Milho Safrinha 2021: O que Esperar da Produção, Preços e Clima?

Redação Aegro
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Milho Safrinha 2021: O que Esperar da Produção, Preços e Clima?

O milho safrinha deixou de ser uma cultura secundária para se tornar o protagonista da produção de grãos no Brasil. Segundo dados da Conab, a colheita de 2019/20 já atingiu 75 milhões de toneladas, e as projeções para a safrinha 2020/21 são ainda mais otimistas.

Apesar de ser cultivado em uma época com condições climáticas mais desafiadoras, o milho safrinha tem apresentado uma produtividade superior à da safra principal. Esse resultado impressionante é fruto de manejos cada vez mais bem planejados e executados pelo produtor.

Com a safrinha garantindo a maior parte da produção total desta commodity, todos os olhos se voltam para ela. Sabendo da sua importância, o que podemos realmente esperar neste ano? Vamos analisar os principais pontos.

Expectativas de Produção e Preço para o Milho Safrinha 2021

Produção: Projeções Apontam para um Novo Recorde

As estimativas para a safrinha de milho em 2021 continuam elevadas, com uma projeção de 82,64 milhões de toneladas do grão.

Este volume representa um aumento de 10,18% em comparação com a produção registrada no mesmo período do ano anterior. Se este cenário se confirmar, a produção total de milho na safra 2020/21 pode se aproximar de 110 milhões de toneladas, com a safrinha sendo a grande responsável por este volume.

Mercado: Cenário de Preços Aquecidos

De acordo com o Cepea, a primeira safra de milho foi prejudicada pela instabilidade do clima nas principais regiões produtoras. Como resultado, os estoques de milho em todo o Brasil continuam baixos.

Apesar disso, a procura pelo grão segue forte, tanto no mercado interno quanto no externo. Essa demanda aquecida é impulsionada por dois fatores principais:

  1. Crescimento da pecuária, que utiliza o milho como base para ração.
  2. Abertura de novas usinas de etanol de milho em Goiás e Mato Grosso no último ano.

Com estoques baixos e alta demanda, a expectativa é que os preços internos do milho se mantenham em patamares elevados, superando os valores do mesmo período do ano passado. Em São Paulo, a cotação atual está em R$ 97,88 a saca de 60 kg, o que tem limitado as negociações apenas para compradores com necessidade imediata.

gráfico de linha que ilustra a evolução de um valor, provavelmente um indicador de preço de uma commodity a Indicador do preço do milho Esalq/BM&FBovespa dos últimos 6 meses (Fonte: Cepea)

Cenário Externo: Dólar Alto e Fatores Internacionais

As exportações podem ser beneficiadas pelo dólar em patamares elevados e pelos altos preços nas cotações internacionais. A bolsa de Chicago, referência para os preços globais, opera em alta.

Os preços do mercado futuro do milho para maio também estão altos, próximos do valor de benchmark: um preço de referência usado pelo mercado global de US$ 5,91 por bushel. Isso indica que pode haver certa resistência na compra do grão por parte dos importadores.

Fatores que estão influenciando positivamente os preços internacionais incluem:

  • Clima Frio nos EUA: O tempo adverso está atrasando a semeadura do milho americano e gerando preocupações sobre a oferta.
  • Alta Demanda Global: A procura pelo cereal continua forte, principalmente por parte da China.
  • Cenário na Argentina: Uma crise entre o governo e o setor produtivo argentino ameaça as exportações do país a curto prazo, o que reduz a concorrência para o Brasil.

Esses fatores podem pressionar ainda mais os preços futuros do milho em Chicago. Fique de olho!

Expectativas do Clima para a Produção de Milho Safrinha em 2021

Os modelos meteorológicos que previam instabilidade climática para o trimestre de janeiro-fevereiro-março de 2021, devido à continuidade do fenômeno La Niña, se confirmaram.

Essa instabilidade climática resultou em um atraso generalizado na colheita da soja na maior parte do país. Consequentemente, a semeadura do milho safrinha foi realizada fora da janela ideal recomendada pelo zoneamento agrícola de risco climático: um estudo que define os períodos de plantio com menor risco para cada cultura e região.

Plantar o milho safrinha fora da janela ideal aumenta significativamente os riscos climáticos, gerando incertezas sobre a produtividade de 2021. O cultivo, que já é uma atividade de alto risco, se torna ainda mais dependente das condições do tempo.

Você pode compreender melhor os efeitos da La Niña e os cuidados necessários neste artigo.

gráfico de barras e linhas com as previsões probabilísticas do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENSO), com d Previsão probabilísticas por trimestre para a ocorrência de El Niño ou La Niña (Fonte: International Research Institute – IRI)

Neste cenário, as previsões de chuva por região são:

  • Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina: Devem registrar chuvas próximas ou abaixo da média histórica.
  • Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais: A expectativa é de chuvas irregulares e com volumes médios também abaixo do esperado.
  • Região do Matopiba: Além da irregularidade na distribuição, pode haver problemas com a frequência das chuvas, mantendo os volumes abaixo do normal.

O mapa abaixo ilustra essas probabilidades. É importante lembrar que são tendências, e o cenário pode variar.

mapa do Brasil com a previsão de probabilidade de chuva, elaborado pelo Instituto Nacional de Meteorologia Probabilidade da precipitação manter-se acima (verde) ou abaixo (vermelho) do normal (Fonte: Inmet)

Entendendo a Importância do Milho Safrinha

Para quem ainda não está familiarizado, os termos safra e safrinha se referem às épocas de plantio dentro do ano agrícola, especialmente para culturas de ciclo anual.

  • Safra: Corresponde ao cultivo principal, realizado logo após o retorno das chuvas (de outubro a dezembro no caso do milho), um período com condições climáticas ideais.
  • Safrinha: Acontece logo após a colheita da safra. O nome “safrinha” surgiu porque, no passado, sua produtividade era menor devido ao clima menos favorável.

No entanto, nos últimos anos, a tecnologia e o manejo evoluíram tanto que a produtividade da safrinha se igualou à da safra. Como a área plantada na segunda safra aumentou muito, o volume de produção da safrinha ultrapassou o da primeira safra.

A imagem apresenta três gráficos de pizza que comparam dados da primeira e da segunda safra de milho. O primeiro gráfico, ‘Ár Diferenças observadas entre a área plantada (ha), produção (toneladas) e produtividade (kg/ha) entre as safras de milho 2019/2020 (Fonte: IBGE – Levantamento Sistemático da Produção Agrícola)

Por esse motivo, hoje a safrinha é frequentemente chamada de 2ª safra, sendo responsável pela maior parte da produção total de milho no Brasil.

Principais Desafios a Serem Enfrentados na Lavora

Como vimos, as condições climáticas na safrinha são menos favoráveis. O principal risco é a maior chance de veranicos: períodos de estiagem com temperaturas elevadas no meio da estação chuvosa.

Outro fator importante é a redução gradual da luminosidade (horas de luz por dia) durante o desenvolvimento da safrinha. Isso pode influenciar a duração do ciclo da cultura, tornando-o mais longo.

Observe na tabela abaixo como o ciclo produtivo aumenta, mesmo para cultivares precoces, quando a semeadura da safrinha é feita muito tarde.

uma tabela de dados agrícolas que correlaciona a ‘Época de semeadura’ com o desempenho de diferentes tipos de Duração do ciclo de milho de acordo com a época de semeadura e precocidade (Fonte: Cruz et al., 2008 – A cultura do Milho)

Por isso, cada região do país deve planejar muito bem suas atividades, adequando o manejo da safra e, principalmente, da safrinha às suas condições climáticas e necessidades específicas.

Para mais dicas sobre este assunto, confira nosso artigo: Entenda o ciclo do milho safrinha e melhore sua produtividade”!

Conclusão

A semeadura do milho safrinha fora da janela ideal, combinada a um cenário climático desafiador, pode impactar a produção em 2021. Diante disso, um planejamento cuidadoso é mais crucial do que nunca.

Para mitigar os riscos e buscar bons resultados, concentre-se em três pontos:

  1. Planejamento em dia: Antecipe-se para evitar problemas com pragas, doenças e para otimizar as operações mecanizadas.
  2. Conhecimento da cultura: Entender a fenologia e o ciclo do milho é essencial para alinhar as técnicas de manejo e atingir a produtividade esperada.
  3. Monitoramento do clima: Acompanhe as previsões de curto e longo prazo. Estar bem informado evita surpresas e permite tomar decisões mais assertivas.

Glossário

  • Bushel: Unidade de medida de volume para grãos, muito utilizada no mercado internacional. Para o milho, um bushel equivale a aproximadamente 25,4 kg, sendo uma referência importante para cotações na Bolsa de Chicago.

  • Fenologia: Estudo das fases do desenvolvimento de uma planta (germinação, florescimento, maturação) e sua relação com as condições climáticas. Conhecer a fenologia do milho é fundamental para aplicar tratos culturais, como adubação e defensivos, no momento certo.

  • La Niña: Fenômeno climático caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial. No Brasil, geralmente provoca chuvas irregulares e risco de estiagem nas regiões Sul e Centro-Oeste, impactando diretamente a janela de plantio e a produtividade da safrinha.

  • Matopiba: Acrônimo que se refere à fronteira agrícola que abrange áreas dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. É uma das regiões mais importantes para a expansão da produção de grãos no país.

  • Milho Safrinha (ou 2ª Safra): Refere-se ao cultivo de milho plantado logo após a colheita da safra principal de verão (geralmente a soja). Embora historicamente tivesse menor produtividade, hoje representa a maior parte da produção nacional de milho.

  • Veranicos: Períodos de estiagem com temperaturas elevadas que ocorrem em plena estação chuvosa. Representam um grande risco para a safrinha, pois a falta de água em estágios críticos do desenvolvimento do milho pode reduzir drasticamente a produtividade.

  • Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC): Estudo técnico que define as épocas de plantio com menor risco climático para cada cultura e município. Seguir o ZARC ajuda o produtor a evitar perdas e é, muitas vezes, uma exigência para acessar crédito e seguro rural.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Diante de um cenário com clima instável e mercado aquecido, o planejamento se torna a principal ferramenta do produtor. Ferramentas de gestão agrícola, como o Aegro, ajudam a centralizar o planejamento da safrinha, permitindo ajustar atividades no campo em tempo real conforme as condições mudam. Além disso, em um momento de alta volatilidade de preços, a plataforma oferece um controle financeiro completo que facilita o gerenciamento de contratos de venda, ajudando a garantir a melhor rentabilidade e a tomar decisões comerciais mais seguras.

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Perguntas Frequentes

Qual a diferença fundamental entre a safra e a safrinha de milho?

A safra principal de milho é plantada no período ideal de chuvas (outubro a dezembro), enquanto a safrinha, ou 2ª safra, é plantada logo após a colheita da cultura de verão, como a soja. Apesar do nome, avanços tecnológicos e de manejo fizeram com que a produção da safrinha superasse a da primeira safra, tornando-a a principal fonte de milho no Brasil.

Se a produção de milho safrinha em 2021 deve ser recorde, por que os preços continuam tão altos?

Os preços se mantêm elevados devido a uma combinação de fatores: os estoques nacionais já estavam baixos, e a demanda pelo grão segue muito aquecida. Tanto o mercado interno (pecuária e usinas de etanol) quanto o externo (dólar alto e problemas em outros países produtores) estão pressionando os preços para cima, superando o efeito da alta oferta.

Qual o principal risco de plantar o milho safrinha fora da janela ideal recomendada?

Plantar fora da janela ideal aumenta drasticamente a exposição da lavoura a riscos climáticos. O principal perigo é a ocorrência de veranicos (períodos de estiagem) e a menor disponibilidade de luz, fatores que podem comprometer o desenvolvimento da planta, alongar seu ciclo e reduzir significativamente a produtividade final da lavoura.

Como o fenômeno La Niña impactou diretamente a safrinha de milho em 2021?

O La Niña causou instabilidade climática e chuvas irregulares no início de 2021. Isso atrasou a colheita da soja na maior parte do país, o que, por consequência, forçou a semeadura do milho safrinha para depois do período considerado seguro pelo zoneamento agrícola, elevando os riscos para a cultura.

Quais estratégias o produtor pode adotar para mitigar os riscos do plantio tardio da safrinha?

Para reduzir os riscos, o produtor deve focar em um planejamento rigoroso, antecipando o manejo de pragas e doenças. É essencial conhecer a fundo a fenologia da cultura para aplicar insumos nos momentos corretos e acompanhar de perto as previsões do tempo para tomar decisões mais rápidas e assertivas no campo.

O que são o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) e por que ele é importante para a safrinha?

O ZARC é um estudo que define os períodos de plantio com menor risco climático para cada cultura em cada município. Seguir suas recomendações para a safrinha é crucial para minimizar as chances de perdas por seca ou geada, além de ser uma exigência para o produtor acessar o seguro rural e linhas de crédito agrícola.

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