o manejo correto desde o início do ciclo é tão importante.

A falta de controle pode levar a danos devastadores, com perdas que podem chegar a 50% da produção em áreas com alta infestação logo no início do desenvolvimento da lavoura.

Conhecer os principais parasitas é o primeiro passo para o controle. Confira os mais comuns:

1. Meloidogyne spp. (Nematoide-das-galhas)

Este nematoide causa a formação de galhas nas raízes. Essas galhas são inchaços que atrapalham a absorção de água e nutrientes, deixando as plantas fracas e debilitadas.

Seu ciclo de vida se completa entre o solo e as raízes da planta hospedeira. Além do milho, ele também é um problema sério em culturas como soja, tomate, algodão, batata e cenoura.

close-up detalhado do sistema radicular de uma planta jovem de milho, que foi removida do solo para inspeçã Figura 2. Galhas em raízes de milho causadas pela atividade do nematoide-das-galhas. Fonte: NCStateExtension, 2022.

2. Pratylenchus spp. (Nematoide-das-lesões-radiculares)

Este tipo ataca diretamente as células das raízes, abrindo feridas (lesões) que servem como porta de entrada para outras doenças, como fungos e bactérias.

O Pratylenchus spp. é classificado como um endoparasita migrador: significa que ele se move e se alimenta por dentro dos tecidos das raízes, destruindo-as de dentro para fora.

  • O Pratylenchus zeae é mais comum em áreas onde se cultiva principalmente gramíneas (como o próprio milho).
  • O P. brachyurus aparece com mais frequência em sistemas que fazem rotação com soja e algodão, pois ele consegue se alimentar de uma grande variedade de plantas.

Os principais sintomas do seu ataque são lesões escuras e apodrecidas (necroses) nas raízes e uma grande redução no número de radicelas (as raízes finas responsáveis pela absorção), resultado direto da sua alimentação e movimentação.

close-up detalhado do sistema radicular de uma planta, isolado contra um fundo branco e limpo. As raízes fo Figura 3. Lesões necróticas em raízes de milho causadas pelo nematoide-das-lesões. Fonte: ExtensionAUS, 2017.

Quais Danos Indiretos os Nematoides do Milho Causam?

Além dos danos diretos às raízes, como necroses e deformações, os nematoides enfraquecem todo o sistema radicular. Essa fragilidade facilita a entrada de outros patógenos, resultando em um complexo de doenças:

  1. Podridão radicular por Fusarium spp.: As feridas abertas pelos nematoides se tornam portas de entrada para esse fungo, apodrecendo as raízes.
  2. Murcha bacteriana: Da mesma forma, os nematoides abrem caminho para infecções por bactérias que causam a murcha da planta.
  3. Deficiências nutricionais generalizadas: Mesmo com solo bem adubado, as raízes danificadas simplesmente não conseguem absorver os nutrientes de forma adequada.

Você também pode ter interesse

Como Reconhecer os Diferentes Tipos de Nematoides na Lavoura?

A identificação de nematoides do milho é um desafio, pois os sintomas podem ser facilmente confundidos com falta de nutrientes ou outras condições, como o estresse por falta de água.

No entanto, observar o comportamento das plantas e fazer análises de solo e raízes em laboratório ajuda a diferenciar os tipos de nematoides que estão atacando a sua lavoura.

  • O nematoide-das-lesões (Pratylenchus spp.) é identificado pelas lesões escuras nas raízes, pela redução das radicelas e pela formação de reboleiras com plantas menores.
  • O nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.) é mais fácil de identificar visualmente pela formação das galhas (caroços) nas raízes, que ficam visivelmente deformadas. O amarelecimento das folhas também é um sintoma comum.

Além desses, existem os nematoides ectoparasitas: são aqueles que se alimentam das raízes pelo lado de fora, sem entrar nelas. Seus sintomas na parte aérea da planta são menos óbvios, mas a redução do crescimento das raízes é um forte indicador de sua presença.

A tabela abaixo resume as principais diferenças para facilitar o diagnóstico no campo.

Nematoide-das-Lesões (Pratylenchus spp.)

  • Sintomas Característicos:
    • Lesões escuras (necróticas) nas raízes
    • Redução das raízes finas (radicelas)
    • Reboleiras com plantas menores
  • Diferenciação em Campo: As lesões se espalham ao longo das raízes e não há formação de galhas.

Nematoide-das-Galhas (Meloidogyne spp.)

  • Sintomas Característicos:
    • Formação de galhas (caroços) nas raízes
    • Raízes deformadas
    • Amarelecimento das folhas
  • Diferenciação em Campo: Presença clara de galhas visíveis e deformações marcantes nas raízes.

Nematoides Ectoparasitas

  • Sintomas Característicos:
    • Redução no crescimento geral das raízes
    • Sintomas menos claros na parte aérea
  • Diferenciação em Campo: Geralmente não causam galhas ou lesões visíveis; vivem no solo ao redor das raízes.

Fonte: ExtensionAUS, 2017.

Manejo Integrado: A Melhor Solução Contra os Nematoides do Milho

A forma mais eficiente de controlar nematoides no milho é através do manejo integrado, que combina práticas culturais, biológicas e químicas. Nenhuma estratégia funciona bem sozinha. Confira as ações indispensáveis:

  1. Faça a rotação de culturas: Alterne o milho com plantas que não servem de alimento para os nematoides, como a crotalária (Crotalaria spp.) ou a braquiária (Brachiaria spp.). Isso reduz a população deles no solo por “matá-los de fome”.
  2. Escolha cultivares resistentes: Dê preferência a híbridos de milho que possuem menor fator de reprodução para os nematoides presentes na sua área. Isso ajuda a diminuir os danos.
  3. Utilize o controle biológico: Produtos à base de organismos como a bactéria Bacillus amyloliquefaciens oferecem uma solução sustentável, pois atacam os nematoides e ao mesmo tempo fortalecem as plantas.
  4. Use nematicidas químicos com critério: A aplicação de químicos deve ser uma medida complementar, usada apenas em áreas com infestações muito altas e sempre com a recomendação de um engenheiro agrônomo.
  5. Invista em adubação orgânica: A matéria orgânica melhora a biodiversidade do solo, estimulando a ação de inimigos naturais dos nematoides e criando um ambiente mais equilibrado.

Para potencializar os resultados no manejo, o Aegro oferece o uso de imagens de satélite e NDVI, permitindo monitorar a saúde da sua lavoura de forma prática. Com essa tecnologia, você identifica áreas com estresse antes mesmo que os sintomas sejam visíveis a olho nu.

Assim, é possível direcionar o manejo de nematoides e outras práticas com muito mais eficiência, otimizando o uso de insumos e maximizando os resultados da sua produção.

Faça uma demonstração e conheça a plataforma!

Conhecer Plataforma Aegro


Glossário

  • Ectoparasitas: Nematoides que se alimentam das raízes pelo lado de fora, sem penetrar nos tecidos. Agem como “mosquitos” da raiz, picando e sugando nutrientes da superfície, enfraquecendo a planta.

  • Endoparasita migrador: Organismo que entra, se move e se alimenta dentro dos tecidos da raiz da planta. Este tipo de nematoide, como o Pratylenchus spp., destrói o sistema radicular de dentro para fora.

  • Galhas: Inchaços ou caroços anormais que se formam nas raízes, causados pela reação da planta ao ataque de certos nematoides (Meloidogyne spp.). Essas estruturas dificultam a absorção de água e nutrientes, como se fossem “calos” nas raízes.

  • Necroses: Manchas escuras e apodrecidas que indicam a morte do tecido da raiz. São como feridas que servem de porta de entrada para fungos e bactérias, agravando os danos à planta.

  • Nematoides: Vermes de tamanho microscópico que vivem no solo e atacam as raízes das plantas. São parasitas silenciosos que roubam nutrientes e comprometem o desenvolvimento de toda a lavoura.

  • Radicelas: As raízes mais finas e delicadas do sistema radicular, responsáveis pela maior parte da absorção de água e nutrientes do solo. A destruição das radicelas é um dos principais danos causados por nematoides.

  • Reboleiras: Manchas ou áreas circulares na lavoura onde as plantas apresentam desenvolvimento visivelmente inferior, com amarelamento ou murcha. São um forte indício visual de infestação por nematoides ou outras doenças de solo.

  • Tigueras: Plantas voluntárias que nascem de grãos ou sementes perdidos na colheita anterior. Elas servem de “ponte verde”, abrigando pragas e doenças, como os nematoides, entre uma safra e outra.

Como a tecnologia otimiza o manejo de nematoides

Implementar um Manejo Integrado de Nematoides, que combina rotação de culturas, controle biológico e aplicações no momento certo, é uma tarefa complexa. Registrar o histórico de atividades de cada talhão e controlar os custos de cada operação são desafios que, se não forem bem gerenciados, podem comprometer a rentabilidade da safra.

Um software de gestão agrícola como o Aegro simplifica esse processo, centralizando todas as informações em um só lugar. Com ele, é possível planejar e registrar cada atividade da lavoura, garantindo que nenhuma etapa do manejo seja esquecida.

Além disso, o controle preciso dos custos com insumos e defensivos permite avaliar a eficácia de cada estratégia, conectando os investimentos no controle de nematoides diretamente aos resultados de produtividade. Assuma o controle total da sua lavoura e tome decisões mais seguras para combater os nematoides.

Experimente o Aegro gratuitamente e veja como a gestão organizada pode proteger sua produtividade.

Perguntas Frequentes

Por que os nematoides são tão prejudiciais para a lavoura de milho, mesmo sendo invisíveis?

Apesar de microscópicos, os nematoides atacam diretamente o sistema radicular da planta. Ao danificar as raízes, eles comprometem a capacidade do milho de absorver água e nutrientes essenciais do solo, resultando em plantas fracas, desenvolvimento reduzido e perdas significativas de produtividade que podem chegar a 50% em áreas de alta infestação.

Qual é a principal diferença visual entre o ataque do nematoide-das-galhas e o das-lesões?

A diferença é bem clara nas raízes. O nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.) provoca a formação de inchaços ou caroços visíveis, conhecidos como galhas. Já o nematoide-das-lesões (Pratylenchus spp.) não forma galhas, mas causa lesões escuras e apodrecidas (necroses) ao longo das raízes, que parecem feridas.

Se eu suspeitar de nematoides, qual é a primeira medida prática que devo tomar?

A primeira e mais importante medida é a confirmação diagnóstica. Colete amostras de solo e de raízes das áreas suspeitas (reboleiras) e envie para um laboratório de nematologia. A análise identificará as espécies de nematoides presentes e a densidade populacional, informações cruciais para definir a melhor estratégia de manejo.

A rotação de culturas é realmente eficaz contra os nematoides do milho?

Sim, é uma das estratégias mais eficazes. Ao plantar culturas não hospedeiras, como a crotalária ou a braquiária, você interrompe o ciclo de vida dos nematoides, que morrem por falta de alimento. Essa prática reduz drasticamente a população do parasita no solo para a safra seguinte de milho.

O uso de nematicidas químicos é suficiente para resolver o problema?

Não. O uso isolado de nematicidas químicos é uma solução pontual e não sustentável. A abordagem mais eficiente é o Manejo Integrado, que combina diferentes táticas como rotação de culturas, uso de cultivares resistentes, controle biológico e matéria orgânica. Os químicos devem ser usados como uma ferramenta complementar, não como a única solução.

O que são ‘plantas tigueras’ e por que elas são um problema para o controle de nematoides?

Plantas tigueras são plantas de milho voluntárias que nascem de grãos perdidos na colheita anterior. Elas funcionam como uma ‘ponte verde’, servindo de alimento e abrigo para os nematoides entre uma safra comercial e outra. A falta de controle das tigueras permite que a população de nematoides se mantenha alta no solo, aumentando a infestação na safra seguinte.

Artigos Relevantes

  • Tipos de nematoides: conheça suas características e saiba como combatê-los: Este artigo complementa perfeitamente o conteúdo principal ao oferecer uma visão panorâmica sobre os diversos gêneros de nematoides que afetam a agricultura. Enquanto o artigo principal foca em Meloidogyne e Pratylenchus no milho, este candidato expande o conhecimento do leitor para outros tipos como Heterodera e Rotylenchulus, reforçando a necessidade de um diagnóstico preciso em laboratório para a escolha correta do manejo.
  • Como controlar o nematoide das galhas de uma vez por todas: Este artigo funciona como um aprofundamento essencial sobre o nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.), um dos principais vilões citados no artigo sobre milho. Ele agrega um valor único ao detalhar os sintomas em outras culturas importantes na rotação, como soja e algodão, e, crucialmente, ensina a diferenciar as galhas dos nódulos de fixação de nitrogênio, uma dúvida prática e comum para produtores.
  • Guia completo de análise e manejo dos principais nematoides no algodão: Este artigo preenche uma lacuna prática fundamental do artigo principal, que recomenda a análise de solo sem detalhar o processo. O valor inestimável deste candidato está em seu guia visual e detalhado de ‘Como Coletar as Amostras’, transformando a recomendação de diagnóstico em um procedimento acionável e claro para o produtor, garantindo que a análise seja feita corretamente.
  • Crotalária: por que ela é uma boa opção de adubação verde e controle de nematoides: O artigo principal recomenda a rotação de culturas com crotalária como uma estratégia chave de manejo. Este candidato é o complemento perfeito, pois se dedica exclusivamente a essa solução, explicando como a crotalária controla os nematoides, qual espécie escolher para cada tipo de nematoide e os benefícios adicionais para a saúde do solo, como a fixação de nitrogênio. Ele transforma uma recomendação geral em um plano de manejo completo e detalhado.
  • Uso de Bacillus subtilis no controle de nematoides na soja: Enquanto o artigo principal menciona o controle biológico como parte do manejo integrado, este artigo aprofunda-se em uma das tecnologias mais promissoras: o Bacillus subtilis. Ele detalha o mecanismo de ação da bactéria, seu duplo benefício como nematicida e bioestimulante, e as formas de aplicação. Isso oferece ao leitor o conhecimento científico e prático por trás de uma das soluções sustentáveis mais importantes.