Monitoramento de Pragas: O Guia Prático para Tomar a Decisão Certa na Lavoura

Engenheira agrônoma, mestre e doutora em Ciências/Entomologia. Atualmente na gestão acadêmica do SolloAgro.
Monitoramento de Pragas: O Guia Prático para Tomar a Decisão Certa na Lavoura

Ver insetos na lavoura pode causar um alerta imediato, mas a presença deles nem sempre significa prejuízo econômico.

Para saber o momento exato em que existe risco real de dano e a necessidade de controle, a ferramenta certa é o monitoramento de pragas.

Essa prática é um dos pilares do MIP (Manejo Integrado de Pragas): uma estratégia que combina diferentes métodos para controlar pragas de forma eficiente, econômica e sustentável. O monitoramento deve ser seu principal aliado na hora de tomar decisões importantes na fazenda.

Mas você sabe qual é o momento ideal para começar a monitorar e garantir que você não perca produção e nem desperdice dinheiro com aplicações desnecessárias? Continue lendo para tirar todas as suas dúvidas.

Monitoramento de pragas: por que você deve fazê-lo

O monitoramento de pragas é uma avaliação constante da lavoura, realizada em pontos pré-definidos, para identificar a presença de pragas agrícolas que podem causar danos econômicos se não forem controladas a tempo.

É a densidade populacional do inseto, ou seja, a quantidade dele por área, que vai indicar se a praga atingiu o nível de controle. Este é o momento ideal para agir, um ponto antes de a praga alcançar o nível de dano econômico, quando o prejuízo já é inevitável.

O gráfico abaixo ilustra bem essa ideia:

gráfico técnico que ilustra o conceito de Manejo Integrado de Pragas (MIP) na agricultura. O eixo vertical

Antes de mais nada, é fundamental que você conheça bem o histórico da sua área. Saiba quais pragas apareceram nas safras passadas, o que foi cultivado no talhão e se houve alguma dificuldade no controle.

Fique atento em todas as etapas do cultivo. O monitoramento é uma tarefa que começa antes mesmo do plantio da semente.

Vale lembrar que, até a consolidação do MIP na década de 1970, essa prática não era comum. O manejo convencional se baseava em aplicações de inseticidas com data marcada, de forma preventiva. Hoje, sabemos que essa prática não é a mais inteligente, pois pode levar ao desperdício de produtos, aumento de custos e resistência das pragas.

Agora, vamos conhecer os principais tipos de monitoramento de pragas que você pode aplicar na sua fazenda.

1. Amostragem do solo

Se, antes mesmo de semear, já existirem pragas subterrâneas no solo, seu cultivo pode sofrer perdas severas.

O ataque a sementes e plantas recém-germinadas pode parecer repentino. No entanto, se essas pragas forem detectadas com antecedência através da amostragem do solo, é totalmente possível reduzir suas populações com sucesso.

Esse tipo de monitoramento é útil tanto para a soja quanto para o milho. Na cultura do milho, ele é considerado fundamental devido à agressividade das pragas subterrâneas que atacam no início do ciclo.

Como fazer:

  • Em cada ponto de amostragem, colete amostras de 30 cm de largura por 30 cm de comprimento.
  • A profundidade das trincheiras deve ser de 15 a 30 cm.
  • A recomendação geral é de oito pontos de amostragem por hectare (1 ha).

díptico que ilustra o processo de análise de solo em campo. No painel esquerdo, um agricultor ou técnico agrôno (Fonte: A.A. dos Santos Capítulo 9_, amostragem de pragas da soja**,** Beatriz Spalding Corrêa-Ferreira)

2. Pano-de-batida

O pano-de-batida é um método clássico e muito eficaz, desenvolvido para identificar lagartas desfolhadoras e percevejos fitófagos (que se alimentam de plantas) na cultura da soja.

É um método prático que possibilita identificar a presença de vários insetos na lavoura, incluindo os inimigos naturais, que são benéficos e ajudam no controle das pragas.

Dica prática: realize o monitoramento com pano-de-batida nas horas mais frescas do dia (início da manhã ou final da tarde), pois os insetos estarão menos agitados e com menor mobilidade.

O passo a passo é simples, como mostra a imagem:

infográfico educativo que detalha o método de monitoramento de pragas conhecido como ‘pano-de-batida’. Com um f

3. Armadilhas

O uso de armadilhas para detectar pragas também é uma excelente estratégia de monitoramento. Assim como outros métodos, elas devem ser distribuídas em vários pontos da sua lavoura para uma cobertura eficaz.

Existem diversos tipos no mercado, como armadilhas com feromônios, armadilhas luminosas e armadilhas adesivas.

Vamos entender cada uma delas:

Armadilha do tipo delta

Essa armadilha utiliza um feromônio de atração sexual: um “cheiro” específico que atrai os machos de uma determinada praga. Dentro dela, há um piso adesivo que captura os insetos, permitindo a contagem.

A quantidade de armadilhas por área depende da praga que você está monitorando.

uma armadilha para insetos do tipo delta, de cor branca, sendo segurada pela mão de uma pessoa sobre uma lavou (Fonte: Sandra Brito-Embrapa)

Armadilha luminosa

Esta armadilha é ideal para capturar insetos com hábito noturno. A luz atrai os insetos, que são coletados em um recipiente, ajudando a identificar picos populacionais.

A recomendação é distribuir 1 armadilha em uma área de 6 a 10 hectares.

uma armadilha luminosa para insetos, uma ferramenta essencial no manejo integrado de pragas (MIP) na agricultu (Fonte: Biocontrole)

Armadilha adesiva

Normalmente de cor amarela ou azul, essa armadilha atrai insetos voadores pela cor. Eles pousam na superfície e ficam presos no adesivo.

Ela auxilia no monitoramento de pragas em vários cultivos, indicando os momentos de maior infestação e a necessidade de controle. A recomendação de uso é de 100 a 200 armadilhas por hectare.

close-up uma armadilha adesiva amarela, uma ferramenta essencial no Manejo Integrado de Pragas (MIP). A arm (Fonte: Fundecitros)

4. Exame de plantas

Além de contar os insetos, é fundamental avaliar o nível de injúrias, ou seja, os danos visíveis que eles estão causando nas plantas.

A avaliação dos danos nas folhas pode ser feita com escalas visuais já estabelecidas por pesquisas.

  • No milho, que tem a lagarta-do-cartucho como praga-chave, é preciso fazer avaliações periódicas das folhas. Para isso, você pode usar a Escala de Davis, que atribui notas de 1 a 9 conforme o nível de dano.

infográfico detalhado que apresenta a ‘Escala Davis’, uma ferramenta visual para classificar o nível de dano ca (Fonte: BioGene)

  • Na soja, a recomendação é coletar folíolos (as “folhinhas” que compõem a folha principal) da parte superior e do meio da planta e comparar com uma escala visual de desfolha.

A combinação da estimativa de desfolha com os dados do pano-de-batida oferece um direcionamento muito preciso para a tomada de decisão.

uma escala visual ilustrativa para avaliação do nível de desfolha em uma planta, provavelmente soja ou feijão, (Fonte: Adaptada de Panizzi et al. (1977))

Fique atento aos níveis de ação para controle

Agora que você já conhece os principais métodos de monitoramento, saiba que os níveis de ação (ou níveis de controle) vão guiar sua tomada de decisão.

Mas o que considerar ao analisar os dados coletados nas amostragens?

Existem três aspectos principais para avaliar:

  • Os níveis de ataque da praga: a quantidade de insetos encontrada por metro, por planta ou por armadilha.
  • A idade dos insetos: se a maioria são jovens (lagartas pequenas) ou adultos.
  • A fenologia da planta: que significa o estágio de desenvolvimento da cultura (se está na fase vegetativa, de florescimento ou de enchimento de grãos).

A tabela abaixo mostra alguns exemplos de níveis de ação para a cultura da soja, variando conforme a praga e o estágio da planta:

infográfico técnico detalhado sobre o manejo de pragas na cultura da soja, correlacionando os estágios fenológi (Fonte: Tecnologias de produção de soja – da região central do Brasil 2012 e 2013. Londrina: Embrapa Soja: Embrapa Cerrados; Embrapa Agropecuária Oeste, 2011. 261 p. (Embrapa Soja. Sistemas de Produção, 15))

Para te ajudar, separei uma planilha gratuita para que você organize seu MIP. Clique na figura abaixo para acessar!

Você também pode fazer esse controle diretamente pelo celular ou computador com o uso de um software de gestão agrícola como o Aegro.

Com o monitoramento no Aegro, você tem seus pontos de amostragem georreferenciados no mapa da fazenda, com todos os dados organizados de forma fácil de interpretar, sem perder nenhuma informação importante.

Conheça as opções gratuitas e o software completo:

Para conhecer a versão completa, fale com um de nossos consultores aqui!

a tela de um software de gestão agrícola, especificamente a funcionalidade de monitoramento de pragas. Na partMonitoramento de pragas de forma facilitada pelo Aegro

E após a tomada de decisão?

Se o monitoramento indicar a necessidade de controlar alguma praga, lembre-se que existem diversas formas de fazer isso. O controle não se resume apenas ao uso de defensivos químicos.

Considere um conjunto de estratégias:

  • Uso de variedades resistentes.
  • Controle de plantas daninhas, que podem servir de abrigo (hospedeiros) para as pragas.
  • Tratamento de sementes com inseticidas.
  • Controle biológico, utilizando inimigos naturais.
  • Controle químico, com a aplicação de inseticidas de forma racional e rotacionando ingredientes ativos.
  • Controle comportamental, com o uso de feromônios para confundir os insetos.
  • Rotação de culturas para quebrar o ciclo das pragas.

Image

Conclusão

Existem várias maneiras eficientes de detectar a presença e a intensidade das pragas na sua lavoura.

Neste artigo, vimos as melhores formas de fazer o monitoramento. Como ficou claro, a decisão de controlar não depende apenas da presença do inseto, mas sim do nível populacional que ele atinge.

Além disso, é fundamental acompanhar a lavoura desde o início para agir no momento certo e evitar que a praga chegue perto do nível de dano econômico.

Com essas informações em mente, desejamos a você um excelente monitoramento e uma safra muito produtiva


Glossário

  • Densidade populacional: Refere-se à quantidade de insetos-praga encontrados em uma determinada área, como por metro de fileira ou por planta. É a principal métrica utilizada para determinar se o nível de controle foi atingido.

  • Fenologia da planta: Corresponde aos diferentes estágios de desenvolvimento de uma cultura (ex: vegetativo, florescimento, enchimento de grãos). É um fator crucial no manejo, pois a vulnerabilidade da planta às pragas e os níveis de ação variam conforme a fase fenológica.

  • Feromônio: Substância química, similar a um “cheiro”, que os insetos usam para se comunicar. Em armadilhas de monitoramento, feromônios sintéticos são usados para atrair machos de uma praga específica, permitindo a contagem e o acompanhamento da sua população.

  • Inimigos Naturais: Organismos vivos, como outros insetos (predadores e parasitoides), que atacam as pragas agrícolas. Sua presença é benéfica para a lavoura, pois ajudam a manter a população de pragas sob controle de forma natural.

  • Injúrias: São os danos visíveis causados pelas pragas nas plantas, como folhas comidas (desfolha), caules danificados ou grãos atacados. A avaliação do nível de injúria é uma parte importante do monitoramento.

  • MIP (Manejo Integrado de Pragas): Sigla para Manejo Integrado de Pragas. É uma estratégia que combina diferentes métodos de controle (biológico, cultural, químico) com base em monitoramento constante, visando manter as pragas abaixo do nível de dano econômico de forma sustentável.

  • Nível de Controle (NC): É o ponto em que a densidade populacional de uma praga indica a necessidade de aplicar uma medida de controle. O objetivo é agir neste momento para impedir que a praga alcance o nível de dano econômico, quando o prejuízo financeiro já é inevitável.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Organizar os dados de múltiplos métodos de monitoramento, como pano-de-batida e armadilhas, é um desafio complexo. Anotações em papel ou planilhas podem se perder, dificultando a análise histórica e a tomada de decisão no momento certo. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza esses registros diretamente no celular, com pontos georreferenciados no mapa da fazenda, transformando dados brutos em um histórico visual e confiável para ações mais precisas.

Além de organizar a parte agronômica, a plataforma conecta o monitoramento ao controle financeiro. Ao registrar uma aplicação de defensivos baseada em dados reais do campo, você otimiza o uso de insumos e reduz os custos de produção, garantindo que cada real investido traga o máximo retorno. Assim, você protege tanto a lavoura quanto a sua lucratividade.

Que tal transformar seu monitoramento em decisões mais seguras e rentáveis?

Experimente o Aegro gratuitamente e veja na prática como simplificar a gestão da sua fazenda.

Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre o nível de controle (NC) e o nível de dano econômico (NDE)?

O nível de controle (NC) é o momento ideal para agir, ou seja, a densidade de pragas que indica a necessidade de uma intervenção para evitar perdas. Já o nível de dano econômico (NDE) é o ponto em que o custo do prejuízo causado pela praga já é maior que o custo da medida de controle. O objetivo do monitoramento é sempre agir no NC para nunca atingir o NDE.

Com que frequência devo realizar o monitoramento de pragas na minha lavoura?

A frequência ideal varia conforme a cultura, o estágio de desenvolvimento da planta e a pressão de pragas na região. Uma boa prática é iniciar com monitoramentos semanais e aumentar a frequência para duas ou três vezes por semana durante os períodos mais críticos, como o florescimento e o enchimento de grãos, que são mais vulneráveis ao ataque.

Posso combinar diferentes métodos de monitoramento, como pano-de-batida e armadilhas, na mesma área?

Sim, e essa é uma prática altamente recomendada. Combinar métodos oferece uma visão mais completa da situação. Por exemplo, na soja, o pano-de-batida é excelente para percevejos e lagartas, enquanto armadilhas adesivas podem monitorar a presença de mosca-branca. Usar múltiplas ferramentas aumenta a precisão da sua tomada de decisão.

O que devo fazer se encontrar muitos inimigos naturais durante o monitoramento da lavoura?

A presença de inimigos naturais (como joaninhas e percevejos predadores) é um excelente sinal, pois eles ajudam a controlar as pragas naturalmente. Ao encontrá-los, quantifique-os e leve essa informação em conta na sua decisão. Se a população de inimigos naturais for alta, você pode optar por um inseticida seletivo ou até mesmo adiar a aplicação para permitir que eles ajam.

Por que o monitoramento é considerado mais eficiente que as aplicações de inseticidas com data marcada?

O monitoramento é mais eficiente porque baseia a aplicação em uma necessidade real, detectada no campo. Isso evita o desperdício de defensivos, reduz os custos de produção e diminui o risco de desenvolvimento de resistência das pragas. As aplicações calendarizadas, por outro lado, podem ser desnecessárias ou feitas no momento errado, perdendo eficácia e gerando custos extras.

Para quais culturas o método de amostragem do solo é mais importante?

A amostragem do solo é crucial para culturas em que pragas subterrâneas, como corós e lagartas-elasmo, causam grandes danos no início do ciclo. É uma prática fundamental principalmente para o milho, mas também muito importante para a soja, garantindo que as sementes e plântulas possam se estabelecer sem o ataque severo dessas pragas.

Artigos Relevantes

  • Reduza drasticamente suas aplicações utilizando o Manejo Integrado de Pragas: Este artigo fortalece a mensagem central do guia, focando no ‘porquê’ econômico do monitoramento. Ele detalha como o MIP leva à redução drástica de aplicações, explicando visualmente o desenvolvimento de resistência de pragas, oferecendo a motivação financeira e científica para adotar as práticas do artigo principal.
  • Como fazer Manejo Integrado de Pragas (MIP) na cultura do milho: Enquanto o artigo principal apresenta métodos gerais, este oferece um aprofundamento essencial para a cultura do milho. Seu valor único está em conectar o MIP com a tecnologia de milho Bt e a necessidade de áreas de refúgio, um conceito prático e crucial que expande o conhecimento do leitor para o manejo genético integrado.
  • Como fazer o MIP da soja?: Este artigo complementa perfeitamente o conteúdo principal, que já utiliza a soja como exemplo, ao oferecer um guia focado e detalhado. O seu diferencial é a seção sobre ’erros comuns’, como aplicações por conveniência com fungicidas, agregando um valor prático imenso ao alertar sobre armadilhas que invalidam o esforço do monitoramento.
  • Sensores no manejo integrado de pragas: por que você deve começar a usar!: Este artigo cria uma clara jornada de aprendizado, servindo como o próximo passo lógico após o leitor dominar os métodos tradicionais do guia principal. Ele introduz o futuro do monitoramento através de sensores, drones e agricultura de precisão (NDVI), agregando uma dimensão de inovação e tecnologia que o conteúdo base não explora.
  • 6 vantagens de fazer MIP com o Aegro: Este artigo funciona como a ponte ideal entre o conhecimento adquirido no guia e a aplicação prática através da tecnologia. Ele detalha exatamente como um software como o Aegro resolve os desafios operacionais do monitoramento (registro de dados, georreferenciamento, mapas de calor), transformando o CTA do artigo principal em uma solução tangível e bem explicada.