Fungicida Morfolina: O Que É e Como Usar no Manejo de Doenças

Redatora parceira Aegro.
Fungicida Morfolina: O Que É e Como Usar no Manejo de Doenças

A resistência de fungos a fungicidas é um desafio crescente no campo. Isso exige que o produtor busque alternativas de manejo, especialmente rotacionando grupos químicos diferentes para quebrar o ciclo de resistência.

Nesse cenário, os fungicidas do grupo das morfolinas surgem como uma ferramenta estratégica. Contudo, para garantir sua eficácia máxima, é fundamental entender como usá-los corretamente.

Neste guia completo, vamos detalhar o modo de ação das morfolinas, as indicações de uso para soja e outras culturas, e os cuidados essenciais para uma aplicação segura e eficiente!

O que é morfolina?

Morfolina é o nome de um grupo químico de fungicidas que pode ser utilizado em diversos momentos do ciclo da soja.

Sua principal característica é o modo de ação curativo. Isso significa que ela age depois que os esporos do fungo já germinaram na folha da planta, impedindo que a infecção avance e que o fungo colonize os tecidos vegetais.

Como a sua ação causa a morte dos fungos que já estão presentes, as aplicações feitas antes da doença aparecer não terão efeito.

Quando usada corretamente dentro de um programa de manejo, a morfolina apresenta um risco considerado de médio a baixo para o desenvolvimento de resistência.

Como a morfolina funciona

A morfolina é um fungicida sistêmico: significa que, após a aplicação, ela é absorvida pela planta e transportada para outras partes através da seiva.

infográfico educacional que ilustra e compara os diferentes modos de ação de três tipos de fungicidas aplicados Modo de ação dos fungicidas conforme a sua capacidade de translocação. O fungicida sistêmico, como a morfolina, pode ser aplicado na parte aérea e ser transportado para outras partes da planta, como o sistema radicular.

(Fonte: adaptado pela autora de Dorrance e colaboradores., 2007)

Essa capacidade de translocação permite que a aplicação seja feita via foliar (na parte aérea), garantindo que o produto proteja também outras áreas da planta que não receberam o produto diretamente.

Recomendações de uso de morfolina na soja

Para garantir a eficiência do produto e evitar possíveis efeitos fitotóxicos (queima ou danos às plantas), alguns cuidados são essenciais durante a aplicação e recomendação.

Aqui estão os pontos mais importantes no uso de morfolinas:

  • Ação específica: As morfolinas não são eficazes contra fungos causadores de manchas foliares ou aqueles que sobrevivem em restos de cultura. Sua ação é direcionada a outros tipos de patógenos.
  • Ação curativa: Para o fungicida funcionar, a doença precisa estar presente e ativa na lavoura.
  • Momento correto: O tempo ideal para aplicar é logo no início dos sintomas da doença. Aplicações preventivas, antes do surgimento da infecção, não têm efeito.
  • Limitações de mistura: Tenha cuidado com misturas em tanque. A combinação com alguns fungicidas dos grupos dos triazóis e triazolintiones não é recomendada, pois pode aumentar o risco de fitotoxicidade.
  • Sempre em associação: Para um manejo antirresistência eficaz, as morfolinas devem ser sempre aplicadas em mistura com outros fungicidas de modos de ação diferentes. Isso evita que populações resistentes do fungo sejam selecionadas no campo.

Controle de ferrugem asiática da soja com morfolina

Na cultura da soja, a morfolina (especialmente o ingrediente ativo fenpropimorfe) é uma importante ferramenta para o controle da ferrugem asiática, principalmente dentro de um manejo para evitar a resistência.

gráfico de barras vertical que compara a produtividade agrícola, medida em quilogramas por hectare (kg ha⁻¹ Produtividade da soja no controle da ferrugem asiática com diferentes associações de fungicidas. O tratamento 6 ([trifloxistrobina + Proticonazol + Bixafem] + [Fenpropimorfe (morfolina)]) mostrou a maior produtividade, indicando um controle efetivo da doença.

(Fonte: Baldo, 2020)

A eficiência do controle depende diretamente do estádio da doença no momento da pulverização. A recomendação é clara: a aplicação deve ser feita logo no início dos sintomas, quando as primeiras pústulas aparecem no terço inferior da planta, conhecido como “baixeiro”.

As misturas podem ser feitas com fungicidas multissítios ou com combinações de triazóis + estrobilurinas. Ao misturar com triazóis, prefira os de menor agressividade (como o ciproconazole) para minimizar o risco de queima nas folhas.

Monitore a lavoura constantemente e realize as aplicações após o início do florescimento. Se os sintomas aparecerem antes desse estádio, a aplicação pode ser antecipada.

Siga estas regras de aplicação:

  • Limite de aplicações: Não ultrapasse 2 aplicações por ciclo da cultura.
  • Intervalo: Mantenha um intervalo de no máximo 14 dias entre as aplicações.
  • Doses maiores: Em situações de alta pressão de fungos, se a bula indicar doses mais altas, realize apenas uma aplicação. O risco de fitotoxicidade nessas condições é alto.

Sempre consulte a bula dos produtos para verificar as doses recomendadas para cada situação.

Este infográfico detalha a progressão da ferrugem asiática em correlação com os estádios fenológicos da cultura da soja. Na p Sintomas e sinais de ferrugem asiática. Monitore a cultura constantemente. As aplicações com morfolina em mistura só devem ser feitas com a presença inicial da doença, geralmente no terço inferior (“baixeiro”) da planta.

(Fonte: Bayer, 2021)

Controle de oídio na soja com morfolina

A morfolina também é uma opção para o controle de oídio. Nesses casos, pode ser utilizada em misturas com outros grupos, como estrobilurina + carboxamida.

close-up de folhas de uma planta, provavelmente soja, que estão severamente afetadas por uma doença fúngica Sintomas e sinais de oídio. A doença se apresenta como um pó “esbranquiçado” em ambas as faces da folha, podendo cobrir toda a planta, incluindo hastes e vagens.

(Fonte: Godoy e colaboradores, 2021)

O gatilho para a aplicação contra o oídio é quando a doença atinge cerca de 20% de severidade no terço inferior da planta.

Atenção: não realize aplicações após o estádio R5.5 da soja (início do enchimento de grãos).

Siga o número máximo de aplicações indicado na bula do produto. Geralmente, o ideal é realizar apenas uma aplicação por ciclo. Se uma segunda pulverização for necessária, utilize fungicidas de outros grupos químicos recomendados para o oídio, a fim de rotacionar os modos de ação.

Não se esqueça de monitorar a área e de consultar um engenheiro agrônomo.

Recomendações de morfolina para outras culturas

De acordo com o sistema Agrofit do MAPA, o uso de morfolina também é recomendado para o controle de doenças em outras culturas:

  • Algodão: Indicado para o controle da ramulária.
  • Cevada: Indicado para mancha-reticular e ferrugem-da-folha.
  • Trigo: Indicado para oídio, ferrugem-da-folha e ferrugem-do-colmo.

É importante observar que a morfolina pode causar queimaduras (fitotoxicidade) em algumas cultivares de trigo mais suscetíveis, especialmente sob certas condições climáticas.

Evite aplicar morfolina no trigo nas seguintes condições:

  • Baixa umidade: umidade relativa do ar inferior a 60%.
  • Alta temperatura: temperaturas acima de 30 °C.
  • Frio intenso: temperaturas muito baixas ou previsão de geadas próximas.
  • Previsão de chuva: chuvas nos quatro dias seguintes à aplicação podem reduzir o desempenho do fungicida.
  • Orvalho excessivo: a presença de orvalho também pode afetar a eficiência do produto.

Fique sempre de olho nas previsões climáticas para os dias após a pulverização.

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Conclusão

O uso de morfolinas é uma estratégia importante no manejo de resistência de doenças em culturas como soja, cevada, trigo e algodão.

Lembre-se que as aplicações devem ser curativas, ou seja, realizadas apenas quando a doença já está presente na área. Além disso, devem ser feitas sempre em mistura com outros princípios ativos para proteger a tecnologia.

Não deixe de seguir as recomendações da bula do produto e, para uma decisão mais segura e assertiva, procure sempre a orientação de um(a) engenheiro(a)-agrônomo(a).


Glossário

  • Baixeiro (ou terço inferior da planta): Refere-se à parte mais baixa da planta, onde estão as folhas mais velhas e próximas ao solo. É uma área crucial para o monitoramento, pois doenças como a ferrugem asiática costumam apresentar seus primeiros sintomas ali.

  • Estádio R5.5: Uma fase específica do ciclo de desenvolvimento da soja, que marca o início do enchimento dos grãos. É um ponto de referência importante, pois algumas aplicações de defensivos não são recomendadas após esta fase para evitar fitotoxicidade ou resíduos nos grãos.

  • Ferrugem asiática: Uma das principais doenças que afetam a cultura da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi. Caracteriza-se por pequenas pústulas nas folhas que reduzem a fotossíntese e podem causar perdas severas de produtividade.

  • Fitotoxicidade: Efeito tóxico de um produto químico (como um fungicida ou herbicida) sobre a planta. Manifesta-se como queimaduras, manchas, amarelamento ou deformação das folhas, prejudicando o desenvolvimento e o potencial produtivo da cultura.

  • Fungicida sistêmico: Tipo de fungicida que, após ser absorvido pela planta, é transportado internamente pela seiva. Essa característica permite que o produto proteja partes da planta que não foram atingidas diretamente pela pulverização, como brotos novos.

  • Modo de ação curativo: Refere-se à capacidade de um fungicida de controlar uma doença após a infecção já ter ocorrido. Diferente da ação preventiva (que protege a planta antes da chegada do fungo), a ação curativa interrompe o avanço da doença já instalada nos tecidos vegetais.

  • Morfolina: Grupo químico de fungicidas com forte ação curativa e sistêmica. É uma ferramenta estratégica no manejo de resistência de doenças como a ferrugem asiática e o oídio, pois seu modo de ação difere de outros grupos mais comuns.

  • Oídio: Doença fúngica que forma uma camada de pó branco ou acinzentado na superfície das folhas, hastes e vagens. Essa camada dificulta a fotossíntese, enfraquecendo a planta e reduzindo a produtividade.

Otimize seu manejo de fungicidas com tecnologia

O manejo eficaz de doenças, como a ferrugem asiática e o oídio, exige um controle rigoroso que vai além da escolha do fungicida. É preciso monitorar a lavoura constantemente, aplicar no momento exato e rotacionar os produtos corretamente para evitar a resistência. A gestão de todas essas informações no papel ou em planilhas pode ser um grande desafio operacional.

Softwares de gestão agrícola como o Aegro ajudam a resolver essa complexidade. Com ele, você pode planejar e registrar todas as atividades de monitoramento e pulverização diretamente do campo, pelo celular. Isso garante que as aplicações curativas, como as de morfolinas, sejam feitas no início dos sintomas, otimizando o controle e protegendo o potencial produtivo da sua safra.

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Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre um fungicida curativo como a morfolina e um fungicida preventivo?

A principal diferença está no momento da ação. Um fungicida preventivo cria uma barreira protetora na folha para impedir a entrada do fungo. Já um fungicida curativo, como a morfolina, age após a infecção ter ocorrido, interrompendo o desenvolvimento e a colonização do fungo que já está presente no tecido da planta.

Por que não devo aplicar morfolina antes do aparecimento dos primeiros sintomas da ferrugem asiática?

Aplicar morfolina antes dos sintomas é um erro porque seu modo de ação é curativo, ou seja, ela só funciona quando o fungo já está ativo na lavoura. Uma aplicação preventiva não terá efeito, resultando em desperdício de produto, aumento de custos e perda de uma ferramenta estratégica para o momento em que ela for realmente necessária.

A morfolina pode ser aplicada sozinha para controlar doenças na soja?

Não, a morfolina nunca deve ser aplicada isoladamente. Para um manejo antirresistência eficaz, ela deve ser sempre utilizada em mistura com fungicidas de outros grupos químicos, como multissítios, triazóis ou estrobilurinas. Essa prática diversifica os modos de ação e reduz a pressão de seleção de fungos resistentes.

O que é fitotoxicidade e como evitá-la ao usar morfolina?

Fitotoxicidade é o efeito tóxico de um produto químico na planta, manifestando-se como queimaduras ou manchas nas folhas, o que prejudica a produtividade. Para evitar esse problema com morfolinas, não ultrapasse as doses recomendadas na bula, evite misturas com fungicidas triazóis mais agressivos e não realize mais de uma aplicação com doses elevadas, especialmente sob alta pressão da doença.

Quantas aplicações de morfolina são permitidas por safra na cultura da soja?

Na cultura da soja, o recomendado é realizar no máximo 2 aplicações de morfolina por ciclo, com um intervalo de até 14 dias entre elas. Em situações de alta pressão de doenças que exijam doses mais altas, a recomendação é fazer apenas uma aplicação para minimizar o risco de fitotoxicidade.

Além da soja, para quais outras culturas e doenças a morfolina é indicada?

Sim, a morfolina também é uma ferramenta importante para outras culturas. No algodão, é usada para o controle da ramulária; na cevada, para mancha-reticular e ferrugem-da-folha; e no trigo, para oídio e ferrugens do colmo e da folha, sempre com atenção às condições climáticas para evitar danos à cultura.

Artigos Relevantes

  • Fungicidas da cultura da soja que já apresentam resistência e alternativas de controle: Este artigo é fundamental, pois detalha o problema central que a morfolina visa solucionar: a resistência de fungos. Ele explica por que grupos tradicionais como triazóis e estrobilurinas estão perdendo eficácia contra a ferrugem, fornecendo o contexto essencial para o leitor entender a importância de rotacionar modos de ação e adotar a morfolina como ferramenta estratégica.
  • O que são fungicidas multissítios e por que você deve passar a utilizá-los: O artigo principal enfatiza que a morfolina deve ser sempre aplicada em mistura, citando os multissítios como parceiros ideais. Este candidato aprofunda o tema, explicando o que são fungicidas multissítios, como sua ação de contato complementa a ação sistêmica da morfolina e por que essa combinação é uma das estratégias mais eficazes para o manejo antirresistência.
  • O que são fungicida sistêmico e de contato e qual utilizar?: O texto base define a morfolina como um “fungicida sistêmico”. Este artigo serve como um glossário expandido, explicando detalhadamente como a ação sistêmica funciona, sua capacidade de translocação na planta e como ela se diferencia da ação de contato. Ele enriquece o conhecimento técnico do leitor sobre o mecanismo de ação da própria morfolina.
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  • O que você precisa saber para fazer aplicação de fungicidas na soja no momento ideal: Este artigo complementa a recomendação tática do texto principal com uma visão estratégica de todo o ciclo da cultura. Ele posiciona a aplicação específica da morfolina dentro de um programa de manejo completo, incluindo a “aplicação zero” e pulverizações preventivas, ajudando o produtor a integrar a ferramenta curativa em seu planejamento de safra de forma coerente e eficaz.