Hoje, 8 de março, celebramos o Dia Internacional da Mulher, uma data que reconhece a importância fundamental das mulheres em toda a sociedade. No agronegócio, essa presença é cada vez mais forte e decisiva.
Seja dentro de casa, ao volante da caminhonete, na bancada do laboratório ou na mesa de um escritório, as mulheres impulsionam o crescimento da agricultura brasileira.
Para homenagear e celebrar essa força, reunimos as histórias de mulheres incríveis que fizeram e continuam fazendo a diferença na evolução do nosso setor. Vamos conhecer quem são elas.
(Fonte: IBGE)
1. Johanna Döbereiner: A Cientista que Eliminou a Adubação Nitrogenada na Soja
Nascida em 1924 na antiga Tchecoslováquia, Johanna Döbereiner formou-se em Agronomia na Alemanha e chegou ao Brasil em 1951. Embora não tenha sido a primeira a descobrir a fixação de nitrogênio na soja, foi por causa dela que hoje não precisamos adubar essa cultura com fertilizantes nitrogenados em nosso país.
Nos anos 60, o Brasil buscava se tornar uma potência agrícola, e a ocupação do Centro-Oeste era um passo crucial. A soja se encaixava perfeitamente nessa estratégia, mas adaptá-la ao nosso solo e clima era um desafio.
Para isso, foi criada em 1963 a Comissão Nacional da Soja, da qual Johanna fez parte. Foi ali que começou um grande debate. A maioria dos pesquisadores, com formação norte-americana, não acreditava que a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) — processo em que bactérias capturam o nitrogênio do ar e o fornecem para a planta — funcionaria em larga escala.
(Fonte: Embrapa)
Johanna, no entanto, defendeu sua visão com firmeza. Ela mesma comentou sobre o embate:
“(…) eu reagi. Nas reuniões, tivemos uma discussão muito forte tentando convencê-los a fazer o melhoramento da soja sem adubo nitrogenado – que era muito caro para o Brasil – e com a aplicação de bactérias, o que conseguimos”.
Graças à sua persistência, a pesquisa brasileira de soja foi desenvolvida para maximizar a simbiose — uma parceria benéfica entre as bactérias e as raízes da planta. O resultado foi uma soja altamente produtiva sem a necessidade de adubos nitrogenados, gerando uma economia anual de cerca de 1 bilhão de dólares. Isso tornou a soja brasileira muito mais barata e competitiva no mercado global.
Uma Carreira Dedicada à Ciência Sustentável
Johanna tornou-se cidadã brasileira em 1956 e dedicou sua vida a entender a fixação biológica de nitrogênio. Seu objetivo sempre foi desenvolver práticas agrícolas mais sustentáveis.
Ela também descobriu bactérias fixadoras de nitrogênio em outras culturas de grande importância para o Brasil, como o milho e a cana-de-açúcar.
Seu trabalho a tornou uma autoridade mundial no assunto, rendendo-lhe diversos prêmios e até mesmo uma indicação ao Prêmio Nobel de Química. Johanna viveu de seu salário como pesquisadora da Embrapa, na mesma casa por 48 anos, até seu falecimento em 2000.
2. Irmãs Gangini: A Sucessão Familiar e a Modernização da Gestão
Há nove anos, após o falecimento do pai, as irmãs Cristiane e Mara Gangini assumiram a gestão da fazenda de 300 hectares da família em Minas Gerais.
Na divisão de tarefas, Cristiane cuida da parte administrativa, enquanto Mara foca no operacional. Ambas são formadas em administração, e Mara também em direito. Embora contem com o apoio de consultores, são elas que controlam cada detalhe do processo produtivo.
Cristiane conta que o pai não imaginava que as filhas seguiriam para o campo, principalmente pela dureza do trabalho. No entanto, elas decidiram assumir o desafio, e a maior transformação que promoveram foi na gestão agrícola.
Com o tempo, a necessidade de um controle financeiro e operacional mais detalhado ficou evidente. Com a ajuda do software agrícola Aegro, essa gestão se tornou mais fácil e ágil. Aliado ao conhecimento e à experiência das irmãs, o resultado é uma gestão exemplar.
O caminho, porém, teve seus desafios. Cristiane relata que enfrentaram preconceito por parte de alguns funcionários, mas superaram a desconfiança com diálogo e muito trabalho.
“Antes nós éramos conhecidas por filhas do Zé. Hoje nós somos conhecidas pelas irmãs Gangini, ou seja, conseguimos conquistar o respeito do pessoal”.
Ela observa que o cenário está mudando. Se no passado não foram incentivadas a estudar agronomia, hoje veem muitas famílias apoiando as mulheres a seguir carreira no agro. Agradecemos às irmãs Gangini pela confiança e por representarem tantas mulheres que assumiram com coragem o comando de suas propriedades.
3. Veridiana Victoria Rossetti: A Pioneira no Controle de Doenças dos Citros
Victoria Rossetti (1917-2010) foi uma pioneira desde o início. Formou-se em 1937 pela ESALQ/USP, tornando-se a primeira Engenheira Agrônoma do estado de São Paulo e a segunda do Brasil.
Em 1940, ingressou no Instituto Biológico do Estado de São Paulo, onde dedicou toda a sua carreira ao estudo de doenças da citricultura brasileira.
Seu trabalho foi fundamental para criar estratégias de manejo fitossanitário — o controle de pragas e doenças nas plantas — eficientes contra problemas devastadores como:
- Leprose do citros: doença viral que causa manchas nas folhas e frutos.
- Cancro cítrico: doença bacteriana que provoca lesões em toda a planta.
- Clorose variegada (CVC): conhecida como “amarelinho”, entope os vasos da planta, impedindo a passagem de água e nutrientes.
Com suas pesquisas, Victoria Rossetti tornou-se uma das maiores especialistas do mundo em doenças de citros. Sua contribuição mais valiosa foi a capacidade de levar o conhecimento científico do laboratório para a prática no campo, orientando produtores e a assistência técnica.
Mesmo após se aposentar em 1987, continuou trabalhando até 2003. Foi Membro da Academia Brasileira de Ciências e recebeu a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico em 2004.
4. Ticiane Figueirêdo: A Liderança que Conecta Mulheres no Agronegócio
Advogada de formação e especialista em agronegócio, Ticiane Figueirêdo tem um papel fundamental na articulação das mulheres no setor atualmente.
Ela é a idealizadora e organizadora do “Núcleo São Paulo das Mulheres do Agronegócio”, uma iniciativa que a consolidou como uma das grandes lideranças femininas do setor.
O evento promove palestras e debates sobre temas relevantes, levando conhecimento e incentivando a troca de experiências entre as participantes, com o objetivo de fortalecer a presença e a relevância da mulher no agronegócio.
Além de sua atuação no Núcleo, Ticiane também é:
- Membro efetivo da Comissão Especial de Agronegócios e de Relações Agrárias da OAB/SP.
- Gerente de equipes jurídicas que atendem grandes empresas nacionais e multinacionais do agronegócio.
5. Leila Macedo: A Voz da Biotecnologia e da Biossegurança no Brasil
Com Ph.D. em Microbiologia e Imunologia, Leila Macedo é uma das principais responsáveis pelo avanço da biotecnologia no Brasil.
A cientista teve um papel decisivo na elaboração da Lei de Biossegurança — conjunto de regras que garante o uso seguro de organismos geneticamente modificados (OGMs). Ela foi a primeira mulher a presidir a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), entre 1999 e 2001. A CTNBio é o órgão responsável por avaliar e liberar o uso de tecnologias como sementes transgênicas no país.
“Em um ambiente predominantemente masculino, usei o rigor científico para trazer o foco em segurança, performance e entrega de resultados”.
Leila ajudou a estabelecer as normas que guiam os profissionais da biotecnologia, influenciando políticas públicas e impactando positivamente a produtividade e a segurança da agricultura brasileira. Por suas contribuições, recebeu o Prêmio Norman Borlaug Sustentabilidade em 2018.
Leila Macedo no Congresso Brasileiro do Agronegócio, onde recebeu o prêmio Norman Borlaug Sustentabilidade
(Fonte: M1)
6. Celi Webber Mattei: Gestão e Liderança à Frente de uma Grande Empresa Rural
Localizada em Coxilha (RS), a Sementes Webber é uma grande empresa que produz e comercializa sementes para parceiros como a Pioneer e a Ambev. Além disso, a empresa rural produz grãos em larga escala e possui uma impressionante estrutura de armazenamento.
No comando desse negócio está a agrônoma Celi Webber Mattei.
Ela chefia uma grande equipe de funcionários e atua diretamente na lavoura como responsável técnica dos produtos, enquanto sua irmã cuida da área administrativa e social.
Celi relata que já enfrentou dificuldades no relacionamento profissional com alguns homens, especialmente os mais velhos, que demonstravam resistência à liderança feminina. Nesses casos, ela prefere usar o diálogo e a valorização das pessoas para mostrar sua competência.
“Não é preciso ser enérgica ou gritar para ser um bom gestor”.
Ela foi uma das primeiras mulheres a participar do sindicato rural da sua região e hoje integra a diretoria da entidade. Como reconhecimento por seu trabalho, Celi recebeu o 1º Prêmio Mulheres do Agro na categoria de grande propriedade.
A produtora e empresária acredita que o conhecimento foi a chave para a mulher ganhar espaço.
“Ser mulher é uma luta constante. E sempre será”.
O Legado Continua: O Papel Essencial da Mulher no Agro Moderno
Fica aqui nosso reconhecimento e gratidão a todas as mulheres que vieram antes de nós, enfrentando batalhas em tempos ainda mais difíceis.
Agradecemos àquelas que acordavam de madrugada para preparar a comida da família, que cuidavam da casa e das finanças da propriedade enquanto todos estavam na lida, e àquelas que desbravaram fronteiras agrícolas pelo Brasil.
A coragem de todas elas foi o que permitiu que hoje a mulher assumisse o protagonismo no campo. Sem o trabalho, muitas vezes invisível, dessas pioneiras, o agronegócio não seria o que é.
Hoje, as mulheres ocupam todos os espaços: são donas de casa, empresárias, mães, pesquisadoras, gestoras. Elas estão no dia a dia do campo, na bancada do laboratório, na cabine da colheitadeira e na mesa de negociações, revolucionando todos os dias a agricultura brasileira. Afinal, lugar de mulher é onde ela quiser.
Glossário
Adubação Nitrogenada: Aplicação de fertilizantes ricos em nitrogênio para nutrir as plantas. O trabalho de Johanna Döbereiner demonstrou que, no caso da soja, essa prática é desnecessária no Brasil graças à Fixação Biológica de Nitrogênio.
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio): Órgão do governo brasileiro responsável por avaliar a segurança de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). A CTNBio autoriza ou não a pesquisa e a comercialização de produtos como sementes transgênicas no país.
Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): Processo natural em que bactérias presentes no solo convertem o nitrogênio do ar em uma forma que as plantas, especialmente leguminosas como a soja, podem absorver e utilizar como nutriente. Essa tecnologia dispensa o uso de fertilizantes nitrogenados na cultura.
Gestão Agrícola: Conjunto de práticas para administrar uma propriedade rural, envolvendo o controle financeiro, planejamento de safras, gestão de estoque e de pessoal. O objetivo é otimizar os recursos para aumentar a lucratividade e a eficiência.
Lei de Biossegurança: Conjunto de normas que regulamenta o uso e a comercialização de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) no Brasil. Sua função é garantir que a biotecnologia seja usada de forma segura para a saúde humana e o meio ambiente.
Manejo Fitossanitário: Estratégias integradas para proteger as plantas contra pragas, doenças e plantas daninhas. Inclui ações como o monitoramento da lavoura, a escolha de variedades resistentes e a aplicação controlada de defensivos.
Organismos Geneticamente Modificados (OGMs): Plantas ou outros seres vivos cujo material genético foi alterado em laboratório para adicionar características específicas. Exemplos comuns são a soja e o milho transgênicos, que podem ser resistentes a herbicidas ou a insetos-praga.
Simbiose: Relação de benefício mútuo entre dois organismos diferentes. Na agricultura, um exemplo clássico é a parceria entre as raízes da soja e as bactérias que realizam a FBN, onde a planta fornece abrigo e energia, e as bactérias fornecem nitrogênio.
A tecnologia como aliada da gestão feminina no campo
As histórias das irmãs Gangini e de Celi Webber Mattei mostram uma realidade comum: a sucessão familiar e a necessidade de modernizar a gestão. Assumir o controle financeiro, planejar a safra e organizar as atividades diárias são desafios enormes, especialmente ao transitar de anotações em papel para um sistema digital. Um software de gestão agrícola como o Aegro foi pensado para simplificar essa jornada, centralizando todas as informações da fazenda – do fluxo de caixa ao planejamento de atividades no campo – em um só lugar. Com relatórios visuais e um aplicativo fácil de usar, ele permite que gestoras e gestores tomem decisões mais rápidas e seguras, com base em dados precisos, garantindo a lucratividade e o legado da propriedade.
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Perguntas Frequentes
Qual foi a principal contribuição de Johanna Döbereiner para a soja no Brasil?
A contribuição fundamental de Johanna Döbereiner foi provar que a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) era viável em larga escala. Sua pesquisa permitiu que a soja brasileira fosse cultivada sem a necessidade de adubação nitrogenada, o que reduziu drasticamente os custos de produção, aumentou a competitividade do país no mercado global e gerou uma economia de bilhões de dólares anuais.
O que é a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) e por que ela é tão importante?
A FBN é um processo natural em que bactérias que vivem em simbiose com as raízes da soja capturam o nitrogênio do ar e o fornecem para a planta. Sua importância é imensa, pois substitui a necessidade de fertilizantes nitrogenados químicos, que são caros e têm impacto ambiental. Essa tecnologia torna a agricultura mais sustentável e econômica.
Quais os maiores desafios que as mulheres ainda enfrentam na gestão de fazendas?
Conforme relatado no artigo por Celi Webber e as irmãs Gangini, um dos maiores desafios ainda é o preconceito e a desconfiança em um ambiente predominantemente masculino. Muitas precisam provar sua competência constantemente, usando o diálogo, a gestão baseada em dados e a busca por conhecimento para conquistar o respeito e consolidar sua liderança.
Como a tecnologia e softwares de gestão podem apoiar a liderança feminina no agronegócio?
A tecnologia é uma grande aliada, pois permite uma gestão baseada em dados precisos, e não em achismos. Ferramentas como o Aegro centralizam informações financeiras e operacionais, facilitando o planejamento, o controle de custos e a tomada de decisões. Isso fortalece a posição da gestora, otimiza os resultados da fazenda e ajuda a modernizar o negócio familiar.
O que a história das irmãs Gangini ensina sobre a sucessão familiar liderada por mulheres?
A trajetória das irmãs Gangini demonstra que a sucessão feminina pode ser muito bem-sucedida quando baseada em conhecimento, divisão clara de responsabilidades e na modernização da gestão. Elas mostram que, ao assumir o negócio, é fundamental profissionalizar os processos, adotar novas tecnologias e focar nos resultados para garantir a continuidade e o crescimento da propriedade.
Por que a criação da Lei de Biossegurança foi um marco para o agronegócio brasileiro?
A Lei de Biossegurança, que teve contribuição decisiva de Leila Macedo, foi um marco porque estabeleceu regras claras e seguras para o uso de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). Isso deu segurança jurídica para que o Brasil pudesse adotar sementes transgênicas, impulsionando a produtividade de culturas como soja e milho e mantendo o país na vanguarda da biotecnologia agrícola.
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