O milho é a principal escolha para a produção de silagem no Brasil, e não é por acaso. Existem híbridos de milho adaptados para todas as regiões produtoras, garantindo alta produção de massa verde. A silagem resultante é rica em energia, graças aos grãos, e muito bem aceita pelos animais.
Se você busca melhorar a produtividade da sua lavoura de milho para silagem ou está planejando começar, este guia prático é para você. Vamos detalhar desde a escolha da semente até o fornecimento ao rebanho, com dicas para garantir um alimento de alta qualidade.
O que é Silagem de Milho e Por Que é Importante?
A silagem é uma técnica de armazenamento que preserva a qualidade e os nutrientes da forragem por meio de um processo de fermentação controlada. Em outras palavras, é uma forma de “conservar” o material vegetal fresco para uso futuro.
Este método é fundamental para garantir a disponibilidade de alimento de qualidade para o rebanho, especialmente em períodos de seca ou entressafra, quando o clima não favorece o cultivo de pastagens. A silagem de milho se destaca por ser uma fonte rica em energia e proteína, além de ter um cultivo bem estabelecido no Brasil.
O custo de produção varia conforme a região e a época do ano. No entanto, os valores mais comuns para a tonelada de milho silagem ficam entre R$ 450 e R$ 600.
Características Essenciais do Milho para Silagem
A escolha do híbrido de milho é o primeiro passo para o sucesso. Além do tipo de grão e dos teores de fibra, que detalharemos a seguir, um bom milho para silagem deve ter:
- Resistência ao acamamento: Plantas que não tombam facilmente.
- Estabilidade produtiva: Bom desempenho em diferentes épocas, condições de plantio e altitudes.
- Sanidade foliar: Resistência ou tolerância às principais doenças, como ferrugens, enfezamentos do milho, Phaeosphaeria spp. e Cercospora spp.
- Alta produtividade de grãos: Os grãos são a principal fonte de energia digestível da silagem.
- Ciclo longo de enchimento: Isso oferece uma janela de colheita do milho mais flexível.
- Porte médio a alto: Garante um maior volume de massa seca por hectare.
Para simplificar, na hora de escolher a semente, foque em três pontos principais: boa digestibilidade da parte fibrosa (folhas e colmo), grande produção de massa verde e alta porcentagem de grãos na forragem.
As 3 Etapas Fundamentais da Produção de Silagem
Para garantir uma silagem de alta qualidade, o processo se divide em três etapas cruciais:
- Plantio e Condução Agronômica: A base de tudo, desde a escolha da semente até a adubação.
- Colheita e Ensilagem: O momento e a forma correta de cortar e armazenar o material. Ensilagem é o nome técnico do processo de produção da silagem.
- Desensilagem e Fornecimento: A retirada correta do silo para alimentar os animais.
Vamos detalhar cada uma delas.
Etapa 1: Plantio e Condução da Lavoura
A Escolha do Híbrido Certo: Grãos e Fibras
Nem todo milho bom para grãos é ideal para silagem. Embora os grãos sejam cruciais para a energia, a digestibilidade de toda a planta é o que faz a diferença.
O ideal é usar híbridos que produzem grãos dentados, e não os grãos duros. Os grãos dentados melhoram a qualidade da silagem porque têm:
- Maior proporção de endosperma farináceo (mole): Nesta parte do grão, o amido é menos compactado, facilitando a quebra e a digestão pelo animal.
- Maior disponibilidade de energia: O resultado direto é uma silagem com maior teor energético.
- Maior digestibilidade geral.
Além dos grãos, a parte vegetativa (colmo e folhas) compõe entre 55% e 65% da massa seca. Por isso, a qualidade da fibra é fundamental. Fique atento a dois indicadores-chave:
- FDN (Fibra em Detergente Neutro): Indica o total de fibra da planta, o que influencia o consumo pelo animal. Uma boa silagem tem teor de FDN entre 38% e 45%.
- FDA (Fibra em Detergente Ácido): Está ligada à lignina, um componente de baixa digestibilidade. Quanto maior o teor de FDA, menor a qualidade da silagem.
Para ter certeza desses valores, é altamente recomendável realizar a análise bromatológica da sua silagem.
Época de Plantio: Não Perca a Janela Ideal
A época de plantio do milho para silagem é a mesma recomendada para a produção de grãos. Atrasar o plantio gera perdas significativas. Dados da Embrapa mostram uma redução de 24 a 30 kg de grãos por hectare para cada dia de atraso após a janela ideal.
O atraso no plantio do milho causa problemas como:
- Menor porcentagem de grãos na massa final.
- Plantas estioladas (esticadas e fracas).
- Menor número de espigas viáveis.
- Falhas na polinização.
- Maior incidência de plantas daninhas, pragas e doenças, devido às altas temperaturas e umidade.
- Risco elevado de falta de água durante o florescimento ou enchimento dos grãos.
Para ampliar a janela de colheita, você pode usar uma cultivar de ciclo longo. Para a segunda safra (safrinha), há a opção de usar variedades superprecoces.
A produtividade média de massa seca de milho para silagem fica entre 30 e 40 toneladas por hectare. Contudo, híbridos mais modernos já registram produtividades de até 80 t/ha em condições ideais.
Ajustando o Espaçamento e a População de Plantas
Para silagem, é possível reduzir o espaçamento entre as linhas para otimizar o aproveitamento da área. No entanto, muito cuidado: não aumente a população de plantas em mais de 10% em relação ao recomendado para grãos. Um estande muito denso compromete a qualidade, causando um aumento indesejado nos teores de FDN e FDA, o que, como vimos, reduz o consumo e a digestibilidade da silagem.
Adubação e Correção do Solo: Atenção aos Detalhes
A adubação e a correção do solo para silagem são as mesmas usadas para a produção de grãos? A resposta é um sonoro não!
Ao colher a planta inteira, você retira do campo uma quantidade muito maior de nutrientes que ficariam na palha, como cálcio, magnésio e potássio. Portanto, a reposição deve ser maior. Siga estas regras:
- Eleve a saturação por bases (V%) para 70%.
- Eleve o teor de potássio para 5% da CTC do solo.
- Realize adubações para milho de 30% a 50% mais intensas do que as utilizadas para grãos.
- Faça a análise do solo em duas profundidades: de 0 a 20 cm e de 20 a 40 cm.
- Pratique a rotação de culturas para melhorar a saúde do solo. Boas opções incluem sorgo, crotalária, tremoço branco, guandu, girassol, canola, aveia, triticale, braquiária e milheto.
Potencial produtivo de grãos e da planta e teor de matéria seca da planta de milho silagem conforme estágio de maturação
(Fonte: Embrapa)
Etapa 2: Colheita e Ensilagem no Ponto Certo
Colher no momento exato é decisivo para a qualidade final. Se colher cedo demais, a planta terá baixo teor de matéria seca (25% a 29%) e grãos pouco cheios, resultando em perdas nutricionais e problemas de fermentação.
Existem duas formas práticas de definir o ponto ideal de colheita:
Método 1: Teor de Matéria Seca (MS)
Este é o método mais preciso. O ponto ideal de ensilagem busca o equilíbrio entre qualidade da fermentação, facilidade de compactação e valor nutricional.
- O alvo ideal de matéria seca da planta inteira deve estar entre 32% e 37%.
- Uma faixa de tolerância aceitável fica entre 30% e 39%.
Método 2: A Linha do Leite do Grão
Esta é uma avaliação visual prática, feita diretamente na espiga. A “linha do leite” é a divisa entre a parte amilácea (dura) e a parte leitosa (líquida) do grão.
- Para colheitadeiras sem processador de grãos (cracker): O ponto ideal é quando a linha do leite está em 1/2 da altura do grão.
- Para colheitadeiras com cracker: A colheita pode começar quando a linha está em 1/3 e se estender até 3/4 do grão.
Se você quebrar a espiga e não conseguir ver mais a linha do leite, a planta provavelmente já passou do ponto, com matéria seca superior a 40%. Independentemente do método, avalie várias espigas em diferentes pontos da lavoura para ter uma média confiável.
Linha do leite e características da forragem
(Fonte: Biomatrix)
Altura de Corte e Tamanho das Partículas
Dois ajustes finos na colheita fazem toda a diferença:
- Altura de Corte Ideal: Diversos estudos apontam que a altura de corte com melhor custo-benefício é em torno de 25 cm do solo. Cortar nessa altura evita a contaminação com terra e danos ao equipamento por pedras ou torrões, além de melhorar a qualidade da fermentação e o rendimento de massa por hectare.
- Tamanho Ideal das Partículas: O material picado deve ter um tamanho entre 0,5 cm e 1,5 cm. Partículas nesse tamanho facilitam a compactação no silo (expulsando o ar), melhoram a fermentação, aumentam a digestibilidade e auxiliam no processamento dos grãos pela máquina.
O processo de fermentação no silo leva no mínimo de 25 a 30 dias, mas pode ser estendido para 60 dias. Se o silo for bem vedado, a silagem pode ser armazenada por vários meses.
Etapa 3: Desensilagem e Fornecimento ao Rebanho
Após o período de fermentação, a retirada do material do silo também exige cuidados para evitar perdas:
- Mantenha a face do silo plana: A parede de retirada deve ser reta e perpendicular ao solo, diminuindo a superfície exposta ao ar.
- Retire uma fatia diária: Em locais de clima quente, retire uma camada de 30 a 35 cm por dia para evitar que o material se deteriore em contato com o oxigênio.
- Evite acúmulo de silagem solta: O material que cai na base do silo é mais vulnerável à decomposição aeróbica. Use-o rapidamente.
- Descarte a parte deteriorada: Qualquer parte da silagem com mofo, cor escura ou cheiro forte deve ser descartada para não prejudicar a saúde dos animais.
Conclusão: Qualidade da Silagem Começa no Campo
Produzir uma silagem de milho de alta qualidade é um processo que exige atenção aos detalhes em todas as fases. Desde a escolha do híbrido correto e o plantio na época certa, passando pela adubação reforçada e a colheita no ponto ideal de matéria seca, cada decisão impacta o resultado final.
Ao seguir as recomendações de altura de corte, tamanho de partícula e manejo correto do silo, você garante um alimento de alto valor nutritivo para o seu rebanho, otimizando a produtividade e a rentabilidade da sua operação.
Em caso de dúvidas, não hesite em consultar um engenheiro agrônomo de sua confiança. O planejamento correto é o melhor investimento.
Glossário
Análise bromatológica: Análise laboratorial que determina a composição nutricional de um alimento, como teores de proteína, fibra (FDN, FDA) e energia. É essencial para avaliar a qualidade da silagem e formular a dieta do rebanho.
Cracker (processador de grãos): Equipamento acoplado à colheitadeira de forragem que quebra ou esmaga os grãos de milho durante a colheita. Isso aumenta a digestibilidade do amido e o aproveitamento energético da silagem pelos animais.
Digestibilidade: Medida que indica a porcentagem de um alimento que é absorvida e aproveitada pelo organismo do animal após a digestão. Uma silagem de alta digestibilidade fornece mais nutrientes e energia para o rebanho.
Ensilagem: Nome técnico do processo de produção da silagem. Envolve picar a forragem, compactá-la em um silo para remover o oxigênio e vedá-la para que ocorra a fermentação.
FDA (Fibra em Detergente Ácido): Sigla para Fibra em Detergente Ácido. É a fração menos digestível da fibra da planta, composta principalmente por celulose e lignina. Altos valores de FDA indicam uma silagem de menor qualidade e valor energético.
FDN (Fibra em Detergente Neutro): Sigla para Fibra em Detergente Neutro. Representa o total de fibra da planta (celulose, hemicelulose e lignina) e está diretamente ligada à capacidade de consumo do animal. Quanto menor o FDN, mais o animal consegue comer.
Fermentação controlada: Processo bioquímico que ocorre na ausência de oxigênio dentro do silo, no qual bactérias benéficas transformam açúcares da planta em ácidos orgânicos. Esses ácidos conservam a forragem, mantendo seu valor nutritivo por longos períodos.
Massa verde: Refere-se ao peso total da planta recém-colhida, incluindo toda a sua umidade (água). É uma medida de produtividade da lavoura antes do processo de secagem ou ensilagem.
Matéria Seca (MS): É tudo o que resta na forragem após a remoção completa da água. O teor de MS, expresso em porcentagem (%), é o principal indicador para definir o ponto ideal de colheita do milho para silagem, que deve ser entre 32% e 37%.
Otimize seus custos e planeje a produção de silagem
Como vimos, produzir silagem de milho de alta qualidade envolve um controle rigoroso de custos — especialmente com a adubação reforçada — e um planejamento preciso para acertar a janela de colheita. Gerenciar todas essas variáveis no papel ou em planilhas pode levar a erros e prejuízos.
Ferramentas de gestão agrícola como o Aegro simplificam esse processo, permitindo registrar todos os gastos com insumos e acompanhar o custo real por hectare. Além disso, a plataforma ajuda a organizar o calendário de atividades, garantindo que cada etapa, do plantio à ensilagem, seja executada no momento certo para maximizar a produtividade.
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Perguntas Frequentes
Qual é a principal diferença entre a adubação do milho para silagem e para grãos?
A adubação para silagem precisa ser de 30% a 50% mais intensa. Isso ocorre porque, ao colher a planta inteira, retira-se uma quantidade muito maior de nutrientes do solo, como potássio, cálcio e magnésio, que ficariam na palha na colheita de grãos. Portanto, a reposição de nutrientes deve ser significativamente maior para manter a fertilidade do solo.
Como posso determinar o ponto ideal de colheita do milho para silagem de forma prática no campo?
O método prático mais utilizado é a observação da “linha do leite” no grão. O ponto ideal é quando essa linha, que separa a parte dura da leitosa, está entre 1/2 e 3/4 da altura do grão. Colher nesse estágio garante um bom equilíbrio entre teor de matéria seca (energia) e umidade, essencial para uma fermentação de qualidade.
Por que um híbrido de milho com grãos dentados é melhor para a produção de silagem?
Híbridos com grãos dentados são preferíveis porque possuem maior proporção de endosperma farináceo (mole). Isso facilita a quebra dos grãos durante a colheita e a digestão do amido pelos animais, resultando em uma silagem com maior disponibilidade de energia e melhor aproveitamento nutricional pelo rebanho.
Qual a altura de corte recomendada para o milho e por que ela é importante?
A altura de corte ideal é em torno de 25 cm do solo. Cortar nessa altura melhora a qualidade da silagem ao evitar a contaminação com terra, protege o equipamento contra danos por pedras e aumenta a concentração de energia na forragem, pois a base do colmo tem menor digestibilidade.
Aumentar o número de plantas por hectare melhora a produção de massa para silagem?
Não necessariamente. Aumentar a população de plantas em mais de 10% do recomendado para grãos pode ser prejudicial. Embora possa aumentar o volume de massa verde, um estande muito denso compromete a qualidade, resultando em plantas mais finas, menos espigas e maior teor de fibras de baixa digestibilidade (FDN e FDA).
O que significam os termos FDN e FDA e qual a sua importância para a qualidade da silagem?
FDN (Fibra em Detergente Neutro) representa o total de fibra da planta e influencia o quanto o animal consegue consumir. FDA (Fibra em Detergente Ácido) indica a porção menos digestível da fibra. Para uma silagem de alta qualidade, busca-se um FDN entre 38% e 45% e o menor teor de FDA possível, garantindo bom consumo e alto valor energético.
Quanto tempo a silagem de milho precisa fermentar antes de poder ser fornecida aos animais?
O processo de fermentação leva no mínimo de 25 a 30 dias para ser concluído e estabilizar o material. Após esse período, o silo já pode ser aberto para o fornecimento. Se o silo for bem vedado e manejado corretamente, a silagem pode ser armazenada por vários meses sem perder sua qualidade nutricional.
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