O manejo de plantas daninhas resistentes está pesando cada vez mais no bolso do produtor, elevando os custos de produção. Uma das principais causas é a necessidade de pulverizar a lavoura inteira, em vez de aplicar herbicidas apenas nos locais onde as invasoras realmente estão.
Essa prática generalizada resulta em três grandes problemas:
- Aumento dos gastos com defensivos agrícolas.
- Desperdício de produto, que não atinge seu alvo.
- Contaminação desnecessária do solo e do meio ambiente.
Felizmente, as ferramentas de agricultura de precisão surgem como aliadas poderosas para tornar a aplicação mais inteligente, eficiente e econômica.
Neste artigo, vamos detalhar como funciona o mapeamento de plantas daninhas e de que forma ele pode resolver muitos dos desafios que você enfrenta na sua lavoura.
O que é o mapeamento de plantas daninhas?
O mapeamento de plantas daninhas é uma técnica usada para identificar e localizar as plantas invasoras espalhadas pela sua área de cultivo.
Antigamente, esse levantamento era feito de forma manual, por meio de amostragem. Uma equipe treinada caminhava pela lavoura, parando em pontos amostrais pré-determinados. Nesses pontos, os técnicos identificavam as espécies e estimavam a concentração de plantas daninhas para tentar criar um mapa geral da infestação.
No entanto, esse método tradicional exige muita mão de obra e um número de amostras tão grande que, na prática, se torna inviável para representar fielmente uma área extensa.
É aqui que a agricultura de precisão entra para resolver o problema. Com o uso de sensores, o levantamento se tornou mais rápido, preciso e barato. Esses sensores ajudam a diminuir os custos operacionais e fornecem uma estimativa muito mais confiável da distribuição das plantas invasoras.
Na prática, eles podem ser acoplados a implementos agrícolas ou transportados por drones, que conseguem cobrir a área total da fazenda com muito mais facilidade e rapidez.
Ilustração do mapeamento de plantas daninhas realizado com drones. (Fonte: Horus Aeronaves)
Qual o melhor sistema para mapear plantas daninhas na sua lavoura?
A escolha do sistema de mapeamento ideal depende diretamente do que você pretende fazer com as informações coletadas. Os objetivos podem variar, e para cada um existe uma ferramenta mais adequada.
Para identificar grandes áreas problemáticas: Se o seu objetivo é apenas identificar em quais talhões as plantas daninhas estão surgindo primeiro ou localizar grandes “reboleiras” (manchas de alta infestação), a precisão do sensor não precisa ser milimétrica. Nesses casos, você pode utilizar sensores orbitais (de satélites) com precisão de até
5 metros
.Para aplicações localizadas e precisas: Agora, se você precisa identificar pequenas reboleiras ou mapear a distribuição exata das plantas daninhas para uma pulverização cirúrgica, o ideal é usar sensores de maior precisão. Sensores acoplados em drones ou aeronaves, com precisão próxima a
5 centímetros
, são mais indicados.
Além disso, uma tecnologia ainda mais avançada permite utilizar sensores acoplados diretamente no seu pulverizador, que geram informações e comandam a aplicação em tempo real.
Mas qual ferramenta escolher para aproveitar esses mapas na prática? Vamos detalhar as duas principais estratégias de aplicação.
Mapeamento para aplicação de herbicidas em pré-emergência
A aplicação de herbicidas em pré-emergência é uma estratégia fundamental no controle de plantas daninhas resistentes. Pré-emergência significa aplicar o produto no solo antes que as plantas daninhas (e, em alguns casos, a própria cultura) comecem a germinar.
Contudo, para que essa técnica funcione bem sem prejudicar a sua lavoura, é crucial usar a dose correta para cada pedaço da sua área.
Isso porque os herbicidas pré-emergentes interagem diretamente com o solo. Características como o teor de argila, o teor de matéria orgânica e o pH influenciam a eficácia e a seletividade do produto. Portanto, a dose precisa ser ajustada de acordo com essas variações.
Uma ferramenta que facilita a aplicação de herbicidas em taxa variável é a tecnologia HTV® (Herbicida em Taxa Variável), desenvolvida pela APagri em parceria com a Esalq/USP. O processo funciona em etapas:
- Coleta de Dados: Primeiro, são coletadas amostras para analisar as principais características do solo. Isso pode ser feito junto com o mapeamento da fertilidade do solo, otimizando a operação.
- Recomendação Técnica: Com os dados do solo e o histórico de infestação da área, é feita a recomendação dos herbicidas e das doses ideais para cada zona de manejo.
- Geração do Mapa: Com base na recomendação, são gerados os mapas de aplicação localizada, que indicam exatamente quanto produto aplicar em cada ponto do talhão.
Finalmente, esses mapas são inseridos em um pulverizador equipado com um sistema de aplicação em taxa variável. Esse sistema “lê” o mapa e ajusta a dose de herbicida automaticamente, garantindo que cada ponto da lavoura receba a quantidade ideal.
Exemplo de mapa de uma área para aplicação de pré-emergente com o sistema HTV®. (Fonte: APagri)
Mapeamento para aplicação de herbicidas em pós-emergência
Para o controle de plantas daninhas em pós-emergência — ou seja, quando elas já germinaram e estão visíveis —, existem duas abordagens principais de mapeamento.
1. Mapeamento Prévio (com Drones ou Satélites)
Nesse método, o mapeamento é feito antes da pulverização. As imagens podem ser geradas por satélite ou por sensores em drones. É fundamental que o tempo de processamento das imagens seja rápido para que o mapa não fique desatualizado.
Essa técnica é muito usada para a “catação” de plantas na entressafra ou para aplicações na pós-emergência dos cultivos. O grande desafio aqui é o software conseguir diferenciar com precisão as plantas daninhas da cultura principal.
2. Mapeamento em Tempo Real (com Sensores no Pulverizador)
A outra opção, mais tecnológica, é fazer o mapeamento em tempo real, durante a própria pulverização. Sensores ópticos são acoplados à barra do pulverizador e identificam a presença de plantas daninhas segundos antes da passagem dos bicos de aplicação.
Esses sensores comandam uma válvula de acionamento ultrarrápida que abre o bico para aplicar o produto somente sobre a planta daninha. Além de ligar e desligar, alguns sistemas também ajustam a dose. Uma tecnologia comum para isso é a PWM (Pulse Width Modulation), que controla a vazão do bico de forma muito precisa.
Um sistema de mapeamento em tempo real que já está sendo utilizado no Brasil é o WEED-It. Veja no vídeo abaixo como ele funciona na prática:
https://www.youtube.com/embed/S_8qQ_uKz6I
Vantagens e Desvantagens do Mapeamento de Plantas Daninhas
Como toda tecnologia, o mapeamento de plantas daninhas tem seus prós e contras. É importante conhecê-los para tomar a melhor decisão.
Vantagens
- Economia direta com herbicidas: Aplica-se produto apenas onde é necessário.
- Aplicação mais eficiente e otimizada: O produto certo, na dose certa, no lugar certo.
- Tomada de decisão facilitada: Ajuda a escolher o melhor herbicida e a estratégia de manejo.
- Menor impacto ambiental: Reduz a carga de químicos no solo e na água a longo prazo.
- Planejamento antecipado: Permite calcular previamente a quantidade de herbicida necessária e traçar estratégias de manejo.
- Versatilidade: O mapeamento pode ser feito durante outras operações culturais, otimizando o tempo.
Desvantagens
- Custo inicial de implementação: A aquisição de sensores, drones e softwares representa um investimento alto.
- Necessidade de equipe qualificada: É preciso ter pessoal treinado para operar os equipamentos e interpretar os dados.
- Dinâmica das plantas daninhas: A população de invasoras pode mudar rapidamente, exigindo mapeamentos frequentes.
- Dependência de softwares: O mapeamento exige programas específicos para processar as imagens e gerar os mapas de aplicação.
- Risco de erros: Problemas na geração das imagens ou na elaboração do mapa de recomendação podem levar a falhas na aplicação.
Conclusão
Neste artigo, vimos como a tecnologia de mapeamento pode ser uma grande aliada no controle de plantas daninhas.
Exploramos o que é o mapeamento, como ele evoluiu do método manual para o de precisão e como escolher o sistema mais adequado para a realidade da sua lavoura.
Analisamos também as duas principais estratégias de aplicação — pré e pós-emergência — e detalhamos as vantagens e desvantagens de adotar essa tecnologia.
Espero que, com essas informações, você se sinta mais preparado para implementar um monitoramento inteligente de plantas daninhas, tornando seu manejo mais eficiente, econômico e sustentável.
Glossário
Agricultura de Precisão: Um conjunto de ferramentas e técnicas que permite gerenciar a lavoura de forma detalhada, tratando cada parte do talhão de acordo com sua necessidade específica. Em vez de aplicar a mesma dose de insumo em toda a área, a agricultura de precisão permite aplicar mais onde precisa e menos onde não precisa.
Aplicação em Taxa Variável: Técnica que ajusta automaticamente a quantidade de insumos (como herbicidas ou fertilizantes) aplicada por um pulverizador. Com base em um mapa de recomendação, o equipamento aumenta ou diminui a dose em tempo real conforme percorre a lavoura.
Plantas Daninhas Resistentes: Populações de plantas invasoras que evoluíram e não são mais controladas por herbicidas que antes eram eficazes. A aplicação repetida do mesmo produto é uma das principais causas do surgimento dessa resistência.
Pós-emergência: Refere-se à aplicação de herbicidas após a germinação e o surgimento das plantas daninhas (e/ou da cultura principal). O objetivo é controlar as invasoras que já estão visíveis e competindo por recursos na lavoura.
Pré-emergência: Estratégia de aplicação de herbicidas diretamente no solo, antes que as sementes das plantas daninhas germinem. Esta técnica cria uma barreira química que impede o desenvolvimento inicial das invasoras.
PWM (Pulse Width Modulation): Sigla para “Modulação por Largura de Pulso”. É um sistema eletrônico que controla a vazão dos bicos do pulverizador através de pulsos elétricos ultrarrápidos, permitindo ajustes muito precisos e instantâneos na dose do produto aplicado.
Reboleiras: Termo usado no campo para descrever manchas ou áreas concentradas de alta infestação de plantas daninhas. São os “focos” do problema que o mapeamento busca identificar e localizar dentro de um talhão.
Sensores Orbitais: Sensores instalados em satélites que orbitam a Terra. Eles capturam imagens da superfície terrestre e são usados na agricultura para monitorar a saúde das plantas e identificar grandes áreas problemáticas, como reboleiras extensas, com uma precisão de alguns metros.
Do mapa ao lucro: como gerenciar o investimento em tecnologia
Apesar de todas as vantagens, o custo inicial para implementar o mapeamento de plantas daninhas é um desafio real, como vimos. A grande questão para o produtor é: como saber se o investimento está realmente valendo a pena?
É aqui que a gestão de dados se torna crucial. Ferramentas de gestão agrícola, como o Aegro, ajudam a conectar a operação no campo com o financeiro.
No sistema, é possível registrar todos os custos da tecnologia – desde a aquisição do drone até o software de análise – e, ao mesmo tempo, monitorar a economia gerada pela redução no uso de herbicidas. Assim, você obtém relatórios precisos que mostram o retorno sobre o investimento (ROI) de forma clara, facilitando a tomada de decisões e justificando a modernização da fazenda.
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Perguntas Frequentes
Qual a principal diferença entre o mapeamento para aplicação pré-emergente e pós-emergente?
A principal diferença está no alvo do mapeamento. Na pré-emergência, o mapa é baseado nas características do solo (como teor de argila e matéria orgânica) para variar a dose de herbicida antes das daninhas germinarem. Já na pós-emergência, o mapa identifica as plantas daninhas que já cresceram, permitindo uma aplicação direta e localizada sobre elas.
Devo usar drones ou satélites para mapear minhas plantas daninhas?
A escolha depende da precisão necessária. Satélites são ideais para identificar grandes áreas problemáticas ou ‘reboleiras’ extensas, com uma precisão de até 5 metros. Drones, por outro lado, oferecem altíssima precisão (cerca de 5 centímetros), sendo mais indicados para identificar focos menores e guiar uma pulverização localizada de forma cirúrgica.
A tecnologia de mapeamento de plantas daninhas é viável apenas para grandes propriedades?
Não necessariamente. Embora o investimento inicial em equipamentos próprios possa ser alto, existem soluções escaláveis. Pequenos e médios produtores podem contratar serviços de mapeamento sob demanda ou começar com tecnologias mais acessíveis. A economia gerada com a redução no uso de herbicidas pode proporcionar um bom retorno sobre o investimento para diferentes escalas de produção.
Como funciona exatamente o mapeamento em tempo real com sensores no pulverizador?
Nesse sistema, sensores ópticos são acoplados na barra do pulverizador. Conforme a máquina se move, eles escaneiam o solo e identificam a presença de plantas daninhas (geralmente pela cor verde). Ao detectar uma, o sensor envia um sinal instantâneo para uma válvula específica, que abre o bico de pulverização somente sobre o alvo, aplicando o herbicida de forma ultralocalizada.
Com que frequência preciso refazer o mapa de plantas daninhas da minha área?
A frequência ideal varia conforme a dinâmica de infestação, o ciclo da cultura e a agressividade das plantas daninhas na sua região. É recomendado realizar o mapeamento antes de cada aplicação estratégica, especialmente na dessecação pré-plantio e em aplicações de pós-emergência. Monitorar a área ajuda a definir o intervalo ideal para manter os mapas atualizados e eficientes.
Além da economia de herbicidas, quais são os outros benefícios do mapeamento de daninhas?
Além da redução direta de custos com defensivos, o mapeamento oferece outros benefícios importantes. Ele promove menor impacto ambiental, ao diminuir a carga de químicos no solo; melhora a saúde da lavoura, ao evitar a fitotoxicidade por excesso de produto; e gera dados valiosos que auxiliam no planejamento de longo prazo e na tomada de decisões mais assertivas sobre o manejo.
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