Você sabia que cerca de 80% das variações na produtividade de uma lavoura estão ligadas diretamente às mudanças no clima? Fenômenos meteorológicos como a La Niña podem aumentar ou diminuir as chuvas de forma significativa, trazendo consequências diretas e, muitas vezes, prejuízos para o seu resultado final.
Por exemplo, entre setembro e outubro de 2017, o Brasil sentiu os efeitos de uma La Niña de baixa intensidade, que serviu de alerta para muitos produtores. A questão que fica é: como garantir a produtividade da sua safrinha de milho mesmo em um cenário climático desafiador como este?
Lavoura de milho durante estiagem no Rio Grande do Sul em 2012. La Niña daquele ano contribuiu para esses prejuízos
(Fonte: Diego Vara/Ag. RBS/Folhapress em Veja)
Neste artigo, vamos explicar de forma clara o que são os fenômenos La Niña e El Niño e apresentar dicas práticas e fundamentais para você proteger sua segunda safra de milho e diminuir seus riscos.
Para um panorama mais amplo, confira também os 6 cuidados que você deve tomar com a La Niña.
O que são os fenômenos El Niño e La Niña?
Para entender a La Niña, primeiro precisamos falar sobre o seu oposto, o El Niño.
O El Niño é um fenômeno climático caracterizado pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical. Esse aquecimento vem acompanhado de um enfraquecimento dos ventos alísios: ventos constantes que sopram dos trópicos em direção à linha do Equador.
Essa combinação de águas mais quentes e ventos mais fracos altera a circulação de umidade na atmosfera, provocando mudanças nos padrões de chuva e temperatura em várias regiões do Brasil.
O mapa abaixo ilustra bem essas mudanças:
(Fonte: Apostila Meteorologia Agrícola ESALQ e CPTEC/INPE)
Uma curiosidade é que o nome “El Niño” (o menino, em espanhol) foi dado porque seus efeitos costumam ser mais intensos entre setembro e fevereiro, perto da época do Natal, em uma referência ao nascimento do menino Jesus.
Já o fenômeno La Niña (a menina, em espanhol) representa exatamente o contrário. Ele ocorre quando há um resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico. Naturalmente, as mudanças que provoca no clima também são opostas às do El Niño.
Para se ter uma ideia do impacto, na porção oeste do Rio Grande do Sul, a La Niña pode reduzir o volume de chuvas em 80 a 120 mm durante seu período de atuação.
Tanto El Niño quanto La Niña são classificados por intensidade (forte, moderado ou fraco). Existem também os chamados “anos neutros”, quando nenhum dos dois fenômenos ocorre de forma significativa.
Ocorrência de El Niño, La Niña e anos neutros da série histórica de 1987 a 2016
(Fonte: GGWEATHER)
Como vimos no exemplo do início do artigo, a La Niña que começou em 2017 se estendeu até o trimestre de fevereiro-março-abril de 2018. Na época, a região Sul do Brasil demandou atenção especial, pois o fenômeno ameaçou a produção de culturas de verão como soja e milho.
É por isso que a sua segunda safra de milho pode ser diretamente influenciada pela ocorrência de uma La Niña.
4 Dicas para Proteger a Produtividade da sua Lavoura
1. Planejamento Agrícola: Sua Melhor Defesa
A principal dica e regra número um é sempre a mesma: planeje sua lavoura. Para fazer isso bem, você precisa conhecer a fundo sua fazenda: o tipo de solo, o histórico do clima na sua região e as necessidades específicas da cultura do milho.
A publicação abaixo, da EMATER, é um excelente material de apoio que relaciona a cultura do milho com as condições climáticas.
(Fonte: EMATER)
Considerando um cenário de La Niña com possibilidade de seca (especialmente no Sul), seu planejamento pode incluir algumas mudanças estratégicas:
- Amplie a janela de plantio: Tenha mais flexibilidade para esperar o momento certo, com a umidade ideal no solo para a semeadura.
- Antecipe a compra de insumos: Adquira sementes e fertilizantes com antecedência e deixe o maquinário revisado e pronto. Assim, quando a chuva certa vier, você pode plantar imediatamente.
- Escolha híbridos tolerantes: Dê preferência a sementes de milho que tenham maior tolerância ao estresse hídrico (falta de água).
- Seja estratégico com os defensivos: Em anos mais secos, a incidência de algumas doenças fúngicas pode ser menor. Espere para comprar certos fungicidas, monitorando a real necessidade.
Além disso, um bom planejamento agrícola se baseia no histórico das safras passadas. Anote tudo: pragas, doenças, plantas daninhas que mais atacaram, produtividade de cada talhão, etc. Com esses dados em mãos, você toma decisões mais seguras para a próxima safra de milho, com ou sem La Niña.
2. Fique de Olho no Tempo: A Tecnologia a seu Favor
Para “driblar” os efeitos da La Niña, é fundamental monitorar as condições climáticas da sua região em tempo real. Isso ajuda a definir o melhor momento para plantar, aplicar defensivos, colher e realizar outras práticas culturais.
Hoje, a tecnologia facilita muito esse trabalho. Você pode monitorar o tempo diretamente pelo seu celular com aplicativos gratuitos e eficientes.
Abaixo, listamos algumas opções:
CPTEC/INPE: Oferece a previsão do tempo para todas as cidades do Brasil para os próximos 7 dias, com informações confiáveis do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
(Fonte: Aplicativo CPTEC/INPE)
Agritempo: Desenvolvido pela Embrapa, apresenta mapas de monitoramento, previsão de tempo, índice de seca e históricos de chuva, sendo uma ferramenta voltada para o agronegócio.
(Fonte:Aplicativo Agritempo)
Tempo Agora: Divulga a previsão para todo o Brasil com um horizonte de 10 dias, ajudando no planejamento de curto e médio prazo.
(Fonte: aplicativo Tempo Agora)
3. Proteja sua Lavoura: Um Escudo Contra Imprevistos
Manter a lavoura protegida é crucial em qualquer safra, mas em anos de incerteza climática, uma lavoura sadia e bem nutrida resiste melhor aos desafios. Por isso, redobre a atenção com plantas daninhas, pragas e doenças.
Conhecer os inimigos da sua cultura é o primeiro passo. Aplicativos podem ser grandes aliados nessa tarefa:
- IZagro: Este aplicativo ajuda a identificar doenças, pragas e plantas daninhas na sua lavoura e oferece recomendações para o manejo correto.
(Fonte: IZagro)
Para o controle de pragas, adote o Manejo Integrado de Pragas (MIP): uma estratégia que consiste em monitorar a população de insetos para decidir o momento exato de intervir, evitando aplicações desnecessárias e reduzindo custos.
Para consultar os defensivos agrícolas registrados para a cultura do milho, utilize o Agrofit, o sistema oficial do Ministério da Agricultura.
(Fonte: Agrofit)
Lembre-se sempre: a prescrição de qualquer defensivo agrícola deve ser feita por um(a) engenheiro(a) agrônomo(a).
4. Guarde os Dados: O Histórico é seu Guia para o Futuro
Todas as informações coletadas durante a safra são valiosas. Armazene esses dados de forma organizada para que sirvam de base para as próximas safras. Guarde informações como:
- Custos totais de implantação da cultura;
- Data exata do plantio;
- Período e produtividade da colheita;
- Datas e produtos usados nas aplicações de defensivos;
- Custos com maquinário (combustível, manutenção);
- Preço de venda do milho.
(Fonte: RondoRural)
Além dos dados da operação, registre também as condições meteorológicas que ocorreram durante o ciclo: volume de chuvas, temperaturas médias e a ocorrência de fenômenos como El Niño ou La Niña.
Essas informações combinadas são a ferramenta mais poderosa que você tem para o planejamento da sua próxima safra. Trate sua lavoura como uma empresa, pois o objetivo final é sempre o lucro.
Conclusão
Agora que você entende melhor como os fenômenos El Niño e La Niña afetam o clima no Brasil, pode usar esse conhecimento para se preparar. Uma lavoura bem-sucedida em ano de La Niña não depende de sorte, mas de estratégia.
Para resumir, os pilares para reduzir seus riscos são:
- Planejamento detalhado: Antecipe-se aos problemas.
- Monitoramento constante do clima: Use a tecnologia a seu favor.
- Proteção da lavoura: Mantenha a sanidade das plantas.
- Gestão de dados: Use o histórico para guiar o futuro.
Lembre-se da dica final: conheça o seu negócio a fundo para aumentar a produção e, consequentemente, a sua lucratividade, independentemente do que o clima reservar.
Glossário
El Niño: Fenômeno climático caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico. No Brasil, costuma causar aumento de chuvas na região Sul e seca nas regiões Norte e Nordeste.
Estresse hídrico: Condição em que uma planta sofre com a falta de água, afetando negativamente seu crescimento e potencial produtivo. É um dos principais riscos em lavouras de sequeiro durante períodos de estiagem.
Híbridos (de milho): Sementes de milho desenvolvidas a partir do cruzamento de duas ou mais linhagens puras. O objetivo é combinar características desejáveis, como maior produtividade, tolerância à seca (estresse hídrico) ou resistência a pragas.
La Niña: Fenômeno climático oposto ao El Niño, caracterizado pelo resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico. Geralmente provoca estiagem na região Sul do Brasil e chuvas acima da média nas regiões Norte e Nordeste.
MIP (Manejo Integrado de Pragas): Estratégia de controle que combina diferentes táticas (biológicas, culturais, químicas) com base no monitoramento constante da lavoura. A aplicação de defensivos só ocorre quando a população da praga atinge um nível que pode causar dano econômico.
Safrinha: Refere-se à segunda safra cultivada no mesmo ano agrícola, geralmente semeada no verão/outono após a colheita da safra principal (safra de verão). O milho safrinha plantado após a soja é o exemplo mais comum no Brasil.
Ventos alísios: Ventos constantes que sopram das regiões tropicais em direção à linha do Equador. A intensidade desses ventos influencia diretamente a temperatura da superfície do Oceano Pacífico, sendo um fator chave para a formação dos fenômenos El Niño e La Niña.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
O artigo destaca a importância de registrar o histórico da fazenda — desde custos e aplicações até a produtividade de cada talhão — para se planejar contra incertezas climáticas como a La Niña. Mas organizar todas essas informações manualmente em planilhas ou cadernos pode ser um grande desafio. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza esses dados de forma automática. Com ele, você acessa o histórico completo das suas safras, compara resultados e planeja a compra de insumos e as operações da safrinha com muito mais segurança, transformando informações do passado em decisões mais lucrativas para o futuro.
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Perguntas Frequentes
Qual é a principal diferença prática entre os efeitos do El Niño e da La Niña na safrinha de milho no Sul do Brasil?
De forma resumida, o El Niño tende a aumentar o volume de chuvas na região Sul, o que pode ser benéfico para a safrinha de milho. Já a La Niña causa o efeito oposto, provocando períodos de seca e estiagem, o que representa um grande risco de quebra de produtividade por estresse hídrico para a cultura do milho.
Com que frequência os fenômenos La Niña e El Niño ocorrem e quanto tempo duram?
Esses fenômenos são cíclicos, mas não têm um intervalo fixo. Em geral, ocorrem a cada 2 a 7 anos. A duração de cada evento também varia, podendo persistir de 9 a 12 meses, com casos que se estendem por até dois anos, reforçando a importância do planejamento agrícola de longo prazo.
Além de escolher híbridos de milho tolerantes, que outra prática de manejo de solo ajuda a combater a seca da La Niña?
Uma prática fundamental é a manutenção da palhada sobre o solo, característica do sistema de plantio direto. Essa cobertura vegetal ajuda a conservar a umidade, reduz a temperatura do solo e diminui as perdas de água por evaporação, funcionando como um escudo protetor para a lavoura durante períodos de estiagem.
Se a La Niña causa um clima mais seco, posso reduzir o investimento em fungicidas?
Embora um clima mais seco possa diminuir a incidência de algumas doenças fúngicas que dependem de alta umidade, não elimina o risco por completo. A planta sob estresse hídrico pode ficar mais vulnerável a outras doenças e pragas. A melhor estratégia é seguir o Manejo Integrado de Pragas (MIP), monitorando a lavoura constantemente e aplicando defensivos apenas quando for realmente necessário.
Os aplicativos de previsão do tempo são suficientes para planejar minha safra em um ano de La Niña?
Os aplicativos são excelentes para o planejamento tático de curto e médio prazo, como definir o melhor dia para o plantio ou para uma pulverização. No entanto, para o planejamento estratégico da safra, é crucial acompanhar também os boletins climáticos e previsões de longo prazo de institutos como o CPTEC/INPE e a Embrapa, que fornecem um panorama mais amplo dos efeitos do fenômeno.
É possível ter um ano de La Niña e, ainda assim, obter uma boa produtividade na safrinha de milho?
Sim, é totalmente possível. O sucesso em um ano de La Niña não depende de sorte, mas de um planejamento estratégico e execução cuidadosa. Adotando as medidas certas — como escolher o híbrido correto, ajustar a janela de plantio, conservar a umidade do solo e monitorar o clima — o produtor pode mitigar os riscos e alcançar resultados muito positivos.
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