A safra de grãos brasileira de 2019 promete um novo recorde, com estimativa de atingir 241 milhões de toneladas, de acordo com dados do IBGE. Este volume tem surpreendido até mesmo as previsões mais otimistas do setor.
Em contrapartida, a safra nos Estados Unidos não parece tão promissora, o que, somado a outras questões globais, enche o mercado internacional de incertezas.
Diante desse cenário, como ficam as expectativas para o mercado futuro de soja em 2019? Neste artigo, vamos analisar os principais fatores que influenciam os preços e o que o produtor rural precisa saber para tomar as melhores decisões.
O que é o Mercado Futuro de Soja?
Antes de tudo, é importante entender o básico. O mercado futuro de soja funciona com base em contratos que definem a compra e a venda de sacas em uma data futura. O ponto principal é que o preço é estabelecido e travado no momento da negociação, não na data da entrega.
Em outras palavras:
- Contratos futuros de soja: são acordos para comprar ou vender soja em uma data futura, com o preço combinado hoje.
Essa ferramenta ajuda os produtores a se protegerem das variações de preço. Para os compradores, é uma garantia de que pagarão o valor negociado, oferecendo segurança contra as oscilações do mercado dessa commodity.
Fatores que Estão Movimentando o Mercado
Nas últimas semanas, os preços da soja futuro nas Bolsas de Chicago e da BM&F têm variado bastante. Após algumas baixas, os contratos para a safra 2019/20 registraram um pequeno aumento de pouco mais de 7 pontos.
Essa alta foi uma reação direta ao último relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). O documento indicou que apenas pouco mais da metade da área de soja plantada no país está em condições boas ou excelentes.
Além disso, o ritmo lento das negociações é resultado de preocupações geopolíticas. Vamos detalhar o que isso significa na prática:
- Crises Internacionais: A situação econômica na Argentina e a crise política na Itália, com a renúncia do primeiro-ministro, geram instabilidade.
- Guerra Comercial EUA-China: As medidas do presidente Trump continuam a tensionar a relação com a China, um dos maiores compradores de soja do mundo.
Tudo isso alimenta a preocupação global, e muitos investidores já falam em uma possível recessão econômica mundial. Enquanto essas questões não forem resolvidas, o mercado futuro de soja 2019/20 deve continuar com negociações lentas e preços instáveis.
Para a soja, é fundamental ficar de olho na safra americana, pois as condições do clima na fase final da lavoura serão decisivas para a produção total.
Como os Preços Atuais Refletem o Cenário Global
Segundo um levantamento do Cepea, a recente desvalorização da moeda chinesa em relação ao dólar tornou os produtos americanos mais caros para a China.
Como a moeda brasileira se manteve relativamente estável em comparação com a chinesa, os compradores da China estão direcionando suas negociações de grãos para o Brasil.
Esse movimento teve um impacto direto nos preços internos:
- O indicador Esalq/BM&FBovespa da soja em Paranaguá (PR) registrou uma alta de 4,2%, alcançando R$ 83,58 por saca de 60kg na primeira semana de agosto.
- O indicador Cepea/Esalq Paraná teve uma alta ainda maior, de 4,3%, com a saca sendo comercializada a R$ 77,53 no dia 9 de agosto.
Mercado Futuro de Soja 2019: A Situação dos Derivados
No mercado de derivados, a situação é diferente. Os preços do farelo de soja caíram cerca de 5,3% nas regiões monitoradas pelo Cepea.
Parte desse recuo pode ser explicado por alguns fatores:
- Muitos compradores desse derivado já estão com seus estoques abastecidos.
- Aqueles que precisam comprar estão adquirindo apenas pequenos lotes para consumo de curto prazo.
- Outros produtos, como o farelo de algodão e a polpa cítrica, estão sendo usados como substitutos.
Diante desse cenário, as indústrias de moagem estão diminuindo o ritmo ou até paralisando a produção de farelo, preferindo operar com o que já têm em estoque.
(Fonte: Revista Globo Rural)
Logística de Exportação: A Disputa entre Soja e Milho nos Portos
A cadeia produtiva de outras culturas também impacta diretamente os preços da soja. O mercado de milho, por exemplo, está aquecido devido à quebra de safra prevista nos EUA para 2019.
Com as atenções voltadas ao embarque de milho, os fretes rodoviários subiram, afetando toda a cadeia de transporte. Com grande parte da logística focada no milho, os embarques do cereal bateram recorde em julho, somando 6,31 milhões de toneladas.
Para a soja, o ritmo de embarques, que já era bom, aumentou ainda mais com o retorno da China às compras. No entanto, o volume total exportado este ano (57,7 milhões de toneladas) é menor que no mesmo período do ano passado.
Isso não acontece por falta de demanda, mas sim porque o Brasil tem um volume menor de soja para exportar. A razão é uma safra 2018/19 menor que a anterior e a redução dos estoques nacionais.
Nesse contexto, enviar a soja diretamente ao porto pode ser uma boa opção, especialmente para produtores que conseguem negociar o frete de retorno com adubo e outros insumos.
Para saber se essa operação é viável, um bom controle financeiro é indispensável. Ferramentas como um software de gestão agrícola facilitam a visualização completa dos seus custos operacionais.
](https://aegro.com.br/)
Exemplo de fluxo de caixa feito pelo software agrícola Aegro; dados podem ser acessados a partir do smartphone
Conclusão: 3 Estratégias para o Produtor Considerar
Como vimos, o mercado internacional está cauteloso, o que torna os contratos futuros uma ferramenta interessante para travar o preço da soja e garantir a rentabilidade.
Com base no cenário atual, o produtor pode avaliar três caminhos principais:
- Firmar contratos futuros: Para se proteger da instabilidade e garantir um preço de venda para sua produção.
- Enviar o produto para exportação: Aproveitando a forte demanda, principalmente do mercado chinês, e otimizando a logística com o frete de retorno de insumos.
- Comercializar para o mercado interno: Dependendo da distância entre a fazenda e o destino final, os custos logísticos podem fazer desta a opção mais vantajosa.
Em qualquer um desses cenários, uma coisa é certa: é vital que você, produtor, conheça em detalhes os seus custos de produção. Com essa informação em mãos, fica muito mais fácil escolher o negócio mais rentável para o destino da sua soja.
Glossário
BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros): Principal ambiente de negociação de contratos futuros de commodities agrícolas no Brasil, hoje parte da B3. É onde produtores e investidores brasileiros definem os preços futuros da soja.
Bolsa de Chicago (CBOT): A Chicago Board of Trade é a mais importante bolsa de mercadorias do mundo para grãos. Os preços da soja negociados lá servem como principal referência para o mercado global.
Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada): Instituição de pesquisa da Esalq/USP que calcula e divulga importantes indicadores de preços do agronegócio. Seus dados são usados como referência para negociações em todo o Brasil.
Commodity: Produto de origem primária, como a soja, negociado em larga escala no mercado global. Seu preço é determinado pela oferta e demanda internacional, e não por diferenciação de marca.
Contratos Futuros: Acordos para comprar ou vender uma quantidade específica de soja em uma data futura, com o preço definido e “travado” hoje. É uma ferramenta essencial para o produtor se proteger das oscilações de preço.
Derivados de Soja: Produtos obtidos a partir do processamento industrial do grão. Os principais exemplos no texto são o farelo de soja (usado em ração animal) e a polpa cítrica (usada como substituto).
Indicador Esalq/BM&FBovespa: Um dos principais termômetros do preço da soja física no Brasil. É calculado pelo Cepea com base nos negócios realizados no porto de Paranaguá (PR), um importante corredor de exportação.
USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos): Sigla para United States Department of Agriculture. Seus relatórios sobre o andamento das safras e projeções de estoque nos EUA têm grande impacto nos preços globais das commodities.
Tome a melhor decisão de venda com o controle dos seus custos
Lidar com a volatilidade do mercado e decidir o melhor momento para vender a safra é um desafio constante. Como o artigo destaca, seja travando o preço em contratos futuros ou negociando a exportação, o sucesso da operação depende de uma informação crucial: o seu custo de produção por saca. Um software de gestão agrícola como o Aegro resolve exatamente isso. Ele centraliza todos os seus custos, desde a compra de insumos até a colheita, e mostra de forma clara e automática quanto custou para produzir cada saca de soja. Com esse dado na mão, você avalia qualquer oferta do mercado e sabe na hora se ela garante a rentabilidade que você espera.
Além disso, ao registrar seus contratos de venda futuros na plataforma, você tem uma visão completa do seu fluxo de caixa e pode planejar as finanças da fazenda com muito mais segurança, mesmo diante das incertezas do mercado.
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Perguntas Frequentes
O que significa, na prática, ’travar o preço da soja’ no mercado futuro?
Travar o preço significa firmar um contrato hoje para vender sua soja em uma data futura por um valor já definido. Essa negociação protege o produtor contra possíveis quedas de preço até a data da entrega, garantindo a rentabilidade da safra e oferecendo maior previsibilidade financeira para a fazenda.
Por que a situação da safra de soja nos EUA afeta tanto os preços no Brasil?
Os Estados Unidos são um dos maiores produtores de soja do mundo. Quando a safra americana é ruim, como a de 2019, a oferta global do grão diminui. Isso faz com que grandes compradores internacionais, como a China, busquem outros fornecedores, aumentando a demanda pela soja brasileira e, consequentemente, elevando os preços em nosso mercado interno.
Como a guerra comercial entre EUA e China pode beneficiar o produtor de soja brasileiro?
A disputa comercial geralmente resulta na imposição de tarifas sobre os produtos americanos pela China, tornando a soja dos EUA mais cara para os importadores chineses. Em resposta, eles redirecionam suas compras para o Brasil, que se torna uma alternativa mais competitiva. Esse aumento na demanda chinesa impulsiona as exportações brasileiras e valoriza o preço da saca no país.
Qual a principal diferença entre vender no mercado futuro e vender no mercado físico (à vista)?
A principal diferença é o momento da definição do preço. No mercado futuro, você fixa o valor da sua saca com antecedência para uma entrega posterior, se protegendo da volatilidade. No mercado físico, ou à vista, a venda ocorre após a colheita, e o preço é o daquele exato momento, o que pode ser tanto uma oportunidade quanto um risco.
Por que o preço do farelo de soja caiu mesmo com a alta do grão?
Essa diferença ocorre por dinâmicas de oferta e demanda específicas para cada produto. Conforme o artigo aponta, muitos compradores de farelo já estavam com estoques abastecidos e passaram a usar produtos substitutos, como o farelo de algodão. Essa redução na procura pelo farelo pressionou seu preço para baixo, mesmo com a forte demanda pelo grão de soja para exportação.
Como a logística do milho impacta a comercialização da minha soja?
Quando a exportação de milho está aquecida, há uma maior disputa por caminhões e espaço nos portos. Isso pode aumentar o custo do frete rodoviário e gerar gargalos logísticos, afetando diretamente o custo para escoar sua soja. Planejar a logística e considerar o frete de retorno com insumos torna-se ainda mais crucial nesses períodos.
Qual a informação mais importante que preciso ter para negociar bem minha safra de soja?
A informação mais crucial é o seu custo de produção por saca. Saber exatamente quanto você gastou para produzir permite avaliar qualquer oferta de preço, seja no mercado futuro ou físico, e decidir se ela garante a margem de lucro desejada. Sem esse dado, é impossível saber se um negócio é verdadeiramente vantajoso para sua fazenda.
Artigos Relevantes
- Custo de produção de soja por hectare: entenda por quanto vender sua saca: Este artigo é o complemento mais crucial, pois responde diretamente à principal conclusão do artigo principal: a necessidade de conhecer o custo de produção. Ele transforma o conselho estratégico em um guia prático e acionável, detalhando como calcular cada componente do custo, permitindo que o produtor defina um preço de venda mínimo para garantir sua rentabilidade.
- Mercado futuro da soja: seu funcionamento e as principais vantagens: Enquanto o artigo principal sugere o uso de contratos futuros como estratégia, este candidato aprofunda o tema de forma didática. Ele preenche a lacuna de conhecimento ao explicar o funcionamento prático da B3, os códigos dos contratos e os custos envolvidos, capacitando o leitor a entender e, de fato, utilizar a ferramenta de hedge recomendada.
- Como garantir uma boa negociação da venda da soja de forma antecipada: Este artigo expande as estratégias de comercialização sugeridas, oferecendo um panorama completo que vai além dos contratos futuros. Ao detalhar os mercados Físico, a Termo e de Opções, ele proporciona ao produtor um leque de ferramentas de gestão de risco mais amplo e sofisticado, alinhando-se perfeitamente com o objetivo de tomar melhores decisões de venda.
- Demanda chinesa, clima e câmbio direcionam preços da soja 2019: Este artigo fornece um contexto temporal essencial, descrevendo o cenário do mercado no início de 2019, antes dos eventos analisados no artigo principal. Ele explica a queda inicial de preços e a hesitação dos produtores, enriquecendo a narrativa e permitindo que o leitor compreenda a evolução do mercado ao longo daquele ano específico.
- Atraso na semeadura e incertezas marcam o mercado da soja 2019/20: Funcionando como uma continuação direta, este artigo mostra as consequências e o cenário no final de 2019, durante o plantio da safra seguinte. Ele introduz o fator da Peste Suína Africana, uma nuance não abordada no texto principal, e demonstra como as incertezas da guerra comercial persistiram, criando uma ponte lógica para as discussões do ano seguinte.